Portugueses gastam quase 400 mil euros por dia no Eurodreams."São pessoas que são maioritariamente operários, comparativamente com os trabalhadores dos serviços que têm um padrão de jogo muito menos frequente". Só França e Espanha superam Portugal nas vendas do novo jogo. Foram apostados 14 milhões de euros e atribuídos quatro milhões em prémios.
No primeiro mês de comercialização, os portugueses gastaram por dia 388 mil euros com o novo jogo de apostas, o Eurodreams, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Portugal ocupa o terceiro lugar nos países com mais vendas e já foram atribuídos no nosso país mais de um milhão de prémios, no valor de quatro milhões de euros, embora nenhum jackpot. O prémio mais alto pago em Portugal foi de 173,92 euros, mas a maioria é de 2,50 euros."
Segundo um estudo publicado em Setembro passado, "em Portugal, perto de 100 mil pessoas têm problemas de dependência em relação às raspadinhas. Trinta mil desenvolveram mesmo uma perturbação de jogo patológico, segundo um estudo do Conselho Económico e Social.
Quem mais joga são indivíduos com menor instrução social, poucos rendimentos e mais vulneráveis. O estudo Quem Paga a Raspadinha, apela a maior regulamentação, a começar pela criação um cartão de jogador que permita identificar padrões de uso de jogo que possam ser patológicos.
Só este ano, os apostadores já gastaram 1,4 mil milhões de euros em raspadinhas, o que equivale a quatro milhões por dia.
"As pessoas que jogam mais frequentemente raspadinhas são pessoas com baixa instrução, com rendimentos mais baixos, nomeadamente entre os 400 e 650 euros mensais, e também pessoas que têm outros problemas de saúde como o consumo excessivo de bebidas alcoólicas", explicou à RTP Pedro Morgado, coordenador do estudo.
Os mais idosos têm mais probabilidade de se transformarem em jogadores dependentes que os jovens. "É um vício que afeta os mais velhos, os mais pobres, os menos instruídos e os mais vulneráveis da sociedade".
Segundo Pedro Morgado, o estudo conclui ainda que "existem piores indicadores de saúde mental, nomeadamente sintomas de ansiedade, depressivos e de stress, nas pessoas que têm estes problemas com o uso de raspadinhas".
O estudo não encontrou diferenças "entre os homens e as mulheres, o que também é significativo".
"Em todas as outras modalidades de jogo, os homens tendem a gastar mais e a ter mais problemas de jogo patológico. Portanto, essa ausência de diferenças, é um sinal de que, neste jogo em particular, as mulheres são mais afetadas do que noutros tipos de jogo".
O autor do estudo defende que uma das formas de combater o vício é, primeiramente, "aumentar o debate público acerca da regulamentação deste tipo de jogo".
"Uma vez que é um jogo interpretado, pela maioria das pessoas como não tendo consequências potencialmente negativas. Necessitamos de aumentar a literacia e criar medidas que ajudem os que não conseguem controlar a perturbação, a limitar o acesso ao jogo", acrescentou.
Pedro Morgado defende a criação de "um cartão de jogador" e frisa que "não está em causa, de maneira nenhuma, proibir este tipo de jogo. Porque a proibição traz outros problemas, nomeadamente o jogo ilegal".
"É também importante dizer que este é um problema significativo em Portugal, tendo em conta a popularidade das raspadinhas, mas há outras modalidades que também estão a crescer e também nos preocupam, como o jogo online. É preciso uma política que olhe, de forma integrada, para todos estes problemas que têm consequências muito nefastas para a nossa sociedade".
João Henrique Silva, na crónica "Raspar o pobre", publicada no Diário de Notícias, considera, que, "para lá dos estudos, necessários e sempre importantes, já podemos dar um nome a essa “doença”: ela chama-se... pobreza! A sedução de um jogo fácil e barato, com eventual gratificação instantânea, contribui para os mais pobres criarem uma idealização, alienada e viciante, do seu “status”, em busca de uma vida diferente. Como resistir à tentação, se a publicidade assedia os incautos por todos os lados? E, lá no fim da engrenagem, é sempre o Estado “glutão” que fica a ganhar. Todavia, a realidade não melhora: subsiste desigualdade, economia débil, défice geracional, e a pobreza endémica que atasca na inércia um país há 50 anos prometido. “Quem paga a raspadinha?”, pergunta o estudo do CES. A Santa Casa não será, com certeza: o pobre bem raspa, mas afunda-se cada vez mais…Marx dizia: “o homem pobre tem um deus rico”.
Diríamos agora: um pobre país de pobres, tem uma Misericórdia rica!"