"O PS e a esquerda" (II) por MANUEL LOFF.
"Afinal, o Bloco Central é bom. Ou foi, e durante uma crise, precisamente: em 1983-85, o de Soares e Mota Pinto teria sido um exemplo de “capacidade de mobilização do país para vencer a crise” (António Costa, Expresso, 17/12/2014).
Quinze dias depois da “viragem à esquerda”, o PS voltou a ler a história como sempre a leu.
... aqueles que repetem que é por culpa do PCP e do BE que o milhão de portugueses que votam à esquerda do PS não contribuem para uma alternativa de governo cometem um erro central de análise histórica (e política) porque partem do princípio que o PS é um partido de esquerda conjunturalmente obrigado a governar à direita.
Na verdade, o PS comportou-se sempre, nos últimos 40 anos, como uma força do campo social-liberal: com políticas económicas liberais, tomando o partido dos empregadores e do capital contra o trabalho, porque os julga os motores do desenvolvimento e os verdadeiros produtores da riqueza; social apenas quando o crescimento/acumulação da riqueza daqueles permita gastar um pouco com aqueles a que Passos chama “o mexilhão”.
O PS não é um partido socialista como os outros. Ele é, em Portugal, o herdeiro histórico mais próximo do reformismo republicano.
O seu coração bate mais depressa pelo 5 de Outubro do que pelo 25 de Abril."
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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