terça-feira, 5 de maio de 2015

"Um dákar de pacóvios", ou a cultura do deserto figueirense...

“A Figueira da Foz confronta-se há muitos anos com um dos efeitos mais visíveis do prolongamento dos molhes (obras projectadas pelo estado para beneficiar a navegabilidade fluvial e o acesso ao porto comercial). 
Sem responsabilidade na obra, o município ficou, desde então, com o ónus dos seus efeitos colaterais: o crescimento exponencial da sua praia urbana, a Praia da Claridade. 
Assim, todos os anos, em vésperas de época balnear, o município tratava de, como se diz por cá, alindar uma praia cada vez mais interminável - o que consistia em revolver, crivar  e terraplanar, por métodos mecânicos, aquelas finas areias de modo a impedir que aí medrasse a menor réstia de vegetação. 
Este deserto, esmeradamente cultivado ao longo de décadas, formatou no imaginário dos figueirinhas o postal da praia; tornou-se, com o tempo, numa espécie de imagem d’Epinal. Muitos deles não concebem uma praia com dunas e vegetação. O seu entusiasmo com o “oásis do Santana” só confirma aliás a concepção arraigada da praia como um deserto, um berço de sereias terraplanado até à rebentação.

Por isso, a atitude sem precedentes do actual executivo camarário de, contrariando uma longa tradição, decidir deixar pura e simplesmente de subvencionar o cultivo anual do deserto, foi uma pedrada no charco que me pareceu desde logo algo realmente “fora-da-caixa”. 
E, ao deixar de “lavrar a praia”, o município permitiu-se poupar, ao que me dizem, cerca de 150 mil euros por ano (seiscentos mil num mandato, para o lobi do tractor). 
Amplamente criticado pela oposição e por um certo beautiful people que pontifica nas redes sociais, o executivo de João Ataíde resistiu galhardamente às críticas e aos remoques com o argumento de que essa simples decisão de tesouraria lhe permitiria ainda deixar crescer espontâneo um coberto vegetal natural que fixaria as areias (protegendo a avenida do assoreamento sazonal pelos ventos) e potenciaria a prazo a consolidação de novas áreas aprazíveis, aproveitáveis para a fruição dos cidadãos. 

Parecia-me um “ovo de colombo”, tão simples e evidente que era um espanto que nunca ninguém se tivesse lembrado de tal – não só sensato e avisado, mas genial - o verdadeiro sonho molhado de qualquer autarca minimamente honesto e inteligente numa época de vacas magras: a possibilidade de “fazer obra” sem gastar um chavo do erário público.”

Este naco de prosa foi sacado daqui. Depois, a prosa da postagem do Fernando Campos, que aconselho a ler na integra,  azedou.
Entretanto, o vento passou pelos gabinetes camarários e arrastou a inércia para longe. A anarquia, como podem ver na foto, chegou e atropelou a tradição da praia. Por isso, a confortável tradição da praia, acabou por tropeçar em maus tratos inesperados.
O mar, ali tão perto, apesar do deserto, consegue estar ao alcance do cheiro do meu nariz e sobrevoa o sossego de um pensamento.
Estremeço por ver este atentado sórdido e não encontro motivo que leve a permitir tal coisa.
O deserto de ideias dos políticos figueirenses, sem nome, é o único pensamento mais coerente que me surge à rotina do cérebro.

Abro os olhos e o mar continua a mandar fúrias para os meus olhos.
E penso “nos milhares de labregos que se sentem vexados porque nascem tomateiros na praia mas não se sentem indignados pela “erecção” do busto de Aguiar de Carvalho à porta do município (não o acham obsceno); nem atingidos com o fecho da maternidade (não a acham necessária); nem ofendidos por o seu hospital público funcionar dentro de um parque de estacionamento privado (não acham ultrajante). A estes pacóvios nunca ocorreria assinar petições contra nada disto. Nem sequer a favor, por exemplo do cultivo da várzea (não o acham estruturante), ou da reflorestação da serra (não a acham imperativa). Porque nada disto os afecta.
O que realmente os tira do sério é o que vegeta na praia. A cultura do deserto.”

Afinal aconteceu: foi no passado dia 30, quinta-feira e está hoje no jornal...

Mais de dois meses depois, “Alerta costeiro 14/15”, uma exposição fotográfica de Pedro AgostinhoCruz, ainda não conseguiu ser inaugurada e continua a ser notícia...
Hoje - que foi o dia a seguir à ironia ter saido à rua com os dentes afiados - depois de na passada quinta-feira a deputada municipal Ana Oliveira ter apresentado uma moção que propunha a realização da mesma exposição nos Paços do Concelho, o assunto merece destaque no jornal AS BEIRAS.
Na sessão da assembleia municipal realizada no último dia do mês de Abril de 2015, a troca de argumentos entre os partidos representados naquele órgão autárquico envolveu “os valores de abril”em particular a liberdade de expressão: o autarca de São Pedro, eleito por uma lista PS, foi acusado de falta de cultura democrática.
Bonito, mas bonito mesmo, para mim, que por mero acaso estava presente no salão nobre dos paços do concelho, foi ter presenciado a bancada do PS figueirense na Assembleia Municipal, na discussão da proposta, cometer o mesmo erro que o presidente de São Pedro, dois meses antes: como sabemos, na vida ou na política, se avançamos, sem retaguarda, deixamos para trás a hipótese de recuar. 
E isso, mais cedo que tarde, costuma sair caro...

Daí, esta iniciativa da oposição quase ter sido aprovada, não fosse o voto de qualidade do presidente da mesa, José Duarte.
Tudo porque alguns deputados socialistas, a meu ver, certamente pouco confortáveis com o sentido de voto da bancada a que pertencem, num assunto tão delicado, melindroso e sensível, para os verdadeiros socialistas - tem tudo a ver com a liberdade de expressão e de pensamento - se terem ausentado da reunião momentos antes da votação, verificando-se o tal empate (16-16 e uma abstenção).
Para Ana Oliveira, do PSD e a autora da proposta, "esta visava despertar as consciências para o problema da orla costeira”
Já para Nuno Melo Biscaia, líder do PS na assembleia, não passava de uma moção que tinha “encapotada uma provocação política”Registei, e lamento, meu caro Amigo, as tristes figuras que um líder político de uma bancada, por vezes, tem de fazer. E lamentei ainda mais, acredite pois isto é sincero, sendo V. Exa. filho de um Homem tolerante e um verdadeiro democrata chamado Luís Fernando Argel de Melo e Silva Biscaia para quem "a coerência é, talvez, o que melhor define o seu carácter. Sem nunca tergiversar nas suas tomadas de posição ao longo da vida, é um verdadeiro democrata de espírito aberto e tolerante. Acredita nos seus ideais, mas respeita democraticamente os dos outros." 

O debate teve ainda um momento interessante, principalmente para os fregueses de São Pedro, quando José Elísio, ao responder a uma desajeitada “picardia” de António Salgueiro, proferiu esta declaração:  “tive duas oportunidades para governar a Junta de São Pedro e não as aceitei”. O presidente de Lavos, José Elísio, proferiu estas palavras em resposta a António Salgueiro "quando este lhe sugeriu que tratasse de Lavos que ele tratava da sua freguesia"
A primeira oportunidade, explicou José Elísio, "foi em 1985, quando defendeu a desanexação de São Pedro de Lavos. A segunda foi em 2013, com a reforma administrativa, dando a entender que, se tivesse querido, São Pedro regressaria à freguesia de origem".

Completamente fora desta polémica e às questões político-partidárias em seu redor, o fotojornalista Pedro Agostinho Cruz, em declarações ao jornal AS BEIRAS, mostrou-se surpreendido com a iniciativa do PSD e disse "que a exposição vai ser inaugurada em breve, num espaço público e com outro formato”.

Mau tempo

O Cabedelo ontem à tarde. Foto António Agostinho

segunda-feira, 4 de maio de 2015

"O homem sem qualidades", que conseguiu fazer tudo a que se propôs: isto, só em Portugal!..

ECOS DA DESILUSÃO...

Tal como o cronista de serviço hoje no jornal AS Beiras, sinto-me descalço. 
A alma segue-lhe as pisadas. 
O pensamento vai no mesmo caminho, como se o destino que é preciso percorrer pela nossa cidade esteja, desde há muito, traçado por um grupo que quer ser elite.
Mas, isso, como o demonstra o estado a que a Figueira chegou, tem sido o nada. 
Valem-me os dedos das mãos, que com uma lucidez profunda, me têm permitido afastar do nada.
O vazio, que nos é trazido pelo nada, é uma forma de se ir morrendo aos poucos e é uma forma cruel de viver a desilusão como nenhuma outra.
O vazio, que nos é trazido pelo nada, é ter de viver com a tristeza em permanência encravada na garganta.
Como não quero a tristeza perto de mim e, como muito menos, a quero dentro de mim, uso este espaço para mergulhar e percorrer os tortuosos e difíceis caminhos da emoção.  

Em tempo.
Para ler melhor a crónica do vereador "Somos Figueira", Miguel Almeida, basta clicar na imagem.

"Uma ilusão para Portugal"...

Permitam que aconselhe leitura deste texto. 
Para o efeito, basta clicar aqui.

Não veio na TV, nem na Rádio, nem nos Jornais: não aconteceu!..

Depois de um sábado e de um domingo a chover, a manhã desta segunda também acordou com chuva. Não é uma chuva qualquer. A primavera cheira a outono e pelos vistos, para já, afugentou o Verão: o calor foi atirado para longe e o verde da natureza da praia, outrora da Claridade e agora da Calamidade, com esta rega, vai continuar com uma cor bonita.
O frio, outra sombra, voltou a entranhar-se nas paredes e arrefeceu de novo as casas, faz-me sentir incómodos, dores nos ossos e causa-me tristeza, mas não me vai impedir de viver a vida com gosto e energia. 
Na coluna vertebral, porém e felizmente, continuo a não ter qualquer problema.

Na passada quinta-feira, 30 de de Abril, no salão nobre dos paços do concelho da Figueira da Foz, no decorrer da Assembleia Municipal a deputada municipal Ana Oliveira apresentou uma moção, cujo teor pode ser lido clicando aqui.
Face ao empate verificado na votação – 16 votos a favor e 16 contra - o presidente da Assembleia Municipal, José Duarte Pereira (PS), teve de exercer o voto de qualidade para desempatar.
Cheguei a pensar, que esta votação criou engulhos dentro do PS!..  
Cheguei a pensar, que houve mosquitos por cordas e as coisas azedaram nos bastidores do partido do poder na nossa cidade há cinco anos e muitos picos!..
Tudo isto, porém, só pode ter sido mentira e fruto da minha imaginação!..
Que eu tenha conhecimento, não deu na Figueira TV; não houve notícia na Foz do Mondego Rádio; não saiu em nenhum jornal. Portanto, esta votação que eu tive oportunidade de ver ao vivo, pois, no momento,  estava nos paços do concelho e vi deputados do PS a ausentarem-se da sala, e a reunião que no dia seguinte aconteceu no partido do poder figueirense para clarificar a situação, devem ser factos políticos  acontecidos na imaginação de alguns: como todos sabemos, na Figueira, os órgãos de informação são isentos e objectivos.
Na informação figueirense só existe um pequeno pormenor melhor do que a censura: a auto-censura
A vida e as notícias, cá pela Figueira, continuam a seguir o mesmo caminho.
E os políticos figueirenses, continuam de pernas cruzadas e agarrados ao conforto do poder.  

Nada de novo aliás.
Na Figueira, sem escândalo dos aprendizes/defensores da liberdade de imprensa, os jornalistas em certas situações (vá lá saber-se porquê!.. Por acaso alguns figueirenses até sabem...), começam por apelar à auto contenção da comunicação - a subliminar auto censura - esquecendo que as notícias, mesmo numa democracia liberal, dependem tão só da importância dos acontecimentos... 
Na Figueira, ainda se há-de fazer comunicação social sem jornalistas! Portanto, só podemos estar optimistas... 
Depois de um sábado e de um domingo a chover, a manhã desta segunda também acordou com chuva. 
Hoje, porém, está pior, o frio arrepia o susto e continuamos na escuridão – na pior escuridão, pois já é dia.
Talvez por isso, a Aldeia não absorve vida, como devia. 

As contas de 2014 do Município figueirense...

Uma intervenção da deputada municipal do PSD, Natália Pires, na Assembleia Municipal Ordinária realizada no passado dia 30 de Abril de 2015 sobre a matéria. Permitam que aconselhe a sua leitura.
"Relativamente as contas de 2014, lamentamos que o parecer do ROC e a certificação legal das contas não tenham sido divulgados juntamente com as contas do Município ou de forma atempada para poderem ser discutidos na última reunião de câmara. Efectivamente, existem reservas apresentadas pelo ROC que podem alterar completamente as demonstrações financeiras e que põem em causa o resultado líquido do município, nomeadamente: 
- O facto de existir imobilizado em curso que ainda não foi objecto das respectivas amortizações (obras no valor de 2.194 milhares de euros) ou ainda imobilizado com valor materialmente significativo que ainda se encontra por reconhecer contabilisticamente. O que se traduz em custos que ainda não foram contabilizados. 
- Não foram facultadas as contas de 4 das 21 entidades participadas pelo município, pelo que ignoramos os respectivos efeitos no património e dívida total do Município. 
- O município mantém no activo dívidas a receber no valor de 2.072 milhares de euros que pela sua antiguidade já revelam ser dívidas incobráveis. Assim sendo, o activo no balanço encontra-se sobrevalorizado neste mesmo montante. 
- Existem ainda responsabilidades contingentes decorrentes de processos judiciais que não estão reconhecidos no passivo (31.241 milhares de euros). Concluindo, os efeitos destas reservas podem ser de tal maneira significativos nas contas que o ROC termina o relatório da certificação frisando que “a dívida total do Município, antes de consideradas as reservas acima, cumpria o limite da dívida prevista no art. 52º do Regime Financeiro das Autarquias Locais”. 
A grande questão é: Qual o impacto das correcções decorrentes destas reservas no resultado líquido do Município?"

domingo, 3 de maio de 2015

Uma sugestão literária


A pré-venda do segundo livro do escritor covagalense Pedro Rodrigues- (A)mar - começou hoje.

A importância dos dedos, numa manhã de um domingo de maio com chuva persistente...

Neste domingo de uma manhã de maio, a chuva persistente arrasa com a paciência a qualquer um.
Um gajo rasga a máscara que tapa o pudor e expele a brutalidade de um “merda pró tempo”.
Isto, porque está bem disposto, pois se não estivesse, era provável que o rol do dicionário vernacular fosse vomitado, em três tempos, pelos beiços a espumarem.
Neste domingo, pelo menos de manhã, a Aldeia encolhe-se no aconchego do sossego do lar.
A minha voz, tal como a de qualquer cidadão normal, podia não existir.
Há muitos anos, na Aldeia, houve uma barreira que a tentou cilindrar na montanha da liberdade vigente na Aldeia: “todos ao monte e fé em Deus”!
Mas, com os dedos, criei esta ferramenta para poder continuar a gritar e viver a  LIBERDADE.

Neste domingo, pelo menos de manhã, a Aldeia encolhe-se no aconchego do sossego do lar. 
Mas, de tarde, mesmo que continue a chover, as portas das casas vão abrir-se. De lá vão sair os esfomeados pela LIBERDADE, os presos à máquina do trabalho, que durante a semana os ocupa por largas horas, como se o inferno lhes sugasse o sorriso aos poucos.
O compromisso planeado pelas responsabilidades do calendário, mesmo ao domingo, permanece na mente de cada um de nós.
Amanhã, segunda-feira, acordamos com um abanão furioso. Faça chuva ou faça sol, temos de sair cedo de casa.
Para quem ainda consegue trabalhar neste país e nesta Aldeia, é o início de mais uma semana de labuta e de luta.
Ainda ressacados pela mágoa, temos de nos fazer à vida, com o entusiasmo de quem se atira para um abismo fundo.
A vida, tal como a labuta e a luta, faça chuva ou faça sol, continua...
  
Se é certo que o Povo da Aldeia perdeu um monumento, que era um poço ainda nos resta AS ALMINHAS!..
Já que o crescimento da Aldeia não aconteceu com um plano que a conseguisse preparar para o futuro, respeitando o seu passado, os nossos filhos vivem numa Aldeia igual a tantas outras, que nos dias que passam praticamente nada reflecte da sua história.
Ao menos, respeitem AS ALMINHAS!  
Será que somos uma terra de alarves e não temos civilização para fazer respeitar a memória espiritual do que nos foi legado e era um património vivo daquilo que fomos?
Nós, na Aldeia temos tão pouco!..

sábado, 2 de maio de 2015

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Porque hoje é sábado - que é o dia da semana depois de quinta e sexta...

A dor de hoje, será alegria amanhã.
De tudo o que existe, nada escapa à transfiguração e à mudança.
Nesta manhã de sábado, 2 de maio de 2015, olho para a Aldeia e pressinto que já está a sonhar com o verão - gosto de acordar com o optimismo no pensamento.
Num dia como o de hoje, sonhar com o verão, só pode ser mesmo um exercício de memória...
Mas, nem todos conseguem fazê-lo. Para se ter memória, é preciso ter colocado os sentidos na direcção das coisas.
Olho para dentro e recordo que os dias foram passando e tomaram conta do meu corpo, envelhecendo-o.
Mas, a minha memória continua viçosa e a mente está fresca e sorri - nada a conseguiu ainda obrigar a ter pensamentos grisalhos.
Acabei de acordar, para mergulhar directamente na manhã fria e cinzenta deste sábado.
O vidro da janela está inundado pela humidade, como se estivéssemos ainda no inverno – e já é primavera!
Olho através do vidro da janela do meu quarto, inundado pela humidade, e dou conta que o céu está cheio de nuvens.
A Avenida onde moro – a 12 de Julho, a maior Avenida da minha Aldeia – só tem ainda carros.
Não é de estranhar - é sábado, dia de futebol.
Logo mais os cafés vão encher-se para ver na televisão aquilo que o meu povo gosta: futebol.
Na televisão, neste momento, está a dar uma notícia, a que não presto atenção, sobre uma polémica qualquer entre Jesus e o treinador do Porto – qualquer coisa relacionada com troca de nomes...
Os pontapés e as cabeçadas dos milionários, a meu ver, logo mais, é que vão ser importantes, pois alimentam o pensamento e os sonhos do meu povo.
Não ajudam a sair da crise, é certo. Mas, para a maioria de nós, os pontapés e as cabeçadas dos milionários – por isso, é que eles são milionários - servem para esquecer os nossos problemas e, sobretudo, permite-nos insultar uns senhores que, antigamente, só vestiam de preto ou branco.  

sexta-feira, 1 de maio de 2015

A ausência de vergonha na cara é total: nem se dão ao esforço de disfarçar...

Liberdade - mesmo que a justiça não seja realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e ainda pode contribuir para salvar a Aldeia...

A exposição que esteve montada, à porta fechada, no Mercado de São Pedro, das 17 às 21 horas, do dia 27 de fevereiro, uma sexta-feira. Como se pode verificar, não existem legendas, como foi insinuado ontem na Assembleia Municipal pelo presidente da junta de S. Pedro, António Salgueiro. A exposição era para ter sido inaugurada às 10 horas do dia seguinte.
Na passada quinta-feira, 30 de de Abril, como faço quando posso, subi até ao salão nobre dos paços do concelho para assistir à Assembleia Municipal.
Tive uma enorme surpresa, ao deparar com a discussão de uma moção apresentada pela deputada municipal Ana Oliveira, com o seguinte teor:

"No passado mês de Fevereiro do presente ano, o fotojornalista Pedro Cruz foi convidado pelo Presidente da junta de freguesia de São Pedro a realizar uma exposição da Freguesia de são Pedro, tendo o autor atribuído lhe o nome de “Alerta Costeiro 14/15”.

Esta exposição mostrava imagens que documentam a erosão do litoral costeiro, em especial a zona da freguesia de S. Pedro.

Nas vésperas da inauguração, a exposição do fotojornalista foi cancelada, alegando o presidente de junta do partido socialista, que a mesma estava politizada, mostrando, no nosso ponto de vista, uma verdadeira barreira à liberdade de expressão.

O que é certo, é que, com este infeliz desfecho e tal como o artista comunicou numa rede social, “O alerta foi dado” e mais do que nunca a população e as várias entidades com responsabilidades sobre o assunto “Olharam com olhos de ver” para o real problema que aquela freguesia e que o concelho da Figueira da Foz está a sofrer com esta constante devastação da zona costeira.

Neste sentido propunha à Assembleia Municipal, que pelo impacto e para mantermos viva a nossa preocupação sobre a solução deste assunto, que convidassem o fotojornalista Pedro Cruz a realizar a exposição “Alerta Costeiro 14/15” nos Paços do Concelho."

Na votação verificou-se um empate:16 votos a favor, 16 contra e 1 abstenção. 
O Presidente da Assembleia Municipal teve de decidir com o seu voto de qualidade.
Sobre as ilações políticas a tirar, não me vou pronunciar: deixo isso a quem de direito. 

Sobre este assunto, recordo que as fotos da “A EXPOSIÇÃO CENSURADA PELO PRESIDENTE DA JUNTA DE FREGUESIA DE S. PEDRO, em finais do passado mês de fevereiro, podem ser vistas clicando aqui. O comunicado emitido pelo presidente da Junta de S. Pedro, António Salgueiro a propósito do cancelamento da exposição fotográfica ALERTA COSTEIRO 14/15, emitido na altura, pode ser lido clicando aquiA estória é curta e está contada aqui
Portanto, quem estiver de boa fé, tem os elementos para construir uma opinião fundamentada.

Esta estória exemplar, a meu ver, demonstra, quarenta e um anos depois da queda da ditadura de Salazar e Caetano, como este país continua afinal igual a si próprio e ao que sempre foi: um pobre e bisonho paraíso paroquial para pequenos chefes labregos que - no seu boçal entendimento, certamente inebriado pelo esplendor do mando - pensam que podem apagar figuras de uma paisagem.
Mas, também, demonstra que há algo - para além do talento, claro - que um artista consciente, ainda que pobre, nunca admite que lhe seja escamoteado: o orgulho e o amor-próprio.

O senhor presidente da junta de S. Pedro, pelo que disse na passada quinta-feira na Assembleia Municipal da Figueira da Foz, passados mais de 2 meses, continua sem perceber o óbvio.
A exposição era do artista: na totalidade - no talento e nos custos.
A Liberdade é isto, senhor presidente.
“Seu” era o espaço do Mercado de São Pedro.
O senhor presidente, por não gostar de uma fotografia que fazia parte da narrativa do fotojornalista, entendeu interditar o acesso ao espaço. Problema seu, caro presidente da junta.
Neste momento, a exposição do Pedro Cruz já foi mais longe do que o senhor pensa. E não vai ficar por aqui.

Já passaram 41 anos do 25 de abril de 1974.
Quem mora em S. Pedro e recorda Abril, sente que celebra um acontecimento já longínquo - daqueles que começam a ressoar a liturgia morta. Essa é, infelizmente, a realidade. Mas a memória tem de ser avivada,  sempre que  estiver em causa a questão da Liberdade. A dignidade não tem preço e, em democracia, a comunidade não pode perdoar a indignidade de quem governa.

V. Exa., na sessão da Assembleia Municipal da Figueira da Foz, realizada no passado dia 30 de Abril de 2015, mesmo descontando que não tem vocação para discursar, falou sem dizer nada perceptível, nem, ao menos uma palavra autêntica de arrependimento. Na Assembleia Municipal da Figueira da Foz, V. Exa. foi aos limites da náusea, sem carisma, nem dignidade institucional – e estava lá, como deputado municipal, por ser presidente, com maioria absoluta, da freguesia da minha Aldeia.
Senti-me muito mal representado como freguês de S. Pedro. 
Admito que o momento foi difícil para V. Exa. Contudo, a grandeza dos homens emerge nos momentos difíceis.
V. Exa.,  pelo que disse na Assembleia Municipal, desconhece a palavra grandeza, só conhece a palavra poder. Desconhece a palavra dignidade, só conhece a palavra arrogância. Desconhece a palavra humildade, só conhece a palavra vingança. 
Depois do que aconteceu na Assembleia Municipal da Figueira da Foz, parece-me que no mais alto forum político de debate concelhio, a recuperação da imagem do presidente da junta de freguesia de S. Pedro – que é V. Exa. - não tem retorno. 

Antes tivesse permanecido calado.
Num palco da política – e a Assembleia Municipal da Figueira da Foz é o maior palco político do nosso concelho - os discursos valorizam-nos ou desvalorizam-nos. E a  postura, as palavras e a falta de ideias dele, na qualidade de presidente da junta de S. Pedro, não foram um bom sinal. 
E, depois, como acontece com todos os fracos, a sua atitude foi boçal, imprevidente e insensata.
Tive pena de V. Exa., principalmente quando disse – ou deu a entender - que a exposição tinha legendas, o que, como sabe, é uma completa e real mentira. Ponto.
Como escreveu um dia Albert Camus: “É horrível ver a facilidade com que se desmorona a dignidade de certos seres. Vendo bem, isso é normal visto que a dignidade em questão apenas é mantida por eles através de incessantes esforços contra a sua própria natureza.”   

1º. de Maio na Figueira da Foz

Da comemoração do  Dia do Trabalhador na Figueira da Foz, recordo o 1 de Maio de 1974 - o mais memorável dia do trabalhador  da história figueirense que eu vivi.
O povo desceu à rua para celebrar a Liberdade. 
As fotos dão conta da adesão em massa da população do concelho aos festejos. 
Tal como na nossa cidade,  o primeiro 1.º de Maio, depois do 25 de Abril, levou milhões de portugueses às ruas. 
Celebravam a liberdade e uma mudança económica e social que, afinal, nunca se concretizou. 
Esses milhões de portugueses - figueirenses incluídos - foram os verdadeiros protagonistas do primeiro 1.º de Maio em Liberdade vivido pela minha geração.

Associação Naval 1º. de Maio

Parabéns pelos 122 anos: “obra sonhada do povo, erguida pelo povo, mantida pelo povo – será eterna como a alma do próprio povo.”

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Frente ao mar, no último dia de Abril de dois mil e quinze

Numa Terra que mais parece um covil,
neste último dia do mês de Abril,
de dois mil e quinze,
frente ao mar
da Cova d´Oiro
dou comigo a perguntar:
quando é que na Terra da fraternidade,
que tem como primeira figura uma esfinge,
quando é que, enfim,
acorda esta gente
e manifesta vontade urgente
de mudar?..
Isso, sim
seria para todos nós,
incluindo os avós,
o verdadeiro tesoiro...

Em tempo.
Cresci, tornei-me adulto e estou a envelhecer, a ouvir dizer que aquilo que não nos mata torna-nos mais fortes.
Começo a acreditar o contrário: aquilo que não nos mata torna-nos muito mais fracos...

Não te pões a milhas e continuas a ser alvo do meu escárnio...

“É como digo, o senhor de esquerda não tem nada. O senhor bloguista é um REACIONÁRIO mascarado de vermelho para descrédito da verdadeira esquerda.”
Este elevado e corajoso naco de prosa, faz parte – é a parte que me contempla, por isso a única que publico – de um comentário anónimo que procura atingir de forma vil e cobarde uma figura pública figueirense.
Tal como já o informei aqui, pode telefonar-me para uma amena cavaqueira sobre o que lha vai na alma.
Quanto ao resto, eventualmente para seu sossego e descanso, asseguro-lhe duas coisas:
1ª. - mesmo que eu fosse careca e ruivo, jamais usaria um capachinho vermelho. 
2ª. - nunca jogo na roleta russa. Portanto, nunca irei apostar no rosa à espera que saia o vermelho.