Uma crónica de Adriano Miranda, no jornal Público.
«Na terra de José Saramago, na Azinhaga, a noite era de frio. À luz dos candeeiros e sem holofotes mediáticos, na rua de casario térreo e modesto, João Oliveira e Bernardino Soares olhavam os imigrantes nos olhos. Parecia a velha praça da jorna cheia de explorados, ou os romances de luta de Manuel Tiago e Soeiro Pereira Gomes. Bernardino Soares falava em inglês e a plateia sentada em velhas cadeiras de sala ouvia atentamente. As palmas romperam efusivamente quando Bernardino disse a coisa mais simples deste mundo – “todos têm direito a uma vida melhor.” E é nesta simplicidade que o PCP conta.
O PCP é em quase tudo um partido diferente de todos os outros. Por isso, é quase sempre tão difícil de compreender. Cada vez mais. Numa época da “política de plástico”, os comunistas portugueses não se conseguem encaixar. São teimosos em afirmar a política pela nobreza da política. Uma arte e uma ciência ao serviço das pessoas. Cortam a direito. Não ficam em cima do muro. Ficam muitas vezes mal na fotografia. São incorruptíveis. Cumprem a palavra dada. Comunicam como se todos os portugueses tivessem lido o Capital de Karl Marx. Fica sempre a sensação de que estão fora de tempo. Não nos interrogamos – não há tempo para isso – se é este realmente o tempo que nós queremos e merecemos enquanto sociedade colectiva. Quem terá razão? Os teimosos comunistas portugueses ou os vendedores de ilusões?»
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