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quarta-feira, 29 de abril de 2020

O milagre Isabel Jonet...

Deve viver do vento e do ar.  "Não ganho um tostão há 27 anos. Sou voluntária, é quase uma missão de vida." 

Portugal padece de uma genética incapacidade nacional: a de conseguir construir uma sociedade evoluída seja a que nível for - cientifico, técnico, cultural, social ou económico.
Em 1992, o então ministro do Emprego Silva Peneda assinou, diante de todos os sem-abrigos de Lisboa que frequentavam a Sopa dos Pobres, a criação - com a ajuda da Igreja - de um Banco Alimentar contra a Fome. Deu verbas avultadas (7,5 milhões de euros aos preços actuais) e prometeu que tudo iam fazer para acabar com aquela realidade. Veja-se o video de arquivo da RTP. 
Passaram quase 28 anos. Agora, é o Presidente da República que faz os mesmos trajectos pelas instituições que servem este tipo de Caridade, põe um avental e ele próprio serve a Sopa dos Pobres tal como antes de si o faziam os contemporâneos do seu pai.
Estamos a retornar acelaradamente aos tempos da caridadezinha hipócrita da consciência tranquila, que quem viveu antes do 25 de Abril de 1974 em terras onde a miséria campeava, bem se recorda.
Enquanto país, somos o que somos, desde 1143. Os governantes, que continuam a conseguir manter os governados em rédea curta, asseguram a estabilidade do sistema.
Por sua vez, os politicos sempre tiveram como meta preservar esta situação: a sociedade de governantes e de governados, mantendo estes com rédea curta por via de favores e esmolas.
Construiu-se - e mantém-se, assim, uma sociedade favorecida, dentro de uma outra, de desfavorecidos. A dos empregos pelo partido e não pela competência, dos negócios pelos interesses e não pela qualidade orçamental, da governação pelos favores e não pela liberdade do voto em consciência.
É assim que se perpetua a pobreza, a caridadezinha e a humilhação de não podermos ser cidadãos de corpo inteiro. Acabei de ler um texto de Filipe Tourais sobre o assunto, que não resisto a transcrever:


"Causa-me sempre asco ver governantes ou candidatos a governantes a acotovelarem-se nas distribuições de massa e arroz dos bancos alimentares. Eles acotovelam-se porque sabem que a sua popularidade aumenta sempre que conseguem aparecer nos directos das televisões ou nas fotografias dos jornais. A esmagadora maioria não é capaz de compreender que se os bancos alimentares existem tal não significa outra coisa senão que o Estado que aqueles seres que se acotovelam para angariar popularidade objectivamente falhou com a multidão à qual não deixou outra alternativa que não a da caridade. Falham na administração da coisa pública para a seguir ganharem popularidade montados no seu próprio falhanço porque a maioria prefere aplaudir a caridade e os falhados que a tornaram necessária a exigir um Estado que não condene ninguém à privação e à humilhação de ter que pedir esmola.Ontem calhou ouvir a Isabel Jonet a arrancar aplausos a esta maioria que gosta de políticos e de governantes falhados. Perguntaram-lhe como reage à crítica que lhe aponta que pessoas como ela necessitam que existam pobres e muita pobreza para viverem e se notabilizarem. Trazia a resposta mais do agrado da maioria que aplaude o Estado falhado que a sua caridade evidencia na ponta da língua.
Começou por dizer que não liga a críticas de natureza político-ideológica. No imaginário Jonet, a política e a pobreza serão coisas sem relação alguma uma com a outra e, segundo a própria, a ideologia é luxo próprio de pessoas com vidinhas – disse vidinhas – que nunca fizeram nada pelos outros. Exigir políticas conducentes a um Estado eficiente que não deixe ninguém para trás está fora deste imaginário, pelo menos na qualidade de fazer pelos outros.
Terminou a tirada rematando com a autoridade alegadamente conferida pela sua qualidade de voluntária. Ela sabe como a maioria valoriza o voluntariado. Todos devíamos seguir o seu exemplo e transformar-nos em voluntários como ela, que certamente vive de ar e vento e não precisa de um salário ou de uma fortuna que lhe pague as contas, apenas de donativos que não existiriam se todos fossemos voluntários. Em bom rigor, se todos vivêssemos de ar e vento como a senhora, não haveria gente interesseira que trabalha por dinheiro, logo, para além de não haver donativos também não haveria impostos, logo, também não haveria Estado, logo, estaríamos todos na fila para o banco alimentar. Nada de grave. Afinal, aquilo não seria nenhum banco alimentar, seria um banco de ar e vento, e seríamos todos livres e felizes como uma Jonet, embora uma Jonet diferente da que ela é, menos massas e arrozes e mais oxigénio e outros gases, dos raros e dos outros. Mas caridosos e abnegados como ela, que não precisa que haja pobres e que o Estado falhe para ser tão boazinha como é.
É não ligar ao o que dizem os invejosos egoístas com vidinhas que nunca fizeram nada pelos outros, inexplicavelmente mais preocupados com a miséria generalizada que se instalará caso a Europa que nos empobreceu nos últimos vinte anos não responda como se prepara para não responder à crise que se vai abatendo com raiva sobre todos do que empenhados em contribuir com umas latas de atum para a perpetuação da pobreza de que é feita a vaidade de mais uma baronesa da caridade. Venham de lá dessa Europa amiga de todos, em especial dos pobrezinhos, mais vinte anos de óptimas notícias para ela. A política e as políticas nunca terão relevância social comparável ao de uma lata de atum."

segunda-feira, 18 de julho de 2022

Como estará a Figueira em 2034?

A crónica de António Agostinho publicada na Revista Óbvia em Junho de 2022.

No momento em que estou a escrever esta crónica, não sei se o Dr. Carlos Monteiro, um perdedor nato - nunca ganhou uma eleição autárquica como "cabeça de lista": a breve "liderança acidental" da câmara da Figueira, foi uma oportunidade que lhe caiu no regaço em Abril de 2019 -, vai ou não para o Porto da Figueira como administrador.

Se for, pode agradecer a quem lhe deu a oportunidade: em 2021, quem decidiu o futuro político de Carlos Monteiro foi o patrão - o povo.

Em Junho de 2022, a Figueira é uma cidade que respira política. Para o bem e para o mal. Embora à nossa dimensão, a pose, o estilo e a escala definem um ambiente político urbano - quase de capital. Os figueirenses, em Setembro de 2021, ficaram divididos entre os que preferem Lisboa e a província. A escolha não foi fácil, mas aconteceu. A música pimba ajudou. Lisboa venceu. E algo mudou. O novo Poder já está a fazer-se sentir. 

Em 2034, se for vivo, terei 80 anos de idade. 

Estarei em fim de carreira e de vida. Poderia estar a borrifar-me para a Figueira e para os figueirenses. Contudo, estou preocupado com a Figueira que teremos nessa altura. 

De que forma quem sente a Figueira, quem a vive, quem gosta verdadeiramente  dela, poderá torná-la mais forte, mais atractiva, mais apelativa e, sobretudo, melhor?

A Figueira tem gente muito importante. Não seria este o tempo para o distinto e notável grupo de ilustres pessoas e personalidades figueirenses se preocuparem em tentar perspectivar o seu depois?


Neste momento, temos no poder Pedro Santana Lopes. Que poderá ser o presidente de câmara em 2034. 

Ou não. A Figueira, apesar de ser o concelho perfeito para ele, é demasiado pequeno e limitativo para as ambições políticas que Santana Lopes eventualmente ainda possa ter.

Santana é um político habituado a outros patamares. É um político experiente e emocional, mas frio e calculista e não tem receio dos riscos. Bom jogador, tem excelente visão do tabuleiro político em que se move, notável a avaliar o terreno que pisa e eficaz a seduzir adversários.  

De quando em vez até tem sorte, mas falta-lhe algo essencial - um objectivo maior que o da sua própria glorificação pessoal.

Neste momento, na Figueira, Santana o grande autarca, o visionário "sobrevivente", não tem adversário à altura. E, isso não é bom, nem para a Figueira nem para o próprio Santana Lopes.


Livrem-nos dos políticos que dizem não pertencer à política. Livrem-nos daqueles que desdenham da figura do político e, ao mesmo tempo, desdenham a própria ideia de política. 

Se uma pessoa que até se candidatou a lugares políticos, entende que não é político, não lhe façamos o favor de julgar que fala verdade.

É tão simples como isto:  quem vota é político, quem se candidata é político e até quem não vota é político. No fundo, somos todos políticos - não só políticos, mas também políticos. Haveria, então, que tentar varrer de uma vez - e por todas - de expressões como classe política. Qualquer concepção democrática da política deve pressupor que os representantes somos potencialmente todos nós e qualquer um de nós.

A nossa incompreensão da realidade como ela é, não é a qualidade das nossas elites, como se costuma dizer no comentário político, mas a própria concepção elitista que temos do que devia ser a democracia e do que devia ser a política.


O PSD na Figueira, neste momento, tirando a actuação de Ricardo Silva como vereador, que corre em pista própria, não conta para nada. Simplesmente não existe.

O PS ainda não arrumou a casa. Carlos Monteiro continua líder do PS Figueira. Que o mesmo é dizer: a indecisão, lá pelo PS, continua.

A triste e infeliz entrevista que deu ao Dez & 10 no passado dia 13, é mais um testemunho disso. Mostrou-se tal como é: indeciso, sem ideias com futuro, naif, genuíno e politicamente pouco inteligente e perspicaz. Mostrou ter uma virtude, que nunca poderia deixar de sublinhar: "é incapaz de estragar uma festa para a qual foi convidado".

O único momento verdadeiramente surpreendente da entrevista foi quando esclareceu a sua posição sobre os 9 meses de governação santanista: têm estado a arrumar a casa.


A composição da futura administração do Porto da Figueira da Foz, que poderá ser conhecida ainda este mês, vai clarificar muita coisa. 

Se Carlos Monteiro for um dos escolhidos (segundo os jornais a futura administração vai incluir elementos da Figueira na mesma proporcionalidade de Aveiro), terá condições para continuar como vereador da oposição?

Para Santana Lopes, a decisão do ministro das Infraestruturas e Habitação “é de uma importância política enorme”, já que vai trazer “mais operacionalidade” e permitir “um novo ciclo no Porto da Figueira da Foz”.

Acrescentaria: putativamente também à governança política da cidade e do concelho.

Segundo o presidente da Câmara da Figueira da Foz, por inerência do cargo, também Presidente da Mesa da Assembleia Geral, a inclusão de administradores do concelho, que conhecem bem o dia a dia do porto comercial e as suas carências dão garantias de maior operacionalidade e de um trabalho conjunto com o município.

Como estará a Figueira em 2034?

Depende de muita coisa. Fundamentalmente do bom funcionamento do porto da Figueira da Foz, uma “questão relevantíssima” para o desenvolvimento do concelho. Naturalmente,  a par de outras, como a existência de terrenos para fixar novas empresas e de um espaço para instalar o ensino superior na cidade.

O porto comercial, desde sempre, foi fundamental para o desenvolvimento da Figueira. No futuro, também será assim. 

Já no presente mês, veio a público que o «Porto de Aveiro vai construir um novo terminal intermodal e expandir o feixe de linhas para a recepção e expedição de mercadorias em comboios de 750 metros, um projecto avaliado em 16 milhões de euros. O projecto, que visa permitir a circulação de comboios até 750 metros, tem já garantido financiamento comunitário e a obra deverá iniciar-se em Janeiro de 2023, prevendo-se a sua conclusão até ao final do ano seguinte. 

De acordo com o "site" da Administração do Porto de Aveiro (APA SA), o projecto encontra-se em fase de avaliação ambiental, processo que aquela entidade espera ver concluído até Setembro.

E a Figueira a vê-los passar... Essa é que é essa, como diria o Eça!

terça-feira, 18 de outubro de 2022

A nova administração do porto da Figueira da Foz...

Crónica publicada na edição de Setembro de 2022 da Revista ÓBVIA


A novela da nomeação da nova administração do porto chegou ao fim: o vereador do PS Carlos Monteiro foi confirmado como elemento da nova administração dos portos da Figueira da Foz e Aveiro.

Recorde-se: o nome do ex-presidente da autarquia figueirense para ocupar o cargo, foi sugerido pelo seu sucessor, o independente Santana Lopes, ao ministro Pedro Nuno Santos.

O conselho de administração será liderado por um professor universitário,  Eduardo Feio.

Carlos Monteiro, até agora vereador sem funções executivas na Câmara Municipal da Figueira da Foz, autarquia  que liderou entre 2019 e 2021, e Andreia Queirós, desde 2014 directora financeira e de desenvolvimento organizacional na Administração do Porto de Aveiro, completam a equipa que vai liderar a gestão dos portos de Aveiro e Figueira da Foz nos próximos tempos.

Cumpriu-se o desejo de Santana Lopes – e de outros políticos e agentes económicos locais – de ver na administração portuária um figueirense.

Para a Figueira e para Santana Lopes, a decisão do ministro das Infraestruturas e Habitação de nomear uma nova administração portuária, “é de uma importância política enorme”, já que poderá trazer “mais operacionalidade” nos contactos entre a autarquia e a nova administração do porto da Figueira da Foz.

Recorde-se, que tanto os portos de Aveiro como o da Figueira estavam sem administração, mantendo-se apenas em funções Isabel Moura Ramos, na qualidade de presidente em suplência.


Desde sempre que a Figueira anda à procura de uma solução para a barra.

Existe um estudo, com mais de 100 anos, sobre como melhorar o Porto da Figueira. Quem estiver interessado pode consultá-lo na Biblioteca Municipal, num dos jornais locais de 1914. Esse precioso e importante trabalho, refere a construção de um "paredão a partir do Cabo Mondego em direcção ao quadrante sul". Esse projecto, da autoria do Eng. Baldaque da Silva,  para a construção da obra de um "Porto Oceânico", foi aprovado na Assembleia de Deputados para ser posto a concurso, o que nunca aconteceu, pois foi colocado numa gaveta. 

Neste momento, como as coisas estão na enseada de Buarcos, já não deverá ser possível colocar ali o "Porto Oceânico", uma vez que as construções ocuparam os terrenos necessários ao acesso àquilo que seria um porto daquela envergadura. Porém, o estudo do Eng. Baldaque da Silva poderia servir de base para a construção de um paredão com cerca de 1 800 metros, que serviria para obstruir o acesso das areias à enseada de Buarcos, traria benefícios consideráveis: acabaria o depósito de areias na enseada, barra, rio e praia; ficaria protegida a zona do Cabo Mondego e Buarcos, evitando a erosão das praias da zona e os constantes prejuízos na ida Marginal; serviria de abrigo à própria barra, quando a ondulação predominasse de Oeste ou O/N.

O extenso areal urbano localizado entre o molhe norte e a vila piscatória de Buarcos tem 110 hectares (o equivalente a 154 relvados de futebol), o que significa que metade da cidade caberia na praia.

A quantidade de areia ali depositada nunca foi medida – a praia tem vários metros de altura a nascente e a sul, mas essa altura não é uniforme ao longo do areal – sabendo-se, apenas, que a distância da avenida ao mar ultrapassa os 800 metros no seu ponto mais largo e continua a aumentar.

Se o bypass passar da fase dos estudos e chegar a funcionar, haverá alguma possibilidade dos habitantes da margem sul do estuário do Mondego viverem com mais alguma tranquilidade e da praia da Claridade voltar a viver tempos mais positivos.


A a barra e o porto comercial continuam a ser uma enorme preocupação para os figueirenses e para os responsáveis autárquicos. Numa notícia publicada no Diário as Beiras, no passado dia 9 do corrente mês de Setembro, o presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, Dr. Santana Lopes,  dizia-se “muito preocupado” com a falta de interlocutores no porto no Porto Comercial da Figueira da Foz. 

Santana Lopes lembrou que há investimentos anunciados que devem cumprir calendários. As dragagens de 100 mil metros cúbicos de areia, na barra e no canal de navegação, que serão injectados nas praias do sul do concelho afectadas pela erosão costeira, agendadas para o corrente mês, é um deles. 

“A informação que tenho, [através] das conversas com a Administração Central e regional, é a de que não há interlocução. Neste momento, há um funcionário que está lá, mas a administração demitiu-se. Não sei pormenores, [mas] a administração vai ser substituída”, disse Santana Lopes aos jornalistas. 

De acodo com a notícia do Diário as Beiras que temos vindo a citar, "há vários meses que a presidente do conselho de administração, Fátima Alves, informou a tutela que pretendia sair, o que acabou por acontecer recentemente."

Apesar de não querer criar problemas ao Governo, em 9 do corrente mês, era intenção do Dr. Santana Lopes falar com o ministro da tutela sobre as consequências da falta de administração portuária. “Não posso deixar de dizer, e vou transmitir, de novo, ao ministro Pedro Nuno Santos, as consequências que isto está a ter. Nomeadamente, a intervenção [dragagem de 100 mil metros cúbicos de areia] que está prevista para setembro”. 

 “Para nós, é incompreensível, e já chega de peripécias no Porto da Figueira da Foz e à volta do Porto da Figueira da Foz. Espero que a situação se resolva muito depressa”.


A nova administração já está nomeada. A vida prossegue. O porto comercial, desde sempre, foi fundamental para o desenvolvimento da Figueira. No futuro, também será assim. A composição da futura administração do Porto da Figueira da Foz, que já estava a demorar a ser conhecida, pode vir a clarificar muita coisa. 

Em termos políticos, Carlos Monteiro, que é  membro da nova administração dos portos de Aveiro e da Figueira desde o passado dia 19 , suspendeu o mandato de vereador, não devendo optar pela renúncia. 

Contudo, segundo os elementos disponíveis no momento em que estou a escrever esta crónica (madrugada de 20), Carlos Monteiro, líder local do PS, manterá a sua recandidatura à liderança da Concelhia do PS.

Como sabemos, na corrida à presidência do Secretariado da Concelhia socialista figueirense, além do antigo presidente da Câmara da Figueira da Foz, está também a deputada à Assembleia da República Raquel Ferreira. 

As eleições internas do PS realizam-se a 8 de outubro próximo.


Nota de rodapé.
Entretanto, no passado dia 8 do corrente mês de outubro, Raquel Ferreira venceu o antigo Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, Carlos Monteiro, na corrida à liderança da Concelhia do Partido Socialista figueirense.
Carlos Monteiro, que se recandidatava depois de ter perdido a autarquia para Pedro Santana Lopes, e ter recentemente pedido a suspensão do mandato de vereador para assumir o cargo de vogal do conselho de administração do Porto de Aveiro e Figueira da Foz, conquistou 45% dos votos em urna, enquanto Raquel Ferreira obteve os restantes 55%. Votaram cerca de 500 dos 730 militantes com capacidade eleitoral activa (quotas pagas).

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Uma coisa e outra...

Sem que nos apercebamos lá muito bem, na Figueira, tal como no País, estamos a viver uma tragédia.
No País, a maior tragédia política do Portugal contemporâneo é a fraca presença de espírito do primeiro-ministro.
Não me refiro às políticas que têm sido seguidas, porque a política está reduzida à economia e finanças (vão perceber, mais uma vez, que PSD e PS são praticamente a mesma coisa,  quando o António Costa for primeiro-ministro, lá para o final deste ano....)
Refiro-me à personagem, por vezes grosseira, mas, sobretudo, cinzenta de Pedro Passos Coelho, da sua crónica falta de jeito para a retórica e da sua conhecida e reconhecida inclinação para a banalidade.
Na Figueira, refiro a falta de jeito para a retórica e para o exercício da política e da inclinação para a banalidade de quase todo o executivo camarário - e em especial do presidente.
Tanto na Figueira como no País, gostava de ter alguém no poder (e na oposição) que gostasse das pessoas, de falar para as pessoas (fora dos períodos em que decorrem as campanhas eleitorais) e tivesse coisas para dizer - mas sobretudo que gostasse das pessoas e de falar para as pessoas.
Na Figueira e no País, a meu ver, essa é a nossa tragédia colectiva.
Em vez disso, temos alguém no poder que está convencido de que está a cumprir uma «missão».
Espero sobreviver ao banho de cultura elitista que está a passar numa sala perto de mim. 
Está a ser uma festa. 
Por cá passaram - e vão continuar a passar - pessoas da cultura e outras figuras culturalmente menos relevantes. 
Por vezes, dou comigo a colocar a hipótese de que, por aqui, o 25 de Abril não ficou completo e temos de o acabar – estou a referir-me à «falta de liberdade». 
Isto, parecendo um completo absurdo, não assim é tão absurdo. 
Recordemos que se há algum tipo de virtude que possamos encontrar no Estado Novo, essa teve a ver com a capacidade de disciplinar as contas públicas...
Para o português comum, não deverá haver pecado maior da democracia portuguesa, nos últimos 40 anos, do que a má gestão económica e financeira dos recursos nacionais, que nunca se preocupou em deixar como herança a dívida pública contraída para a construção de "oásis rodoviários e afins..." 
Espero que compreendam, finalmente, a agitação em que ando desde que, em 1997, cá pela Figueira, uma cidade que sempre teve “os seus artistas políticos”, apareceu como candidato a alguma coisa Pedro Santana Lopes... 

domingo, 24 de julho de 2022

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

"Um gajo vai receber 52% dos apoios do Plano de Recuperação e Resiliência à recapitalização de empresas, qualquer coisa como 40 milhões de euros, e um gajo vai ser o primeiro cidadão português a ir ao espaço, qualquer coisa como não sei quantos milhares de euros, ninguém diz, um dia vamos saber.
E não vão faltar gajos, com o Ilusão Liberal à cabeça, a explicar-nos que uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, uma coisa são as empresas do gajo, outra coisa é o gajo ele próprio e a sua fortuna pessoal, que não tem nada a ver com as empresas, e ainda outra coisa são os gajos que passam a vida a gozar com o pagode e os gajos que nos explicam que os gajos não estão a gozar com o pagode."

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Leitura política "das altercações que interromperam a Assembleia de Freguesia de Buarcos e São Julião"

Em finais de Maio de 2004 o jornalista Luciano Alvarez, publicou no jornal Público o seguinte texto:

«Em 1975, durante o PREC, alguma direita mais radical alinhada com a "Maioria Silenciosa", trouxe ao debate político a moca de Rio Maior. Um pau maciço, com uma ponta mais larga cravejada de pregos e que era a arma que essa direita imbecil entendia ser a melhor para combater os comunistas.

Trinta anos depois, numa campanha para as eleições europeias, o Bloco de Esquerda (BE) reinventou a moca. Os cartazes que já estão afixados, pelo menos em Lisboa, mostram um padeiro sorridente (alguma da malta que, em 1975, se passeava pelas ruas com a já referida moca também sorria) com um rolo da massa na mão direita e uns pães tipo cacete na outra. "Estás farto? Vota em quem lhes bate forte. Bloco de Esquerda. Na Europa como em Portugal", está escrito no referido cartaz.

Qual é a primeira conclusão que se pode tirar deste placar? A política, a forma de fazer política do BE, é a da mocada e da traulitada (espera-se que só verbal). "Na Europa como em Portugal".

Numa campanha em que PSD-CDS e PS têm apostado em imagens futeboleiras para fazer campanha, o BE apresenta agora o rolo da massa contra os cartões vermelhos e amarelos, os apitos e os cachecóis. Num momento de crispação verbal na política portuguesa, o BE cava o fundo do poço prometendo que vai bater forte (espera-se que só por palavras).»

Imagem via Diário as Beiras

Quem tenha acompanhado a política figueirense no último ano não nota algumas semelhanças com a política trauliteira do PREC em 1975 e "a política do BE, da mocada e da traulitada" em 2004?

«"É uma imagem", dirão os bloquistas. Pois é - por sinal, bem verdadeira. É a imagem de quem acha que a política se faz à cacetada (deseja-se que apenas com o verbo) e de "sound-bytes"


Lamentável, verdadeiramente lamentável, é que uma força política como o PS/Figueira, que governou a autarquia figueirense mais de 30 anos a seguir à implantação da democracia e que teve responsabilidades políticas na condução da câmara municipal da Figueira da Foz e da junta de freguesia de Buarcos e são Julião, entre muitas outras, até Setembro de 2021, e continua com grandes responsabilidades autárquicas, pois detém a responsabilidade política de gerir a maior parte das freguesias do concelho, já antes, mas depois da saída dos vereadores directamente eleitos a coisa acentuou-se,  tenha vindo a surfar a onda bloquista alimentada e incentivada por sectores direitistas da sociedade figueirense, adeptos da "mocada", derrotados por Santana Lopes nas últimas autárquicas. 

Quem não desconheça os meandros politiqueiros figueirenses ao longo dos anos a seguir ao 25 de Abril, mas em especial de 2005 para cá, é fácil fazer a leitura política e perceber o que está a acontecer, porquê, como e quem está na sombra a puxar os cordelinhos.

O episódio da passada quarta-feira ocorrido na Assembleia de Freguesia de Buarcos e São Julião não foi fruto do acaso.

Quem o idealizou e perpetrou sabia certamente o que estava a fazer. Contava, como contou, com a inexperiência política da presidente da Assembleia de Freguesia de Buarcos e São Julião e de alguns dos seus membros, para fazer o número que pretendia fazer - e concretizou. 


Na Figueira, o debate democrático, tirando os primeiros anos a seguir ao 25 de Abril de 1974, não tem sido lá muito profícuo e interessante. Basta olhar para a composição das sucessivas  Vereações Camarárias e Assembleias Municipais, principalmente a partir do século XXI, para termos uma ideia do que para aí vai em qualidade política, em termos gerais, pelas Assembleias de Freguesia do concelho.

Isto fragiliza a democracia. A liberdade não pode permitir tudo. Não pode permitir, por exemplo, que cidadãos e cidadãs com um passado decente, uma família e uma vida que deveria falar por si, sejam tratados na internet como "chulos" e "prostitutas".

Com o episódio da passada quarta-feira na Assembleia de Freguesia de Buarcos e São Julião, a política figueirense deu mais um passo rumo a não sei o quê, mas nada de positivo: entrou no vale tudo que, de há uns meses a esta parte, se via em algumas páginas do facebook.

Isto é preocupante. Que o diga  a presidente de junta de Buarcos e São Julião, que sentiu na pele o que tem sido a campanha de baixaria que assola a Figueira no Natal de 2022.


O facebook é o facebook. Porém, o que aconteceu na passada quarta-feira no decorrer da Assembleia de Freguesia de Buarcos e São Julião, a meu ver, é grave, muito grave. 

Merece ser alvo de reflexão profunda e leitura política atenta, corajosa e responsável por todas as forças políticas existentes no concelho da Figueira da Foz.

Que me recorde, foi o episódio institucional e  político mais triste e lamentável ocorrido no nosso concelho, pós 25 de Abril de 1974.

Não foi um acto isolado. Recordo o último comunicado do BE da Figueira, que deu corpo, politicamente falando, aos "sound-bytes" facebokianos. 


O que aconteceu na passada quarta-feira, foi a "cereja em cima do bolo" de algo que andava a ser cozinhado em lume brando há meses. 

Os mentores sabiam (e sabem) o que andam a fazer. 

Bom Natal para todos. Que o próximo ano de 2023 traga aos figueirenses a melhoria das condições de vida, serenidade e paz.

domingo, 31 de dezembro de 2023

E assim se despede OUTRA MARGEM dos seus leitores em 2023: fica uma mensagem aos que, tal como o autor deste espaço, adoram a "vida da social-democracia europeia"

By Carmo Afonso

"Na sondagem da Intercampus para o Jornal de Negócios, Correio da Manhã e CMTV, há uma nova descida do PCP. Numa sondagem anterior, tinha sido ultrapassado pelo PAN, agora foi a vez do Livre. Sabemos que as sondagens não passam disso e sabemos também que, mais do que prever resultados, elas condicionam o voto. Mas vamos assumir que estes resultados são credíveis.

Tenho visto muitas pessoas genuinamente contentes com a descida do PCP. São anticomunistas; não reconhecem a importância de termos este partido entre nós e com uma representação parlamentar expressiva. A primeira coisa que lhes quero dizer é que estão enganadas. Como afirmou um querido amigo, “Portugal não é grande coisa, mas sem o PCP seria muito pior”. São inúmeras as dívidas de gratidão que temos para com o partido. Inúmeras. Sem o PCP, a grande maioria dos direitos de trabalhadores não estaria consagrada na lei, como está. Ninguém põe em causa a justiça de trabalharmos 11 meses para recebermos 14 salários, mas tempos houve em que isso era uma miragem. O PCP esteve sempre lá.

Mas isto não é apenas sobre gratidão pelo passado. É também sobre acautelar o futuro. A presença do PCP garante uma rede de estruturas, como as sindicais, de apoio efetivo aos trabalhadores. O desaparecimento, ou o simples enfraquecimento, dessas estruturas fará diferença na vida da maioria dos portugueses, mesmo daqueles que pouco se importam com o tema desta crónica. Sobretudo, o PCP costuma estar ao lado das boas causas. Alguns dir-me-ão: “E a guerra da Ucrânia?” A esses respondo que a posição do PCP foi um pretexto para o que já tinham, há muito, vontade de fazer: excluir o partido. O PCP defendeu, e ainda defende, uma paz negociada para a Ucrânia. Os militantes foram insultados por isso. Mas reparem que agora, em relação à guerra no Médio Oriente e estando do lado da Palestina, o PCP continua a defender uma paz negociada. Não falou em enviar armamento ou em dar qualquer espécie de apoio militar à Palestina. Consistência é isto. A paz, o primeiro valor do 25 de Abril, continua atual no PCP. Ainda bem.

No mesmo dia em que soubemos dos resultados da sondagem, morreu Odete Santos. À esquerda e à direita, ouvimos palavras sentidas de apreço e reconhecimento pelas qualidades de Odete Santos e pelas lutas que travou. Tudo foi pouco. Era uma mulher autêntica. Nada na Odete Santos — salvo a honrosa exceção do seu cabelo — era artificializado. Defendia apenas aquilo em que acreditava, e acreditava em coisas boas, como os direitos das mulheres e a causa dos trabalhadores. Não tinha medo do ridículo nem do espalhafato. Isto é a definição do oposto de uma pessoa chata. Ninguém poderia aborrecer-se a ouvir ou a olhar para Odete Santos. Para quem não me conhece, ou seja, quase todos vós, esclareço: não me ocorre melhor qualidade. De pessoas chatas, está o mundo cheio.

Foi triste saber que a Odete Santos deixou de existir. Foi metafórico ter acontecido no mesmo dia em que as perspectivas eleitorais do PCP não se revelaram grande coisa. A Odete Santos representa o melhor do PCP, mas o PCP representa também o melhor da Odete Santos. É belo ver os vídeos em que se entregou à defesa dos seus pontos de vista. Mas não era só a forma que era boa, o conteúdo também era. O conteúdo que ela apregoava é a matéria de que é feito o PCP e que podemos resumir como sendo a abolição de quaisquer relações de domínio.

Comunista é um substantivo, mas cresci a ouvir a palavra ser usada como adjetivo e não num sentido elogioso. Existe um sentimento anticomunista profundamente enraizado em Portugal. Assimilámos os preconceitos da Guerra Fria e diabolizamos pessoas que são provavelmente as melhores entre nós.

Ser comunista não é apenas meter uma cruz no quadrado do PCP. Calma que também não é um voto de pobreza como muitos pretendem. Deixemos isso para as ordens religiosas. Mas significa acreditar no partido e num mundo melhor. “As causas perdidas são exatamente aquelas que poderiam ter salvado o mundo”, escreveu Gilbert Keith Chesterton, cheio de razão. Não sei se o comunismo integra a categoria das causas perdidas, mas admito que, à distância a que estamos de uma sociedade comunista, tivessem de rolar cabeças para a instituir. Por mim, não acontecerá. Afeiçoei-me à vida da social-democracia europeia. Digo-vos isto para que percebam que não é o sonho comunista que me move. Mas insisto que precisamos de um PCP forte para termos uma social-democracia saudável.

E junto-me ao grupo dos que sentirão falta da camarada Odete Santos. Foi cedo e deixou um lugar impossível de preencher."

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Alô, alô, New Bedford

Para ler melhor, clicar em cima da imagem
Os blogues são mesmo assim: vai-se fotografando e escrevendo e o que se escreveu e fotografou vai ficando lá para baixo - esquecido.
Claro que grande parte das postagens é o que merece. Contudo, há outras que deviam estar sempre à vista. Uma das que eu gostava que ficasse aqui sempre bem visível para ver se a gente não se esquece delas, são as que focam a erosão costeira a sul do quinto molhe da Praia da Cova.
Não é por nada de especial, mas por uma simples razão: a situação a sul do quinto molhe na orla costeira da freguesia de S. Pedro continua a ser branqueada e mal avaliada por quem de direito...
Mas os blogues são mesmo assim, os textos vão-se sucedendo, as ideias vão-se misturando e, aos poucos, a realidade vai sendo esquecida: o mar está a invadir a freguesia de S. Pedro.

Por cá, a protecção da Orla Costeira Portuguesa continua a ser uma necessidade de primeira ordem... 
Por isso tem de continuar a olhar-se, ao estado a que chegou a duna logo a seguir ao chamado “Quinto Molhe”, a sul da Praia da Cova. 
Por vezes, como tenho vindo a alertar desde 2006, ao centrar-se a atenção sobre o acessório, vai-se perdendo a oportunidade de resolver o essencial para a vida quotidiana dos covagalenses...

Sofremos - continuamos a ser apelidados de tudo e mais alguma coisa... - ataques de personagens que vão passando pelo poder local aldeão e  figueirense... 
Infelizmente, porém, o que muito lamento, pois adorava ter sido eu a estar completamente enganado e fora da razão, a realidade é a que todos conhecemos: neste momento, a duna a  Sul do 5º. Molhe da praia da Cova está devastada  e o mar está a entrar pelo pinhal dentro...

Muita gente, que deveria ser responsável, por omissão, contribuiu para o estado a que chegámos.
Nós, aqui no Outra Margem, continuaremos a fazer aquilo que é possível: contribuir para sensibilizar a opinião pública da nossa freguesia, do nosso concelho, do nosso País e dos inúmeros covagalenses espalhados pela diáspora, para um problema gravíssimo que, em última análise, pode colocar em causa a sobrevivência dos covagalenses e dos seus bens.

Tudo foi dito, tudo se cumpriu: depois da construção do acrescento dos malfadados 400 metros do molhe norte, a erosão costeira a sul  da foz do mondego tem avançado, a barra da Figueira, por causa do assoreamento e da mudança do trajecto para os barcos nas entradas e saídas, tornou-se na mais perigosa do nosso País para os pescadores, a Praia da Claridade transformou-se na Praia da Calamidade, a Figueira, mais rapidamente do que esperava, perdeu.

A pesca está a definhar, o turismo já faliu - tudo nos está a ser levado...
Espero que, ao menos, perante a realidade possam compreender o porquê das coisas...
O que nos vale é que temos uma política bem definida para a orla costeira...

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Continuam a chutar para canto a herança da reforma administrativa feita para troika ver...

Imagem via DANIEL SANTOS
Por continuar actual, recordo uma postagem OUTRA MARGEM de 23 de Junho de 2012: 18, 10 ou apenas 1 freguesias para a Figueira?... A verdadeira questão, quanto a mim, não é essa…

Antes do mais, a meu ver, convém  esclarecer que aquilo que o actual governo quer impor às freguesias, não é uma reforma político-administrativa, mas um conjunto de alterações avulsas, coerciva e apressadamente gizadas, feita à medida do chamado plano de reajustamento, ou Memorando de Entendimento (ME), celebrado pelo estado português sob a batuta do governo socialista de Sócrates com a Troika (FMI, CE e BCE), e com o acordo do PSD e CDS-PP.
Desde já, um ponto prévio.
Não sou  defensor  de que tudo, nomeadamente no que concerne às organizações humanas, é eterno.
Daí, encarar como perfeitamente natural  reformas dos sistemas político-administrativos. Contudo, essas reformas têm de assentar em estudos fundamentados e tendo em conta a realidade.
Reformas político-administrativas coerentes e sérias,  só se justificam quando ocorrem três condições fundamentais: necessidade comprovada de reforma (através do resultado de trabalhos científicos, do debate e acção política e de comparações/imposições internacionais), existência de tempo e de recursos para promover a reforma mais adequada às circunstâncias e, finalmente, vontade de promover a reforma por uma via democrática no referencial constitucional em vigor.
No actual momento, creio que não será estultícia apontar que não se verificou nenhuma das três condições formuladas (salvo a imposição da Troika, que não é coisa pouca).
Verifica-se, isso sim,  que o governo quer impor um conjunto de alterações no referencial autárquico desajustado ao caso concreto português,  no geral, e à Figueira, em particular.
O ministro Relvas, que quase sempre se descontrola quando aborda este tema, disse, há tempos, entre outras coisas, que esta reforma é incontornável porque, pasme-se, a última tinha sido feita há 150 anos!
Esqueceu-se foi de clarificar qual seria  o ciclo mínimo para fazer este tipo de reformas: 10, 20, 30, 40, 50, 60, 70 80, 90 ou 100 anos?
Além do mais, não é verdade que, no que às freguesias diz respeito, a tal reforma  tenha sido feita há 150 anos. O ministro confunde a reforma administrativa municipalista liberal com a realidade, diferente, das freguesias, porque essas só foram estabilizadas mais tarde, já no advento da república. E, em todo o caso, seria bom recordar ao ministro que, Portugal, lá por existir há cerca de um milénio, não tem que ser extinto!
Uma reforma séria, profunda e coerente de todo o universo autárquico português, implica muito mais do que a questão simples, mas muito polémica, do desenho administrativo territorial de municípios e freguesias.
 Recorde-se que em Fevereiro de 2006, foi  anunciado a Lei-Quadro de Criação de Autarquias Locais, que passaria a chamar-se "Lei-Quadro de Criação, Fusão e Extinção de Autarquias Locais". Aquela Lei visava pôr em marcha a fusão de freguesias com dimensões mínimas. A operação, segundo o secretário de estado que então tinha a tutela do assunto (Eduardo Cabrita), começaria nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, nos municípios com mais de 50 mil habitantes. É por esta razão que António Costa veio, mais tarde, a iniciar um processo nesse sentido em Lisboa.
A ANAFRE reagiu, então, de forma enérgica, e os jornais passaram a dizer que o governo apenas queria agrupar algumas freguesias das zonas urbanas. Depois, o assunto caiu no esquecimento.
O ministro Relvas, a própria Troika e  António Costa, que já  reduziu o número das freguesias de Lisboa, não estão a tentar materializar nada caído do céu recentemente.
A questão, não obstante as suas características artificiais, tem, pelo menos, seis anos.
Aqui chegados, impõe-se perguntar se, numa situação de profunda crise económica, financeira e social, se deverá dar prioridade a reformas deste tipo? Parece, a meu ver,  que a resposta sensata, é negativa, até porque é muito incerto que a redução do número de freguesias conduza, por si só, a uma redução sensível das despesas públicas. Por esse mesmo motivo, e em coerência, também não parece ser a altura mais adequada para avançar com a regionalização, não obstante os seus méritos potenciais.
É quase surreal que, numa conjuntura como é a actual, se queira forçar esta reforma, que seria sempre difícil e complexa em si mesma, quanto mais quando conduzida sob a batuta coerciva e antidemocrática dos princípios defendidos pelo ministro Relvas em nome da Troika.
Será que a maioria parlamentar, e o próprio primeiro-ministro, ainda não perceberam que os conflitos "necessários e reais" que a sua política socioeconómica impõem, já são mais do que suficientes para lhes tornarem a vida difícil?
No caso concrecto da Figueira colocar a questão em 18, 10 ou apenas uma freguesia, quanto a mim é um falso problema.
Quanto a mim,  a verdadeira questão é: para que servem as freguesias?.. E como servem!..

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Onde ficou o respeito pela história da Cova e Gala e pela memória da homenagem aos pescadores da faina maior?..

Sexta-feira, 10 de julho de 2009. Nesse dia, pelas 16 horas, no Clube Mocidade Covense, com a abertura da Exposição alusiva à pesca do Bacalhau, teve início a homenagem aos marítimos covagalenses promovida pela Junta de Freguesia de São Pedro.
Igualmente nesse dia, em continuação do programa, decorreu na mesma Colectividade, uma palestra sobre a temática da pesca do bacalhau, proferida pelo dr. Alfredo Pinheiro Marques, Director do Centro de Estudos do Mar.
No dia seguinte, sábado, também no Clube Mocidade Covense, prosseguiu a Exposição e houve passagem de filmes.
Finalmente, no domingo, dia 12, o evento teve o seu último dia, com o seguinte programa: Missa na Capela de São Pedro, pelas 11 horas, por alma dos marítimos covagaleneses já falecidos. Seguiu-se a inauguração do monumento do pescador do bacalhau, na rotunda da entrada norte da freguesia e um almoço volante, aberto a toda a população, no Largo da Borda do Rio.
Foi este o programa. 10, 11 e 12 de Julho de 2009, foram os dias, o mês e o ano escolhidos pela Junta de freguesia de São Pedro para a realização da homenagem aos marítimos covagalenses.
Sou filho, neto e bisneto de pescadores - alguns do bacalhau. Sei o que foi a pesca do bacalhau: uma autêntica escravatura. 
"Maus tratos, má comida, má dormida... Trabalhavam vinte horas, com quatro horas de descanso e isto, durante seis meses. A fragilidade das embarcações ameaçava a vida dos tripulantes". 
A iniciativa não corrigiu a injustiça. Mas fez-se uma coisa bela e digna na Aldeia. Portanto, o mínimo que se esperava era que o monumento a  recordar estes heróis fosse preservado e alvo de respeito por quem de direito.
Foi o que não aconteceu.

Em tempo.
Como demonstrei aqui, em 7 de Dezembro de 2009, a Vila de S. Pedro não existe.
A Vila de São Pedro, criada em 5 de Junho de 2009, é a “a povoação de São Pedro ( uma coisa que não existe!..), no concelho da Figueira da Foz, distrito de Coimbra, elevada à categoria de Vila”
Se duvidam disto, leiam o Diário da República nº. 150, 1ª. Série, Lei nº. 58/2009. 
O projecto de lei que foi aparente e alegadamente redigido, e seguramente assinado, pelo então deputado Miguel Almeida, foi um oportunismo político.
Faltavam 6 meses para eleições legislativas e estavam a começar por aquela altura as jogadas e as influências para a constituição das listas de candidatos a deputados. Era necessário para o então senhor deputado Miguel Almeida mostrar serviço – fosse o que fosse - para ver se conseguia um lugarzito nas listas.
Compreende-se – a vida custa a todos -  mas não pode ficar sem registo a demagogia e o provincianismo ridículo da iniciativa.
A freguesia de S. Pedro faz parte da cidade e da malha urbana da cidade da Figueira da Foz
Da cidade da Figueira da Foz fazem igualmente parte as freguesias de Buarcos, de S. Julião, de Tavarede. Tal qual como a cidade de Lisboa contem as freguesias da Madragoa, de Alvalade ou de Belém.
Alguém está a ver o presidente da freguesia de Belém a reivindicar que Belém passasse a ser vila, porque está nela a Torre, o museu dos coches ou a pastelaria dos pastéis de Belém. Ou até, porque, vejam lá, tem Presidente da República?..
Recorde-se: a freguesia de S. Pedro passou a vila, porque tem uma pizzaria, uma farmácia, não sei quantas cabeleireiras, uns tantos restaurantes, porto de pesca, boas praias, zona industrial, Hospital...
E se alguém se lembrasse de propor a despromoção da cidade da Figueira?
Acham utópico?...  
Não tem Hospital, está  à beira mar, mas não tem porto de pesca,  nem tem indústria, tem areal, mas não tem praia...
Passados todos estes anos, a  única consequência que  resultou para S. Pedro com a condecoração de vila, foi  o enorme gozo que o então presidente da junta certamente teve ao inaugurar a rotunda “Vila de S. Pedro” num sítio um tanto ou quanto fora dos circuitos rodoviários mais intensos da freguesia.
Palavra que estava a esperar que à entrada da freguesia de S. Pedro, ali logo à saída da ponte dos arcos, houvesse algo  a indicar que estávamos na  “Vila de S. Pedro”.
Tardou. Mas, como sei do que a casa gasta sabia que não falhariam. E não falharam.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Vai uma lição rápida?..

Aos betos da IL e ao povo neoliberal que não sabe que o é!

(Hugo Dionísio, in CanalFactual, 11/12/2023)

"Como se esperava, Milei veio com a teoria do choque. Quem não a conhece? Quem não a esperaria? Talvez os betos da IL e demais liberais. A técnica desta gente é sempre a mesma: “Agora é que é”; “primeiro vai doer muito, mas depois vai sarar”… Para todos descobrirmos, uma e outra vez, que o “Agora” quer dizer “para sempre” e o “depois vai sarar” quer dizer “amputação”. Como charlatanice que é, para o pobre enganar, enquanto o rico mais rico fica, só resta continuar a enganar… Uma e outra vez! Como o bruxo com a sua bola de cristal. Só que desta, o bruxo usa fatinho azul, camisinha branca e cabelinho lambido.

A teoria do choque é a teoria mais praticada nos últimos 60 anos, com menos resultados obtidos. É como a terra prometida de Israel; para eles, o céu, para os outros um inferno. O liberalismo e a teoria do choque nem no papel funcionam. O que é grave e demonstra a charlatanice, em que consiste. Ainda parece que estou a ouvir Portas (ex-governante do CDS da direita cristã e reacionária) dizer que Bolsonaro só poderia acertar… Também ouvi dizer o mesmo de Milei… Dos mesmos de sempre… Daqueles que os ricos contratam para serem apresentados aos pobres comos eus salvadores.

Imaginem um cientista fazer a mesma experiência todos os dias, sempre da mesma forma, à espera de resultados diferentes! Os liberais prometem sempre o paraíso, mas ele só chega para os 10% mais ricos… Invariavelmente. Para os outros, um inferno sem fim!

Agora que sabemos vir aí borrasca da grossa para o povo argentino, quer ver o que vêm dizer os betos da IL e os liberais do costume, quando tudo começar a dar para o torto. Para começar, um deles, já veio dizer que não é neoliberal. Só me resta dizer: coitado, quer governar um país e nós sabemos melhor o que ele é, do que ele próprio.

Vai uma lição rápida: o liberalismo, como doutrina económica, surgiu no século XVIII, em pleno iluminismo. Foi muito moderno, há 300 anos! O que nos apresentam como moderno, é a coisa mais bafienta que podemos imaginar! Pior que isto só a salvação das almas e a inquisição. Que era a teoria da pilhagem, quando ainda não se chamava teoria do choque.

Para os betos que criticam o PCP de ultrapassado… Como teoria económica e social, o Marxismo é muito mais moderno (século XIX) e, falando de modelo orgânico partidário, o partido de novo tipo idealizado por Lenine, é o mais moderno de todos. Os partidos “liberais” adoptam todos uma estrutura orgânica, com pelo menos 300 anos, se não quisermos ir à Roma da República ou à Grécia de Sócrates.

À data, perante o advento dos ideais de libertação (na revolução francesa), os fisiocratas (os que consideram deverem ser os proprietários a governar) foram obrigados a encontrar uma forma mais suave de dizer: a burguesia tem de ter acesso livre ao dinheiro e à riqueza. A forma encontrada foi o liberalismo, cruzando-o com o laicismo, os direitos individuais e a “democracia” liberal.

De lá para cá, nunca o liberalismo funcionou para os pobres. Como doutrina de exploração, elevou a base material e deu gás ao capitalismo, contudo, nunca libertou os pobres da pobreza. Os países mais liberais, são também os que mais miséria têm. Vejam-se os EUA, Colômbia, Inglaterra… Quanto mais liberalismo, menos estado, quanto menos estado, menos capacidade de redistribuir riqueza produzida com o trabalho. É assim. Quanto mais pesa o estado na economia, melhor para os pobres, desde que o estado seja bem governado, claro.

E a história prova também que o liberalismo económico é compatível com o fascismo. Pinochet e as ditaduras sul-americanas do século passado estão para a história humana da economia, como os campos de concentração nazis para a história política. Nunca o deveríamos repetir, não obstante, há sempre alguém que, por ganância, o prometa. Israel reergue o nazismo, Milei, a IL e os liberais do costume, reerguem as piores facetas de terrorismo económico. Sendo que, o nazismo e o sionismo também convivem com o terrorismo económico liberal. Israel é um exemplo disso mesmo, o único país da OCDE que consagra 6 dias semanais de trabalho e 45 horas de período normal de trabalho semanal.

A determinada altura, perante a falência teórica do liberalismo, surgiu o neoliberalismo (consenso de Washington). Sabendo-se, de ciência certa, que aquele liberalismo, idealizado por Adam Smith, de pequenas empresas e concorrência leal, era uma utopia, devido à tendência para a concentração da riqueza… Os neoliberais assumiram, frontalmente, a sua contenda: o estado é um inimigo pois usa dinheiro que poderia ser nosso! Com a queda da URSS já se podiam dar ao luxo de passar à fase seguinte do processo de exploração: a da pilhagem dos seus próprios povos e em ritmo acelerado.

A partir daí surgiram os Chicago Boys de Friedman e a teoria do choque económico. O liberalismo falhou? Não faz mal, damos-lhes com liberalismo a decuplicar. Os resultados são conhecidos no mundo inteiro. Ricos muito mais ricos, pobres ainda mais pobres, em qualidade e em quantidade. Não existe um único exemplo para ser apresentado, como exemplo de sucesso. Todos os exemplos de liberalismo, que os liberais e os superbetos da IL, utilizam, não passam de exemplos de economias liberais limitadas por estados providência (Holanda, países escandinavos…). Ora, das duas, qual é aquela que os superbetos não gostam? Vejam lá se os superbetos pegam em exemplos dos EUA, Colômbia, ou Chile de Pinochet, ou da Rússia de Ieltsin? Está quieto!

Não obstante, os betos da IL, não sei se por falta de estudo, de inteligência ou por viverem em circuito fechado – entre CEO’s, COO, CTO, CFO e outros C’s que só servem para se distinguirem e competirem selvaticamente uns com os outros, enquanto quem neles manda esfrega as mãos de contente, para, de forma tão fácil, lhes entregarem as suas vidas, em prol da sua riqueza – foram a correr dar os parabéns a Milei

Ou seja, foram a correr dar os parabéns a alguém que prometeu ainda mais inferno, quando há uma semana ganhou umas eleições a prometer o céu!

Claro que, com tal atitude, não apenas comprovaram a inexistente distância entre as doutrinas reaccionárias e o liberalismo que advogam, como demonstraram, também, o que pretendem, realmente, para o país que dizem querer governar.

Milei não enganou ninguém. Trabalhar para o Fórum Económico Mundial é a chancela top do governante neoliberal. Se não o for, não trabalha lá. Ponto Final.

Mas Milei também foi dando muita informação sobe as suas pretensões económicas. Nada que assustasse os betos da IL. Todos sabemos que são filhos de Passos Coelho e companhia. Se na troika pudemos ter um cheirinho do que é a governação neoliberal, com Milei, provavelmente, depois de Chile, Brasil, Argentina, Rússia, e muitos outros, vamos voltar a presenciar ao vivo e a cores o terrorismo económico em prática: a teoria do choque!

Parece que já estou a ver o betos da IL e demais liberais da praça (que vão do PS/Livre ao Chega (nuances relativas aos costumes à parte)) a darem o dito pelo não dito e dizerem: a culpa não é de Milei, a culpa é de quem não o deixou trabalhar! Deles é que nunca é!"

Como têm dinheiro, a comunicação social, as redes sociais e os comentadeiros da ordem, não obstante o logro, lá irão continuando a prometer o que não defendem e a defender o que nunca prometem, mas querem concretizar. No final, o rebanho neles continuará a votar e todos ficarão contentes, porque é a “democracia”.

Não fiquem, pois, em choque!"

domingo, 7 de janeiro de 2018

Há quem lhe chame progresso!..

FOTO PEDRO CRUZ
Esta foto mostra o que a avidez humana pode fazer...
O meu Amigo Manuel Luís Pata, fartava-se de dizer o seguinte: "há muita gente que fala e escreve sobre o mar, sem nunca ter pisado o convés de um navio".
Em 2003, lembro-me bem da sua indignação por um deputado figueirense - no caso o Dr. Pereira da Costa - haver defendido o que não tinha conhecimentos para defender: "uma obra aberrante, o prolongamento do molhe norte".
Na altura, Manuel Luís Pata escreveu e publicou em jornais, que o Dr. Pereira da Costa prestaria um bom serviço à Figueira se na Assembleia da República tivesse dito apenas: "é urgente que seja feito um estudo de fundo sobre o Porto da Figueira da Foz".
Como se optou por defender o acrescento do molhe norte, passados 15 anos, estamos precisamente como o meu velho Amigo Manuel Luís Pata previu: "as areias depositam-se na enseada de Buarcos, o que reduz a profundidade naquela zona, o que origina que o mar se enrole a partir do Cabo Mondego, tornando mais difícil a navegação na abordagem à nossa barra". 
Por outro lado, o aumento do molhe levou, como Manuel Luís Pata também previu, "ao aumento do areal da praia, o que está a levar ao afastamento do mar da vida da Figueira". Porém, e espero que isso seja tido em conta no disparate que é a projectada obra a levar a cabo pela Câmara Municipal da nossa cidade, "essa área de areia será  sempre propriedade do mar, que este quando assim o entender, virá buscar o que lhe pertence".


Como previmos, por isso o escrevemos para alertar quem de direito, já em 11 de dezembro de 2006, o processo de erosão costeira da orla costeira da nossa freguesia, a sul do quinto molhe,  era já então uma prioridade
Continua a ser... Até porque, entretanto, pouco se fez.
Nessa época, tinha este blogue cerca de 6 meses de existência e a erosão da orla costeira da nossa freguesia assumia já – como continua a assumir cada vez mais ... - aspectos preocupantes para o responsável deste espaço. Especialmente, uma zona a que, na altura, ninguém ligava: a duna logo a seguir ao chamado “Quinto Molhe”, a sul da Praia da Cova...
Tal como agora, entendíamos que, por vezes, ao centrar-se a atenção sobre o acessório, perde-se a oportunidade de resolver o essencial...
Durante todos estes anos – o histórico de postagens publicadas prova-o -, a erosão costeira tem sido a maior preocupação do autor deste blogue.

Sofremos - continuamos a ser apelidados de tudo e mais alguma coisa... - ataques de personagens que vão passando pelo poder local aldeão e  figueirense... 
Infelizmente, porém, o que muito lamento, pois adorava ter sido eu a estar completamente enganado e fora da razão, a realidade é a que todos conhecemos: neste momento, a duna a  Sul do 5º. Molhe da praia da Cova está devastada  e o mar está a entrar pelo pinhal dentro...

Muita gente, que deveria ser responsável, por omissão, contribuiu para o estado a que chegámos.
Nós, aqui no Outra Margem, continuaremos a fazer aquilo que é possível: contribuir para sensibilizar a opinião pública da nossa freguesia, do nosso concelho, do nosso País e dos inúmeros covagalenses espalhados pela diáspora, para um problema gravíssimo que, em última análise, pode colocar em causa a sobrevivência dos covagalenses e dos seus bens.

Tudo foi dito, tudo se cumpriu: depois da construção do acrescento dos malfadados 400 metros do molhe norte, a erosão costeira a sul  da foz do mondego tem avançado, a barra da Figueira, por causa do assoreamento e da mudança do trajecto para os barcos nas entradas e saídas, tornou-se na mais perigosa do nosso País para os pescadores, a Praia da Claridade transformou-se na Praia da Calamidade, a Figueira, mais rapidamente do que esperava, perdeu.

A pesca está a definhar, o turismo já faliu - tudo nos está a ser levado...
Espero que, ao menos, perante a realidade possam compreender o porquê das coisas...
O que nos vale é que temos uma política bem definida para a orla costeira...

segunda-feira, 6 de junho de 2022

Muito de tudo, nada de nada

Por António Araujo, via Diário de Notícias

"E o ponto é o seguinte: talvez sem se aperceberem disso, aqueles alunos da D. João II, de Setúbal, por certo sob orientação dos seus professores (e com a colaboração da Associação José Afonso), produziram um assombroso retrato social de um país já extinto, de um Portugal que morreu. Neste caso concreto, a viragem fatal ocorreu em meados de 1970, quando o governador civil de Setúbal anunciou urbi et orbi grandes transformações para a região, dizendo que "uma nova actividade, a do turismo, ensaia os primeiros passos para o aproveitamento da península de Tróia para o turismo de grande projecção". Em consonância, o senhor governador dava conta da construção de novas estradas e de obras no porto de Setúbal para a atracção do ferry-boat e, pouco depois, em Agosto, O Setubalense informava que a empresa Soltróia entregara na Câmara Municipal de Grândola, e que esta aprovara, um projecto de um conjunto turístico (1.ª fase) a construir na Ponta do Adoxe. O entusiasmo era enorme, contagiante, e, em Outubro, o mesmo jornal proclamava para breve, com ponto de exclamação e tudo, "O Algarve a 40 km da capital!".

No início do ano seguinte -- 1971, portanto --, Amália Rodrigues actuaria no restaurante Tróiamar para os representantes da imprensa estrangeira, a quem foi mostrado o plano de urbanização previsto para a península sadina, no qual se incluía um vasto conjunto de edificações com traço do arquitecto Conceição e Silva. "Tróia será em breve grande centro do turismo europeu!", novo ponto de exclamação de O Setubalense, que noticiava que "ao lado das boîtes, dos cinemas, dos teatros, dos campos de jogos, erguer-se-ão escolas primárias e pré-primárias. E tudo isto no prazo de quatro anos!" (novo ponto de exclamação). Nesse Verão de 1971, Américo Tomás inaugurou a nova travessia Setúbal-Tróia em hovercraft e prosseguiram a bom ritmo os trabalhos de demolição das barracas e construções clandestinas que, durante décadas, tinham servido de local de veraneio ou apoio de pesca às gentes setubalenses ("O que aconteceu não foi a destruição de Tróia, como muitos preconizaram. Talvez antes o despertar de Tróia"). Nas duas margens do Sado, ambiente ao rubro: "A Tróia é já hoje uma praia cosmopolita, que embriaga o espírito, que prende e alicia multidões. Daí a sua crescente rivalidade com estâncias congéneres estrangeiras." Talvez Tróia ainda não rivalizasse propriamente com a Riviera, mas os turistas, e sobretudo os mirones, não escasseavam: no dia 15 de Agosto de 1971, refere O Setubalense, acumularam-se lá 40 mil pessoas, que entupiram os acessos fluviais com filas de espera de longas e longas horas, só terminadas já passava da meia-noite.

O povo de Setúbal acorria em massa para ver as construções a nascer, o progresso anunciado sob a forma de betão, prometendo "piscinas e parques de jogos, dois supermercados, restaurante, esplanadas, dez-doze papelarias, livrarias, cabeleireiros". Era o Algarve a poucos quilómetros de Lisboa, a Côte-d"Azur à beira-Sado. Deu emprego a muitos, férias a muitos mais, lucros aos afortunados, discursos para os políticos, e não interessa aqui saber se, do ponto de vista económico, ambiental e até turístico, o que ocorreu em Tróia terá sido coisa boa ou coisa má, ou sequer como acabou a festa ou como hoje está tudo aquilo. O que importa assinalar, tão-só, é que, como sempre sucede, a mudança implicou ganhos e perdas, para todos e para alguns, e que a repartição das vantagens e das desvantagens talvez não tenha sido inteiramente equitativa ou sequer equilibrada. O povo não terá perdido por inteiro a sua Tróia, mas viu desaparecer um tempo e um modo de vida que eram seus, só seus, feitos de barracas e de clandestinos, de atropelos ambientais, de ruas desordenadas, com odores a fritos e tachos na areia. Mas perdeu-se também um tempo, para quem o viveu, de longos passeios a pé até ao Bico das Lulas, das travessias nos barcos do Albino e do Tomé, da apanha das camarinhas ou da captura de lagartos na Caldeira, de namoros começados à sombra das giestas batidas ao vento. E, nos princípios de Agosto, em data incerta, variando consoante os humores das marés do Sado, o ponto alto, as Festas da Tróia, tradição que remonta a 1758 e que ainda hoje se mantém. Os festejos iniciam-se com três noites de orações na Igreja de São Sebastião, em Setúbal, pelas almas dos marítimos falecidos, e no sábado, depois de missa e de procissão pelas ruas da cidade, os barcos dos pescadores partem da doca das Fontainhas. Numa das embarcações, à proa, a imagem de Nossa Senhora do Rosário ruma à Caldeira de Tróia, onde uma multidão a aguarda há muito. Há foguetes, nova missa, um jantar animado e, depois dele, uma procissão de velas pela areia. Recolhida a Santa, começa então o baile, até às tantas. No dia seguinte, mais missas, mais festas, mais procissões. Na segunda-feira, o Círio mais majestoso, de regresso a casa, passa pela Outão e pela Nossa Senhora do Cais e termina na Doca do Comércio. Agora mais discretamente, Nossa Senhora retorna à Caldeira e dá entrada na capela, à espera do ano que vem. Acaba a festa, acaba o Verão.

Durante décadas, do final da guerra até 1970, as famílias populares de Setúbal tinham por hábito passar o Verão inteiro na Tróia, três ou quatro meses a fio, o que, naturalmente, deixou lastro e memória em muita gente, que ainda hoje recorda que as Festas de Agosto eram sempre pontuadas pelas actuações do Xico da Cana, do conjunto Trio Azul, que recorda os gritos do Ervilha, o homem dos sorvetes ("Cá está o Ervilha! O Ervilha nunca falha!"), os farnéis levados para a praia, com tachos lavados no mar, as tardes em que os rapazes iam à caça dos patos enquanto as moças ficavam no areal à conversa e a ler fotonovelas Capricho. As únicas pessoas que tinham fatos de banho eram as que vinham da América, enquanto as outras se molhavam vestidas, com as roupas pelo joelho; a partir de 1968 começaram a aparecer os primeiros nudistas, quase sempre estrangeiros, para escândalo dos mais velhos e horror dos cabos-de-mar, que também olhavam desconfiados para as sabrinas, as minissaias e os biquínis que despontaram já na década de 70. Acampava-se no areal ou dormia-se ao relento, havendo alguns que, para se protegerem da humidade nocturna, estendiam toldos de lona atados às árvores e amanhavam-se como podiam. Aos poucos, começaram a surgir tendas de campismo, em condições mais do que selvagens: não havia esgotos nem água potável, tirava-se água de um poço para lavar a roupa e a louça; WC nem vê-los, duches também não, e, após um dia de banhos de mar, todos se deitavam com o sal no corpo. Quanto à alimentação, como recorda uma das entrevistadas para o livro Quando a Tróia era do Povo, "eu ainda sou do tempo de se levar para a praia autênticos festins de comida, principalmente quando ia com os meus avós". Peixe frito e arroz de tomate, levado dentro de um tacho de barro enrolado numa toalha, bifes panados, amêijoas de cebolada, linguiça assada, berbigão assado na brasa, peixe trazido de Setúbal, sardinhadas, caldeiradas. "Comia-se de tudo. Era desde coelho frito e arroz e peixe frito, mas sobretudo muito peixe frito e arroz de tomate, com pimento e peixe assado, peixe grelhado." Depois, longas sestas à sombra dos pinheiros mansos e, aos lanches, pão com banha de alho ou ovos cozidos, que ninguém ali tinha dinheiro para sandes de fiambre ou queijo. Em muitas famílias era hábito ir uma vez por semana a Setúbal confeccionar refeições para vários dias, que depois eram transportadas em grandes panelas a bordo dos barcos que faziam a travessia do Sado.

Curiosamente, ou talvez não, havia subtis diferenças de classe e de status, com os mais pobres, os pescadores, a irem para o lado da Caldeira, enquanto os restantes ficavam na Ponta do Adoxe, sendo lá, aliás, que estanciavam as estrelas, como o Fernando Vaz ou o Emídio, ambos treinadores do Vitória. Por vezes apareciam alguns estrangeiros, poucos, quase nenhuns, atraídos pelas ruínas romanas e, aos fins-de-semana, forasteiros do Montijo, do Barreiro, do Pinhal Novo. Com o tempo, porém, começaram a surgir pessoas da região de Lisboa e até de mais longe, do Porto e da região Norte. Na edição de 23 de Março de 1960, O Setubalense trazia a notícia de que o Clube dos Amadores de Pesca de Setúbal iria promover, no domingo próximo, uma excursão-passeio a Tróia, a fim de admirar as giestas em flor, com partida às 9h30 e regresso marcado para as 18h30. Uma delícia.

São gratas as memórias da Tróia do povo. "Era uma época feliz. Apesar da pouca qualidade de vida, divertíamo-nos e passávamos bons momentos juntos. Era um tempo que tínhamos para estar em família, com os amigos e a fazer novas amizades, com muito convívio, muitas festas, muita e boa música, bons cozinhados, muito de tudo", diz quem viveu esses anos.

E é isso que é espantoso, alguém afirmar que havia muito de tudo numa época e num lugar em que, para os nossos padrões, parecia não haver nada de nada: nem casa para dormir, nem água canalizada, nem frigoríficos, luz eléctrica, alimentos frescos, confortos mínimos, nada de nada. Agora, que temos essas coisas todas e muitas mais (Internet, smartphones, viatura própria, férias pagas, Punta Cana), será que iremos recordar os nossos dias como um tempo em que havia muito de tudo?

"O que é o tempo? É ver o mundo a mudar", escreve Jorge Calado em Mocidade Portuguesa, o seu livro mais recente, como sempre retumbante. De facto, a história da Tróia do povo mostra-nos o mundo a mudar no tempo, mas mostra-nos mais do que isso, mostra-nos o que é a nostalgia e até que ponto ela é diferente da memória. Quando ouvimos ou lemos como eram aquelas tardes ingénuas na península da Tróia, entre giestas e peixe frito, logo sentimos um frémito nostálgico, não porque tenhamos lá estado ou sequer porque desejássemos lá ter estado. Ninguém de bom senso aspira a regressar a essa época, de ditadura e pobreza, como ninguém de bom senso considera que aquele estendal de barracas no Sado, ou os clandestinos da Arrábida, ou os índios da Meia-Praia eram coisas belas e dignas de preservação. A nostalgia, ao contrário da memória, não tem a ver com o passado, mas com o presente (e com a incerteza do futuro). A memória reporta-se a um passado vivido, experienciado individual ou colectivamente, ao passo que a nostalgia é fantasiosa, ligada a pretéritos que não são nossos, como o da Tróia do povo, o Rio dos anos dourados de 1950 ou a Östalgie de Berlim nos tempos do comunismo. Sentimos nostalgia daquela época, imaginamo-la mais sadia e mais inocente do que realmente foi, porque nela projectamos as nossas frustrações do presente e as nossas angústias do futuro. Mesmo sabendo que havia miséria e violência, alcoolismo e injustiça, dramas terríveis, o passado parece-nos radioso, enternecedor, porque a actualidade nos desencanta - e quanto maior for o nosso desencanto com ela, mais intenso e onírico será o sentimento nostálgico. O facto de muitos russos, inclusive jovens, terem saudades do estalinismo poderá parecer assustador, mas não nos diz muito sobre se eles querem realmente voltar ao tempo das purgas e do Gulag; diz-nos, isso sim, que estão profunda e tremendamente desalentados com a Rússia de Putin e dos oligarcas. A nostalgia não é um produto da memória, mas, pelo contrário, fruto da desmemória, da ignorância da História."