"Ponto prévio: não conheço José António Cerejo de lado algum. Mas o jornalista do ‘Público’, que tem acompanhado o caso Freeport, representa bem o que eu espero de um jornalista a sério: coragem, independência e uma disponibilidade total para vigiar o poder de forma implacável.
Exactamente como sucede em latitudes menos primárias: em Inglaterra, nos Estados Unidos e até no Brasil.Isto, pelos vistos, não cai bem na tradição nativa, para a qual o jornalista perfeito é o bedel perfeito: uma criatura sem autonomia, sempre pronta para se lambuzar no poder e, não raras vezes, disponível para dormir com ele. Lá fora, o jornalismo vigia; entre nós, vigia-se o jornalismo que vigia. E perante um Cerejo à solta, não faltam logo vozes que o preferiam calado, obediente e de volta ao serralho."
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
Sem comentários:
Enviar um comentário