Na Figueira da Foz, no dia 10 de Novembro de 1977, viu a luz do dia o primeiro número de um novo projecto jornalístico que, então, gerou enorme expectativa e que ainda hoje é recordado por muita gente do concelho e não só.
Foi o Barca Nova, onde me iniciei nas lides jornalísticas.
Mas, não é de mim que quero falar.
Entre os seus fundadores estavam nomes de referência da jovem Democracia saída do 25 de Abril de 1974.
Já faleceram alguns.
Começou com Ruy Alves. Mas, entretanto a lista foi aumentando: Jorge Rigueira, Gilberto Vasco, Cerqueira da Rocha, Leitão Fernandes, Luís Falcão, Orlando Carvalho, José Penicheiro, Adelino Tavares da Silva, Carlos Alberto Amorim, Waldemar Ramalho, Luís de Melo Biscaia, Vasco Gonçalves, Joaquim Namorado, José Martins e Armando Correia.
Ontem foi mais um: o Mário Neto, de seu nome completo, Mário António Figueiredo Neto.
Conheci o Engenheiro Mário Neto antes do Barca Nova...
Foi meu professor na Bernardino Machado, quando andei a estudar à noite.
Grande Homem, grande professor, estudioso, discreto e culto.
Foi também professor universitário.
Depois, fomos companheiros de redacção no Barca Nova.
Foi um militante antifascista, antes do 25 de Abril de 1974. Devido a isso foi preso político.
Ultimamente encontrava-o no café onde continuava a passar as tardes como sempre o conheci: a estudar e a recolher dados, sempre acompanhado de livros e jornais.
Era um fanático das estatísticas e do estudo sério e aprofundado de todas as questões. Aprendi muito com ele no final da década de 70 e princípio da década de 80 do século passado.
Foi deputado na Assembleia Municipal da Figueira da Foz.
Mário Neto era dos que acreditava que para defender e lutar pelos nossos interesses, não é necessário sobrepô-los aos legítimos interesses dos outros. Nem consentir que os interesses dos outros se sobreponham aos nossos legítimos interesses.
Aprendi com ele, que para defender os interesses locais era preciso sensibilizar a opinião pública para os principais problemas existentes. Para isso, é preciso informar. Fazer-se eco das opiniões, porventura, divergentes, que a propósito desses problemas ocorram.
Foi por isso, que em Novembro de 1977 surgiu o Barca Nova: para contribuir para que a análise dos problemas acontecesse. Para tentar ajudar a distinguir o essencial do acessório, o importante do sensacional.
Informar e, ao mesmo tempo, formar. Saber ouvir, mas também saber falar.
Com a sua perda a Figueira ficou mais pobre: não a parte visível, mas a invisível.
Até um dia destes Mário Neto.
Como diria outro velho e sábio colaborador do Barca Nova, também já desaparecido, Guije Baltar, "pudesse eu viver uma eternidade e nem assim se apagaria da minha memória a melhor gente que passou pela minha vida: a equipa Barca Nova".
Passe a imodéstia, vou citar-me a mim mesmo (um texto publicado na edição de 12 de fevereiro de 1982, do jornal Barca Nova, página 4.)
Lá aprendi, "que os democratas têm coisas mais profundas e importantes a uni-los do que a dividi-los. No essencial, têm aquilo que é fundamental a irmaná-los: a defesa da democracia."
Que desgosto que eu tenho, que o meu País, o meu concelho e a minha Aldeia, não "tivessem trilhado um caminho onde a transparência de princípios e a honestidade de processos fizesse parte do nosso quotidiano colectivo"...
Voltei a recuar a 12 de fevereiro de 1982 e, passe de novo a imodéstia, tornei a citar-me.
Entretanto, tudo se foi escoando.
Tudo tem o tempo que o Tempo permite!
Contudo, só há mortos inadiáveis depois do esquecimento.
Os restos mortais do Mário António Figueiredo Neto estarão em câmara ardente entre as 12 e as 18 horas de hoje.
Os meus pêsames à família enlutada.
A apresentar mensagens correspondentes à consulta "BARCA NOVA" ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens
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terça-feira, 28 de novembro de 2017
domingo, 28 de agosto de 2016
Morreu o Armando Correia, mais um que sempre pertenceu à "outra margem do poder"...
A imagem, mostra o Armando Correia fotografado no decorrer do jantar comemorativo do 4º. aniversário do Barca Nova, realizado no dia 29 de janeiro de1982, em Vila Verde, que constituiu na altura uma jornada na defesa intransigente de um ideal comum, aos que estiveram - e foram centenas - presentes naquela memorável jornada de confraternização democrática.
O Pedro Biscaia foi quem me deu a notícia: "na semana passada morreu o Armando Correia".
Estava hospitalizado em Leiria. Ao que me disse o Pedro, morreu durante o sono.
Armando Correia, no seu percurso profissional foi funcionário administrativo na Lusitânia Companhia Portuguesa de Pescas, SA.
Convivi com o Armando Correia no Barca Nova. Era ele que tinha de gerir as parcas disponibilidades financeiras da Empresa Jornalística do Mondego, SARL, a proprietária do jornal.
Outra das suas paixões foi o associativismo. Em Vila Verde, penso que, pelo menos, passou como dirigente pelo GRV.
No jornal, fiel ao seu interesse pelas Colectividades de Cultura e Recreio, assinou vários trabalhos ligados às Colectividades do concelho da Figueira da Foz.
A sua preocupação era divulgar as actividades culturais, que se iam fazendo um pouco por todo o nosso concelho. Ele sabia que era necessário motivar os jovens para que o associativismo tivesse futuro.
Era um Homem sério, rigoroso e exigente. Estava sempre a chamar a atenção da redacção para a necessidade de cortar nas despesas, dadas as debilidades que existiam a nível económico.
Como me disse o Pedro ao telemóvel: "foi mais um que cumpriu a vida".
Os meus sentimentos à família de Armando Correia.
Nota de rodapé.
Tudo se vai escoando. Nem o homem nem as suas obras perduram para sempre.
Tudo tem o tempo que o Tempo permite!
A notícia da morte do Armando Correia, fez-me pensar nos que já partiram e que colaboraram no Barca Nova.
Começou com Ruy Alves. Mas, entretanto a lista foi aumentando: Jorge Rigueira, Gilberto Vasco, Cerqueira da Rocha, Leitão Fernandes, Luís Falcão, Orlando Carvalho, José Penicheiro, Adelino Tavares da Silva, Carlos Alberto Amorim, Waldemar Ramalho, Luís de Melo Biscaia, Vasco Gonçalves, Joaquim Namorado, José Martins. E, agora, Armando Correia.
Como diria outro velho e sábio colaborador do Barca Nova, também já desaparecido, Guije Baltar, "pudesse eu viver uma eternidade e nem assim se apagaria da minha memória a melhor gente que passou pela minha vida: a equipa Barca Nova".
Lá aprendi, "que os democratas têm coisas mais profundas e importantes a uni-los do que a dividi-los. No essencial, têm aquilo que é fundamental a irmaná-los: a defesa da democracia."
Passe a imodéstia, acabei de citar-me a mim mesmo (um texto publicado na edição de 12 de fevereiro de 1982, do jornal Barca Nova, página 4.)
Que desgosto que eu tenho, que o meu País, o meu concelho e a minha Aldeia, não "tivessem trilhado um caminho onde a transparência de princípios e a honestidade de processos fizesse parte do nosso quotidiano colectivo"...
Voltei a recuar a 12 de fevereiro de 1982 e, passe de novo a imodéstia, tornei a citar-me.
Entretanto, tudo se foi escoando.
Tudo tem o tempo que o Tempo permite!
Contudo, só há mortos inadiáveis depois do esquecimento.
O Pedro Biscaia foi quem me deu a notícia: "na semana passada morreu o Armando Correia".
Estava hospitalizado em Leiria. Ao que me disse o Pedro, morreu durante o sono.
Armando Correia, no seu percurso profissional foi funcionário administrativo na Lusitânia Companhia Portuguesa de Pescas, SA.
Convivi com o Armando Correia no Barca Nova. Era ele que tinha de gerir as parcas disponibilidades financeiras da Empresa Jornalística do Mondego, SARL, a proprietária do jornal.
Outra das suas paixões foi o associativismo. Em Vila Verde, penso que, pelo menos, passou como dirigente pelo GRV.
No jornal, fiel ao seu interesse pelas Colectividades de Cultura e Recreio, assinou vários trabalhos ligados às Colectividades do concelho da Figueira da Foz.
A sua preocupação era divulgar as actividades culturais, que se iam fazendo um pouco por todo o nosso concelho. Ele sabia que era necessário motivar os jovens para que o associativismo tivesse futuro.
Era um Homem sério, rigoroso e exigente. Estava sempre a chamar a atenção da redacção para a necessidade de cortar nas despesas, dadas as debilidades que existiam a nível económico.
Como me disse o Pedro ao telemóvel: "foi mais um que cumpriu a vida".
Os meus sentimentos à família de Armando Correia.
Nota de rodapé.
Tudo se vai escoando. Nem o homem nem as suas obras perduram para sempre.
Tudo tem o tempo que o Tempo permite!
A notícia da morte do Armando Correia, fez-me pensar nos que já partiram e que colaboraram no Barca Nova.
Começou com Ruy Alves. Mas, entretanto a lista foi aumentando: Jorge Rigueira, Gilberto Vasco, Cerqueira da Rocha, Leitão Fernandes, Luís Falcão, Orlando Carvalho, José Penicheiro, Adelino Tavares da Silva, Carlos Alberto Amorim, Waldemar Ramalho, Luís de Melo Biscaia, Vasco Gonçalves, Joaquim Namorado, José Martins. E, agora, Armando Correia.
Como diria outro velho e sábio colaborador do Barca Nova, também já desaparecido, Guije Baltar, "pudesse eu viver uma eternidade e nem assim se apagaria da minha memória a melhor gente que passou pela minha vida: a equipa Barca Nova".
Lá aprendi, "que os democratas têm coisas mais profundas e importantes a uni-los do que a dividi-los. No essencial, têm aquilo que é fundamental a irmaná-los: a defesa da democracia."
Passe a imodéstia, acabei de citar-me a mim mesmo (um texto publicado na edição de 12 de fevereiro de 1982, do jornal Barca Nova, página 4.)
Que desgosto que eu tenho, que o meu País, o meu concelho e a minha Aldeia, não "tivessem trilhado um caminho onde a transparência de princípios e a honestidade de processos fizesse parte do nosso quotidiano colectivo"...
Voltei a recuar a 12 de fevereiro de 1982 e, passe de novo a imodéstia, tornei a citar-me.
Entretanto, tudo se foi escoando.
Tudo tem o tempo que o Tempo permite!
Contudo, só há mortos inadiáveis depois do esquecimento.
segunda-feira, 30 de junho de 2014
Joaquim Namorado: 100 anos...
Joaquim
Namorado viveu
entre 1914 e 1986. Nasceu em Alter do Chão, Alentejo, em 30 de
Junho. Se
fosse vivo, faria hoje 100 anos. Por tal motivo, Alter do Chão,
Coimbra e a Figueira da Foz, as terras por onde repartiu a sua vida, assinalam a data.
Mas
Joaquim Namorado, em vida teve uma Homenagem. Tal aconteceu nos dias
28 e 29 de Janeiro de 1983. Por iniciativa do jornal barca nova,
a Figueira prestou-lhe uma significativa Homenagem,
que constituiu um acontecimento nacional de relevante envergadura,
onde
participaram vultos eminentes da cultura e da democracia portuguesa.O vídeo acima, contém a gravação do discurso que Joaquim Namorado fez na oportunidade – já lá vão mais de 31 anos.
Há pessoas que nos estimulam. São as pessoas que nunca se renderam ao percurso da manada.
Joaquim Namorado foi desses raros Homens e Mulheres que conheci.
Considerava-se um figueirense de coração e de acção – chegou a ser membro da Assembleia Municipal, eleito pela APU.
Teve uma modesta residência na vertente sul da Serra da Boa Viagem. Essa casa, aliás, serviu de local para reuniões preparatórias da fundação do jornal barca nova.
Joaquim Namorado, foi um Cidadão que teve uma vida integra, de sacrifício e de luta, sempre dedicada à total defesa dos interesses do Povo.
Nos dias 28 e 29 de Janeiro de 1983, por iniciativa do jornal barca nova, a Figueira prestou-lhe uma significativa Homenagem.
Na altura, lembro-me como se fosse hoje, nos bastidores do Casino Peninsular, escutei-o com deslumbramento.
Ao reviver o seu discurso, o que consegui a partir de uma gravação que obtive por um feliz acaso do destino, fiquei com a certeza de que era necessário trazê-lo até aqui (fica o meu agradecimento ao Pedro Agostinho Cruz), pois o que escutei fala mais de quem foi e continua a ser Joaquim Namorado, no panorama cultural português, do que tudo o que alguém, por mais talentoso que seja, conseguiria alguma vez transmitir sobre uma personalidade tão especial e genuína. Neste documento, para mim com uma carga emocional enorme, está o Joaquim Namorado com quem convivi nas mesas do velho café Nau e na redacção do barca nova, que permanece vivo na minha memória. Ainda por cima, ouve-se também, ainda que de forma breve, a voz do Zé Martins.
Na sequência dessa homenagem, a Câmara Municipal da Figueira, durante anos, teve um prémio literário, que alcançou grande prestígio a nível nacional.
Santana Lopes, quando passou pela Figueira, como Presidente de Câmara, decidiu acabar com o “Prémio do Conto Joaquim Namorado”.Joaquim Namorado licenciou-se em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra, dedicando-se ao ensino. Exerceu durante dezenas de anos o professorado no ensino particular, já que o ensino oficial, durante o fascismo, lhe esteve vedado.
Depois do 25 de Abril, ingressou no quadro de professores da secção de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
Notabilizou-se como poeta neo-realista, tendo colaborado nas revistas Seara Nova, Sol Nascente, Vértice, etc. Obras poéticas: Aviso à Navegação (1941), Incomodidade (1945), A Poesia Necessária (1966). Ensaio: Uma Poética da Cultura (1994).)
Dizem que foi o Joaquim Namorado quem, para iludir a PIDE e a Censura, camuflou de “neo-realismo” o tão falado “realismo socialista” apregoado pelo Jdanov...
Entre muitas outras actividades relevantes, foi redactor e director da Revista de cultura e arte Vértice, onde ficou célebre o episódio da publicação de pensamentos do Karl Marx, mas assinados com o pseudónimo Carlos Marques. Um dia, apareceu na redacção um agente da PIDE a intimidar: “ó Senhor Doutor Joaquim Namorado, avise o Carlos Marques para ter cuidadinho, que nós já estamos de olho nele”...
Aquilo que se passou - o passado realmente acontecido - é o que resta na nossa memória.
Joaquim Namorado continua presente na minha memória. E é uma memória de que tenho orgulho.
Doutor (foi assim que sempre o tratei) - também sou um Homem coberto de dívidas.
Consigo e com o Zé, aprendi mais do que na escola: ensinamentos esses que deram sentido à minha vida, onde cabem a honra, a honestidade, a coragem, a justiça, o amor, a ternura, a fidelidade, o humor!
Mas, para Companheiros do barca nova nada há agradecer...
Doutor (foi assim que sempre o tratei) - também sou um Homem coberto de dívidas.
Consigo e com o Zé, aprendi mais do que na escola: ensinamentos esses que deram sentido à minha vida, onde cabem a honra, a honestidade, a coragem, a justiça, o amor, a ternura, a fidelidade, o humor!
Mas, para Companheiros do barca nova nada há agradecer...
“É assim que as coisas se têm de continuar a fazer, pois a sarna reaccionária continua a andar por aí...”
A luta por uma outra maré continua!..
Até sempre e parabéns pelos cem anos, meu caro Doutor Joaquim Namorado.
A luta por uma outra maré continua!..
Até sempre e parabéns pelos cem anos, meu caro Doutor Joaquim Namorado.
domingo, 30 de junho de 2019
Via João Pedrosa Russo
![]() |
Sacado daqui, com a devida e necessária vénia. |
Manuel Fernandes Tomás, "O Patriarca da Liberdade" e a consciência cívica...
Na Figueira, sempre foi proibido questionar convenções.Quem o faz, é imediatamente alvo de campanhas de ostracização.
Se algo ameaça a postura convencional, então é porque é extremista, ou marginal, ou pior.
Assim, não é de surpreender que – talvez na Figueira mais do que em qualquer outra cidade - os génios sejam todos póstumos.
É biografia recorrente aquela que acaba por concluir que, em vida, a excelsa pessoa nunca foi compreendida ou admirada.
Manuel Fernandes Tomás foi preciso morrer na miséria e na amargura para postumamente lhe reconhecerem o devido valor.
Joaquim Namorado: “Tudo existe. O que se Inventa é a descrição”
Joaquim Namorado viveu entre 1914 e 1986. Nasceu em Alter do Chão, Alentejo, em 30 de Junho. Se fosse vivo, faria hoje 105 anos. Por tal motivo, Alter do Chão, Coimbra e a Figueira da Foz, as terras por onde repartiu a sua vida, assinalam a data.
Mas Joaquim Namorado, em vida teve uma Homenagem. Tal aconteceu nos dias 28 e 29 de Janeiro de 1983. Por iniciativa do jornal barca nova, a Figueira prestou-lhe uma significativa Homenagem, que constituiu um acontecimento nacional de relevante envergadura, onde participaram vultos eminentes da cultura e da democracia portuguesa.
Há pessoas que nos estimulam. São as pessoas que nunca se renderam ao percurso da manada.
Joaquim Namorado foi desses raros Homens e Mulheres que conheci.
Considerava-se um figueirense de coração e de acção – chegou a ser membro da Assembleia Municipal, eleito pela APU.
Teve uma modesta residência na vertente sul da Serra da Boa Viagem. Essa casa, aliás, serviu de local para reuniões preparatórias da fundação do jornal barca nova.
Joaquim Namorado, foi um Cidadão que teve uma vida integra, de sacrifício e de luta, sempre dedicada à total defesa dos interesses do Povo.
Nos dias 28 e 29 de Janeiro de 1983, por iniciativa do jornal barca nova, a Figueira prestou-lhe uma significativa Homenagem.
Na altura, lembro-me como se fosse hoje, nos bastidores do Casino Peninsular, escutei-o com deslumbramento.
Ao reviver o seu discurso, o que consegui a partir de uma gravação que obtive por um feliz acaso do destino, fiquei com a certeza de que era necessário trazê-lo até aqui (fica o meu agradecimento aoPedro Agostinho Cruz), pois o que escutei fala mais de quem foi e continua a ser Joaquim Namorado, no panorama cultural português, do que tudo o que alguém, por mais talentoso que seja, conseguiria alguma vez transmitir sobre uma personalidade tão especial e genuína. Neste documento, para mim com uma carga emocional enorme, está o Joaquim Namorado com quem convivi nas mesas do velho café Nau e na redacção do barca nova, que permanece vivo na minha memória. Ainda por cima, ouve-se também, ainda que de forma breve, a voz do Zé Martins.
Na sequência dessa homenagem, a Câmara Municipal da Figueira, durante anos, teve um prémio literário, que alcançou grande prestígio a nível nacional.
Santana Lopes, quando passou pela Figueira, como Presidente de Câmara, decidiu acabar com o “Prémio do Conto Joaquim Namorado”.Joaquim Namorado licenciou-se em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra, dedicando-se ao ensino. Exerceu durante dezenas de anos o professorado no ensino particular, já que o ensino oficial, durante o fascismo, lhe esteve vedado.
Depois do 25 de Abril, ingressou no quadro de professores da secção de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
Notabilizou-se como poeta neo-realista, tendo colaborado nas revistas Seara Nova, Sol Nascente, Vértice, etc. Obras poéticas: Aviso à Navegação (1941), Incomodidade (1945), A Poesia Necessária (1966). Ensaio: Uma Poética da Cultura (1994).)
Dizem que foi o Joaquim Namorado quem, para iludir a PIDE e a Censura, camuflou de “neo-realismo” o tão falado “realismo socialista” apregoado pelo Jdanov...
Entre muitas outras actividades relevantes, foi redactor e director da Revista de cultura e arte Vértice, onde ficou célebre o episódio da publicação de pensamentos do Karl Marx, mas assinados com o pseudónimo Carlos Marques. Um dia, apareceu na redacção um agente da PIDE a intimidar: “ó Senhor Doutor Joaquim Namorado, avise o Carlos Marques para ter cuidadinho, que nós já estamos de olho nele”...
Aquilo que se passou - o passado realmente acontecido - é o que resta na nossa memória.
Joaquim Namorado continua presente na minha memória. E é uma memória de que tenho orgulho.
Doutor (foi assim que sempre o tratei) - também sou um Homem coberto de dívidas.
Consigo e com o Zé, aprendi mais do que na escola: ensinamentos esses que deram sentido à minha vida, onde cabem a honra, a honestidade, a coragem, a justiça, o amor, a ternura, a fidelidade, o humor!
Mas, para Companheiros do barca nova nada há agradecer...
Doutor (foi assim que sempre o tratei) - também sou um Homem coberto de dívidas.
Consigo e com o Zé, aprendi mais do que na escola: ensinamentos esses que deram sentido à minha vida, onde cabem a honra, a honestidade, a coragem, a justiça, o amor, a ternura, a fidelidade, o humor!
Mas, para Companheiros do barca nova nada há agradecer...
“É assim que as coisas se têm de continuar a fazer, pois a sarna reaccionária continua a andar por aí...”
A luta por uma outra maré continua!..
Até sempre e parabéns pelos 105 anos, meu caro Doutor Joaquim Namorado.
A luta por uma outra maré continua!..
Até sempre e parabéns pelos 105 anos, meu caro Doutor Joaquim Namorado.
domingo, 29 de junho de 2014
Recordando Joaquim Namorado e a necessidade de promover a unidade dos democratas
Vila Verde, 29 de Janeiro de 1982.
Nessa data, realizou-se o jantar comemorativo do 4º. aniversário do barca nova.
Nessa data, realizou-se o jantar comemorativo do 4º. aniversário do barca nova.
Nessa noite, vivi uma das jornadas mais inesquecíveis da minha vida: foi uma jornada onde esteve presente o apelo à unidade das forças democráticas.
Posso viver muito mais anos ainda, mas jamais vou esquecer. Jamais se apagará da minha memória a recordação dessa jornada de 29 de janeiro de 1982 em Vila Verde.
Essa noite de 29 de janeiro de 1982, para quem a viveu – e alguns ainda estão vivos: Martelo de Oliveira (ex-deputado da ASDI), dr. Luis Melo Biscaia (nas palavras proferidas, na altura, por Joaquim Namorado: “em todas as manifestações da resistência, na longa noite fascista, Melo Biscaia não foi nunca um Companheiro que estava ao lado, mas sempre um Companheiro que estava do nosso lado”), Joaquim Jerónimo (em representação do PS), António Augusto Menano (em representação do PCP), dr. Joaquim de Sousa (presidente da câmara da Figueira da Foz na altura) – foi uma jornada inesquecível: não apenas por ter sido uma reunião de amigos; não apenas por ter sido uma reunião de pessoas que mutuamente se respeitavam; mas, sobretudo, porque um modesto jornal como o barca nova, provou que era possível a congregação de esforços de pessoas de várias tendências na defesa intransigente de um ideal comum: a DEMOCRACIA.
Era assim em 1982, deveria continuar a ser assim em 2014.
Como disse na oportunidade o dr. Joaquim Namorado, “o barca nova tinha de ser o jornal dos operários, dos camponeses, dos intelectuais, de todos os trabalhadores. Temos de fazer do barca nova o jornal não de uma facção, mas de todas as forças democráticas. Definitivamente unidas”.
Estas palavras nunca mais me saíram da memória.
Tal como ouvi na altura ao dr. Orlando de Carvalho: temos de congregar esforços em torno do que nos une, afinal de contas muito mais do aquilo que nos divide.
29 de de janeiro de 1982, uma data importante na minha vida...
terça-feira, 30 de dezembro de 2014
“Tudo existe. O que se Inventa é a descrição”
Joaquim Namorado e Guilhermina Namorado no dia do seu casamento. Coimbra, 1942. |
A
vida e o percurso de Joaquim Namorado decorreram num contexto e num
tempo difícil: o Portugal fascista do século XX,
tempo em que se agravaram as condições de vida do povo português.
As
migrações rurais, na maioria no sentido de Lisboa, têm um peso
enorme na vida do país. A instabilidade política e a guerra civil
de baixa intensidade que se arrasta agravam a situação. A crise
financeira, o advento do Estado Novo, a concentração capitalista
têm consequências pesadas, fazendo com que os anos 30 e 40 do
século XX em Portugal sejam de grande crise e pobreza para o povo
português.
A
situação das classes mais desfavorecidas, dos estratos mais
vulneráveis da população era de tal maneira complicada e difícil
que não podia deixar de chamar a atenção dos intelectuais daquele
tempo em Portugal. Mais do que uma corrente intelectual, do que uma
resposta a este ou aquele movimento artístico, mais do que a
expressão de uma força política, o movimento neo-realismo foi a
expressão de uma solidariedade, de uma tomada de posição perante o
sofrimento agravado do povo português. Mário Dionísio disse que
apareceu espontaneamente, não por encomenda deste ou daquele.
Impôs-se o sentimento de dar conteúdo à arte, como demonstram as
polémicas sobre o primado do conteúdo ou da forma na arte, bastante
acesas e de inegável interesse.
Um
observador atento, sem ideias pré-concebidas, confirma com
facilidade que o âmbito do neo-realismo é bastante mais vasto do
que muitas vezes se apresenta. Figuras como Ferreira de Castro,
Aquilino Ribeiro e José Rodrigues Miguéis produziram obras que
devem ser consideradas como fazendo parte da literatura neo-realista,
sem qualquer espécie de dúvida. No cinema, por exemplo na fase
inicial da obra de Manuel de Oliveira, denotam-se preocupações
afins ao movimento.
E,
ao contrário do que alguns tentam fazer crer, o neo-realismo não se
pode reduzir a uma literatura regional, do Alentejo ou do Ribatejo.
Não se pode esquecer a importância da revista Sol Nascente, fundada
por estudantes do Porto e editada naquela cidade de 1937 a 1940, ou
da Vértice, que aparece em Coimbra em 1942, entre outras
publicações. E que o Novo Cancioneiro, também editado em Coimbra
pela mesma altura, incluiu poetas de todo o país. Ainda em Coimbra
são numerosas as publicações próximas do neo-realismo, a maioria,
é verdade, de vida efémera: Altitude, Cadernos de Juventude,
Síntese. Em Lisboa destaca-se O Diabo.
O
neo-realismo cumpriu o papel de denúncia do sofrimento do povo
português. Mostrou o papel que podem ter a arte e a cultura em geral
na luta social e política. Não foi propriedade de ninguém, nem
mesmo exclusivo de Portugal. Foi o contributo da cultura para apoiar
o povo a que seus agentes pertenciam.
É
neste contexto que a obra de Joaquim Namorado tem de ser vista: “um
organizador colectivo, mais do que original; um poeta e um crítico de
obra exígua; um militante que rebatia arte sobre a política e, em
política, queria ser reconhecido pela sua ortodoxia”.
Conheci
pessoalmente Joaquim Namorado, creio que no ano de 1978, devido ao
projecto barca nova.
Em
1982, aparece em 3º. Lugar na lista APU concorrente à Assembleia
Municipal da Figueira da Foz - e é eleito.
Em
1983, por iniciativa do semanário barca nova é lançada a ideia de
uma “homenagem a Joaquim Namorado”.
Realiza-se a homenagem projectada pelo barca nova. Dela faz parte uma
exposição sobre “O neo-realismo e as suas margens”, que depois
será apresentada em Coimbra, Guimarães e Fafe, em versão
simplificada.
O
executivo da Câmara Municipal da Figueira da Foz cria o “Prémio
Joaquim Namorado”, para ser atribuído a contos inéditos,
invocando a acção cultural exercida por Joaquim Namorado no nosso
concelho.
Em
29 de Janeiro é conferida a Joaquim Namoarado a Ordem da Liberdade –
Diário da República nº. 62, 2ª. Série de 16/3/1983.
Seguiram-se
outras homenagens. Recordo que a Assembleia Municipal de Alter do Chão,
sua terra natal, em reunião de 4 de Fevereiro, por unanimidade,
resolve associar-se à “Homenagem nacional prestada a Joaquim
Namorado".
A
Junta de Freguesia de S. Julião, delibera na sua reunião de 14 do
mesmo mês no mesmo sentido.
A
Assembleia Municipal e a Câmara de Coimbra atraibuem-lhe, por
unanimidade, a Medalha de Ouro da cidade.
Por
esse tempo, Joaquim Namorado era um Homem feliz. Por esse tempo, eu,
como elemento de um colectivo que se chamava barca nova, também era
um homem feliz.
Joaqui
Namorado, o Joaquim Namorado com quem convivi e tive a felicidade de
receber a sua amizade, ao contrário do que dizem não era um durão:
era um ser humano do melhor que passou pela minha vida – e a quem
estarei eternamente grato pelo muito que me ensinou.
quinta-feira, 22 de dezembro de 2016
Recordar o Zé, a propósito do CDS de 2016!
Alguém, que em 2016, ande por aqui, sabe quem foi um dos figueirenses mais talentosos que conheci, com quem convivi e com aprendi boa parte do que sei?..
Morreu em 28 de Abril de 2000.
Tinha nascido a 17 de Fevereiro de 1941.
Nome completo: José Alberto de Castro Fernandes Martins.
Para os Amigos, era simplesmente o ZÉ.
Purista do verbo e do enredo no dissertar da pena, concebia o jornalismo como uma arte e uma missão nobre.
“Também a lança pode ser uma pena/também a pena pode ser chicote!”
Andarilho e contador de histórias vividas, passou em palavras escritas pelo Notícias da Figueira, Diário de Coimbra, Diário Popular, Jornal de Notícias, Diário de Lisboa, República, Opinião, Vértice, Mar Alto (de que foi co-fundador), Barca Nova (de que foi fundador e Director) e Linha do Oeste.
No associativismo passou pelo Ginásio Clube Figueirense e Sociedade Boa União Alhadense.
Lutador contra o regime deposto pelo 25 de Abril de 1974, teve ficha na PIDE.
Foi membro da Comissão Nacional do 3º. Congresso da Oposição Democrática que se realizou em 1969 em Aveiro.
Chegou a ser preso pela polícia política.
Com a sua morte, em 2000, a Figueira perdeu uma parte do seu rosto.
Não a visível, mas a essencial.
Era crítico e exigente. Mas, ao mesmo tempo, bom, tolerante e solidário.
16 anos depois da sua morte, quem manda na Figueira, a cidade que amou toda a vida, continua a ignorá-lo.
Hoje, vou recordar um episódio que dá conta do seu talento irreverente e espontâneo.
Hoje, a propósito disto, vou recordar o Zé e o ano 1982, aí pelo mês de Fevereiro, em Portugal.
O país político foi abalado na altura, por uma afirmação do então deputado do CDS, João Morgado.
No decorrer de um debate na Assembleia da República, o referido deputado fez a seguinte afirmação, que deixou de boca aberta o Povo da Nação: “O ACTO SEXUAL É PARA FAZER FILHOS”.
Se a tirada do deputado Morgado ficou nos anais do parlamento, não menos célebre ficou a resposta, em poema, da notável poetisa e, então, deputada do PSD, Natália Correia.
Rezava, assim, a resposta em poema que fez rir as bancadas parlamentares e boa parte do país:
“Já que o coito
- diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o orgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.”
O Zé Martins, sempre atento, oportuno, contundente, irreverente e mordaz, na edição do Barca Nova de 12 de Março, desse mesmo ano de 1982, glosou o tema, como só ele seria capaz de o fazer.
Recordo, como se fosse hoje, e já passaram mais de 34 anos, o quanto esse número do Barca Nova nos deu gozo...
Lembro-me, perfeitamente, do Zé com o seu jeito, peculiar e exagerado - único, para contar estórias oralmente, adornando-as e enriquecendo-as com os seus excessos de pormenores deliciosos!..
Escrevia muito bem o Zé, mas ouvi-lo era um privilégio.
Leiam esta inspiração do Zé:
“Saber se o sr. João Morgado
Deputado da Nação
É ou não homem capado
Para além de deputado
Tornou-se agora a questão.
Mulher sagaz e de veia
Perita na dedução
A deputada Correia
Vê a coisa muito feia
Pró deputado João.
Cá por nós, acreditamos
Que estas coisas embaraçam.
Mas também não duvidamos
Que posição não tomamos
Sem que outras provas se façam.
O deputado João
Suspeito de ser capado
A nosso ver deve então
Exibir o galardão
Para ser examinado.
E exibi-lo no parlamento
Perante os pares que lá estão.
Na tribuna ou no assento
(Consoante o regimento
Que contemple essa função)
Vai ser um acontecimento
Ver o João em São Bento
C’o argumento na mão.
- Vamos a isso, João?”
Decorridos mais de 34 anos, recordar o Zé, que já cá não está, pois há 16 anos, de forma inesperada, resolveu ir viajar, continua a ser um prazer tão grande como reler os seus escritos.
Morreu em 28 de Abril de 2000.
Tinha nascido a 17 de Fevereiro de 1941.
Nome completo: José Alberto de Castro Fernandes Martins.
Para os Amigos, era simplesmente o ZÉ.
Purista do verbo e do enredo no dissertar da pena, concebia o jornalismo como uma arte e uma missão nobre.
“Também a lança pode ser uma pena/também a pena pode ser chicote!”
Andarilho e contador de histórias vividas, passou em palavras escritas pelo Notícias da Figueira, Diário de Coimbra, Diário Popular, Jornal de Notícias, Diário de Lisboa, República, Opinião, Vértice, Mar Alto (de que foi co-fundador), Barca Nova (de que foi fundador e Director) e Linha do Oeste.
No associativismo passou pelo Ginásio Clube Figueirense e Sociedade Boa União Alhadense.
Lutador contra o regime deposto pelo 25 de Abril de 1974, teve ficha na PIDE.
Foi membro da Comissão Nacional do 3º. Congresso da Oposição Democrática que se realizou em 1969 em Aveiro.
Chegou a ser preso pela polícia política.
Com a sua morte, em 2000, a Figueira perdeu uma parte do seu rosto.
Não a visível, mas a essencial.
Era crítico e exigente. Mas, ao mesmo tempo, bom, tolerante e solidário.

Hoje, vou recordar um episódio que dá conta do seu talento irreverente e espontâneo.
Hoje, a propósito disto, vou recordar o Zé e o ano 1982, aí pelo mês de Fevereiro, em Portugal.
O país político foi abalado na altura, por uma afirmação do então deputado do CDS, João Morgado.
No decorrer de um debate na Assembleia da República, o referido deputado fez a seguinte afirmação, que deixou de boca aberta o Povo da Nação: “O ACTO SEXUAL É PARA FAZER FILHOS”.
Se a tirada do deputado Morgado ficou nos anais do parlamento, não menos célebre ficou a resposta, em poema, da notável poetisa e, então, deputada do PSD, Natália Correia.
Rezava, assim, a resposta em poema que fez rir as bancadas parlamentares e boa parte do país:
“Já que o coito
- diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o orgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.”
O Zé Martins, sempre atento, oportuno, contundente, irreverente e mordaz, na edição do Barca Nova de 12 de Março, desse mesmo ano de 1982, glosou o tema, como só ele seria capaz de o fazer.
Recordo, como se fosse hoje, e já passaram mais de 34 anos, o quanto esse número do Barca Nova nos deu gozo...
Lembro-me, perfeitamente, do Zé com o seu jeito, peculiar e exagerado - único, para contar estórias oralmente, adornando-as e enriquecendo-as com os seus excessos de pormenores deliciosos!..
Escrevia muito bem o Zé, mas ouvi-lo era um privilégio.
Leiam esta inspiração do Zé:
“Saber se o sr. João Morgado
Deputado da Nação
É ou não homem capado
Para além de deputado
Tornou-se agora a questão.
Mulher sagaz e de veia
Perita na dedução
A deputada Correia
Vê a coisa muito feia
Pró deputado João.
Cá por nós, acreditamos
Que estas coisas embaraçam.
Mas também não duvidamos
Que posição não tomamos
Sem que outras provas se façam.
O deputado João
Suspeito de ser capado
A nosso ver deve então
Exibir o galardão
Para ser examinado.
E exibi-lo no parlamento
Perante os pares que lá estão.
Na tribuna ou no assento
(Consoante o regimento
Que contemple essa função)
Vai ser um acontecimento
Ver o João em São Bento
C’o argumento na mão.
- Vamos a isso, João?”
Decorridos mais de 34 anos, recordar o Zé, que já cá não está, pois há 16 anos, de forma inesperada, resolveu ir viajar, continua a ser um prazer tão grande como reler os seus escritos.
sexta-feira, 27 de junho de 2014
Joaquim Namorado
"Completam-se
100 anos no próximo dia 30 que Joaquim Namorado nasceu em Alter do
Chão.
O
autor de Aviso à Navegação, Poesia Necessária, Incomodidade e
Zoo, faleceu em 29 de Dezembro de 1986.
É sempre difícil falar de um amigo. Mais difícil se já não está connosco. Mas, falar de Joaquim Namorado, é ser-se fiel ao que ele acreditava, à Democracia e à Liberdade.
É sempre difícil falar de um amigo. Mais difícil se já não está connosco. Mas, falar de Joaquim Namorado, é ser-se fiel ao que ele acreditava, à Democracia e à Liberdade.
Recordar
o poeta é colocar uma pedra na muralha contra o obscurantismo e a
falsidade.
Será
dizer com ele que “O mabeco ladra longe...”, disparando, bem
directo, um pontapé no rabo do bicho. Joaquim Namorado,
o criador do termo neo-realismo, foi, acima de tudo, um
anti-fascista, que transpunha, por inteiro, para a poesia, a sua
concepção de vida, um eterno movimento, uma segura ironia, um apesar
de tudo optimismo responsável.
Quem
o conheceu, com o seu velho casaco de “tweed”, o boné aos
quadradinhos, saberia ter sido impossível que assim
não fosse.
Ao inaugurar na data do centenário do seu nascimento uma mostra bio-bibliográfica, na Biblioteca Municipal a Figueira homenageia e recorda um ex membro da sua Assembleia Municipal.
Ao inaugurar na data do centenário do seu nascimento uma mostra bio-bibliográfica, na Biblioteca Municipal a Figueira homenageia e recorda um ex membro da sua Assembleia Municipal.
Recorde-se
que por deliberação da Câmara da Figueira da Foz foi criado o
Prémio Joaquim Namorado, na modalidade contos inéditos,
posteriormente silenciado. Mas o poeta bem sabia «As coisas são
provisórias»”.
Crónica
de António Augusto Menano, hoje no jornal AS BEIRAS
Em tempo.
Em tempo.
![]() |
Nesta fotografia de 29 de janeiro de 1983, sacada daqui, da esquerda para direita, estou eu,
o Dr. Joaquim Namorado, o Dr. Pedro Biscaia, o Alexandre Campos e a minha filha Joana.
|
Nos
dias 28 e 29 de Janeiro de 1983, por iniciativa do jornal Barca
Nova,
a Figueira prestou uma significativa Homenagem ao Dr. Joaquim Namorado, que constituiu um
acontecimento nacional de relevante envergadura, onde participaram
vultos eminentes da cultura e da democracia portuguesa.
Na
sequência dessa homenagem, a Câmara Municipal da Figueira, durante
anos, teve um prémio literário, que alcançou grande prestígio a
nível nacional.
Santana
Lopes, quando passou pela Figueira, como Presidente de Câmara,
decidiu acabar com o “Prémio do Conto Joaquim Namorado”.
A
memória individual é desejável e necessária.
Aquilo que se passou - o passado realmente acontecido - é o que resta na nossa memória.
Poder-se-á então definir a nossa história, como uma busca pelo auto conhecimento, tanto a nível individual como colectivo.
A fotografia acima, que eu tinha perdido e recuperei, graças ao meu Amigo Pedro Biscaia, foi tirada antes do Almoço de Confraternização ao Poeta da Incomodidade, que decorreu no dia 29 de Janeiro de 1983 nas instalações do Cais Comercial da Figueira da Foz.
Este almoço, fez parte de um programa vasto de uma Homenagem promovida pelo extinto semanário Barca Nova a Joaquim Namorado e ao Neo-Realismo.
Esse evento, que trouxe à Figueira, na altura, vultos eminentes da Democracia e da Cultura do nosso País, penso que ainda estará na memória de muitos figueirenses – e não só.
É uma memória de que tenho orgulho.
O Barca Nova, um modesto semanário de província, onde na altura eu era chefe de redacção, cumpriu um dever de cidadania, pois ao homenagear o Dr. JOAQUIM NAMORADO e o Neo-realismo, marcou à época a vida cultural, na Figueira e no País.
Tal, no entanto, só foi possível, diga-se em abono da verdade, graças ao talento, à genialidade, à utopia e à capacidade de ver sempre mais além e de sonhar de um grande figueirense e grande jornalista, entretanto já falecido, que quem manda na Figueira esqueceu: JOSÉ FERNANDES MARTINS.
Aquilo que se passou - o passado realmente acontecido - é o que resta na nossa memória.
Poder-se-á então definir a nossa história, como uma busca pelo auto conhecimento, tanto a nível individual como colectivo.
A fotografia acima, que eu tinha perdido e recuperei, graças ao meu Amigo Pedro Biscaia, foi tirada antes do Almoço de Confraternização ao Poeta da Incomodidade, que decorreu no dia 29 de Janeiro de 1983 nas instalações do Cais Comercial da Figueira da Foz.
Este almoço, fez parte de um programa vasto de uma Homenagem promovida pelo extinto semanário Barca Nova a Joaquim Namorado e ao Neo-Realismo.
Esse evento, que trouxe à Figueira, na altura, vultos eminentes da Democracia e da Cultura do nosso País, penso que ainda estará na memória de muitos figueirenses – e não só.
É uma memória de que tenho orgulho.
O Barca Nova, um modesto semanário de província, onde na altura eu era chefe de redacção, cumpriu um dever de cidadania, pois ao homenagear o Dr. JOAQUIM NAMORADO e o Neo-realismo, marcou à época a vida cultural, na Figueira e no País.
Tal, no entanto, só foi possível, diga-se em abono da verdade, graças ao talento, à genialidade, à utopia e à capacidade de ver sempre mais além e de sonhar de um grande figueirense e grande jornalista, entretanto já falecido, que quem manda na Figueira esqueceu: JOSÉ FERNANDES MARTINS.
quinta-feira, 13 de março de 2014
Os 32 anos da “nova Ponte da Figueira”...
Em 12 de março de 1982 foi inaugurada a ponte da Figueira da Foz. O evento teve lugar pelas 16
horas e foi presidido pelo Presidente da República General Ramalho Eanes. O
primeiro-ministro Pinto Balsemão também esteve presente. Veio acompanhado
pelos ministros Lucas Pires, Viana Baptista e Ângelo Correia, além de vários
secretários de Estado e outros membros do Governo. Era presidente da Câmara da Figueira o dr. Joaquim de Sousa.
Todavia, o que recordo melhor desse dia (fiz a reportagem para o
Barca Nova) foi o mar de gente que encheu de lés a lés, nessa sexta-feira, 12
de março de 1982, a então NOVA PONTE DA
FIGUEIRA DA FOZ.
Foi um verdadeiro espectáculo. Mais parecia uma romaria
popular. O Povo tomou nas suas mãos o rumo dos acontecimentos. Todos os
protocolos foram ultrapassados. Recordo-me da atrapalhação do ministro Ângelo
Correia...
O Presidente da República de então, o General Ramalho Eanes,
tinha grande popularidade e prestígio
junto da população figueirense e foi sempre efusivamente saudado. O mesmo, porém, não aconteceu com Pinto Balsemão e os ministros que o acompanharam...
Cerimónias? Houve com certeza.
Descerramento de lápides, cortejo, sessão solene... Mas, foi o Povo a nota
dominante daquela tarde solarenga. Milhares e milhares de pessoas – homens,
mulheres e crianças – tudo foi de abalada até à Ponte como se a abertura
oficial daquele verdadeiro monumento fosse a única coisa a ver naquela tarde.
Foi lindo de se ver.
Esse dia grande para
a nossa cidade prolongou-se pela noite dentro, com duas outras
cerimónias realizadas no Museu-Biblioteca:
a inauguração de uma Exposição Documental que esteve patente ao público
até ao dia 20 de setembro desse ano –
data do 100º. Aniversário da elevação da Figueira da Foz a cidade; e a Sessão
Solene de abertura oficial das Comemorações, no decorrer da qual proferiu uma
conferência o dr. José Hermano Saraiva.
A obra tinha-se iniciado em 5 de outubro de 1977 e orçou em
milhão e meio de contos.
Trabalharam
na obra, no decorrer dos quatro anos que demoraram os trabalhos, cerca
de 2 000 operários (2 dos quais, lamentavelmente, aqui encontraram a morte).
Todavia, de acordo com o se passou na sessão solene de inauguração, nenhum foi
condecorado... Como escrevi na altura no jornal Barca Nova, “foi-o o
projectista, prof Edgar Cardoso (muito bem), o engenheiro Carvalho dos Santos
(muito bem), mais engenheiros e encarregados (tudo muito bem), mas os que por
exemplo andaram a 90 metros de altura a arriscar quotidianamente o que têm de
mais precioso – a própria vida – não mereceram qualquer medalha (muito mal).
Palavras, tiveram algumas”...
Toda a gente a continua a conhecer por
“Ponte da Figueira”.
Todavia, desde 28 de Julho de 2005, que oficialmente se
chama “Ponte Edgar Cardoso”, que é o
nome do engenheiro que a projectou.
Edgar Cardoso, nascido em 11 de Maio de 1913, celebrizou-se
como projectista de pontes. Com extraordinária capacidade inventiva e métodos
originais, este engenheiro projectou pontes - em Portugal e no estrangeiro -
que são autênticas obras de arte. Impressionam, sobretudo, pela estética,
leveza e inovação. Edgar Cardoso rejeitava as soluções-padrão já testadas e
tinha a preocupação de inserir cada obra na paisagem.
Este importante engenheiro português, que proporcionou novas
perspectivas à Figueira com a abertura da nova ponte em 1982, morreu em 5 de
Julho de 2000.
A inauguração da ponte Edgar Cardoso foi um dos primeiros
actos do programa alusivo às comemorações do centenário da Figueira da Foz.
Enfim, passaram ontem 32 anos que milhares de pessoas
estiveram na ponte a assistir à inauguração. Pode ver, clicando aqui, duas fotos de José Santos, na altura jornalista no Diário de Coimbra, que recordam o momento.
terça-feira, 10 de abril de 2007
Joaquim Namorado, Poeta de Incomodidade

“Metam O burro na gaiola
de doiradas grades
e tratem-no a alpista
se quiserem
- é só um despropósito
Mas esperar dele o trinar
Do canário melodioso
É simplesmente tolo.”
Joaquim Namorado viveu entre 1914 e 1986. Nasceu em Alter do Chão, Alentejo, em 30 de Junho.
Licenciou-se em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra, dedicando-se ao ensino. Exerceu durante dezenas de anos o professorado no ensino particular, já que o ensino oficial, durante o fascismo, lhe esteve vedado.
Depois do 25 de Abril, ingressou no quadro de professores da secção de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
Notabilizou-se como poeta neo-realista, tendo colaborado nas revistas Seara Nova, Sol Nascente, Vértice, etc. Obras poéticas: Aviso à Navegação (1941), Incomodidade (1945), A Poesia Necessária (1966). Ensaio: Uma Poética da Culutra (1994).)
Dizem que foi o Joaquim Namorado quem, para iludir a PIDE e a Censura, camuflou de “neo-realismo” o tão falado “realismo socialista” apregoado pelo Jdanov...
Entre muitas outras actividades relevantes , foi redactor e director da Revista de cultura e arte Vértice, onde ficou célebre o episódio da publicação de pensamentos do Karl Marx, mas assinados com o pseudónimo Carlos Marques. Um dia, apareceu na redacção um agente da PIDE a intimidar: “ó Senhor Doutor Joaquim Namorado, avise o Carlos Marques para ter cuidadinho, que nós já estamos de olho nele”...
No concelho da Figueira – considerava-se um figueirense de coração e de acção – chegou a ser membro da Assembleia Municipal, eleito pela APU.
Teve uma modesta residência na vertente sul da Serra da Boa Viagem. Essa casa, aliás, serviu de local para reuniões preparatórias da fundação do jornal Barca Nova.
Muito mais poderia ser dito para recordar Joaquim Namorado, um Cidadão que teve uma vida integra, de sacrifício e de luta, sempre dedicada á total defesa dos interesses do Povo.
Nos dias 28 e 29 de Janeiro de 1983, por iniciativa do jornal Barca Nova, a Figueira prestou-lhe uma significativa Homenagem, que constituiu um acontecimento nacional de relevante envergadura, onde participaram vultos eminentes da cultura e da democracia portuguesa.
Na sequência dessa homenagem, a Câmara Municipal da Figueira, durante anos, teve um prémio literário, que alcançou grande prestígio a nível nacional.
Santana Lopes, quando passou pela Figueira, como Presidente de Câmara, decidiu acabar com o “Prémio do Conto Joaquim Namorado”.
segunda-feira, 5 de setembro de 2016
Figueira da Foz do Mondego... ou Figueira da Foz... da celulose?
Como sei, há muito e por experiência própria, que na sociedade figueirense não se pode discutir tudo, vou contar uma pequena história, com mais de 30 anos.
Aí por finais de 1981, dada a posição da Assembleia Municipal de Salvaterra de Magos, que se opôs à instalação da fábrica de celulose, em Marinhais, por considerar que não estava garantida a salvaguarda das actividades económicas fundamentais da região - ligadas, sobretudo, à agricultura - e o meio ambiente, os administradores da Soporcel, optaram pela Leirosa, Figueira da Foz.
O assunto, naturalmente, foi à Assembleia Municipal do nosso concelho.
Em Março de 1981, o processo, no mínimo controverso, da instalação da nova unidade de celulose, empurrada de Salvaterra de Magos, obteve acolhimento favorável dos órgãos autárquicos figueirenses: unanimidade na Câmara e maioria, com duas abstenções da então APU, na Assembleia Municipal.
As abstenções tinham a ver, no fundamental, com questões ambientais e qualidade de vida das populações. A água, na altura, era outro problema que preocupava a força política que se absteve.
A APU, com as suas reticências, quis chamar a atenção para estes aspectos.
Na altura, recordo, um grupo de populares da Leirosa entregou mesmo na Câmara Municipal da Figueira da Foz uma petição com 383 assinaturas, na qual se afirmava que "o povo da Leirosa concorda com a instalação na zona, mas reclama para os habitantes da Leirosa e freguesia da Marinha das Ondas prioridade no preenchimento dos postos de trabalho criados pelo empreendimento..."
Por essa época, era correspondente na Figueira da Foz do jornal O Diário.
Por encomenda da direcção do jornal, fiz um trabalho sobre o processo de instalação da nova unidade de celulose no nosso concelho, que então se estava a iniciar.
Lembro-me que, pela APU, ouvi o meu saudoso Amigo Gilberto Branco Vasco, então membro da Assembleia Municipal da Figueira, eleito por esta força política.
Depois, em outubro de 1981, numa sessão de charme, os responsáveis pela nova unidade então em fase construção - o início da laboração estava previsto para o 2º semestre de 1983... - promoveram uma conferência de imprensa onde o barca nova ventilou o problema do abastecimento de madeiras para a nova unidade fabril.
Concretamente, foi questionado se havia estudos capazes de, à partida, garantirem um abastecimento sem problemas, sobretudo no domínio do eucalipto.
E os representantes da Soporcel foram obrigados a admitir o que se desconfiava: não havia...
Haveria, talvez, esboços, vontade de proceder a exames cuidadosos da situação, mas dados certos e seguros , sem margem para dúvidas - não.
E o jornal, de que eu era redactor, como era sua obrigação, deu conta disso na edição de 6 de novembro de 1981.
Esse era, na altura, como se veio a provar depois, um problema nacional de indesmentível importância: o chamado problema do eucalipto.
Não sei se foi coincidência, mas aconteceu-me o seguinte.
No período em que estiveram abertas as candidaturas para trabalhar na nova unidade fabril, como tantos outros candidatos, enviei o meu curriculum vitæ para me candidatar a um posto de trabalho.
Até hoje, nunca soube porquê, continuo à espera de ser chamado para prestar provas...
Foi uma lição de vida para mim.
Residiu aí, porventura, o conhecimento e assumpção do estoicismo que me tem acompanhado.
A resistência estóica, mais do que uma questão de vontade ou de necessidade, passou a ser, para mim, um assunto de cidadania e de sobrevivência.
Por isso, quando me tentam lixar, o meu alimento é a resistência.
Passei a não dar excessiva importância àquilo que o não merece.
Quem actua assim é rasteirinho, baixo e como tal deve ser tratado: com silêncio e desprezo.
Por mim, o assunto está ultrapassado há muito. Só espero e desejo que, estas e outras boas consciências que passaram pela minha vida, durmam descansadas.
Sans rancune.
Aí por finais de 1981, dada a posição da Assembleia Municipal de Salvaterra de Magos, que se opôs à instalação da fábrica de celulose, em Marinhais, por considerar que não estava garantida a salvaguarda das actividades económicas fundamentais da região - ligadas, sobretudo, à agricultura - e o meio ambiente, os administradores da Soporcel, optaram pela Leirosa, Figueira da Foz.
O assunto, naturalmente, foi à Assembleia Municipal do nosso concelho.
Em Março de 1981, o processo, no mínimo controverso, da instalação da nova unidade de celulose, empurrada de Salvaterra de Magos, obteve acolhimento favorável dos órgãos autárquicos figueirenses: unanimidade na Câmara e maioria, com duas abstenções da então APU, na Assembleia Municipal.
As abstenções tinham a ver, no fundamental, com questões ambientais e qualidade de vida das populações. A água, na altura, era outro problema que preocupava a força política que se absteve.
A APU, com as suas reticências, quis chamar a atenção para estes aspectos.
Na altura, recordo, um grupo de populares da Leirosa entregou mesmo na Câmara Municipal da Figueira da Foz uma petição com 383 assinaturas, na qual se afirmava que "o povo da Leirosa concorda com a instalação na zona, mas reclama para os habitantes da Leirosa e freguesia da Marinha das Ondas prioridade no preenchimento dos postos de trabalho criados pelo empreendimento..."
Por essa época, era correspondente na Figueira da Foz do jornal O Diário.
Por encomenda da direcção do jornal, fiz um trabalho sobre o processo de instalação da nova unidade de celulose no nosso concelho, que então se estava a iniciar.
Lembro-me que, pela APU, ouvi o meu saudoso Amigo Gilberto Branco Vasco, então membro da Assembleia Municipal da Figueira, eleito por esta força política.
Depois, em outubro de 1981, numa sessão de charme, os responsáveis pela nova unidade então em fase construção - o início da laboração estava previsto para o 2º semestre de 1983... - promoveram uma conferência de imprensa onde o barca nova ventilou o problema do abastecimento de madeiras para a nova unidade fabril.
Concretamente, foi questionado se havia estudos capazes de, à partida, garantirem um abastecimento sem problemas, sobretudo no domínio do eucalipto.
E os representantes da Soporcel foram obrigados a admitir o que se desconfiava: não havia...
Haveria, talvez, esboços, vontade de proceder a exames cuidadosos da situação, mas dados certos e seguros , sem margem para dúvidas - não.
E o jornal, de que eu era redactor, como era sua obrigação, deu conta disso na edição de 6 de novembro de 1981.
Esse era, na altura, como se veio a provar depois, um problema nacional de indesmentível importância: o chamado problema do eucalipto.
Não sei se foi coincidência, mas aconteceu-me o seguinte.
No período em que estiveram abertas as candidaturas para trabalhar na nova unidade fabril, como tantos outros candidatos, enviei o meu curriculum vitæ para me candidatar a um posto de trabalho.
Até hoje, nunca soube porquê, continuo à espera de ser chamado para prestar provas...
Foi uma lição de vida para mim.
Residiu aí, porventura, o conhecimento e assumpção do estoicismo que me tem acompanhado.
A resistência estóica, mais do que uma questão de vontade ou de necessidade, passou a ser, para mim, um assunto de cidadania e de sobrevivência.
Por isso, quando me tentam lixar, o meu alimento é a resistência.
Passei a não dar excessiva importância àquilo que o não merece.
Quem actua assim é rasteirinho, baixo e como tal deve ser tratado: com silêncio e desprezo.
Por mim, o assunto está ultrapassado há muito. Só espero e desejo que, estas e outras boas consciências que passaram pela minha vida, durmam descansadas.
Sans rancune.
terça-feira, 1 de abril de 2014
Joaquim Namorado, faz cem anos em 30 de junho próximo
Outra Margem, terça-feira,
10 de Abril de 2007. Passo a recordar: Joaquim Namorado, Poeta de Incomodidade.
“Metam O burro na gaiola
de doiradas grades
e tratem-no a alpista
se quiserem
- é só um despropósito
Mas esperar dele o trinar
Do canário melodioso
É simplesmente tolo.”
Joaquim Namorado viveu entre 1914 e 1986. Nasceu em Alter do
Chão, Alentejo, em 30 de Junho.

Teve uma modesta residência na vertente sul da Serra da Boa
Viagem. Essa casa, aliás, serviu de local para reuniões preparatórias da
fundação do jornal Barca Nova.
Muito mais poderia ser dito para recordar Joaquim Namorado,
um Cidadão que teve uma vida integra, de sacrifício e de luta, sempre dedicada
á total defesa dos interesses do Povo.
Nos dias 28 e 29 de Janeiro de 1983, por iniciativa do
jornal Barca Nova, a Figueira prestou-lhe uma significativa Homenagem, que
constituiu um acontecimento nacional de relevante envergadura, onde
participaram vultos eminentes da cultura e da democracia portuguesa.
Na sequência dessa homenagem, a Câmara Municipal da
Figueira, durante anos, teve um prémio literário, que alcançou grande prestígio
a nível nacional.
Santana Lopes, quando passou pela Figueira, como Presidente
de Câmara, decidiu acabar com o “Prémio do Conto Joaquim Namorado”.
E quatrocentos da primeira edição de
“Peregrinação”, de Fernão Mendes Pinto.
E quarenta do vintecincodAbril, claro.
Os Correios de Portugal não se
esqueceram de nada disto e estão a tratar de o evocar, convenientemente e como
de costume, como aliás lhe compete, em belas edições filatélicas.
Os CTT também não se esqueceram dos cem
anos do poeta (e matemático) Joaquim Namorado e também lhe dedicaram um selo,
integrado numa nova série dedicada a “vultos da história e da cultura”
nacionais.
.
Joaquim Namorado - que cheguei a conhecer fugazmente (nas mesas do café Nau) e a quem já
evoquei aqui a propósito de outra coisa – é um poeta cuja relevância
intelectual e estética (dirigiu durante anos a revista Vértice e foi ele que
cunhou uma das correntes literárias dominantes no século vinte português) é tão
iniludível como o seu testemunho de cidadania. No entanto, além de poeta da incomodidade e de “Aviso à navegação”, empenhado
políticamente (até à militância), também foi capaz da contenção, da ironia profunda, da invenção e do arrojo formal de “Viagem ao país dos nefelibatas”.
A Figueira chegou a ter um prémio
literário com o seu nome, que o inenarrável Santana Lopes aniquilou e o actual
poder autárquico sucialista substituiu pelo nome de João Gaspar Simões (nada contra, uma coisa não impede a outra). Mas há mesmo uma petição ao
presidente da Câmara com o objectivo de “recuperar o prémio literário Joaquim
Namorado”. Assine aqui,
- porque a cidade da Figueira da Foz,
onde o poeta se fixou, fundou um jornal, foi eleito à assembleia municipal e
residiu até á morte, nada. Isto de “vultos da história e da cultura” é,
convenhamos, algo que lhe passa ao lado (veja-se os casos de Cândido Costa
Pinto e de João César Monteiro).
.
A verdade é que ou a cidade tem memória
de peixe - as coisas passam-se-lhe – só uma cidade com a memória de uma chaputa (ou de uma tremelga) se
esquece dos seus maiores - ou então o poeta da incomodidade ainda incomoda. Mesmo depois de morto.
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