quarta-feira, 6 de junho de 2018

Até sempre Senhor Nicolau

O associativismo do Concelho da Figueira da Foz ficou mais pobre. 
Faleceu o Senhor Nicolau, o músico filarmónico mais antigo em Portugal e quiçá na Europa. 
Faleceu com 93 anos. Foi músico ininterruptamente durante 74 anos, até ao dia da sua partida. Esteve sempre de forma abnegada ao serviço da Sociedade Boa União Alhadense.
Que exemplo de cidadania, de entrega, de união e solidariedade. Hoje os anjos estão em festa, pois, onde quer que esteja o Senhor Nicolau, não há tristeza mas sim amor. 
Até sempre!
“Acho que comecei em 1940. Ou talvez em 1945…”, disse um dia o músico ao jornal AS BEIRAS.
A pandeireta foi o seu primeiro instrumento, que tocou no Ateneu Alhadense. Depois, trocou o instrumento de percussão por um de sopros, o clarinete. Mais tarde viria a substituir este por outro da mesma família, o saxofone alto. 
Mas, o Senhor Nicolau não foi só músico. Ele também foi proprietário de uma das últimas e mais antigas tabernas da Figueira da Foz, onde passou os seus dias, atrás do balcão.
Pois, foi precisamente aí, na sua taberna,  que eu conheci o senhor Nicolau.
Foi no já longínquo ano de 1972, ano em que comecei a trabalhar como empregado de escritório na já extinta firma Rodrigues,  Pais & Cª..
Tinha 19 anos. Uma das minhas tarefas semanais,  era percorrer a pé todos os clientes da cidade  para realizar as cobranças… E o senhor Nicolau, que era um deles,  teve  uma particularidade de que nunca mais me esqueci, apesar de já terem passado 46 anos!
Ao olhar para mim, muito jovem e então “estilo copo de leite”, certamente com a malícia de um Homem já vivido e traquejado pela vida, disse-me, logo na primeira vez que me viu, depois de eu dizer ao que ia: “então o  menino quer receber,  não é?.. Pois só recebe, se comer um carapauzito frito e beber um tinto…”
Envergonhado e atrapalhado, comecei por recusar, mas depois acabei por achar graça e entrei no esquema… 
E o senhor Nicolau começou  a ser visitado à hora do lanche …
Entretanto, mudei de patrão e de vida, e há muitos anos que não visito a taberna do Senhor Nicolau…
Até sempre Senhor Nicolau.

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