"A Agência Portuguesa do Ambiente vai proceder à transposição de três milhões de metros cúbicos de areia, entre 2024 e 2025, o chamado “big shot”. Mas o sistema mecânico permanente só deverá ser instalado dentro de 10 anos, o que gerou muitas críticas."
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
sexta-feira, 30 de junho de 2023
Ainda há muita gente que não consegue compreender o porquê das coisas...
"A Agência Portuguesa do Ambiente vai proceder à transposição de três milhões de metros cúbicos de areia, entre 2024 e 2025, o chamado “big shot”. Mas o sistema mecânico permanente só deverá ser instalado dentro de 10 anos, o que gerou muitas críticas."
terça-feira, 19 de novembro de 2019
Erosão costeira e a distracção do povo...
"Nos últimos 10 anos, o mar vem destruindo a duna da zona sul da Praia da Leirosa, aproximando-se perigosamente do bairro social. Calcula-se que tenha derrubado cerca de 50 metros da proteção natural. A agitação marítima da semana passada empurrou a água para a mata que se interpõe entre o mar e as casas. As previsões meteorológicas para amanhã apontam para forte ondulação, temendo-se que a investida seja ainda mais forte.
Na zona norte da praia, são as hortas e os anexos de apoio à agricultura para autoconsumo que sofrem com a subida do mar e o refluxo do Rego da Leirosa.
Silvério Andrade Russo, de 67 anos, foi pescador dos 15 aos 57. “A parte sul está mais em perigo do que a parte norte. Isto devia levar umas pedras, pois não é com areia nas dunas que se resolve o problema. Se não puserem mão nisto, a parte sul vai ficar uma ilha”, defendeu.
O presidente da Junta da Marinha das Ondas, Manuel Rodrigues Nada, subscreve o conhecimento empírico do antigo pescador da Leirosa, defendendo uma proteção com rochas ao longo de 200 metros. “Estou muito preocupado com o avanço do mar na zona sul da praia. Aliás, já tenho alertado as autoridades, mas isto está cada vez pior. Parece-me que, se continuar assim, dentro de alguns dias, a água passará para o outro lado [zona habitada]”, afirmou o autarca.
“Cada vez mais perigoso”
O presidente de junta acrescentou que “os pescadores dizem que, com areia, isto não se resolve”. Assim sendo, sustentou: “Colocar areia é gastar dinheiro, porque o mar leva-a. A solução para travar o mar é prolongar o molhe em 200 metros. O que resta da duna é muito mais frágil e baixo. Portanto, torna-se cada vez mais perigoso”.
Contactado pelo DIÁRIO AS BEIRAS, o presiente da câmara também se mostrou preocupado.
“Estamos todos preocupados. A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e o Governo também estão preocupados. Caso contrário, não tinham tomado a iniciativa [de avançar com a transposição de três milhões de metros cúbicos de areia, da zona do areal urbano para as praias sul do concelho, com comparticipação financeira da autarquia]”, afirmou Carlos Monteiro.
A transposição de areia está sujeita aos prazos dos concursos públicos. Na Leirosa, porém, teme-se que a empreitada já não chegue a tempo para alguns. “Há pelo menos uma casa onde o mar já chega, quando há forte agitação marítima”, alertou Manuel Rodrigues Nada."
Nota OUTRA MARGEM.
A protecção da Orla Costeira Portuguesa é uma necessidade de primeira ordem...
O processo de erosão costeira assume aspectos preocupantes numa percentagem significativa do litoral continental.
Atente-se, no estado em que se encontra a duna logo a seguir ao chamado “Quinto Molhe”, a sul da Praia da Cova.
Por vezes, ao centrar-se a atenção sobre o acessório, perde-se a oportunidade de resolver o essencial...
Este alerta, foi publicado neste espaço em 11 de Dezembro de 2006, quase há 13 anos!
Daí para cá, tudo, por aqui, foi dito ao longo dos anos e pode ser consultado...
Tudo foi dito, tudo se cumpriu: depois da construção do acrescento dos malfadados 400 metros do molhe norte, a erosão costeira a sul da foz do mondego tem avançado, a barra da Figueira, por causa do assoreamento e da mudança do trajecto para os barcos nas entradas e saídas, tornou-se na mais perigosa do nosso País para os pescadores, a Praia da Claridade transformou-se na Praia da Calamidade, a Figueira, mais rapidamente do que esperava, perdeu.
Recordo, que para além das palavras de circunstância, como as que podem ser lidas no texto publicado na edição de hoje da Diário as Beiras, que cito acima, de responsáveis políticos com vários anos de exercício de poder, houve quem ao longo dos anos tenha feito o que podia.
terça-feira, 18 de julho de 2023
"A erosão costeira é o mais urgente dos problemas, a mais premente das preocupações, a prioridade mais consensual no nosso concelho"....
Imagem via Diário as Beiras
E a realidade é mesmo esta: "a erosão costeira é o mais urgente dos problemas, a mais premente das preocupações, a prioridade mais consensual no nosso concelho".
A realidade da erosão costeira, há muitos anos, que deveria ter sido dos principais assuntos a preocupar os que receberam o mandato popular para cuidar da polis figueirense.
Basta uma simples deslocação a esta parte do território para verificar que o avanço do mar sobre a terra assume aspectos preocupantes.
Por vezes, ao centrar-se a atenção sobre o acessório, perde-se a oportunidade de resolver o essencial. E não foi por falta de alertas.
Esses, são os que devem ser lembrados, sem esquecer as grandiosas obras que a mediocridade instalada legou ao futuro.
O extenso areal já existia em 2008. Existia e todos sabíamos qual a razão.
quinta-feira, 26 de abril de 2018
Tragam mas é os 600 metros de praia que estão a mais na Figueira para sul... (2)
Foto Pedro Agostinho Cruz |
"A Administração do Porto da Figueira da Foz (APFF) pretende fazer a transposição de três milhões de metros cúbicos de areia da zona do areal urbano para as praias do sul, onde o mar ameaça as praias da Cova, Costa de Lavos, Leirosa e Cabedelo.
O anúncio foi feito pelo administrador daquela sociedade Luís Leal, que promoveu um debate, na semana passada, sobre a erosão costeira na costa do concelho. Luís Leal, disse aos jornalistas que o plano de dragagens da APFF perspetiva a transposição de três milhões de metros cúbicos de areia situados a montante do molhe norte.
Os trabalhos arrancam no final de setembro, para não afetar a época balnear. A quantidade de sedimentos a transpor, no entanto, está pendente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) decidir se terá de ser feito um estudo de impacte ambiental. As areias serão coloridas, para os técnicos acompanhar a dinâmica sedimentar, ou seja, para monitorizar para onde as correntes transportam a areia, a fim de escolher o melhor sítio para a descarga, tendo como objetivo que os sedimentos cheguem às praias afetadas pela erosão.
A empreitada resulta de um estudo elaborado pela Universidade de Aveiro, cuja apresentação esteve na base do debate realizado nas instalações da APFF. Participaram no debate, moderado por Luís Leal, além dos autores do estudo, entre outros, o presidente da Câmara da Figueira da Foz, João Ataíde, representantes dos pescadores, empresários, autarcas, deputados da Assembleia da República e o Movimento SOS Cabedelo.
O estudo contempla uma transposição sedimentar inicial de três milhões de metros cúbicos e dragagens regulares, para evitar a acumulação de areias no areal urbano e a erosão a sul, e uma armadilha de areia junto ao molhe norte.
Estudo do bypass arranca até ao final do ano
António Rodrigues, da APA, por seu lado, adiantou que o estudo daquela agência sobre a transposição de areias entre as duas margens da barra vai arrancar até ao final do ano. O documento determinará que tipo de solução será aplicada para a transposição de areias, de norte para sul. Isto é, com base nos resultados, será escolhido o tipo de bypass - fixo ou dragagens feitas a partir de uma embarcação. Os técnicos terão de ter ainda em conta a relação entre os custos e os benefícios.
A propósito de acesso ao porto, alertou o comandante da capitania, Silva Rocha, urge desassorear a barra (ver edição do dia 21). O excesso de areia na entrada do canal prejudica, sobretudo, as embarcações de pesca.
João Ataíde frisou que a autarquia está disponível para comparticipar nos custos da solução de um problema que todos os intervenientes na sessão defenderam que se resolva o mais rapidamente possível, apesar das divergências sobre as alternativas equacionadas.
A acumulação de areia na praia da cidade foi potenciada pelo prolongamento do molhe norte, em 2010. A obra, frisaram os autores do estudo, provocou “variações acentuadas na morfologia” das praias emersas e imersas. O autarca da Figueira da Foz advogou que “urge iniciar o processo de dragagens”, para travar a galopante erosão costeira que se verifica a sul do concelho e excesso de sedimentos a norte."
Nota de rodapé.
Mais do mesmo.
Assim, a Barra da Figueira, não é uma completa inutilidade... Ao menos serve de mau exemplo.
domingo, 1 de novembro de 2020
Erosão costeira na outra margem figueirense: eu sei que a esperança deveria ser a última coisa a morrer...
Recorro à memória e ao meu saudoso Amigo Manuel Luís Pata.
Fartava-se de dizer o seguinte: "há muita gente que fala e escreve sobre o mar, sem nunca ter pisado o convés de um navio".
Em 2003, lembro-me bem da sua indignação por um deputado figueirense - no caso o Dr. Pereira da Costa - haver defendido o que não tinha conhecimentos para defender: "uma obra aberrante, o prolongamento do molhe norte".Na altura, Manuel Luís Pata escreveu e publicou em jornais, que o Dr. Pereira da Costa prestaria um bom serviço à Figueira se na Assembleia da República tivesse dito apenas: "é urgente que seja feito um estudo de fundo sobre o Porto da Figueira da Foz".
Como se optou por defender o acrescento do molhe norte, passados quase 18 anos, estamos precisamente como o meu velho Amigo Manuel Luís Pata previu: "as areias depositam-se na enseada de Buarcos, o que reduz a profundidade naquela zona, o que origina que o mar se enrole a partir do Cabo Mondego, tornando mais difícil a navegação na abordagem à nossa barra".
Por outro lado, o aumento do molhe levou, como Manuel Luís Pata também previu, "ao aumento do areal da praia, o que está a levar ao afastamento do mar da vida da Figueira". Porém, e espero que isso seja tido em conta no disparate que é a projectada obra a levar a cabo pela Câmara Municipal da nossa cidade, "essa área de areia será sempre propriedade do mar, que este quando assim o entender, virá buscar o que lhe pertence".
Como previmos, por isso o escrevemos para alertar quem de direito, já em 11 de dezembro de 2006, o processo de erosão costeira da orla costeira da nossa freguesia, a sul do quinto molhe, era já então uma prioridade.
Continua a ser... Até porque, entretanto, pouco se fez...
Tudo foi dito, tudo se cumpriu: depois da construção do acrescento dos malfadados 400 metros do molhe norte, tal como mais que em devido tempo Manuel Luís Pata, a erosão costeira a sul da foz do mondego tem avançado, a barra da Figueira, por causa do assoreamento e da mudança do trajecto para os barcos nas entradas e saídas, tornou-se na mais perigosa do nosso País para os pescadores, a Praia da Claridade transformou-se na Praia da Calamidade, a Figueira, mais rapidamente do que esperava, perdeu.
domingo, 17 de abril de 2022
Desviem as areias...
A crónica de António Agostinho publicada na Revista Óbvia, edição de Março de 2022
Se há coisa com que lido mal é com acidentes no mar. Sou filho, neto e bisneto de pescadores. Estas tragédias tocam-me profundamente. Tenho antepassados que tiveram o mar como sepultura eterna.
Porém, entre os inúmeros acidentes que ocorreram `na barra da Figueira, depois do acrescento dos 400 metros do molhe norte, destaco o que aconteceu em 25 de Outubro de 2013. O barco naufragado foi o "Jesus dos Navegantes". Registaram-se 4 mortos numa tripulação de 7 homens.
Passados pouco mais de 2 anos, em 21 de Dezembro de 2015, o Estado português, via Tribunal de Coimbra, condenou o Mestre Francisco Fortunato a uma pena suspensa de dois anos e seis meses de prisão. O Homem do Mar foi acusado pelo Ministério Público do Estado Português de quatro crimes de "homicídio por negligência", por não ter cumprido a "Carta Náutica"… Não ter tido conhecimento de um "edital"… E não ter mandado vestir coletes e descalçar botas.
Mas será que "a forma como a barra do porto da Figueira da Foz foi construída não poderá ter ajudado ao naufrágio da Jesus dos Navegantes"? Essa foi, pelo menos, a tese do falecido mestre José Festas, presidente da Associação Pró-Maior Segurança dos Homens do Mar.
A obra do acrescento dos 400 metros no molhe norte, iniciou-se em 2008 e ficou pronta em 2010. A partir desse ano começou a alterar as condições da deriva sedimentar. Com o tempo acumulou as areias (até começarem mesmo a contornar a cabeça do molhe norte…), e esse acrescido assoreamento levou ao consequente alteamento das vagas nessa zona. Dada a pouca profundidade existente na ponta do molhe norte, o mar parte o mar nesse local, o que torna difícil as entradas e saídas aos pequenos de pesca e iates.
Exactamente no mesmo local - barra do porto da Figueira da Foz - depois da obra, em 26.10.2010, 20.01.2012, 10.04.2013 e 25.06.2013, aconteceram outros quatro naufrágios, com três mortos. Depois do acidente com o "Jesus dos Navegantes" em 25.10.2013 com quatro mortos, aconteceu o naufrágio do Olívia Ribau (e outros estiveram iminentes) com mais cinco mortos. Em Novembro passado, os graves problemas de segurança da barra da Figueira da Foz, com o assoreamento que torna o mar violento e traiçoeiro, provocaram mais uma tragédia naquele local. Quatro amigos, pescadores amadores, morreram após a embarcação onde seguiam, a ‘Seberino II’, ter virado e naufragado entre as praias do Hospital e da Cova, a sul da barra.
Para quando a realização de um inquérito - a sério - à operacionalidade da barra depois das obras do prolongamento dos 400 metros do molhe norte?
No passado dia 10, perto da embocadura da barra da Figueira, o mar virou a lancha dos pilotos, que iam dar entrada a um navio que vinha com destino ao porto comercial para carregar argila. No acidente houve a registar 2 feridos e danos na embarcação utilizada pelos pilotos da barra da Figueira. Segundo o que li no Diário de Coimbra, "à situação não foi alheio o assoreamento".
O velho problema de conseguir assegurar a manutenção desassoreada de uma instalação portuária destinada também a barcos pequenos, de pesca e de recreio e não apenas a cargueiros continua. O acidente com os pilotos da barra confirma isso mesmo. Se há alguém que conhece a barra como as próprias mãos, são os profissionais que todos os dias operam na barra da Figueira e estão sujeitos a cumprir todas as regras e procedimentos instituídos na "carta Náutica".
Como certamente estão lembrados, 2021 foi ano de eleições autárquicas. Aconteceram a 26 de Setembro. O Governo, quiçá por mera coincidência, antecipou a divulgação pública do estudo sobre a transposição de areias na barra da Figueira da Foz, prevista para Setembro de 2021. O documento foi apresentado no dia 12 de Agosto de 2021: esse foi o tempo considerado certo para anunciar o estudo de viabilidade do bypass.
Continuamos a aguardar pelo tempo certo para o transformar em projecto... E, depois, em realidade. Recorde-se que o estudo do bypass, que custou 264 mil euros, foi adiado durante anos. Contudo, mais vale tarde do que nunca. Em 12 de Agosto, a pouco mais de um mês da realização das eleições de 26 de Setembro de 2021, o ministro do Ambiente assumiu que a transferência de areias para combater a erosão costeira a sul da Figueira da Foz com recurso a um sistema fixo (bypass) é a mais indicada.
“Avaliada esta solução (da transferência de areias) não há qualquer dúvida de que o bypass é a mais indicada e, por isso, vamos fazê-la”, disse à agência Lusa João Pedro Matos Fernandes.
O “Estudo de Viabilidade de Transposição Aluvionar das Barras de Aveiro e da Figueira da Foz”, apresentado na manhã de 12 de Agosto de 2021 pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), avaliou quatro soluções distintas de transposição de areias e concluiu, para a Figueira da Foz, que embora todas as soluções sejam “técnica e economicamente viáveis”, o sistema fixo é aquele “que apresenta melhores resultados num horizonte temporal a 30 anos”.
O estudo situa o investimento inicial com a construção do by pass em cerca de 18 milhões de euros e um custo total, a 30 anos, onde se inclui o funcionamento e manutenção, de cerca de 59 milhões de euros. “Obviamente que o que temos, para já, é um estudo de viabilidade, económica e ambiental. Temos de o transformar num projecto, para que, depressa, a tempo do que vai ser o próximo Quadro Comunitário de Apoio, (a operação) possa ser financiada”, disse o ministro.
O sistema fixo de transposição mecânica de sedimentos, conhecido por bypass, cuja instalação o movimento cívico SOS Cabedelo defende, há mais de uma década, que seja instalado junto ao molhe norte da praia da Figueira da Foz, será o primeiro em Portugal e idêntico a um outro instalado na Costa de Ouro (Gold Coast) australiana. É constituído por um pontão, com vários pontos de bombagem fixa que sugam areia e água a norte e as fazem passar para a margem sul por uma tubagem instalada por debaixo do leito do rio Mondego. A tubagem estende-se, depois, para sul, com vários pontos de saída dos sedimentos recolhidos, que serão depositados directamente nas praias afectadas pela erosão.
A opção de avançar para a construção de um bypass era em Agosto de 2021, para o então presidente da Câmara da Figueira da Foz, Dr. Carlos Monteiro, uma solução que permitia “tranquilidade e esperança a quem usa o porto comercial, a quem usa o porto de pesca e à população da margem sul da Figueira da Foz”. Carlos Monteiro, na altura, disse que uma proposta a longo prazo “não é frequente” em Portugal e agradeceu ao ministro do Ambiente, Matos Fernandes, por aquilo que considerou ser um gesto com “visão”.
Carlos Monteiro solicitou que o estudo apresentado fosse “avaliado o mais depressa possível” e que o projecto “fosse desenvolvido”. Mas disse esperar, “fundamentalmente, que tenha a maturidade necessária para ser inscrito no Quadro Comunitário [Portugal] 2030. Atendendo aos valores, acredito que possa e deva ser”.
Também na altura, o arquitecto Miguel Figueira, do movimento cívico SOS Cabedelo, se manifestou agradado com a decisão de se optar pelo bypass. “Agora temos uma responsabilidade de contribuir para que seja bem feito. Há uma série de dúvidas, estamos a trabalhar em coisas que já deram provas de funcionamento, o sistema australiano funciona há mais de duas décadas, mas há sempre dúvidas sobre os impactes”, notou.
O ministro do Ambiente recordou a primeira vez que ouviu falar “ao vivo” da hipótese do bypass na Figueira da Foz e lembrou o “ar zangado” do arquicteto “cheio de certezas absolutas”, quando o movimento protestava, em 2019, pela construção do sistema fixo. “Agradeço ao SOS Cabedelo, a forma, muito para além de reivindicativa, mas técnica, com que nos entusiasmou a chegar aqui”, frisou Matos Fernandes.
Passaram sete meses. Espero, sinceramente, que tudo tenha sido mais do que uma mera tentativa de jogada de propaganda eleitoral.
"Há muitos anos que, para mim, a protecção da Orla Costeira Portuguesa é uma necessidade de primeira ordem e que o processo de erosão costeira assume aspectos preocupantes numa percentagem significativa do litoral continental.
Atente-se, no estado em que se encontra a duna logo a seguir ao chamado “Quinto Molhe”, a sul da Praia da Cova. Por vezes, ao centrar-se a atenção sobre o acessório, perde-se a oportunidade de resolver o essencial..."
Escrevemos o que está entre comas, no blogue OUTRA MARGEM em 11 de Dezembro de 2006. Passados quase 16 anos, infelizmente, continua actual. Depois da construção do acrescento dos malfadados 400 metros do molhe norte, a erosão costeira a sul da foz do Mondego tem avançado. A barra da Figueira, por causa do assoreamento e da mudança do trajecto para os barcos nas entradas e saídas, tornou-se na mais perigosa do nosso País para os pescadores. A Praia da Claridade transformou-se na Praia da Calamidade. A pesca está a definhar. Espero que, ao menos, perante a realidade possam compreender o porquê das coisas...
O Dr. Santana Lopes é agora o novo presidente de câmara. É ele que tem que perceber e saber lidar com as as consequências das diferentes dinâmicas que construíram e desconstruíram a orla costeira no concelho da Figueira da Foz. "Um sistema complexo com uma instabilidade natural (decorrente de marés, das correntes, dos fenómenos meteorológicos, das derivas de sedimentos) mas também decorrente da acção humana, salientando-se aqui a interferência da barra do porto marítimo da Figueira da Foz e do seu prolongamento".
O impacto ambiental causado pelo crescimento dos molhes - uma infraestrutura que inibe a deriva de sedimentos acumulados na praia da Figueira da Foz (seguramente a maior praia da Europa) acelerou a erosão da costa a sul, colocou ao território do nosso concelho desafios que têm de ser defrontados com responsabilidade e ousadia.
As soluções, ao que parece existem. A proposta do bypass - um sistema mecânico de bombagem permanente de areias que permitam restabelecer em grande parte a dinâmica dos sedimentos que alimentam a costa, já foi assumida pelo ainda ministro do Ambiente como a mais indicada.
Se a situação foi estudada e a solução encontrada, continuamos à espera de quê? "O mar é a nossa terra". Temos de saber entende-lo e saber lidar com ele. E, sobretudo, nunca tentar contrariar a sua força, pois isso é impossível...
terça-feira, 27 de outubro de 2020
Ouçam de uma vez por todas o que disse Manuel Luís Pata: "devemos procurar a todo o custo aproximar o Mar da Cidade, como no tempo em que a Figueira era a Rainha das praias"
Entendendo a necessidade da referida obra, muito cara mas imprescindível sobretudo para a sustentabilidade de um porto comercial tão estratégico quanto merecedor de atenção e investimento internacional, nacional e mesmo regional (é o único entre Aveiro e Lisboa), é inegável que aquela acentuou a erosão nas praias a sul, a destruição da duna de proteção costeira em vários locais (sobretudo na praia da Cova), e a retenção de areia na praia da Figueira em cerca de 230 mil metros cúbicos, como refere Nunes André “23 mil camiões que, se dispostos em fila contínua, ocupariam os mais de 300 quilómetros de ligação por autoestrada entre Lisboa e Porto” – a cada ano.
Ora, esta situação é insustentável para as populações a sul, em constante estado de alerta, e para o turismo, cada vez mais sazonal e dependente de uma praia cada vez mais afastada da cidade-mãe.
Assim, a pergunta desta semana, dramaticamente atrasada 40 anos (o Programa Base de Urbanização da Marginal Oceânica – areal da praia – teve início em junho de 1981) devia ser: o que é que a Câmara já devia ter feito para aproximar a cidade do mar através do areal urbano?
Primeiro, definir claramente se quer tirar areia (aproximar o mar da cidade) ou aproveitá-la (aproximar a cidade do mar); depois, envolver todas as Entidades, nacionais e internacionais, que possam estar relacionadas com a jurisdição e administração dos espaços; finalmente, cativar parceiros que sejam desafiados a interessar-se por uma Figueira do século XXI. Ou seja: durante mais uns meses, isto continuará a ser ficção científica!…»
Nota OUTRA MARGEM:
Só, para mais uma vez, avivar a memória, e por o seu conteúdo ser do maior interesse, vamos recuperar, com devida vénia, extratactos de uma carta do SENHOR MANUEL LUÍS PATA, publicada no dia 26 de Março de 2007, no “Diário de Coimbra”, pág. 8, na secção Fala o Leitor, com o título:
Vivi 20 anos em Moçambique. Cinco na marinha mercante e quinze na província da Zambézia, catorze dos quais a governar um dos navios da Sena Sugar Estates, o “ Mezingo”.
Sou um simples cidadão que ama a sua Pátria. É esta a razão que me leva a lutar pelo bem do meu pobre País, que continua a ser destruído, não pela natureza, mas sim pelo ser humano!...
Qual a principal causa da catástrofe que se avizinha?
Os molhes da barra da Figueira da Foz
Foram estes “Molhes” que provocaram a erosão das praias a sul da Figueira, e foi o “ Molhe Norte” que originou a sepultura da saudosa “ Praia da Claridade”, a mais bela do país. Embora seja de conhecimento geral, quão nefasto foi a construção de tais molhes teimam em querer acrescentar o “Molhe Norte”, como obra milagrosa… Santo Deus! Tanta ingenuidade e tanta teimosia!... Quem defende tal obra, de certo sofre de oftalmia ou tem interesse no negócio das areias!..»
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
A realidade e os políticos...
foto antónio agostinho |
"A situação está a afetar 30 a 40 embarcações e cerca de 100 famílias. A barra tem estado sempre fechada de há uns meses para cá. Desde outubro ou novembro, só fomos 10 dias ao mar ou pouco mais", disse à agência Lusa Alexandre Carvalho, pescador e proprietário de uma embarcação.
Ontem, políticos do PS e do PSD, andaram à pesca para os lados da Leirosa...
Presumo que a pescaria não deve ter sido lá grande coisa, pois este "peixe já está congelado há muito"...
Por vezes, ao centrar-se a atenção sobre o acessório, perde-se a oportunidade de resolver o essencial...
E o essencial, neste momento, para quem vive e trabalha no concelho da Figueira é a erosão costeira a sul do estuário do Mondego e o assoreamento da barra da Figueira.
Para já, porém, ao que parece, existem outras preocupações prioritárias: a pré-campanha eleitoral…
É do conhecimento geral a forma como as máquinas partidárias se desligaram das vidas reais das pessoas: mas isso é culpa das pessoas reais - as máquinas não pensam...
Enfim, estamos a viver um momento em que quase apetece arrumar as botas, que a razão já tem pouco a ver com o que se passa e vai continuar a passar nesta bela cidade da Figueira da Foz, em particular, e no país, em geral.
Mas, tenhamos um restinho de esperança: um dia ainda hão-de ser de forma genuína as pessoas a contar.
Nota de rodapé.
Para poupar tempo e trabalho, destacamos apenas algumas postagens que temos feito ao longo dos anos de existência deste espaço, sobre o tema da erosão costeira na Figueira, para tentar alertar os diversos "quens" de direito.
Por exemplo, esta, esta, esta, esta, esta, esta.
Mas há mais. Basta escrever no canto superior esquerdo a palavra erosão e clicar.
domingo, 3 de dezembro de 2017
O Cabedelo até pode ficar um brinquinho (o que eu duvido...), mas existem prioridades na governação de um autarquia...
Pelo menos, para algumas coisas...
Mas existem prioridades. Ou, antes, deveriam existir!...
A protecção da Orla Costeira Portuguesa é uma necessidade de primeira ordem...
O processo de erosão costeira assume aspectos preocupantes numa percentagem significativa do litoral continental.
Atente-se, no estado em que se encontra a duna logo a seguir ao chamado “Quinto Molhe”, a sul da Praia da Cova.
Por vezes, ao centrar-se a atenção sobre o acessório, perde-se a oportunidade de resolver o essencial...
Pode haver falta de verba, mas existem prioridades...
(OUTRA MARGEM, segunda-feira, 11 de dezembro de 2006)
Foto Márcia Cruz |
Senhor Presidente João Ataíde:
Não quero ser, muito menos parecer, pretensioso e cair na tentação fácil de me sentir diferente dos demais.
Contudo, o modo como a maioria dos políticos organiza e define as nossas vidas, com uma inversão total de prioridades, leva-me a esboçar um leve sorriso!
Não gostaria de continuar a sorrir por este motivo.
O momento não está para politiquices: a erosão costeira a sul da barra do Mondego é um assunto muito sério...
Claude Chabrol, disse um dia o seguinte: "a estupidez é infinitamente mais fascinante que a inteligência, pois a inteligência tem os seus limites... Mas a estupidez não!"
O meu saudoso Amigo e Mestre nestas coisas de entender o mar, Manuel Luís Pata, fartou-se de me dizer o seguinte: "há muita gente que fala e escreve sobre o mar, sem nunca ter pisado o convés de um navio".
Em 2003, lembro-me bem da sua indignação por um deputado figueirense - no caso o Dr. Pereira da Costa - haver defendido o que não tinha conhecimentos para defender: "uma obra aberrante, o prolongamento do molhe norte".
Na altura, Manuel Luís Pata escreveu e publicou em jornais, que o Dr. Pereira da Costa prestaria um bom serviço à Figueira se na Assembleia da República tivesse dito apenas: "é urgente que seja feito um estudo de fundo sobre o Porto da Figueira da Foz".
Como se optou por defender o acrescento do molhe norte, passados 14 anos, estamos precisamente como o meu velho Amigo Manuel Luís Pata previu: "as areias depositam-se na enseada de Buarcos, o que reduz a profundidade naquela zona, o que origina que o mar se enrole a partir do Cabo Mondego, tornando mais difícil a navegação na abordagem à nossa barra".
Por outro lado, o aumento do molhe levou, como Manuel Luís Pata também previu, "ao aumento do areal da praia, o que está a levar ao afastamento do mar da vida da Figueira".
E não foi por falta de avisos que foram cometidos tantos erros de planeamento territorial e urbanístico na na Figueira da Foz.
Voltando ao saudoso Mestre Manuel Luís Pata, também sempre uma das vozes discordantes do prolongamento do molhe norte. Um dia, já distante, em finais de janeiro de 2008, confessou-me: "ninguém ouve".
Recordo, também, algumas frases de Pinheiro Marques numa entrevista dada à Voz da Figueira em 26 de Novembro de 2008 : “os litorais da Cova-Gala, Costa de Lavos e Leirosa vão sofrer uma erosão costeira muitíssimo maior, com o mar a ameaçar as casas das pessoas e o próprio Hospital Distrital.
Devido à orientação obliqua do molhe norte, os barcos pequenos, as embarcações de pesca e ao iates de recreio, vão ter de se expor ao mar de través. Poderá vir a ser uma situação desastrosa para os pescadores e os iatistas e ruinosa para o futuro das pescas e da marina de recreio”.
Não podemos esquecer 11 de abril de 2008, uma sexta-feira.
Apesar dos vários alertas feitos em devido tempo, o prolongamento em 400 metros do molhe norte do porto da Figueira da Foz foi adjudicado nesse dia, um ano depois do lançamento do concurso público que sofreu reclamações dos concorrentes e atrasos na análise das propostas.
Cerca de 9 anos depois de concluída a obra, a barra, para os barcos de pesca que a demandam está pior que nunca e a erosão, a sul, está descontrolada.
Neste momento, pode dizer-se, sem ponta de demagogia, que é alarmante: o mar continua a “engolir” sistema dunar em S. Pedro, Costa de Lavos e Leirosa.
E o que tem feito a Câmara Municipal pelas populações sofridas e desesperadas do sul do concelho, vítimas deste flagelo que é a erosão costeira?
Pouco, para não dizer nada.
Eu sei que o presidente tem um trabalho gigantesco na CIM e cinco vereadores e meio não chegam para nada...
E depois, agora também não é oportuno, pois com o frio e o Inverno que se aproxima a passos largos, a vida é mais citadina no aconchego dos gabinetes dos paços do concelho e pouco apetece sair.
O frio tolhe os movimentos e a chuva aconselha a ficar no conforto do edifício da Saraiva de Carvalho...
São tempos de cadeirão no conforto e no aconchego do ar condicionado!
Nem esta luminosidade límpida, dos dias soalheiros de inverno, como o de hoje, vos motiva, ao menos, para fazerem umas fotos?
Bom, se calhar, pensando melhor, não é boa ideia: ficavam com os deditos enregelados...
terça-feira, 16 de fevereiro de 2021
CHEGA de sofrimento, venha de lá essa "intervenção rápida a curto prazo", pois a erosão a sul do quinto molhe da Praia da Cova não pode esperar mais...
Os blogues são mesmo assim, os textos vão-se sucedendo, as ideias vão-se misturando e, aos poucos, a realidade vai sendo esquecida: o mar há muito que está a invadir a freguesia de S. Pedro.
terça-feira, 10 de agosto de 2021
Governo antecipa divulgação de estudo sobre transposição de areias na Figueira da Foz
O documento será apresentado na quinta-feira, anunciou hoje o presidente da Câmara.
Na passada terça-feira, o ministro do Ambiente, à margem de uma sessão em Coimbra, estimava que o documento sobre a transposição mecânica de areias de norte para sul pudesse ser apresentado em setembro. Na ocasião, Matos Fernandes confirmou que o estudo da Universidade de Aveiro em que “foram estudadas várias possibilidades”, já tinha sido entregue à Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que estava a avaliá-lo.O sistema que o SOS Cabedelo quer ver instalado junto ao molhe norte da praia da Figueira da Foz, o maior areal urbano da Europa, é constituído por um pontão, com vários pontos de bombagem fixa que sugam areia e água, e as fazem passar para a margem sul por uma tubagem instalada por debaixo do leito do rio Mondego.
Na mesma intervenção em que anunciou a apresentação do estudo pelo ministro do Ambiente, na quinta-feira, no Centro de Artes e Espetáculos (CAE), Carlos Monteiro defendeu ser “importante clarificar” os resultados do trabalho dos especialistas da Universidade de Aveiro – na sequência de um concurso público no valor de 300 mil euros, lançado pela APA em 2019 – “para não haver aqui um enigma a rondar as eleições” autárquicas.
Na ocasião, Carlos Monteiro disse ainda ter falado com Matos Fernandes, no sentido de o sensibilizar para a apresentação do estudo o quanto antes: “Disse-lhe que não faz muito sentido haver um estudo que nós todos desejamos, ansiamos, pelo qual pugnámos, e não sai”, afirmou.
Do lado da oposição, o vereador Miguel Babo (eleito pelo PSD mas a quem o partido retirou a confiança política) começou por criticar a intenção do ministro do Ambiente em só apresentar o estudo em setembro: “Se [a antecipação] foi por ação do presidente [da Câmara], dou-lhe os parabéns. A urgência é tal que, qualquer dia que passa a mais, é negativo. Há uma obrigação que ultrapassa os interesses eleitorais, sejam lá eles quais forem”, advogou Miguel Babo.
“Devia ter sido apresentado em fevereiro, é terminado no final de julho e só em setembro o senhor ministro nos vinha dizer o que [os autores do estudo] tinham dito. É um assunto tão importante que todos os adiamentos eram maus”, acrescentou.
Miguel Babo disse ainda esperar que “acreditando que há imparcialidade, o estudo vai revelar que um sistema fixo de transferência de areias de norte para sul [o chamado ‘bypass’] é um grande beneficio”.
Com o prolongamento em 400 metros do molhe norte do porto comercial, um investimento de 14,6 milhões de euros, inaugurado em 2011, a erosão nas praias a sul acentuou-se, com destruição da duna de proteção costeira em vários locais, com especial ênfase na praia da Cova, alvo de intervenções de emergência nos últimos anos, a última das quais em curso este verão.
Ouvido hoje pela agência Lusa, Miguel Figueira, do SOS Cabedelo, movimento de cidadãos que, desde 2011, defende a instalação do ‘bypass’ entre as margens do Mondego – para atacar a erosão a sul, a acumulação de areia a norte e assegurar a navegabilidade na barra do rio, por onde se faz o acesso ao porto comercial e ao porto de pesca – considerou que a apresentação do estudo “é o grande momento de viragem” num processo “com mais de uma década e que ainda será longo”.
“É um momento inacreditável de articulação entre a cidadania, o saber técnico e os atores políticos locais e nacionais. Congratulo-me por fazer parte de um processo com este envolvimento”, declarou Miguel Figueira.