Via AS BEIRAS
«Todas as propostas apresentadas pela maioria socialista da Câmara da Figueira da Foz para atribuição de medalhas de mérito a diversos munícipes foram aprovadas por unanimidade, excepto uma: o vereador do PSD Ricardo Silva votou contra a distinção de António Tavares, escritor e antigo vereador do PS, com a medalha de mérito cultural em prata dourada.
“Não se trata de uma mera apreciação dos méritos literários, mas da personalidade, ou seja, é um político que mal ou bem marcou a política na Figueira da Foz, nos últimos 20 anos, pautando essa actividade com actuação estratégica e tática, que, no nosso entender, foi bastante negativa, não só pelos obstáculos injustificados e suspeições infundadas que criou enquanto oposição, e pela completa decepção e contradição enquanto vereador e vice-presidente da câmara municipal no poder pelo PS”, justifica o autarca da oposição, na declaração de voto.
No programa semanal “Câmara oculta” da Foz do Mondego Rádio, onde integra um painel de comentadores com Isabel João Brites e Tiago Castelo Branco, Teotónio Cavaco, líder do PSD na Assembleia Municipal, defendeu que ele teria votado a favor da distinção do escritor figueirense. No entanto, o comentador salvaguardou que a decisão do vereador do seu partido deve ter um contexto político, lembrando que, quando esteve na oposição, António Tavares protagonizou momentos políticos que terão atingido o autarca do PSD que votou contra e o executivo camarário a que pertencia.
De facto, pelo menos uma iniciativa política de António Tavares atingiu Ricardo Silva, quando o antigo autarca socialista sustentou que o social-democrata não tinha aptidões para ser assessor de ambiente do entretanto falecido presidente da Câmara Duarte Silva.
E acabou por não desempenhar o cargo. Na política, a vingança é um prato que se serve frio?
“Vingança é sentimento de extremistas. As pessoas de bem analisam os factos e produzem opinião, mesmo que não seja a que agrada a alguns”, disse Ricardo Silva ao jornal AS BEIRAS.
António Tavares, por seu turno, optou por não prestar declarações.»
J.A.
Nota de rodapé.
Fiquemos, então, com o silêncio do Doutor António Tavares.
Este silêncio merece respeito, pois vem na esteira do isolamento e do abandono a que foi votado pelos seus pares socialistas.
Acredito que, neste momento, o Doutor Tavares continue a querer paz para a sua alma.
Por isso, este silêncio, além de mudo, também pode ser desejado!..
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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