Quando chegou a casa, Manuel Godinho tinha vários familiares e amigos à sua espera, mas foi para as netas que correu e abraçou. "Tinha muitas saudades delas, embora já me tivessem visitado na cadeia", confessou ao Correio da Manhã o principal arguido do processo "Face Oculta", um dia depois de ter deixado o Estabelecimento Prisional de Aveiro, onde esteve preso 16 meses.
A emoção do regresso a casa foi muita e, à noite, não conseguiu dormir. "Passei a noite abraçado às minhas duas netas", contou o empresário de Ovar. Ontem, pelas 08h50, o sucateiro de 55 anos, acompanhado da esposa, Maria de Fátima, do filho mais novo, João, e da nora, foi levar as crianças à escola, que fica a poucos metros da casa. "Não sabem como estou feliz", disse o empresário.
Antes, a família foi tomar o pequeno-almoço a uma pastelaria, mesmo em frente ao Ginásio Club de Esmoriz, o clube do seu coração. Godinho pediu apenas um café e uma água, porque o nervosismo ainda é muito.
"Sinto-me complexado, porque nunca antes tinha estado envolvido em nada deste género, nem sequer entrado num tribunal", explicou ao Correio da Manhã, enquanto amigos e populares o cumprimentavam e abraçavam, dando-lhe palavras de incentivo.
Pelas 10h00, Manuel Godinho chegava ao posto da GNR de Esmoriz para fazer a sua apresentação diária às autoridades, saindo cinco minutos depois.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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