“Os reformados já tinham uma organização, APRE! (Associação
de Aposentados, Pensionistas e Reformados), e amanhã será fundada outra, o MRI.
Eu teria preferido CHIÇA!, uma interjeição ainda mais dura, embora admita que
fosse difícil encontrar uma palavra com a letra inicial Ç. Mas o momento é de
abandonar as interjeições e ir pela explicação por extenso do estado de alma
dos associados: MRI quer dizer Movimento dos Reformados Indignados. Ora este
MRI - não é de mais repeti-lo: Movimento dos Reformados Indignados - vai ser
presidido por Filipe Pinhal, ex-presidente de banco (BCP) e atual beneficiário
de uma reforma de 70 mil euros mensais. É um pouco como se a Diana Chaves se
tornasse tesoureira da Associação das Feias de Portugal. Ao "ai aguenta,
aguenta!" de um banqueiro, ontem, responde, amanhã, um ex-banqueiro que
não aguenta. Pôr um ex-presidente de banco que ainda há meses foi condenado a
pagar multas de 800 mil euros por deslizes financeiros a liderar pensionistas
que tiveram cortes nas reformas de 1350 euros é contradição das boas, capaz de
gerar unidade nacional. Estamos todos no mesmo barco da indignação: do
banqueiro ao cabouqueiro. Que este, por razões egoístas e prosaicas - ganha
pouco - se indigne, não merece duas linhas de crónica. Admirável é o outro, que
apesar de ter um milhão por ano de reforma ainda se indigna. O único contra que
vejo é irrelevante: faz-me desconfiar de tanta unanimidade.”
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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