terça-feira, 1 de junho de 2010

O ressabiado

Manuel Alegre declarou- -se candidato à Presidência por decisão própria e sem consultar o PS. O Bloco de Esquerda, logo a seguir, resolveu, pela boca do seu líder, apoiá-lo. Ao contrário do PCP, que, desde logo, deu a entender ter um candidato próprio. O PS ficou silencioso mas, a pouco e pouco, tornou-se claro que uma parte dos seus militantes e dos seus eleitores habituais não apoiavam Alegre. Eu fui um deles. Por razões exclusivamente políticas.
O secretário-geral do partido e primeiro-ministro entendeu que era cedo para decidir. Perante as dificuldades com que está confrontado e tantos opositores que o querem destruir, em lume brando, compreende-se. As eleições presidenciais serão daqui a seis meses e o actual Presidente não decidiu ainda, oficialmente, recandidatar-se.
No domingo passado, o secretário-geral do PS decidiu apoiar a candidatura Alegre, ao que disse porque é progressista, deixando ao candidato a liberdade de fazer a campanha.
No actual contexto político-partidário, julgo que Sócrates cometeu um erro grave, que porventura mesmo lhe poderá ser fatal e ao PS. Como socialista, e pensando como sempre e só pela minha cabeça, entendo ter a obrigação de dar a conhecer de novo aos meus camaradas e ao secretário-geral aquilo que penso.”

(Mário Soares, hoje no DN)

Não vou votar Manuel Alegre nas próximas presidenciais. Nem na primeira, nem, se a houver, na segunda volta.
"A mim ninguém me cala!", é talvez a frase que mais o celebrizou. Por isso mesmo, é que, depois do ruído feito durante anos – em especial, nos últimos 4 – porquê o silêncio táctico, frio, obsceno e calculista das últimas semanas?..
Contudo, este Mário Soares - "demasiado previsível", como sempre - hoje no DN, “podia ter aproveitado para esclarecer as razões que o levam a tanto azedume em relação a Alegre. Esqueceu-se que quando há quatro anos o PS optou por ele já muita gente pedia, dentro e fora do partido, que fosse Alegre o candidato.
Até hoje não o ouvi justificar em termos políticos e intelectualmente sérios as razões para então se ter candidatado contra Cavaco Silva. Explicações de circunstância deu muitas. Ele, mas também o secretário-geral do PS e o presidente do partido que já nessa altura eram os mesmos.
É que as razões que são agora invocadas para apoiar Manuel Alegre já eram válidas em 2005. Por isso, aquilo que eu gostaria de ter lido ou ouvido Mário Soares explicar era por que razão o erro grave e fatal é o que o PS comete agora e não foi aquele que atirou Cavaco Silva para Belém e que o deixou, a ele Mário Soares, na história das presidenciais com uma votação típica do Bloco de Esquerda. Depois de ter vencido por duas vezes as presidenciais essa votação foi obra.
Eu teria vergonha desse resultado e da falta de visão política que essa candidatura representou. Porém, admito que a memória já não dê para tudo".

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