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quarta-feira, 13 de março de 2024

Nos 42 anos da “nova Ponte da Figueira”...

Era, na altura, a segunda do País e a quarta da Península...

Em 12 de março de 1982 foi inaugurada a ponte da Figueira da Foz. O evento teve lugar pelas 16 horas e foi presidido pelo Presidente da República General Ramalho Eanes. O primeiro-ministro Pinto Balsemão também esteve presente. Veio acompanhado pelos ministros Lucas Pires, Viana Baptista e Ângelo Correia, além de vários secretários de Estado e outros membros do Governo. Era presidente da Câmara da Figueira da Foz o dr. Joaquim de Sousa.
A obra tinha-se iniciado em 5 de outubro de 1977 e orçou em milhão e meio de contos. Trabalharam na obra, no decorrer dos quatro anos que demoraram os trabalhos, cerca de 2 000 operários (2 dos quais, lamentavelmente, aqui encontraram a morte). Todavia, de acordo com o se passou na sessão solene de inauguração, nenhum foi condecorado... 
Como escrevi na altura no jornal Barca Nova, “foi-o o projectista, prof Edgar Cardoso (muito bem), o engenheiro Carvalho dos Santos (muito bem), mais engenheiros e encarregados (tudo muito bem), mas os que por exemplo andaram a 90 metros de altura a arriscar quotidianamente o que têm de mais precioso – a própria vida – não mereceram qualquer medalha (muito mal). Palavras, tiveram algumas”...

Toda a gente a continua a conhecer  por  “Ponte da Figueira”.
Todavia, desde 28 de Julho de 2005, que oficialmente se chama “Ponte Edgar Cardoso”,  que é o nome do engenheiro que a projectou.

domingo, 26 de novembro de 2023

Mário Neto ausentou-se há 6 anos

Amanhã, passam 6 anos sobre a morte de um dos figueirenses mais cultos, inteligentes, interessantes e discretos que conheci: 
Mário António Figueiredo Neto.
Porventura, o seu nome hoje pouco ou nada dirá nesta "Figueira - montra de vaidades" em que vivemos.

Há cinquenta anos, um jovem que pretendesse cultivar-se e não tivesse a possibilidade de tirar uma licenciatura, só tinha uma hipótese: procurar juntar-se aos melhores e  mais cultos da sua cidade.
Foi o que fiz. E foi isso que mudou a minha vida.
Na Figueira da Foz, no dia 10 de Novembro de 1977, viu a luz do dia o primeiro número de um novo projecto jornalístico que, então, gerou enorme expectativa e que ainda hoje é recordado por muita gente do concelho e não só.
Foi o Barca Nova, onde me iniciei nas lides jornalísticas.

Mas, não é de mim que quero falar. 
Entre os seus fundadores e colaboradores estavam nomes de referência da jovem Democracia saída do 25 de Abril de 1974.
Já faleceram alguns. Começou com Ruy Alves. Mas, entretanto a lista foi aumentando: Jorge Rigueira, Gilberto Vasco, Cerqueira da Rocha, Leitão Fernandes, Luís Falcão, Orlando Carvalho, José Penicheiro, Adelino Tavares da Silva, Carlos Alberto Amorim, Waldemar Ramalho, Luís de Melo Biscaia, Vasco Gonçalves, Joaquim Namorado, José Martins e Armando Correia.
No dia 27 de Novembro de 2017 foi mais um: o Mário Neto, de seu nome completo, Mário António Figueiredo Neto.

Conheci o Engenheiro Mário Neto antes do Barca Nova
Foi meu professor na Bernardino Machado, quando andei a estudar à noite. 
Grande Homem, grande professor, estudioso, discreto e culto. 
Foi também professor universitário.  
Depois, fomos companheiros de redacção no Barca Nova
Foi um militante antifascista, antes do 25 de Abril de 1974. Devido a isso foi preso político. 
Nos últimos anos da sua vida, encontrava-o no café onde continuava a passar as tardes como sempre o conheci: a estudar e a recolher dados, sempre acompanhado de livros e jornais. 
Era um fanático das estatísticas e do estudo sério e aprofundado de todas as questões. Aprendi muito com ele no final da década de 70 e princípio da década de 80 do século passado. 
Foi deputado na Assembleia Municipal da Figueira da Foz. 

Mário Neto era dos que acreditava que para defender e lutar pelos nossos interesses, não é necessário sobrepô-los aos legítimos interesses dos outros. 
Nem consentir que os interesses dos outros se sobreponham aos nossos legítimos interesses.
Aprendi com ele, que para defender os interesses locais era preciso sensibilizar a opinião pública para os principais problemas existentes. 
Para isso, é preciso informar. Fazer-se eco das opiniões, porventura, divergentes, que a propósito desses problemas ocorram.
Foi por isso,  que em Novembro de 1977 surgiu o Barca Nova: para contribuir para que a análise dos problemas acontecesse. Para tentar ajudar a distinguir o essencial do acessório, o importante do sensacional. 
Informar e, ao mesmo tempo, tentar formar. Saber ouvir, mas também saber falar.

Com a perda de Mário Neto a Figueira ficou mais pobre: não a parte visível, mas a invisível - a essencial. 
A melhor maneira que encontrei para continuar a honrar a memória de Homens que contribuiram para formar o Homem que sou hoje, foi criar um espaço onde a Figueira possa ter a possibilidade de distinguir o essencial do acessório e o importante do sensacional. 

Obrigado Mário Neto. Obrigado José Martins. Obrigado Joaquim Namorado. Obrigado Leitão Fernandes.
Como diria outro velho e sábio colaborador do Barca Nova, também já desaparecido,  Guije Baltar, "pudesse eu viver uma eternidade e nem assim se apagaria da minha memória a melhor gente que passou pela minha vida: a equipa Barca Nova".
Passe a imodéstia,  vou citar-me a mim mesmo (um texto publicado na edição de 12 de fevereiro de 1982, do jornal Barca Nova, página 4): lá aprendi, "que os democratas têm coisas mais profundas e importantes a uni-los do que a dividi-los. No essencial, têm aquilo que é fundamental a irmaná-los: a defesa da democracia."

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Idalécio Cação vai ser lembrado em Moinhos da Gândara

"A Biblioteca foi inaugurada em agosto de 2017 e alberga o espólio doado por Idalécio Cação."
Imagem via Diário as Beiras

Comecei a ouvir falar de Idalécio Cação no final da década de 70 do século passado, na redacção do jornal Barca Nova, onde publicou alguns textos, pela voz do Director do semanário - o meu MESTRE José Martins

Recorro a um texto de Cardoso Ferreira, para deixar uma imagem de quem foi este escritor com origens gandaresas, que se formou tarde em Letras, mas foi um professor e autor de relevo. 

«Com origens gandaresas, mas radicado há muito em Aveiro, Idalécio Cação formou-se tarde em Letras, mas foi um professor e autor de relevo. 
Idalécio Silva Cação, antigo professor da Universidade de Aveiro e um destacado escritor das terras e gentes gandaresas, faleceu em Aveiro, no dia 28 de dezembro de 2016, tendo sido sepultado no lugar de Ribas (freguesia de Moinhos da Gândara, no concelho da Figueira da Foz), freguesia à qual pertence a aldeia de Lafrana, a terra onde nasceu, no dia 22 de março de 1933.
Depois da escola primária de Ribas, fez os estudos secundários na Escola Comercial e Industrial da Figueira da Foz (hoje Escola Bernardino Machado), onde concluiu o Curso Geral de Comércio. Após esse curso, e enquanto não conseguiu emprego, trabalhou nas courelas das areias da Gândara e também nos arrozais da Quinta de Foja, onde os pais aí cultivavam uma terra arrendada.
Mais tarde, com 21 anos, empregou-se numa empresa de celulose situada no concelho de Aveiro, na qual trabalhou durante mais de duas décadas. Nessa região viria a fixar-se e a constituir família. Já tinha mais de 40 anos de idade quando, em 1977, se licenciou em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, após ter sido admitido na primeira edição dos exames “ad hoc” para ingresso naquela universidade.
Para além da Universidade de Aveiro, onde se reformou em 1996, lecionou na Universidade do Minho.

Actor e dirigente do CETA

Idalécio Cação era um homem apaixonado pelo teatro, motivo pelo que foi actor e dirigente, durante vários mandatos, do Círculo Experimental de Teatro de Aveiro (CETA).
Foi ainda durante essa época que começou a militar na oposição democrática, tendo feito parte da Comissão Administrativa da Câmara Municipal (Pelouro da Cultura), aquando do 25 de Abril. Logo após esta data, foi co-fundador do semanário aveirense “Libertação”, e membro da sua redacção. Aqui trabalhou com Álvaro de Seiça Neves, João Sarabando, Fernando Lavrador e Flávio Sardo, entre outros.
Colaborou nos suplementos literários do “Diário Popular” e do “Jornal de Notícias”, nas revistas “Vértice” (Coimbra) e “Seara Nova”, “A Xanela” (Galiza), “Cadernos de Literatura” (Universidade de Coimbra), “Encontro” (Brasil), “Gandarena” (Mira), “Letras & Letras” (Porto), “Mar Alto” (Figueira  da Foz), “Revista da Universidade de Aveiro, Sol XXI”, “O Professor”, entre outras publicações.
Alguns dos seus poemas foram publicados no Correio do Vouga.
Foi um dos entusiastas dos serões literários que, nos anos 90, se realizaram um pouco por todo o País. Já nos anos 60 tinha estado ligado aos Encontros das Páginas Literárias dos jornais das províncias, que se realizaram na Figueira da Foz, em Torres Vedras, em Guimarães e em Cascais (este último não chegou a concretizar-se devido à intervenção da polícia política PIDE). Neles tomaram parte como convidados Armando de Castro, Mário Sacramento, Arsénio Mota, Mário Braga, Nuno Teixeira Neves e João Palma Ferreira.
Enquanto professor, pertenceu à Direção do Sindicato dos Professores da Região Centro, de que faziam parte, entre outros, Linhares de Castro e Mário Nogueira, o atual líder da Fenprof.
Para além do teatro, Idalécio Cação integrou diversas colectividades, sobretudo das áreas da cultura, da literatura, do jornalismo e do património.

Homem de relevo na literatura gandaresa

Idalécio Cação era uma figura que gerava consenso ao nível da literatura gandaresas, sendo autor de uma vasta obra publicada, motivo pelo que o seu nome foi escolhido, em 2012, para patrocinar um prémio literário com o seu nome, abrangendo os municípios de Mira, Cantanhede e Figueira da Foz.
Ainda em setembro de 2016. O escritor foi homenageado por dezenas de amigos, alguns dos quais escritores.

Idalécio Cação venceu o Prémio Literário Miguel Torga, em 1990

Como escritor, publicou contos, poesia e crónicas, onde manifestou compreensão e denúncia dos problemas da região. Entre os títulos de que é autor, destacam-se “Raízes na Areia”, “Os sítios nossos conhecidos”, “O chão e a voz”, “Memória de João Garcia Bacelar” ou “Daqui ouve-se o mar” (com que ganhou o Prémio Literário Miguel Torga, atribuído pela Câmara Municipal de Coimbra).
Foi autor do primeiro glossário de termos gandareses, do livro Crónicas Gandaresas” e de obras sobre moinhos e habitação tradicional da região da Gândara.»

A terminar ficam palavras de Idalécio Cação
“Tanto que fazer
e nós aqui sentados.”

sexta-feira, 23 de junho de 2023

O Senhor Nelson Fernandes

... "mais novo, mas também mais lindo".
Amanhã, em cerimónia que decorrerá no CAE, vão ser distinguidas algumas personalidades da Figueira. Entre elas, uma que não tendo nascido na Figueira, é da Figueira, que conheço há mais de 40 anos: Nelson Fernandes, conhecido, sobretudo, por ser um ex-autarca comunista, é uma das pessoas com mais espírito que conheci. Para além disso tem um sentido de um humor fino e requintado. Ao mesmo tempo é detentor de um olhar clínico (foi enfermeiro na vida profissional), porém, algo cínico  e incisivo sobre a realidade que nos rodeia.
Embora tenha sido convidado para a cerimónia que vai decorrer no CAE a partir das 14 horas de amanhã, por não estar na Figueira, fica o meu abraço ao homenageado e as devidas felicitações.

Em forma de reconhecimento pela justeza da medalha que o executivo que  Santana Lopes comanda lhe ofereceu, deixo algo que conheço desde os tempos do Barca Nova (entretanto, passaram mais de 40 anos), mas que o enfermeiro Nelson Fernandes foi refinando ao longo dos anos.

A subtileza humorística da sua escrita fina, que chega a atingir momentos pícaros.

É uma página de facebook que vale a pena visitar. Pena, é Nelson Fernandes, nos últimos tempos ter perdido algum gás, num tempo em que "escrevemos mais do que nunca. O email é uma ferramenta de trabalho fundamental, enviamos mensagens por telemóvel todos os dias, publicamos e comentamos as conversas de amigos e desconhecidos nas redes sociais. Para tudo isto, usamos palavras e a forma como as escrevemos têm um impacto fundamental na nossa credibilidade."

Vamos a meia dúzia de pérolas que saquei da página do ilustre homenageado de amanhã por Santana Lopes. Vão lá, invadam o espaço que vale a pena.

1. "Cá por casa a Paula já preparou as máscaras... Pronto, se tem que ser, seja! Mas que o uso da máscara levanta alguns problemas levanta...

Com a máscara há uma série de coisas que se vão tornar confusas. Há coisas que se fazem com a boca, e não estou a falar de sexo, que ficam em risco. Por exemplo tocar instrumentos de sopro... 

E não se deixem abater. Eu que tenho o nariz mais feio do mundo vou ficar muito melhor de máscara."

2. "Ouvi dizer que o Reitor do Santuário de Fátima vai pedir ao Partido Cominista Português que organize a peregrinação de 13 de Outubro. E esperamos que o PCP aceite."

3. "E pronto! Está escolhido o novo responsável máximo da TAP. Após dois brasileiros um alemão. Caramba! É só estrangeiros. Que falta de brio patriótico. Por mim ponho as mãos no fogo pelos gestores portugueses. Ele há deles tão capazes, como os estrangeiros, de estragar a TAP. Precisam é de oportunidades."

4. "HAJA MEMÓRIA. HÁ FUTURO

Hoje, em todo o país, no âmbito do centenário do PCP, os comunistas foram aos cemitérios, lembrar aqueles, dos nossos, que já não estão entre nós, mas que nos trouxeram até aqui. Quisemos agradecer-lhe os exemplos de coragem, de dedicação, e de firmeza como militantes. Mas também mitigar a saudade que nos deixaram, e lembrar sua integridade e o muito que nos legaram como seres humanos admiráveis.

Na Figueira da Foz materializamos a memória na campa do Agostinho Saboga, mas lembramos o Lenine, o Amador, a Guida Avelino, o Zé Martins, o Teófilo, etc.  

Temos memória e orgulhamo-nos de quem nos antecedeu. Mas também lhes garantimos que além da memória também temos projeto. E futuro!"

5. "DEUS NOSSO SENHOR FAZ TUDO MUITO BEM FEITO

Aqui há uns anos, durante o Curso de Especialidade em Enfermagem de Reabilitação, era meu professor de Anatomia do Movimento o dr Joaquim Fonseca, ortopedista nos Hospitais da Universidade de Coimbra.

Éramos velhos conhecidos. Como aluno de enfermagem já tinha passado, na década de sessenta, pala velha Ortopedia, então em S. Jerónimo, onde então beneficiei dos seus conhecimentos, e apreciei a sua gentileza e afetividade.

Durante o período letivo da cadeira, inventariamos os tendões e os músculos, e estabelecemos, através da sua origem e inserção, a dinâmica das articulações. E através destas chegamos às dinâmicas posturais, indispensáveis á realização das “performances” físicas.

O dr. Joaquim Fonseca era católico e assumia esse catolicismo nas suas descrições anatómicas com a “constatação” de que “Deus Nosso Senhor faz tudo muito bem feito”. Para ele qualquer articulação era uma obra prima da criação. 

Confesso que há época acompanhava essa declaração com algum ceticismo. Mas hoje, em tempo de pandemia, lembro-me do dr Fonseca quando vou pela rua e olho para as pessoas. 

Então não é que temos as orelhas no sítio certo. Prontinhas para pendurar a máscara. Na realidade Deus Nosso Senhor faz tudo muito bem feito."

6. "AS ELEIÇÕES NOS ESTADOS UNIDOS

Dada a situação decorrente das eleições nos Estados Unidos, o ministro Augusto Santos Silva prepara uma declaração de não reconhecimento dos resultados eleitorais, e pediu uma reunião urgente da União Europeia no sentido de serem nomeados observadores europeus para credibilizar a recontagem.

A declaração declara que se devem fazer recontagens até que os resultados sejam aquilo que se deseja. Ao mesmo tempo recomenda a Nicolas Maduro para não se intrometer, uma vez que Guaidó lhe disse que Maduro preparava o exército venezuelano para repor a democracia nos EU.

Marcelo ia também fazer uma declaração sobre o assunto, mas enganou-se e saiu-lhe uma declaração sobre o corona:- É um jogador formidável! Referia-se não o vírus, mas sim ao Corona, jogador do Futebol Clube do Porto.

Entretanto numa inequívoca manifestação de respeito democrático, e em nome de uma democracia cada vez mais sã, e um exemplo para o mundo ocidental, oriental e de todos os outros pontos cardeais, Donald Trump entende que se deve parar a contagem de votos nos estados onde está a perder, e, continuar a contagem nos estados onde está a ganhar. Que estratégia demolidora.

Á cautela declaro por minha honra que estou a brincar. Não é necessário o polígrafo SIC. E digo isto porque há gente que acredita em tudo."

quinta-feira, 8 de junho de 2023

Joaquim de Sousa: “o papel do autarca é melhorar a qualidade de vida dos cidadãos”

Concorde-se ou não, Joaquim de Sousa continua a ser uma figura incontornável na Figueira da Foz. Ainda há poucos anos, a 31 de Julho de 2018, apresentou o livro “Figueira da Foz – Memória de um Mandato e os Anos Perdidos”, uma publicação que enriqueceu o património bibliográfico figueirense e a história da cidade.
Recordo parte de uma postagem, publicada no OUTRA MARGEM, em 8 de outubro de 2016 "Joaquim de Sousa, um ex-edil figueirense ao raio x".
"...era assim a Figueira e o concelho há 35 anos. Joaquim de Sousa, então um político profissional, passados 6 anos depois do 25 de Abril de 1974, depois de 5 anos como deputado e membro do governo, sentia "uma profunda desilusão e um desencanto enorme". Segundo o que ele, na altura, confidenciou numa entrevista que deu, em Maio de 1981, ao Director do Barca Nova, o falecido jornalista José Martins, "conhecer o poder por dentro não é agradável""Sabes?", desabafou a determinado ponto da conversa com o Zé Martins, "não tenho feitio para prostituta, nem mesmo por obrigação. O poder não é tão poder como as pessoas pensam".
O que Joaquim de Sousa, naquela altura, estava a gostar era de ser presidente de câmara: "agora sim, apesar das muitas vicissitudes por aqui e por além, sinto que o cargo que ocupo na Câmara me está a proporcionar dos momentos mais felizes da minha vida".
Durou foi pouco como presidente de câmara: fez apenas um mandato, que decorreu de 1979 a 1982... O que valeu ao doutor Joaquim de Sousa, é que gostava de ser professor, que era a sua profissão..."
Joaquim de Sousa, do alto dos seus oitenta e picos anos, "vai andando, com os achaques próprios da idade. Vai tentando resistir" e por cá continua activo.
Numa entrevista que saiu na edição de hoje do Campeão das Províncias continua igual a si próprio. Deixamos este extracto. A entrevista pode ser lida na íntegra, clicando aqui.
"CP: Tendo iniciado a sua vida profissional como professor, como é que olha para o actual estado da Educação?
JS: Eu tenho uma péssima ideia em relação à generalidade das autarquias, porque foram transformadas em comissões de espectáculos, estão a absorver aquilo que a sociedade civil fazia. As câmaras absorveram essas funções. Depois fazem remodelações urbanísticas que acabam por piorar a situação, como aconteceu na Figueira. Há dois casos desses, de milhões. Como é que uma autarquia pode disponibilizar 300.000 euros para ter meia hora ou três quartos de hora de automobilismo, uma prova que condicionou todo o trânsito? Já dias antes estava a condicionar com as experiências que foram feitas. Eu sou muito céptico em gastar o dinheiro que foi gasto aqui com os Coldplay. Vou contra o sentido da maré, mas vou à vontade. Coimbra não tem necessidades? A cada esquina tem uma necessidade! Eu considero que o papel do autarca é melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e mexer na substância dos assuntos públicos. É o abastecimento de água, electricidade, gás, o estado dos passeios, das estradas, a mobilidade interna, um conjunto de coisas. E aí é que deve estar o foco, é para isso que os dinheiros públicos devem ser destinados, para aplicar em benefício de todos. Já quando estava no Governo, mas depois também na Câmara da Figueira da Foz, sempre fui aos locais, todas as quintas-feiras, ou sextas-feiras, passava o dia nas freguesias. Muita coisa foi resolvida. E muita coisa foi feita. Só em estradas, foram construídos 200 km em três anos de mandato. O que dava satisfação era ver as coisas que beneficiavam a vida das pessoas no dia-a-dia. 
CP: A sua relação com Pedro Santana Lopes como está? 
JS: A relação com o Dr. Santana Lopes e com a Câmara é institucional. Começou com a remodelação do pátio de Santo António, largo Silva Soares, em frente à igreja, onde ocorre a festa de Santo António. Apresentámos um projecto há muitos anos para remodelar aquele muro e torná-lo condizente com a fachada que está por trás, repondo a antiga condição com uma grade igual à da igreja, tal como fizemos na misericórdia. O projecto foi contestado, mas a Câmara avançou com a arte nova. Há 20 anos que estamos a tentar corrigir o que foi feito no muro. Já repusemos a nossa parte atrás e fizemos as laterais da misericórdia. Temos lutado por isso. O Dr. Santana Lopes quis ir lá ver e havia um projecto fantasioso, ainda pior do que está. Ele foi lá e percebeu a nossa preocupação. Ainda por cima a nossa proposta é muito mais barata. Depois disso, falamos duas ou três vezes. Agora visitou a casa dos pescadores. Serviu para quebrar algum gelo, mas a nossa relação é estritamente institucional. 
[CP]: A Figueira da Foz está hoje melhor do que estava? 
[JS]: Continua em declínio. Actualmente, a população do Concelho da Figueira mantém-se no mesmo patamar de 1981, e as projecções da Pordata são alarmantes. Estima-se que, em 2030, a Figueira da Foz tenha uma população equivalente àquela de 1950. Um retrocesso de 80 anos! A prioridade máxima é atrair investimento, adaptado às necessidades actuais. É urgente criar empregos. É uma situação que vai demorar muito a inverter-se. Era necessário outro tipo de política."

segunda-feira, 15 de maio de 2023

Dois figueirenses notáveis, de que poucos já se lembram...

A reportagem de José Martins, que tinha por título COMANDANTE MOTA: QUEM É VOCÊ?, causou na data em que saiu no Jornal Barca Nova - 12 de Maio de 1978 - enorme celeuma na esquerda mais radical figueirense.
Na altura, o sectarismo político estava bem vivo pr cá. Essa estirpe, aliás, ainda resiste na Figueira. Alguns, poucos, revolucionários folclóricos, que pensam que a verdadeira revolução, que passa pela mudança de mentalidades, se faz a dizer que "quando só houver um comunista em Portugal, esse comunista, é ele", zurziu forte na rapaziada que com enorme trabalho, dedicação e algum talento jornalístico, ousava confeccionar, todas as semanas, um jornaleco de província que tinha como lema ter a mania de querer ser democraítico e progressista.

Adiante. Isso pertence ao passado. Vamos ao que interessa. 
Em 28 de Fevereiro de 1974, o Comandante Mota e o Bombeiro Francisco Oliveira escreveram um das páginas mais gloriosas dos Bombeiros Voluntários da Figueira da Foz. (Para perceberem porquê, leiam as imagens.)
Na edição de 12 Maio de 1978, José Martins publicou a parte 2 de um grande trabalho sobre os Voluntários da Figueira, que ficou repartida por três edições do Jornal Barca Nova. Na segunda parte desse trabalho jornalístico, José Martins no seu estilo, único e inemitável, fez um entrevista ao Comandante Mota, onde recordou uma reportagem que havia feito uns anos antes para o Diário Popular.  
Esta recordação lembra dois Homens verdadeiramente fantásticos que tive o privilégio de conhecer na segunda metade do século XX: o Jornalista José Martins e o Bombeiro Comandante Hildebrando Mota.
Leiam o que está escrito nas imagens. Se quiserem, cliquem nas imagens pois poderão ler melhor.

O antigo Comandante dos Bombeiros Voluntários da Figueira da Foz, Hildebrando Mota, que liderou a corporação entre 1974 e 1993, faleceu em 22 de Janeiro de 2013"A Figueira da Foz perdeu fisicamente mais uma das suas referências." 

José Martins morreu uns anos antes: em 28 de Abril de 2000Purista do verbo e do enredo no dissertar da pena, concebia o jornalismo como uma arte e uma missão nobre. Lutador contra o regime deposto pelo 25 de Abril de 1974, teve ficha na PIDE. Foi membro da Comissão Nacional do 3º. Congresso da Oposição Democrática que se realizou em 1969 em Aveiro.Chegou a ser preso pela polícia política. Com a sua morte, a Figueira perdeu uma parte do seu rosto. Não a visível, mas a essencial.

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Ponte de Alfarelos vai estar encerrada durante um ano

Foto via Diário as Beiras
A Infraestruturas de Portugal (IP) encerrou ontem à tarde ao trânsito a ponte de Alfarelos sobre o rio Mondego, na Estrada Nacional (EN) 347, por forma a permitir os «trabalhos de reabilitação urgentes» de que este equipamento viário necessita. No entanto, e segundo uma nota de imprensa, o Governo vai estudar «alternativas de mobilidade» para atenuar problemas de circulação criados com o encerramento da ponte no concelho de Soure.
Os Presidentes de câmara de Montemor-o-Velho e Soure mantém-se  preocupados com as alternativas. Para os veículos ligeiros, a IP sugere utilizar a Estrada Nacional 341 e M601 passando por Verride e Vila Nova da Barca. Já os veículos pesados devem utilizar a Estrada Nacional 342 passando por Soure e Louriçal até à EN109 ou A17. Há também a possibilidade de fazer o percurso pela EN347 direção Condeixa até ao IC2 ou A1.

sábado, 2 de julho de 2022

Foi bonita a cerimónia do lançamento do livro "Histórias de Mineiros"

Foto António Agostinho
Na tarde do dia 2 de julho de 2022, por iniciativa da Comissão Política do Partido Comunista na Figueira da Foz, foi apresentado o livro "Histórias de Mineiros".
O evento realizou-se na Biblioteca Municipal, pelas 17 horas, com a presença de algum público.

"Histórias de Mineiros", é um livro que publica 11 crónicas, que o responsável pelo OUTRA MARGEM conheceu há 42 anos, ainda em manuscrito entregue por Augusto Alberto Rodrigues na redacção do Barca Nova, um jornal que durou o que tinha que durar: "apareceu e desapareceu da mesma forma".

No prefácio da obra, Alexandre Campos, na altura um jovem repórter, sublinha: "em jeito de reportagem, são depoimentos obtidos em conversas com os próprios que conviveram com o sofrimento, a dor, as agruras e amarguras de um trabalho duro, tornado mais duro ainda pela exploração sem escrúpulos, no tempo do fascismo".
Mais adiante, refere: "escusado será dizer que desses homens já não resta um único."
Citando Augusto Alberto Rodrigues: "que tenham agora a paz porque em vida rolaram tal e qual as pedras de carvão arrancadas a pulso e bagas de suor".

Por sua vez António Augusto Menano, refere no posfácio: "a força destas crónicas é serem novas, no sentido de tratarem situações, detalhes, que, embora parciais, fazem parte de uma totalidade. Os textos estão mais perto da demonstração dos efeitos do que na revelação das causas".

José Martins, Leitão Fernandes, Joaquim Namorado, Cerqueira da Rocha, Ruy Alves, Armando Correia, Falcão Martins, Mário Neto, hoje em dia figuras esquecidas por todos na Figueira, lá onde estiverem, devem estar satisfeitos, pois, entre outros, foi graças a eles, ter existido um jornal chamado Barca Nova, o que tornou possível ter acontecido a publicação deste livro de Augusto Alberto Rodrigues, 42 anos depois. Se não tivesse existido o Barca Nova este livro, muito presumivelmente, não teria conhecido a luz do dia.

sábado, 25 de junho de 2022

Tudo como dantes: continuo a pedalar a minha bicicleta...

No passado dia 23, publiquei esta memória (O dia em que conheci pessoalmente Pedro Santana Lopes) na minha página pessoal, no facebook. Foi um texto que se me soltou ao correr do teclado, a meu ver, inócuo e inofensivo. Passo a citar:

"Não estive no mesmo espaço físico com Pedro Santana Lopes, mais do que meia dúzia de vezes. 
Tenho inúmeros defeitos. Como, de resto, todos nós. Todavia, por enquanto, tenho memória.
Há 25 anos, Pedro Santana Lopes ganhou a presidência da câmara municipal da Figueira da Foz, com 60 por cento dos votos.
Há 25 anos, por esta altura do mês de Junho, andava Pedro Santana Lopes em pré-campanha eleitoral pela Figueira.
Há 25 anos, talvez a 28 ou 29 de Junho de 1997, estive com Pedro Santana Lopes, pela primeira vez, ao vivo. 
Foi no Largo da Capela, em S. Pedro, pouco antes da saída da procissão. 
Certamente que Pedro Santana Lopes não se deve recordar do episódio, mas a cena passou-se assim.
Estava um dia quente. Era domingo. A procissão em honra de S. Pedro estaria prestes a sair da Capela para ir percorrer as ruas da Cova e Gala. Eu, mais alguns amigos, seriam cerca de 4 da tarde, estávamos no largo frente à Capela, junto a uma roloute, a beber um fino. Pedro Santana Lopes passou por nós e cumprimentou-nos. Apertou a mão a todos. 
Também a mim. Notei um pormenor: Santana Lopes era humano como eu - estava nervoso e pouco à vontade. 
Tal como todos nós, Pedro Santana Lopes "tem os seus carmas, as suas contrariedades para ultrapassar, os seus pecados para descontar."
Tal como todos nós, Pedro Santana Lopes, "pode ter dado trambolhões, ter-se distraído e saído da estrada, mas, na essência, tem vindo pela estrada da sua vida."
Pedro Santana Lopes, no fundo, quer pouco: "quer ser feliz. Quer sentir-me realizado."
Estou em crer, que essa vitória de Pedro Santana Lopes em 1997, mudou o rumo da sua vida, mas mudou também  a nossa vida,  enquanto figueirenses e moradores no concelho da Figueira da Foz.
Esteve 4 anos como presidente da autarquia figueirense e, por aqui, nunca mais nada foi como anteriormente.
Os seus admiradores dizem que Santana Lopes, como autarca figueirense, deixou obra feita no concelho. Os mais entusiastas, consideram-no mesmo o melhor presidente de câmara que passou pela Figueira.
Não é essa a minha opinião: a meu ver o melhor presidente que passou pela autarquia da Figueira foi o eng. Coelho Jordão.
Mas também tem detratores.
Reconheço em Santana Lopes  virtudes. Como, presumo, tal como eu, não ter  suportado a ideia de ter tido Cavaco Silva como Presidente da República.
Volvidos 24 anos, Santana voltou a concorrer à Figueira da Foz e voltou a ganhar. 
Com um "resultado fantástico", mas sem maioria. Todavia, “ganhar naquela circunstâncias foi uma proeza sem igual”. 
Está no poder há pouco mais de 8 meses. As pessoas podem não gostar de Pedro Santana Lopes, porém, têm de reconhecer que é capaz de tomar opções mesmo quando elas o prejudicam. Só por acreditar e achar que é esse  o seu dever.
E é um ser humano, tal como nós: tem humores, nervos, sentimentos e dúvidas..."

Veio alguma malta, também a do Viso, acusar-me de tudo e de "mais um par de botas". Normal. Já estou habituado. 
Ontem, porém, houve algo de diferente.
Via Fernando Campos.
"Parabéns. Se me tivessem contado eu não acreditava. Mas eu li, reli, tresli, reconheço – e concedo: nunca vi lamber um cu com tanta proficiência, tanto esmero, tanto gosto, sei lá, tanta jactância. Isto é uma peça autêntica “de antologia”.
Bravo. Nada subtil mas ao mesmo tempo com um jenesécoá de “não fazer fazendo” que, confesso, se fosse eu o cágado engraxado (ou se fosse meu o cu lambido) estaria desvanecido e considerando.
Já como simples espectador (não tendo nada a ver - nem a haver - com isto) estou apenas embaraçado. Confesso que nem sei onde me meter. E tinha que o dizer. Mas é só.
Em todo o caso, boa sorte."

Continuam a existir pessoas que têm tantas certezas sobre tudo, que já só verdadeiramente toleram escritos que vão ao encontro do que já pensam.
Tudo o resto é motivo para lançarem a sua lama. Sem especificar. Sem demonstrar. Sem esclarecer.  
Pelos vistos, o rigor analítico também não é sinónimo de honestidade intelectual. 
Dou isso de barato. Se quiserem mesmo de borla.  
Para muitos, Lenine e Marx é tudo, mais ou menos, o mesmo. Mais pormenor, menos pormenor, mais 50 anos, menos meio século, mais diz que disse, ou menos diz que disse, vai dar tudo ao mesmo. 
O que interessa é dar jeito ao se quer escrever.
Estou habituado a coisas destas há muitos, muitos anos. Vinda de tipos de esquerda e de direita. A uni-los, sempre  a mesma coisa: a boçalidade. 
Desde 1980, nos tempos do Barca Nova. Nos últimos 16 anos, por causa do OUTRA MARGEM.
Eu estou onde sempre estive: o exercício da cidadania e a actividade política nunca foram, para mim, um modo de vida, mas apenas uma vida em modo de serviço público. 
Sempre temporário. 
O poder político, só ganha com alternâncias e perde muito com permanências absolutas e longas em cargos de eleição ou nomeação.
Sempre pensei assim. E assim continuo a pensar.
A oposição, em democracia representativa, terá de ser feita, em primeiro lugar, pelos partidos políticos.
Deixo uma questão em jeito de pergunta: até ao momento, alguém conhece uma conferência de imprensa, algum comunicado ou alguma tomada de posição partidária, e pública,  em relação à gestão de Santana Lopes à frente da Câmara, nesta sua segunda passagem como presidente da Figueira da Foz e do seu concelho?
E já lá vão 8 meses de mandato...

A minha página do facebook, é a minha página. Só lá vai quem quer.
É a minha página, onde expresso as minhas opiniões, sensações, afectos, desilusões, ilusões, emoções.
Só não publico "estados de alma", porque não tenho "estados de alma".
Quem não gostar do que escrevo - e se isso, porventura, incomodar - não vejo motivo para continuar a lá ir.
É tão simples como isso.
Como não publico os meus "estados de alma", porque não os tenho, presumo que a minha página no facebook não será o local indicado para outros irem postar "estados d´ alma".

quarta-feira, 18 de maio de 2022

LIBERDADE

 A crónica de António Agostinho publicada na Revista Óbvia em Abril de 2022

Foto António Agostinho. Local: Praça da República, Coimbra.

No dia 25 de abril de 1974 tinha 20 anos de idade. Vivia na Cova e Gala, uma Aldeia bisonha, cinzenta, deprimida e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto, incluindo as que me estavam mais próximas. O preto era a cor das suas vidas. A minha avó Carmina Pereira, Mãe do meu Pai, viúva de um pescador do bacalhau, desde a década de sessenta que vestia de preto. A minha avó Rosa Maia, Mãe da minha Mãe, viúva de um combatente da I Guerra Mundial, vestia de preto desde 1928. 

A minha Mãe, ficou viúva a 6 de Junho de 1974. No dia 25 de abril de 1974 tinha 20 anos de idade. Vivia na Cova e Gala, uma Aldeia bisonha, cinzenta, deprimida e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto, incluindo as que me estavam mais próximas. O preto era a cor das suas vidas. A minha avó Carmina Pereira, Mãe do meu Pai, viúva de um pescador do bacalhau, desde a década de sessenta que vestia de preto. A minha avó Rosa Maia, Mãe da minha Mãe, viúva de um combatente da I Guerra Mundial, vestia de preto desde 1928. 

Passou, logo a seguir ao 25 de Abril de 1974, a vestir de preto até 14 de Julho de 2015, dia em que morreu.

O 25 de Abril de 1974 vai fazer 48 anos. 

Portugal, antes, era diferente! Havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado, licença para poder usar isqueiro... 

E havia medo, muito medo.


Apesar das dificuldades actuais, mudou-se muito. E para melhor. 

A democracia política foi conquistada. Em 2022, não é o 25 de Abril que está em causa. O que está em causa é o retrocesso de quase todos os valores de Abril. Em nome de um economicismo balofo que despreza as pessoas, estão a descaracterizar tudo o que de positivo, a nível social e laboral, foi conquistado nos anos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974. 

Temos assistido ao esvaziamento de conquistas fundamentais da revolução. Neste momento, estamos perante a tentativa da  hegemonia da ideologia política da economia neoliberal e do seu projeto regressivo de nova opacidade e gerador de novas desigualdades. Têm vindo a tirar o básico aos portugueses: pão nas mesas, acesso à saúde, ensino de qualidade e habitação digna, em nome de que valores civilizacionais? 

Portugal, antes do 25 de Abril de 1974, era um país pobre que tinha alguns ricos. Vivia em ditadura, mas havia democratas que lutavam e morriam pela Liberdade (com os comunistas na primeira linha do combate). Vivia em capitalismo, mas os empreendedores eram quase todos "merceeiros protegidos do regime salazarista". Vivia isolado, mas tinha uma "ala moderada" que aspirava europeizar-se. Era um País ameno e de brandos costumes, mas onde quem procurava remar contra a maré era perseguido, preso, torturado e até morto. Dizia-se crente e civilizado, mas era bárbaro. Religioso, mas não praticante. Recusava ser considerado fascista, mas tinha a PIDE e presos políticos encarcerados sem julgamento, ou com julgamentos fantoches. 


Nesse País havia a minha Aldeia. A Cova e Gala era, em Abril de 1974, um pequeno povoado mal iluminado. Quase que não existiam ruas. As casas eram praticamente todas desconfortáveis. Na altura, a Cova e Gala era uma pequena Aldeia esquecida, com cerca de  2 000 habitantes, localizada à beira do Atlântico. Vivia-se ainda pior na minha Aldeia que em algumas localidades vizinhas: nas casas não havia esgotos e a corrente eléctrica era  ausência em muitas habitações. Existia muita miséria material, fome e outras privações, as condições de trabalho eram desumanas, existia má nutrição. E havia quadros familiares de risco. 

A vivência na  Cova e Gala era influenciada pelo que se passava no Atlântico Norte a bordo dos barcos da "faina maior". A pesca ao bacalhau era  sustento das família e uma vida para pessoas moldadas às agruras de uma existência dependente de ventos e marés, rijas de corpo e com o coração curtido pelas perdas de amigos e familiares dedicados à mesma lida, mas que encontravam na pesca do bacalhau a expressão máxima desse sacrifício diário que lhes proporcionava angariar o sustento das famílias. 

Gente habituada a ter de arriscar a vida para continuar a existir.

O cenário em que cresci, foi o de uma Aldeia de um País negro nas ideias, economicamente débil, que vivia na escuridão de uma ditadura com 48 anos de existência. 

Em 25 de Abril de 1974 caiu a ditadura. Chegou a democracia. Considero-me um privilegiado. Nunca deixei (nem deixarei enquanto tiver forças para isso) de exercer o voto, “um direito” que adquiri com a democracia e um “legado” de todos aqueles que lutaram décadas (com os comunistas na primeira linha) para que eu pudesse ter uma vida vivida "quase" toda em democracia, que foi o melhor que ganhei com o 25 de Abril.

O dia 27 de Abril de 1974, na Figueira, foi “uma loucura, extraordinária”. Foi talvez o momento mais vibrante da democracia figueirense. Foi único - nunca vi tanta gente na Rua a manifestar-se. Nunca vi manifestação tão genuína, tão forte, tão festiva, tão alegre e tão intensa no nosso concelho.

Nos anos a seguir ao 25 de Abril o povo envolveu-se e participou na construção da democracia. 

Deixo o meu testemunho: a  única coisa que me interessava era participar na construção democrática de um País renascido. Preocupei-me em conhecer gente culta e politicamente evoluída para aprender. Fui dirigente sindical. Participei em listas para eleições autárquicas. Fui dirigente associativo. Nessa altura, os partidos estavam activos. Na Gala, ajudei a abrir uma delegação do MDP/CDE. Da sua actividade, recordo a alfabetização de muitas mulheres que tinham os filhos emigrados e não sabiam ler as cartas que recebiam. 

Anos mais tarde, em 1986, fiz parte do primeiro executivo da Junta de Freguesia de S. Pedro.

A liberdade de informação e o fim da censura foi uma conquista fundamental e “imbatível” da democracia. 

Em 1976, com 22 anos de idade, o jovem que eu era, curioso e sedento de aprender, que vivia numa Aldeia "que era como um novelo de lã em que não sabíamos onde estava a ponta por onde se devia puxar para a desenvolver”, começa a interessar-se pelo exercício do jornalismo. Primeiro, como correspondente do jornal O Diário. Depois, fazendo parte da equipa Barca Nova, onde conheci pessoas extraordinárias, com quem muito aprendi e evoluí.

O que sou hoje, devo-o na totalidade ao facto de ter tido a oportunidade de viver a maior parte da minha vida em liberdade. Por ter vivido 20 anos no salazarismo, que é o nome que se dá ao Estado Novo português, período ditatorial que foi iniciado em 1933 e finalizado em 1974, com o triunfo da Revolução dos Cravos, sei avaliar o que é viver numa ditadura e a reconstrução de uma democracia. Olhando para os 68 anos que tenho de vida, recordo os primeiros 20, os que vivi em ditadura, como um espaço de tempo que custou a passar. Os 48 que vivi em democracia passaram num instante. Do 25 de Abril de 1974 para cá, tudo parece que foi ontem.

A ditadura castra e oprime, bloqueia o pensamento e impede que se escolha. 

Viva a Liberdade! Viva o 25 de Abril! Sempre!

domingo, 15 de maio de 2022

sábado, 12 de março de 2022

Ponte Edgar Cardoso: foi inaugurada há 40 anos

O evento teve lugar pelas 16 horas e foi presidido pelo Presidente da República General Ramalho Eanes. O primeiro-ministro Pinto Balsemão também esteve presente. Veio acompanhado pelos ministros Lucas Pires, Viana Baptista e Ângelo Correia, além de vários secretários de Estado e outros membros do Governo. Era presidente da Câmara da Figueira o dr. Joaquim de Sousa.
Todavia, o que recordo melhor desse dia (fiz a reportagem para o jornal Barca Nova) foi o mar de gente que encheu de lés a lés, nessa sexta-feira, 12 de março  de 1982, a então NOVA PONTE DA FIGUEIRA DA FOZ.
Foi um verdadeiro espectáculo. Mais parecia uma romaria popular. O Povo tomou nas suas mãos o rumo dos acontecimentos. Todos os protocolos foram ultrapassados. Recordo-me da atrapalhação do ministro Ângelo Correia...
O Presidente da República de então, o General Ramalho Eanes, tinha grande popularidade e prestígio  junto da população figueirense e foi sempre efusivamente saudado. O mesmo, porém, não aconteceu com Pinto Balsemão e os ministros que o acompanharam...

A inauguração da ponte Edgar Cardoso foi um dos primeiros actos do programa alusivo às comemorações do centenário da Figueira da Foz.
Passaram 40 anos que milhares de pessoas estiveram na ponte a assistir à inauguração. Pode ver, clicando aqui duas fotos de José Santos, na altura jornalista no Diário de Coimbra, que recordam o momento.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Sou um privilegiado sim senhor

Apetece-me. E como me apetece lá vai.
Fica a recordação de um grande jornalista, quando o jornalismo se aprendia e praticava nas redacções dos jornais.

O . Purista do verbo e do enredo no dissertar da pena, concebia o jornalismo como uma arte e uma missão nobre.
“Também a lança pode ser uma pena/também a pena pode ser chicote!”
Andarilho e contador de histórias, sempre atento, oportuno, contundente, irreverente e mordaz, com o seu jeito, peculiar e exagerado - único, para contar estórias oralmente, adornando-as e enriquecendo-as com os seus excessos de pormenores deliciosos!.. 
Foi um grande jornalista. Escrevia muito bem o Zé. Contudo, ouvi-lo era um privilégio a que só alguns tiveram acesso.
Na altura, com 20 e poucos anos, não sabia do que gostava mais: se de ouvir o que pensava (não parava de pensar);  se de ouvir contar tanta vida que viveu (não sabia estar parado sem viver); se de o ver brincar com as coisas sérias da vida (a vida para ele tinha de ser uma festa). 
Ter-me cruzado com ele no Barca Nova, onde aprendi tudo o que havia a aprender sobre jornalismo (notícias, necrologia, reportagem, crónica, fazer títulos, rever provas com aquele cheiro a chumbo que ainda hoje me inebria, vindas da máquina linotipo, paginar, legendar, dobrar jornais e colocar os endereços, levar os jornais à estação dos correios para chegarem à casa dos assinantes, etc.) foi das melhores coisas que me poderiam ter acontecido na vida.
Era um gosto (prazer é outra coisa...) vê-lo pensar, reflectir, mexer-se, brincar, imaginar e escrever com caneta e papel. Era surreal vê-lo representar enquanto conversava sobre o que via nos outros. Falava e dava espaço aos mais jovens: "não dizes nada"? "que achas?"  "que dizes?" "que sugeres"?
Inventava. Inventava-se e inventou muito e bom jornalismo. Fez da sua vida uma alegria constante. Teve problemas. Mas aliviou sempre o seu peso. 
Nunca parava. Sempre em movimento, era sedutor e vivia o êxtase da sedução. 

O Zé transmitiu-me que o mais importante é a Liberdade. A dele, a minha,  a tua e a nossa. 
Há melhor escola de jornalismo? Há melhor jornalista? Há mais pessoa? Há melhor amigo? Há melhor escola de vida?

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

A cidade que fomos: quem se lembra de António Augusto Esteves (Carlos Sombrio)?

A primeira vez que ouvi falar de Carlos Sombrio, foi na Redação do Barca Nova, no primeiro andar do prédio com o número de porta 296, da Rua da República, mesmo ao lado da saudosa sede da Associação Naval 1º. de Maio, aí pelo ano de 1978. Lembro-me quem falou no nome: O Mestre Zé Martins. A propósito do assunto em concrecto, é que, confesso, já não me recordo.
António Augusto Esteves (Carlos Sombrio), é uma figura que jamais saiu do meu pensamento. 
Um dia destes descobri uma pequena publicação policopiada, de que púbico a capa, evocativa de uma exposição promovida em Maio de 1984, pela Secção Cultural da Associação 1º. de Maio. Nela está um texto do professor Rui Fernandes Martins (Pai do Zé Marins) sobre Carlos Sombrio, a partir do qual elaborei o resumo abaixo.
Carlos Sombrio, um filho humilde do povo, autodidacta, deixou uma grande bibliografia e colaboração espalhada por inúmeros jornais locais e nacionais.
«Autodidacta, Carlos Sombrio (a quem o Dr. Joaquim de Carvalho chamou o "cronista probo"), viveu entre 29 de Julho de 1894 e 23 de Março de 1949.
Era um estudioso honesto. O entusiasmo com que abraçava os mais ousados propósitos e a persistência com que procurava vencer, por meio de aturado estudo, as dificuldades que resultavam do facto de não possuir formação escolar, está patente na obra que nos legou. Bairrista, aplicou grande parte do seu tempo no estudo porfiado, tendo como objectivo honrar e servir a sua cidade - a Figueira da Foz. Desinteressadamente e com total despreendimento dos bens do mundo.
O seu funeral foi uma impressionante manifestação de pesar. Além da multidão, estiveram presentes as figuras mais relevantes da Figueira - o elemento oficial, civil e militar.»

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

PS: 1978 e 2022

O PS conseguiu passar a tese que foram os partidos à sua esquerda que obrigaram ao acto eleitoral de domingo passado.
Vitimizou-se. E o povo acreditou. Os resultados eleitorais são explícitos e não necessitam qualquer explicação. 
Quem não acredita que a história se repete, está enganado.
Recuemos a 3 de Fevereiro de 1978, via jornal barca nova. O PS não muda. E nunca vai mudar.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

A cidade que fomos: uma foto de 1893

Foto via jornal barca nova, edição de 8 de Dezembro de 1977.

Esta foto, datada de 1893, mostra que a visão paisagística de uma cidade como a Figueira da Foz, adquire a sua verdadeira expressão vista do lado esquerdo do Mondego. Desta outra margem.
Vendo com alguma atenção esta fotografia, que tem 129 anos, verificamos que a cidade sofreu grandes alterações. Uma, importante, tem a ver com a demolição dos edifícios que "entaipavam" a Casa do Paço. Num deles, o que se pode ver mais à esquerda, funcionou o «Hotel Reis». Foi ali que Trindade Coelho, pela primeira vez, escreveu para os jornais. A talhe de foice, diga-se que no ano desta foto, 1893, o poeta António Nobre, andou pela Figueira.
No edifício da direita existia uma casa de vinhos, com frente para a doca. No lado que dava para o Largo do Carvão, funcionavam os armazéns de Fernando Costa e a barbearia Luís.