segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Pedro Passos Coelho*

"Quando Pedro Passos Coelho se declarou um social-democrata de “sempre” e para “sempre” apagou a obstinação, a coragem e a clarividência com que governou durante quatro anos. Nada o desculpa. Principalmente não o desculpa que este estranhíssimo regresso ao passado tenha sido provocado pela necessidade táctica de conciliar ou, pelo menos, de calar a “esquerda” do partido, que desde 2011 se juntou à oposição e lhe fez todo o mal que pôde. Esta reviravolta de Passos Coelho é tanto mais desgraçada quanto a social-democracia deixou de fazer sentido e que hoje se limita à defesa da democracia e do Estado Social, duas coisas que em Portugal não estão ou estarão em risco num futuro previsível e que ao fim de 40 anos já não entusiasmam seja quem for.
Não se percebe o que pretende Passos Coelho. Aumentar os serviços que o Estado hoje presta aos cidadãos? Aumentar a área da sociedade que depende do Estado ou que o Estado regula? Afogar o que ainda resta de autonomia e de iniciativa numa país mendigo e miserável? Porque se é isto que esconde a palavra “social-democracia”, há uma pequena coisa a dizer: o dr. António Costa e a extrema-esquerda são sem dúvida muito mais competentes para essa empreitada. Basta ouvir Catarina Martins ou Jerónimo da Sousa, que não abrem a boca sem sugerir que se gastem milhões sobre de euros, para promover a boa moral e a felicidade do povo. Para que se vai meter o PSD (e, por arrasto, o CDS) na feira demagógica para onde o PS nos conseguiu empurrar? Para chegar aonde?
Claro que a política portuguesa vive na iminência de eleições antecipadas. O Bloco, por exemplo, fala em 2017; e o PC, mais sombrio, até em 2016. Não me custa a acreditar que Passos Coelho acabasse por sofrer a influência da ralé partidária, que só pensa em ir para o “governo” o mais rapidamente possível e de qualquer maneira. E também, porque a conheço desde 1978, não me custa a acreditar que a dita ralé pense que leva a sua avante com um pouco de populismo, sob o nome absurdo de “social-democracia”. Cabe a Passos Coelho resistir a estas fantasias (para não lhes dar o nome que merecem) e preparar um plano para a direita ou, por outras palavras, para todo a gente à direita do PS. Se se confundir com a turva onda em que se tornou a antiga coligação CDS-PSD será mau para ele. E para nós."
* Por Vasco Pulido Valente

Em tempo.
Depois de ler esta crónica, interrogo-me: o que pensa esta gente da política como exercício, de facto, da cidadania? 
A direita portuguesa não tem ninguém mais qualificado para apresentar do que Passos Coelho, ou continua a ser a mais estúpida da Europa? 

1 comentário:

Rui Monteiro disse...

O PPD com Futuro!

A direita moderna tem como princípios principalmente a preocupação com os valores tradicionais, a defesa da lei e da ordem, a preservação dos direitos individuais e a restrição do poder do Estado, associado ao liberalismo num sistema com estabilidade social e solidariedade nacional. A direita moderna não se identifica com os conservadores do Tea Party (a corrente radical de direita no Partido Republicano americano) e nada tem a ver com a direita dura, tradicional, que se sucedeu sob várias formas ao longo do século XX.
Recentemente o italiano Raffaele Simone, defendeu a tese de que o mundo é naturalmente de direita e, por isso, esta, para existir, só precisa de preservar uma posição “naturalista”, enquanto a esquerda é um artifício, uma construção abstracta. Esta nova direita é, pura e simplesmente, um realismo. Por isso é que não precisa de grandes elaborações teóricas e que avança para um diálogo com a Ciência e incorpora novas áreas do pensamento político institucionalizado e vigente.

A direita reconfigurou-se (mal) em Portugal com Passos e amigos. Hoje quer recuperar a ideia de “social-democrata”, mas a mudança ideológica que produziu não foi boa para o PPD. Esqueceu a “social-democracia”, a redistribuição e quase fundiu o seu pensamento com o (marginal) CDS. Para o governo o ajustamento de uma economia fez-se por via da flexibilização do mercado de trabalho, a redução de salários resolveu o problema do desemprego e o corte no Estado resolveu o problema do défice. A liderança de Passos criou uma nova corrente no PPD e fora dele, que se afastou do centro-direita do velho partido e que os quatro anos de governo permitiram consolidar. É meu entender que a nova direita social-democrata deve mobilizar para enfrentar o situacionismo, deve criar instrumentos de participação e não de passividade, de criação e não de obediência, contra o vazio do pragmatismo de Passos e seus apaniguados.

Acham que se não tivermos ambição, iniciativa e responsabilidade individuais, teremos alguma vez uma sociedade mais justa? É verdade que um partido como o PPD está com dificuldade em afirmar uma clara identidade ideológica e em diferenciar inequivocamente as suas propostas, mas tal deve-se, no essencial, a si mesmo e a uma errática actuação política. Um PPD necessariamente Humanista, Solidária, com profundas preocupações Sociais que impeça a esquerda de reclamar o eterno exclusivo do combate à injustiça e à desigualdade, seria um bom contributo.

Interessa isto tudo para alguma coisa? Creio que sim, porque são sinais de uma discussão política urgente no seio do PPD, que ajude a clarificar o eleitor e o país.
E por favor não denigram Manuela Ferreira Leite porque ela diz que ainda quer ser social-democrata!

PS Também a discussão do futuro do PPD deveria passar pela F Foz. É altura de pensar, a sério, na reconquista da Câmara.