segunda-feira, 29 de abril de 2024

Quem "gosta muito de governar" escolheu...

Dia Nacional do Museológico é comemorado hoje na Figueira

Evento tem lugar no edifício do Museu Municipal

No ano em que comemora 130 anos da sua fundação por António dos Santos Rocha, e poucos dias após a entrada para a Rede Portuguesa de Museus, o Museu Municipal Santos Rocha (MMSR) foi escolhido pela Associação Portuguesa de Museologia – APOM para a realização das comemorações do Dia do Museólogo, que se assinala a 29 de abril.
Este é o segundo ano que a APOM, primeira organização profissional ligada aos Museus a ser fundada em Portugal (1965), comemora esta data, tão importante para os profissionais e estudantes de museologia,
“A iniciativa pretende ser um momento de partilha de saberes e histórias e de reconhecimento e homenagem a diversas personalidades da área da museologia”
O programa das comemorações realiza-se no Auditório Madalena Biscaia Perdigão (edifício do museu e biblioteca) municipais). Tem início às 10H30. Meia hora depois, começam as intervenções dos presidentes da Associação Portuguesa de Museologia e do presidente da Câmara da Figueira da Foz, João Neto e Santana Lopes, respetivamente. Após a alocução daqueles dois responsáveis, pelas 12H00, realiza-se uma visita ao Museu Municipal Santos Rocha.
Os trabalhos serão retomados às 14H30, com a comunicação “O legado do museólogo António Augusto Gonçalves”, por Isabel Cruz Almeida. Por sua vez, Manuela Silva (chefe de Serviços do Museu e Núcleos da Câmara Municipal da Figueira da Foz) fala sobre Santos Rocha, na qualidade de fundador do museu municipal. Pelas 15H00, Maria Figueira, investigadora do mesmo museu, aborda o tema “Museólogo hoje - desafios e expectativas: a visão dos jovens”. Os trabalhos encerram com a entrega de diplomas aos homenageados, no âmbito das comemorações do Dia Nacional do Museológico.

sábado, 27 de abril de 2024

O delicioso pormenor na bandeira nacional no desfile do Ilusão Liberal nos 50 anos do 25 de Abril

 Imagem sacada daqui


"COLABORADORES UNIDOS, JAMAIS SERÃO VENCIDOS"

“Depois de Marte”, novo livro da jornalista figueirense Maria João Carvalho

 Via Diário as Beiras

José Iglésias, foi condenado por distribuir folhetos anticolonialistas

"...estava na Fortaleza de Peniche, onde foi decidido que “ou saem todos ou não sai ninguém” quando não quiseram libertar condenados por crimes de sangue. Meio século depois, diz que “voltava a fazer o mesmo"...
(para ler melhor, clicar na imagem)


50 depois, continuam a haver DIAS FELIZES

José Pacheco Pereira

«O 25 de Abril “divide”? Em 2024, divide...

e foi por isso que mobilizou muito mais gente do que o costume

Exposição 24/24

Jorge Dias 
"50 Anos depois para memórias futuras."

50 anos de Abril comemorados pela URAP

Promovido pelo Núcleo local da URAP, o jantar comemorativo aconteceu na noite da passada quarta-feira, dia 24 de Abril de 2023.
Fotos: Jorge Dias





sexta-feira, 26 de abril de 2024

Marcelo, Montenegro, Moedas e Nuno Melo nas comemorações do 25 de Abril

 Carmo Afonso hoje no Público:

"Estou convencida de que a maioria dos políticos de direita não sabe bem o que fazer com o 25 de Abril. Não puderam ignorá-lo, sobretudo estando no poder e comemorando-se o cinquentenário, mas também não conseguiram celebrá-lo sem uma reserva ou sem uma tentativa de o desvalorizar.

Parte da bancada do PSD, e o próprio Luís Montenegro, não usou um cravo na lapela. É um pequeno sinal. Uma maneira de afirmar que não celebram o 25 de Abril inteiro.

Já da bancada do CDS, ouvimos Paulo Núncio com a clássica exortação ao 25 de Novembro.

Nunca falha. Mas invocar o 25 de Novembro nas comemorações do 25 de Abril é como ir a um concerto de Sérgio Godinho com headphones para ouvir uns hinos e umas marchas do Estado Novo.

Nestas performances da direita no 25 de Abril, Carlos Moedas passou com distinção. Não apoiou o Arraial dos Cravos, no Largo do Carmo, e, com isso, transformou um pequeno evento numa manifestação imensa. Nunca o Carmo esteve tão cheio na véspera do 25 de Abril. Devemos isso a Carlos Moedas. Por outro lado, fez um discurso para homenagear a revolução. Nesse discurso, percebemos que tem uma visão muito própria do que se passou em 1974. Chama-lhe 25 de Abril moderado, mas eu acho que deveria chamar-lhe 25 de Abril , mas eu acho que deveria chamar-lhe 25 de Abril descafeinado. Dúvidas houvesse. Relata quem esteve nas celebrações do Terreiro do Paço que não passaram o Grândola. Parece um verso da canção de Adriana Calcanhotto: 25 de Abril sem Grândola, sou eu assim sem você. 

Foi Marcelo quem ganhou esta competição. Podia ter sido discreto e deixar a ocasião passar de fininho. Só que não. Tomou conta da agenda. Ocupou-a. Quis ser o foco das atenções e fê-lo com a subtileza que costumamos atribuir aos elefantes em lojas de louça. Informou-nos de que cortou relações com o seu filho por causa do caso das gémeas. Suponho que quis mostrar aos portugueses que fez uma justiça qualquer. Mas que portugueses ficam satisfeitos por saber que o Presidente da República se incompatibilizou com o seufilho? E, já agora, desde quando um pai — para se mostrar íntegro — coloca a falha moral no seu filho? Esta parte foi só um aquecimento. Num jantar com jornalistas estrangeiros, fez o pleno. Caracterizou o primeiro-ministro como sendo de um país profundo, urbano-rural, com comportamentos rurais. Disse também que, por causa disso, era muito difícil de entender. Num país que ainda não integrou bem a sua ruralidade, Marcelo achou que o preconceito classista contra as pessoas que não foram educadas nos centros urbanos seria uma tirada bem metida. Este golpe de génio foi apenas ultrapassado pelo momento em que se referiu a António Costa, um homem lento por ser oriental. 

A sensação que temos a ouvir Marcelo é igual à de estar ao telefone com alguém que julga ter desligado a chamada e desata a dizer coisas inconvenientes. Preferíamos não ter ouvido."

Confissões do Presidente da República

Marcelo, ‘à nora’ com Montenegro.

«Após oito anos de convívio único com António Costa, o ex-primeiro-ministro que foi seu aluno em Direito, seu adversário nas autárquicas em Lisboa e durante o guterrismo e seu cúmplice na longa coabitação que partilharam entre Belém e São Bento desde 2015, Marcelo Rebelo de Sousa está a habituar-se ao novo primeiro-ministro e, pelo que confessou esta semana numa conversa com correspondentes de órgãos de comunicação social estrangeiros em Lisboa, não está a ser fácil. Se Costa era um “otimista irritante”, Luís Montenegro surge aos olhos de Marcelo como alguém “difícil de entender”, “completamente independente, não influenciável e improvisador”. Aparentemente, menos confortável para um Presidente que adora dominar o jogo e alimentar cumplicidades. E que agora diz que teria preferido poder continuar com Costa como primeiro--ministro até 2026.

“António Costa era lento, por ser oriental. Montenegro não é oriental, mas é lento, tem o tempo do país rural, embora urbanizado. Faz-me lembrar Marcelo Rebelo de Sousa: Montenegro “surpreende, vai surpreender” o antigo PSD”, teoriza Marcelo Rebelo de Sousa, recordando como o PS sempre foi um partido mais de Lisboa e das grandes áreas metropolitanas, enquanto o velho PPD era “o resto do país, sobretudo o Norte e o Centro Norte”. Isso foi há tantos anos (o 25 de Abril já faz 50) que a comparação remete para uma ligação do atual líder da AD a um certo passadismo. Que nem por isso deixa de ser desafiante.

Pelo contrário, parece deixar o Presidente em guarda, sem nunca saber bem o que o espera e sem afastar a hipótese de ser dos últimos a saber.

“Todos os dias tenho surpresas, porque ele é imaginativo e tem uma lógica de raciocínio como sendo de um país tradicional. É estimulante, mas para mim dá muito trabalho”, confessou Marcelo aos jornalistas estrangeiros, que difundiram os áudios da conversa, um mimo confessional em que o Presidente relata como Montenegro convidou os membros do seu Governo em cima da hora — “um risco” —, para evitar fugas de informação, bem como a surpresa do cabeça de lista para as europeias, “tudo muito, muito sigiloso”, o que o leva a concluir que o sucessor de Costa “acredita que é um

erro falar, prefere o silêncio."»

Afinal quem é Marcelo? Ficam algumas opiniões.

1. FRANCISCO PINTO BALSEMÃO: “Marcelo, como o escorpião da lenda, não resiste a matar a rã (…) Algumas pessoas amigas que consultei avisaram-me e tentaram evitar que o convidasse para o Governo: ‘Estás a meter o veneno em casa’ – dizia um. ‘Estás a aproximar-te do escorpião da fábula, e tu serás a rã’ – dizia outro”.

2. PACHECO PEREIRA: “Marcelo é o criador e principal fautor de um jornalismo dos cenários que nunca se realizam, jornalismo apenas especulativo que não leva a lado nenhum e que tem o condão de falsear toda a atividade política”. 

3. BELMIRO DE AZEVEDO (1998): “Marcelo Rebelo de Sousa deveria ser eliminado. Não tem categoria. Que retirem a cadeira a esse senhor".

4. PASSOS COELHO: “Catavento de opiniões erráticas, em função da mera mediatização gerada em torno do fenómeno político.” 

5. PAULO PORTAS: "Marcelo é filho de Deus e do diabo, Deus deu-lhe a inteligência, o diabo deu-lhe a maldade.”

6. MARIA JOÃO AVILEZ: “Marcelo tem tomado o espaço da oposição ao governo. E para cúmulo é ele próprio que manda colocar nos jornais conversas a propósito. Toda a gente sabe dos telefonemas e das intrigas. É demasiado interventivo e não percebe que não pode ser ele o líder da oposição, mas comporta-se como tal.”

7. HENRIQUE RAPOSO: “Um presidente que já é sem qualquer dúvida o presidente mais fraco desde 74.” 

8. MIGUEL MONJARDINO: O comentador Marcelo Rebelo de Sousa (M.R.S.) constitui, pelo seu recente comportamento, uma ameaça à credibilidade da instituição da Presidência da República e ao futuro de Portugal (…) Em vez de um Presidente da República, elegemos um comentador com urgência pessoal e compulsão para se pronunciar, instantaneamente, sobre tudo.”

9. ANTÓNIO RIBEIRO (jornalista): “É falso como as cobras. Tem ar de avô bondoso, é beato, não tem vida própria. Mas cospe veneno. Parece que apoia, mas é exímio a puxar tapetes a quem detesta, embora finja apoiar. Olha para as tendências da opinião pública, dia a dia, como oportunidade de negócio (…) Essencialmente, ele não presta (….) Que ninguém confie nele, porque ele é do Antigo e não do Novo.

10. CINTRA TORRES: Marcelo comenta de manhã, à tarde, à noite e de madrugada. Comenta à porta do Coliseu, na rua, nos jardins, na escadaria da Gulbenkian, comenta em Portugal e no estrangeiro, comenta no adro e na praia, no palácio e na feira, no café e no congresso, comenta futebol e o tempo, comenta vivos e mortos, acidentes e festivais – e comenta há 50 anos, desde que entrou para o “Expresso”, onde permanece até hoje, por via de corneta alheia, o principal alimentador e protagonista do diz-que-disse político nacional.”

11. CARLOS ESPERANÇA: «Marcelo é um neto legítimo do 28 de maio e um dedicado enteado do 25 de Abril, não se pode exigir-lhe mais do que a sua natureza consente.»

12. JOSÉ CID (cantor): “O homem não tem tempo para nada, está sempre em qualquer lado, que não é parte nenhuma.”

13. PAULA FERREIRA (jornalista): “Marcelo fala de tudo e, por esse motivo, poucas são as vezes em que fala de alguma coisa.”

14. VÍTOR MATOS NO LIVRO (BIOGRAFIA) “MARCELO REBELO DE SOUSA” – 2012: “Poucas coisas dão mais prazer a Marcelo do que realçar os pontos fracos dos outros, em privado, em público ou no jornal (…) Marcelo é capaz de qualquer patifaria inconsequente (…) Por uma boa piada, Marcelo não se importa de perder um amigo.” 

15. VASSALO DE ABREU: “O Dr. Marcelo desfaz-se em muitos e cai no goto do povão! Ele é como o ”Preço Certo”: Não tem ponta por onde se lhe pegue, mas o povão gosta… Que fazer.”

16. LUÍS PAIXÃO MARTINS: “Marcelo é o chefe General do Estado Maior das forças mediáticas.”

17. J-m NOBRE-CORREIA: “Temos um personagem que há cinquenta anos instrumentaliza compulsivamente os média. Com a “criação de factos”. Com pseudoanálises da atualidade política. Com constantes declarações a propósito de tudo e de nada.”

18. AMADEU HOMEM: “Eu acho o Presidente da República um oligofrénico e um trambolho democrático.”

19. PAULO QUERIDO: “Temos um Presidente da República sibilino e sinistro — o agente político mais perigoso para uma sociedade decente, tolerante, progressista e bem sucedida depois de Oliveira Salazar, capaz de driblar todas as instituições democráticas, a começar por uma das suas especialidades, a Constituição.”

20. TELMO AZEVEDO FERNANDES: "É sabido que temos um Presidente da República que não lida maravilhosamente com a verdade. Tal como um menino traquinas que ainda faz chichi na cama, Marcelo é invariavelmente um palrador fingido, trapaceiro e dissimulado, que não hesita em inventar tretas e tramas, para manipular a opinião pública e tentar intervir de forma desleal e traiçoeira na política nacional."

21. MARINA COSTA LOBO (politóloga): “Marcelo pensando no seu lugar na história, quer usar os poderes que tem para deixar Belém com outro inquilino em São Bento, um primeiro-ministro do seu partido, o PSD.”

22. ARTUR VAZ: “Em tantos anos das conversas de Marcelo, alguém se recorda de uma ideia ou proposta minimamente razoável e consistente que tenha sido da lavra de inteligência tão brilhante?”

Todos passamos por fases: "tristeza e esperança marcaram intervenção de Pedro santana Lopes"

Ontem, quinta-feira, feriado, dia 25 de abril, Pedro Santana Lopes, na sessão extraordinária da Assembleia Municipal, comemorativa do 50º aniversário da Revolução de 25 de Abril, que teve lugar pelas 10h30, no Grande Auditório do Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz (CAE).

Para quando a integração do nome de Joaquim Namorado na toponíma figueirense?

Em 25 de Abril de 2024, ano em que se comemoram 50 anos daquela madrguda que eu esperava/ O dia inicial inteiro e limpo/ Onde emergimos da noite e do silêncio/ E livres habitamos a substância do tempo, a Assembleia Municipal da Figueira da Foz prestou uma justa homenagem a quatro figuras que incarnam o que foi a luta pela Liberadde e pela Democracia. A saber: Agostinho Saboga, José Ribeiro, Cristina Torres e Joaquim Namorado.

Em 1983 Joaquim Namorado foi homenageado na Figueira, por iniciativa do jornal Barca Nova. Entre as diversas iniciativas, recordo duas promovidas pela Câmara Municipal da Figueira da Foz, aprovadas por unanimidade: a criação do Prémio Literário Joaquim Namorado (extinto por Santana Lopes, na sua primeira passagem pela presidência da nossa câmara); e a integração na toponímia figueirense do nome do Poeta (chegou a ser aprovada a atribuição do seu nome a uma praceta, mas hoje o nome que lá está é outro - o de Madalena Perdigão).
O que, decorridos mais de quatro décadas, continua por fazer.

Para quando a integração do nome de Joaquim Namorado na toponíma figueirense?
Esta história da integração do nome de Joaquim Namorado na toponímia figueirense, não é tão antiga como a Sé de Braga, mas já vem do tempo em que as coisas em Portugal ainda custavam em escudos!

Diana Rodrigues: " a política local fará sempre parte dos seus planos"...

Diana Rodrigues,  a líder da vereação do PS na Câmara da Figueira da Foz, depois dos 4 vereadores directamente eleitos nas autárquicas de 2021 terem ido "às suas vidinhas"
disse no programa de entrevistas Dez&10: “a política local nunca deixará de estar no meu horizonte”
Isto, a propósito da pergunta colocada pelo moderador sobre se as suas ambições políticas incluem a disponibilidade para ser candidata do PS à presidência da autarquia figueirense, já nas eleições autárquicas de 2025. 
E, acrescentou: “estamos a passar uma fase de eleições internas no PS. Essa discussão [sobre a eventual candidatura à liderança do executivo camarário] fará sentido depois de eleita a nova Concelhia”
Ainda sobre a sua disponibilidade para se candidatar à câmara, a autarca da oposição acrescentou o óbvio politicamente correcto: “nunca deixarei de estar presente, desde que o PS considere que o meu contributo é importante”. Recorde-se que o PS da Figueira da Foz elege os novos dirigentes em julho. 
Neste momento, existem duas candidaturas à liderança da Concelhia: desde Outubro de 2023, Raquel Ferreira, a actual líder; há poucos dias, Miguel Pereira, ex-vereador. 
Quem irá apoiar Diana Rodrigues?
“Enquanto líder da oposição e membro da vereação do PS, a minha primeira responsabilidade é para com o cargo público que neste momento desempenho”
A entrevista pode ser vista e ouvida nas páginas do DIÁRIO AS BEIRAS e do Dez&10 no Facebook.

25 de Abril: 50 anos depois os portugueses regaram a Liberdade

Em Lisboa, num desfile sem princípio nem fim, Abril fez-se inteiro na Avenida: «parecia o 1.º de Maio de 1974».

Em Coimbra, mais de oito mil pessoas saíram à rua em Coimbra, participando numa manifestação popular que desfilou pelo coração da cidade, para «não deixar adormecer a democracia».

quinta-feira, 25 de abril de 2024

"Esperamos que nunca mais"...

É importante recordar o que foi o Estado Novo. O que foi o salazarismo.
As vezes que forem necessárias.
E o salazarismo foi, essencialmente, um tempo de miséria.
A miséria da mortalidade infantil, que a democracia fez desaparecer.
A miséria de um povo maioritariamente pobre, a viver em barracas e casas insalubres, sem água canalizada ou acesso a um sistema de esgotos.
A miséria do autoritarismo, da polícia política e das liberdades suprimidas, da prisão arbitrária e da tortura.
A miséria da ignorância, de um país de analfabetos, onde o ensino superior era um privilégio da elite protegida por Salazar.
A miséria da guerra, dos massacres e dos estropiados.
A miséria que levava os portugueses a fugir do país.
A miséria que obrigava uma professora primária a ser autorizada pelo Ministro da Educação para se casar.
A miséria de um regime que nos queria pobres enquanto entregava todos os negócios do Estado aos avôs daqueles que ainda são hoje os donos disto tudo. E que financiam os novos fascistas.
A mesma miséria que inventou a porta giratória e a corrupção política da qual ainda não fomos capazes de nos livrar.
Mas houve muitos que lutaram para que as coisas mudassem. 

A Liberdade, há 50 anos, estava a passar por aqui e então um  jovem de 20 anos perante a grandeza do momento, também cresceu. 
Portugal, em 1974, era uma sociedade a preto e branco, como um livro de colorir - a preto e branco, como todos os livros de colorir entre 1933 e 1974.
Portugal, em Abril de 1974, apresentava-se apenas com contornos desenhados à espera de ser colorido, como todos os livros de colorir.
Foi isso que entendi logo em 25 de Abril de 1974. E foi por isso, que decidi, que era importante, tentar colorir a minha parte. Como nunca tive muito dinheiro, só consegui comprar um simples lápis de cor - verde, que é a cor da esperança.
Mas, as cores são muitas e outros com outros meios e outros poderes, coloriram o meu país de rosa e de laranja...
Ter, em 2024, a oportunidade de estar vivo e ter a oportunidade, 50 anos depois, de recordar o que foi viver o 25 de Abril de 1974, que trouxe algo de verdadeiramente novo para a vida dos portugueses, faz-me sentir um priviligeado.

Contada por Luís Osório, como só ele o sabe fazer, fica a história de Conceição Matos, a mulher mais torturada pela PIDE, neste Dia de Todos os Sonhos do Mundo.

1.
Conceição Matos foi viver com os pais e irmãos para o Barreiro. Uma família de operários que chegou a uma terra de operários no final da década de 1930.
A Conceição tinha três anos quando a Segunda Guerra Mundial começou. Tinha três anos quando chegou ao Bairro das Palmeiras onde fez vida e construiu o sonho de um dia Portugal deixar de ser uma ditadura da mesma família dos fascismos de Franco, Mussolini ou Hitler.

2.
Conceição foi uma das mais torturadas na história do Estado Novo.

A doce Conceição Matos, mulher de Domingos Abrantes, que mantém os seus olhos sem ponta de ressentimento depois de tanto sofrer, depois do tanto que lhe fizeram.

A Conceição que depois da quarta classe feita começou a trabalhar numa máquina de costurar e depois numa fábrica de pirolitos onde lavava as garrafas.

Terra dura, terra de exploradores e explorados, de conflito de classes.

O Partido Comunista tornou-se parte da sua vida.
Da sua e dos irmãos – o Alfredo, o mais velho, foi levado para o Aljube aos 18 anos.

E ela tornou-se comunista.

Esteve na clandestinidade muitos anos.

Foi várias numa só.

Maria Helena, Marília, Benvinda.

Mas só teve uma única cara e um único nome na prisão.

3.
Conceição Matos resistiu a tudo.

Às tantas tornou-se um troféu de caça para os inspetores Tinoco e Madalena, dois monstros que faziam apostas para lhe arrancar uma palavra que fosse.

E irritavam-se porque da boca de Conceição não saia rigorosamente palavra nenhuma que lhes servisse.

Torturaram-na barbaramente.

Espancaram-na.

Arrancaram-lhe as unhas a sangue frio.

Obrigaram-na a estar imóvel durante horas e horas e horas.

Obrigaram-na à tortura do sono, dias e dias e dias.

Choques elétricos, humilhações atrás de humilhações, uma perversidade levada a uma categoria demencial.

Arrancavam-lhe a roupa até ficar nua. Tiraram-lhe fotografias que distribuíam aos agentes da PIDE na António Maria Cardoso. Homens que riam fazendo gestos de natureza sexual enquanto olhavam para o seu corpo e para a fotografia que guardavam nas suas mãos como violadores à espera da presa.

Deixaram-na vários dias sem poder ir à casa de banho. O seu corpo com urina, com fezes, com o sangue da menstruação.

E ela com a roupa que trazia, a ter de limpar a cela imunda com o que tinha, com a roupa que tinha.

E depois a raiva dos pides por ela não falar, os agentes a entrarem e a espancá-la uma vez mais e uma vez mais e uma vez mais.

A gritarem os nomes que imaginas.

Tudo o que imaginas.

4.
Conceição Matos, 87 anos, casada com o histórico Domingos Abrantes, dirigente marcante do PCP.

Uma das últimas provas vivas do combate e do sacrifício de tantos e tantas por uma ideia de liberdade. Ela e o marido, casados em 1969, em Peniche.

Conceição que é a prova de um combate corajoso por uma ideia de um mundo mais justo para quem nascia marcado com o ferro da desigualdade. Para gente como ela que nascia condenada a passar pela vida com um único objetivo: sobreviver.

Eu, filho de um comunista, mas crítico algumas vezes do PCP, não o esqueço.

E não o relativizo.