Fotos: Arquivo pessoal de Décio Salema Neves
"Pelos meados do século passado, nos anos quarenta, cinquenta e sessenta; nesta altura do ano, O SALGADO DE LAVOS já fervilhava de grande actividade. Nas cerca de 300 SALINAS que nessa altura se encontravam activas, mais de mil trabalhadores, MARNOTOS, MOÇOS e SALINEIRAS, trabalhavam freneticamente na preparação das Salinas para as colocar em condições de produzirem o bom e se possível muito SAL LAVOENSE que haveria de ser utilizado em todo o País e até no Estrangeiro.
Procedia-se à limpeza das lamas, dos limos, dos cachelros (Salicórnia) e outros lixos que as tinham invadido desde a última “SAFRA”, durante o Outono e o Inverno. Os limos e as lamas a que os Marnotos davam respectivamente os nomes de “ESCOICE” e “TORRÃO”. Eram colocados em cima das “CILHAS” para secar e ficarem mais leves.
Salina das Craveias... |
Os TALHOS onde se iria produzir o sal ficava alguns dias ao sol, para “ESTURRAR” e para que o outro que disso necessitasse fosse reparado, nos “CANEIROS”, nas “MARACHAS” ou até mesmo de alguma nascente de água doce ou salobra que se verificasse no seu interior. O passo seguinte era consolidar o piso dos talhos pelo que o Marnoto e/ou os Moços os pisassem usando os “CIRCIOS” que mais não era de que um enorme rolo de madeira (um tronco grosso de árvore) que tinha em cada extremidade uma “MANGA” que se puxava. Terminado este trabalho, passo seguinte era o “ARIAR” que consistia em cobrir os talhos com uma camada fina de areia branca que era levado das serras de que já falei (Caldista, Castanho), e de outros locais, para que o sal não ficasse directamente em contacto com o fundo do talho e não se sujasse.
Era e ainda é muito importante que o sal fosse muito clarinho é sinal de qualidade. Este procedimento foi sendo posto gradualmente de lado e hoje nas poucas Salinas ainda em actividade já ninguém o pratica.
Salina das Craveias... |
Acrescente-se que cada “RASA” normalmente teria entre cinco a dez cestas de sal e havia Salineiras que “TIRAVAM" em três, quatro e cinco Salinas, além de que ainda integravam a equipa que carregava e descarregava os barcos de sal e havia certos dias em que cada barco levava mais do que uma “BARCADA”. Refiro aqui por me parecer muito curioso que as Salineiras nunca eram avisadas das horas a que deveriam estar na Salina para tirar o sal, os Marnotos diziam-lhe que a tiragem era “ CEDO, ou “ATRÁS DE CEDO”, ou “À TARDE”, ou “JANTAR E IR” ou “ATRÁS DE TARDE” ou “ SEAR E IR” e elas já sabiam a que horas correspondia cada uma daquelas designações. No caso das “BARCADAS”, já era indicada a hora a que deveriam estar em determinada Salina. A Barcada era mais dura que a redura, sobretudo quando o “ESTEIRO” que dava acesso do barco ao barracão era pouco profundo e as mulheres tinham que ir por cima das MOTAS” puxando o “O BARCO À CIRGA” para ajudar os “BARQUEIROS”.
E eram estas Mulheres que ainda tinham que tratar dos filhos, ir à “SEMENTEIRA”, buscar feixes de lenha, de caruma, de “ RUSSOS” para as camas do gado e para os pátios, fazer a comida, acartar também à cabeça feixes de erva e pasto, lavar a roupa nos lavadouros, passar a ferro, entre muitas mais coisas. Eram autênticas “MULHERES DE AÇO” e “HOMENS DE BARBA RIJA”...
Hoje tudo é diferente para melhor, e ainda bem, mas é sempre de justiça não esquecer o passado…"