Os milhares que ontem se manifestaram são os melhores das suas gerações.
São os inconformados, com opinião, atitude e disponibilidade para a luta por uma vida e uma Pátria melhores.
Os que ficaram em casa, como sempre aconteceu, foram os palermas – aqueles que nem têm noção do mundo por que passeiam a inanidade das suas existências.
Mas, esses foram uns...
Também ficaram outros...
Aqueles que existem em todas as gerações - os piores, os vivaços, os espertalhões, os acomodados sem convicções, os disponíveis para todos os arranjinhos, os sobreviventes, os da massa que construíram o actual pântano em que se tornou Portugal.
E o problema, na minha geração e noutras anteriores, foi precisamente este: os vencedores foram os piores, os vivaços, os espertalhões, os acomodados sem convicções, os disponíveis para todos os arranjinhos...
Este continua a ser o perigo real para este Povo e para este País!..
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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