Ao abrigo do programa – que, segundo Portas, excedeu largamente os objectivos – foram concedidos 471 vistos gold, que se traduziram
em mais de 300 milhões de euros investidos na compra de casas, que animaram o
segmento de luxo do imobiliário.
E eu que pensava que
isto é simplesmente um sinal de que o país se transformou numa república das
bananas, que o quer é dinheiro, venha ele donde vier.
Cresci num Portugal onde o dinheiro tudo comprava.
Depois, veio o 25 de Abril de 1974 e comecei a pensar que passávamos
a ser um país com valores, onde não seria fácil, por exemplo, lavar dinheiro.
Eles são a aceitação, por parte do Estado, de que há
cidadãos de primeira e de segunda: aqueles que podem residir em Portugal, apenas
e só, porque têm dinheiro para o fazer – seja através da compra de um imóvel de
meio milhão de euros ou de um depósito bancário de um milhão – e aqueles que
não o têm e, por isso, não podem ficar cá.
Os primeiros, os ricos, podem até nem cá viver. Têm apenas
que passar um determinado número de dias por ano em Portugal. Mas podem trazer
a família com eles e viajar livremente pela União Europeia. Os segundos, os
pobres ou remediados, até podem querer viver realmente em Portugal. Podem ter
planos para trabalhar, criar empresas e emprego, casar, ter filhos e ajudar o
país a crescer. Mas não têm automaticamente direito a um visto. Seja gold ou de
latão.
Nesta contabilidade há maioritariamente chineses. Mas,
também, vieram da Rússia, Brasil, Angola
e África do Sul.
Todos têm uma coisa em comum: nenhum deles obteve o visto
gold através da criação de emprego em Portugal. Só um, que se saiba, terá investido realmente num projecto
hoteleiro (que já tinha adquirido anteriormente). Os restantes, obtiveram-no
graças à compra de imóveis (a maioria) ou ao depósito bancário de um milhão de
euros. Grande parte procura em Portugal um ponto de abrigo para o caso de as
coisas lhes correrem mal nos seus países.
Claro que isto beneficia alguma gente: as imobiliárias, os
construtores civis, os escritórios de advogados que servem de intermediários,
os bancos que vêem os seus depósitos aumentar, o Estado que, indirectamente,
recolhe benefícios e a própria economia.
Numa época de crise, os
investimentos são bem-vindos. Mas isso não significa que a forma como estes são
captados seja aceitável, sem discussão.
Pelo menos por enquanto...