Muito já se falou, disse, «desdisse» e asneirou por aí sobre o novo imposto sobre o subsídio de Natal, explicada ontem pelo ministro das Finanças. Então vamos lá às contas. A receita total da taxa extraordinária em sede de IRS anunciada pelo Governo será €1025 milhões, dos quais €840 milhões este ano e €185 milhões em 2012. Em 2011, 75% dos €840 milhões arrecadados serão provenientes dos rendimentos dos salários e os restantes 25% dos rendimentos de pensões. Este é o lado bom para o Executivo. O lado mau, esse fica para o Zé Povinho. A começar pelos malogrados recibos verdes que, de forma infame, vão ter de contribuir também, quando nem sequer têm direito ao subsídio de Natal. Grosso modo não têm direito a nada, resumindo. A juntar a esta medida extremamente social, os dividendos, juros de aplicações financeiras e mais-valias ficam isentos. Ou seja, como sempre, os ricos nunca pagam a crise. A classe média, pobre e os reformados que se cheguem à frente, porque estes sim, é que são os verdadeiros culpados da delapidação do Estado português. Pedro Passos Coelho está a revelar-se. Mais cedo do que pensávamos. Paulo Portas também. Nada que nos surpreenda. É esta a primeira marca indelével que deixa no seu currículo governativo, dure este seja lá até quando.
Via Platonismo Político
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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