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© Reinaldo Rodrigues / Global Imagens |
Rui Zink via Diário de Notícias:
"Estado da Nação
Não gosto muito de pensar no Estado da nação, porque detesto políticos, não que a política não seja nobre, mas porque quanto mais estamos a ser estadistas, menos estamos a ver as pessoas.
"Populismos?
Populismos é como o mau gosto, é sempre dos outros. O populismo parte de um princípio que, para mim, é perigoso, que é o tomar o interlocutor por estúpido e, em vez de o tentar puxar para cima, empurra-o ainda mais para baixo, para um estado de preguiça mental, moral, cultural. O risco do populismo não é o Trump, o Ventura, é o tratar os outros como se fossem idiotas.
Maioria.
A maioria está, geralmente, sempre errada. Mas não tem grande mal, porque o facto de ser maioria já lhe dá razão: tem sempre uma força grande. A maioria das pessoas em Portugal, suponho, neste momento não se está a sentir muito bem, porque está com uma dificuldade enorme em viver. E acho que uma boa governação é feita para a maioria e também para a minoria.
Liberdade.
A liberdade é como o humor, o amor, a poesia. É uma palavra que, se for definida, deixa de o ser. A liberdade está no nosso horizonte e pode ser medida por métodos e instrumentos internos e externos. A liberdade externa é simples: num país rico, temos mais liberdade de movimentos do que num país pobre. A liberdade interna é definida pela nossa capacidade, pelo nosso poder, pelo capital adquirido de conhecimento e capacidade de reflexão. E há uma coisa fundamental para a liberdade interna: tempo. E o meu receio é que no futuro, mesmo nas profissões que exerço, escritor e professor, comecem a tirar tempo para pensar. Neste momento, nas universidades e nos liceus, a burocracia é tão grande que o objetivo é um só: tirar àquelas pessoas, de quem se espera que ensinem a pensar, tirar-lhes tempo para pensar."