Com a passagem do tempo, ficou mais patente a minha
necessidade de me afastar de gente de sucesso, de gente de planos, de gente de
reuniões, de gente de currículos – no fundo, da chamada gente interessante.
Com a passagem do tempo, ficou mais patente a minha
necessidade de me afastar de gente ocupada, de gente apressada, de gente que,
depois de uma boa conversa, acaba sempre por admitir que odeia a vida que tem,
mas não desiste de a ter assim.
Com a passagem do tempo, ficou mais patente a minha necessidade
de me reaproximar da tranquilidade proporcionada pelo mar - o som em fundo
deste mar, este mar desta minha outra
margem, funciona como a luz da minha
memória.
Com a passagem do tempo, ficou mais patente a minha
necessidade de ler – gostava mesmo era de conseguir ler como li durante
décadas.
Com a passagem do tempo, ficou mais patente a minha
necessidade de comer umas boas sardinhadas – a melhor parte de ficar com a
roupa a cheirar a sardinhas é o sucesso que se faz com as gatas...
Vivemos no País que é líder mundial na produção de rolhas de
cortiça.
Isto, é um País de sucesso, quando, estatisticamente,
continuamos na cauda da Europa?
Em tempo.
Cada vez detesto mais
"gente" que tem a mania que manda na gente, só para se sentir gente.
Cada vez mais, gosto de gente que gosta da gente, sem lhe apetecer mandar na
gente.
Essa tal "gente" que eu cada vez detesto mais, que
vive obcecada em mandar na gente para se
julgar gente, a meu ver, não é gente: essa tal "gente", se fosse realmente gente, sabia perfeitamente
que toda a gente nasce despida e toda a gente vai daqui vestida por outra
gente.Portanto, o sucesso vai continuar a não constar da minha lista de preocupações.
O que vai continuar a ocupar-me o tempo vai continuar a ser as chamadas pequenas coisas - sobretudo muitos passeios à beira mar...
O meu objectivo é continuar a ter uma vida sossegada - mas não monótona...