domingo, 12 de março de 2023

Encher a pança com a fome dos outros

Via Expresso

«Contra factos não há argumentos.

De acordo com o INE, em 2022, a inflação situou-se em 7,8%. Por sua vez, de acordo com a Síntese Económica de Conjuntura publicada pelo INE, em 18 de janeiro de 2023, a inflação em produtos alimentares cifrou-se em 19,9% (bens alimentares e bebidas não alcóolicas), em 12,2% (alimentos não transformados) e em 11,2% (restaurantes e hoteis). Segundo a DECO, o cabaz alimentar essencial subiu 25,66%, entre março de 2022 e março de 2023, tendo passado de 183,64 € para 230,76 €.

Os salários vieram por aí abaixo. A função pública foi aumentada apenas em 0,9%, com base na inflação registada em 2021. Perdeu 6,9%, o que equivale a 1 (um) mês de salário, tendo por base 14 salários anuais. De acordo com o INE, o aumento médio dos salários (abrangendo setor privado) foi de 3,6%, correspondendo a uma perda efetiva de 4,2%. Curiosa e candidamente, em inquérito ao Banco de Portugal realizado em junho de 2022, os gestores de empresas afirmavam que iriam aumentar o salário dos seus trabalhadores em cerca de 5%. Chegados ao final do ano, constata-se que não são só os políticos quem incumpre promessas.

Mas esta queda do salário real não foi para tod@s. Para os gestores e cargos de topo, o aumento do salário nominal atingiu 9,6% (!), permitindo um ganho, só em 2022, de 1,8%. É caso para dizer, “bem prega Frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz”.

E esta afronta para quem vive do esforço do seu trabalho não parou por aqui. Só até 30 de setembro de 2022, a SONAE aumentou os seus lucros em 33%. Como as contas apenas encerram em 31 de março, ainda não sabemos quanto mais lucrou durante os meses que antecederam o Natal (que são pródigos em subida do consumo). Mas sabemos já que as suas vendas subiram 11,5% em 2022. E o mesmo se diga do Grupo Jerónimo Martins, cujos lucros reportados à mesma data também subiram 29,3%, tendo as suas vendas, em 2022, crescido 21,5%.

O que justifica esta subida abrupta de preços de venda ao consumidor, ao mesmo tempo que sobem os lucros das empresas de distribuição alimentar? – pergunta-se, com incredulidade.

Responde-nos quem sofre da cegueira ideológica do “venha a mim”: subiram os custos da cadeia de produção. Vejamos, então, esses custos.

Depois do choque resultante da invasão militar russa à Ucrânia, os preços da energia já estabilizaram e voltaram aos níveis pré-guerra. A ERSE determinou que o aumento da eletricidade, no setor regulado, para 2023, seria de apenas 1,3%. A EDP decidiu baixá-la em 2,5% e a GALP Energia em 11%. Por sua vez, de acordo com dados da Direção-Geral de Energia e Geologia, os preços dos combustíveis regressaram já a níveis anteriores à guerra na Ucrânia.

Acresce que o preço dos fertilizantes, que subiram abruptamente por força do bloqueio económico à Rússia (sua maior produtora), reduziram-se brutalmente durante o verão de 2022 e estabilizaram em valores muito inferiores ao seu pico, entre 2007 e 2008 (quando nunca se sentiu esta subida escandalosa do preço dos alimentos).

Por sua vez, como já se demonstrou, os custos médios com trabalhadores subiram apenas 3,6%.

Restaria o argumento do aumento do preço de compra aos produtores, para justificar esse volume imaginário da subida do preço na cadeia de produção. Acontece que a intensidade dessa subida é prontamente desmentida pelos próprios produtores. Mais do que isso. É desmentida pelos dados oficiais do INE, que demonstram que, em 2022, os custos de produção de bens de consumo aumentaram apenas 12,5%, pelo que foram muito inferiores à média da subida dos bens alimentares (19,9%) e ao aumento do cabaz alimentar essencial (25,66%).

Já para não falar na subida especulativa de alimentos essenciais, que têm sido vendido com margens de lucro ofensivas, tais como cebolas (52%), cenouras (45%) e ovos (43%). Por outro lado, de acordo com o Boletim Mensal de Agricultura e Pescas publicado pelo INE, em fevereiro de 2023 (que se reporta a dezembro de 2022), o índice de preços de bens alimentares não transformados apenas aumentou 13,5%, tendo regredido 0,9% relativamente ao mês anterior.

Comprova-se, portanto, não haver razões justificáveis – à luz de uma repartição justa e equitativa de uma conjuntura de crise económica – que aqueles que não têm o que comer sejam os sacrificados, em prol dos lucros (sempre intocáveis) dos grandes grupos económicos.

Grupos esses que, ao longo dos anos, esmagaram os pequenos produtores e as cooperativas agrícolas locais, forçaram o pequeno comércio local a fechar portas (auxiliado pela Lei Cristas, que fez disparar os custos com o arrendamento comercial pelas lojas tradicionais e de proximidade) e estabeleceram acordos entre si para concertação de preços.

Evidentemente, uma vez destruída a concorrência, estes grupos monopolistas controlam aquilo que designam por “cadeia de valor”, decidindo que produtos alimentares é que ficam expostos nas prateleiras e escaparates mais visíveis e bloqueando o acessso, pelos produtores independentes e insurgentes (conforme demonstra estudo da Oxfam de 2018), ao tal livre “mercado” que tanto gostam de apregoar.

Alguns desses grupos económicos praticam hoje a reduflação, conforme alerta a DECO. Mantêm preços, mas reduzem a quantidade ou a qualidade dos produtos que vendem. Sempre segundo a ASAE, por vezes, vão ao ponto enganar os consumidores, atribuindo peso líquido aos alimentos que vendem muito superior ao que efetivamente consta das embalagens ou mantendo balanças desreguladas e inexatas. Ainda segundo a ASAE, há casos em que etiquetam e anunciam preços nas prateleiras dos seus hipermercados, para depois, quando o consumidor chega à caixa, aplicarem preços muito superiores, sem que aquele se aperceba.

Evidentemente, os acordos de distribuição entre quem vende ao público e os respetivos fornecedores, quando criem cartéis ou promovam a concertação de preços, configuram um ato ilegal e lesivo da concorrência que alguns tanto alegam prezar (cfr. artigos 9.º e 10.º da Lei da Concorrência).

A limitação de entrada numa rede de hipermercados ou noutros estabelecimentos de venda ao público de certos produtos e de certos produtores configura um abuso de posição dominante, bem como a imposição de preços de venda (cfr. artigo 11.º da Lei da Concorrência).

Sempre que haja um número reduzido de empresas a operar em determinado setor (como sucede, hoje, no setor da distribuição alimentar, por força da destruição do pequeno e médio comércio), pode existir abuso de dependência económica, desde que os detentores do poder de entrada dos produtores nesse mercado explorem abusivamente essa posição. Por exemplo, forçando os produtores a reduzir margens de lucro ou a tolerar condições desvantajosas, por não disporem de alternativas no mercado (cfr. artigo 12.º da Lei da Concorrência).

Vender alimentos com quantidade inferior à que se encontra mencionada na embalagem constitui crime de fraude sobre mercadorias [cfr. artigo 23.º, n.º 1, alínea b), do Regime das Infrações Económicas]. Quem retiver deliberadamente em “stock” alimentos, com vista a fazer subir os preços, por diminuição da oferta, comete o crime de açambarcamento (cfr. artigo 28.º, n.º 1). Quem praticar preços que excedam o valor resultante das regras e práticas habituais nesse setor, sem justificação e com intuito de obter lucro ilegítimo, pode ser punido por crime de especulação (cfr. artigo 35.º).

Atentas as informações públicas que circulam nos últimos dias, há razões suficientes para que tod@s fiquemos preocupados. Ao ponto de o próprio Presidente da República ter expressado a sua preocupação e ter considerado justíssimo que se investigue.

Evidentemente, sem uma investigação aprofundada e rigorosa sobre o que se está a passar no setor alimentar, não se pode afirmar (nem aqui afirmo) que já foram cometidos crimes ou outros ilícitos contra a concorrência leal. Mas cabe-nos a nós, enquanto sociedade, garantir que há uma distribuição equitativa de recursos e que não continuamos a ver uns (poucos) a engrossar os seus lucros, enquanto outros (demasiados) não têm o que comer.

O direito à alimentação é, quiçá, o mais fundamental dos direitos. Sem ele, não há autonomia do indivíduo. Sem ele não há liberdade. Sem ele não há dignidade. Sem ele não há saúde. Sem ele não há vida. Justamente por isso, é essencial que, em sede de revisão constitucional, se consagre o direito à alimentação como um direito fundamental inalienável, conforme já foi proposto por um grupo de Deputadas/os do Partido Socialista (novo artigo 64.º-A da Constituição).

Mas, em termos práticos, é imprescindível que, com toda a celeridade e rigor:

  • A ASAE proceda às inspeções e averiguações necessárias à verificação do cumprimento da lei (se necessário, mediante reforço de meios e de equipas);
  • A Autoridade da Concorrência escalpelize a cadeia de produção, de transformação e de distribuição dos produtos alimentares, com vista à deteção de práticas de cartelização e de concertação de preços;
  • Seja fixada a obrigatoriedade de publicitação em Portal Eletrónico acesso ao público – como, aliás, já sucede no caso da contratação pública (através do Portal Base) – dos contratos celebrados entre os distribuidores alimentares e os seus fornecedores, sempre com salvaguarda devida do sigilo comercial e dos segredos do negócios, mas com indicação das entidades envolvidas, dos preços praticados e dos prazos de duração;
  • Seja cobrada, de modo efetivo, aos distribuidores alimentares a taxa de segurança alimentar, criada em 2012, e a contribuição extraordinária sobre os lucros excessivos, recentemente criada, em 2022, e que foi promulgada pelo Presidente da República, sem qualquer dúvida quanto à sua constitucionalidade.

A talho de foice, diga-se que os grandes grupos de distribuição alimentar têm-se vindo a opor ao pagamento destas contribuições em favor dos que carecem de políticas públicas corretivas das desigualdade. Só o Grupo Jerónimo Martins já deve quase 30 milhões ao Estado de taxa de segurança alimentar não paga. A SONAE encontra-se a pagar a referida taxa; mas não deixou de a impugnar perante os tribunais tributários, onde procura escapar-se ao seu pagamento, mediante invocação da sua inconstitucionalidade.

SONAE, Grupo Jerónimo Martins, Auchan, Lidl, Mercadona e Intermarché preparam-se para contestar a Contribuição Extraordinária sobre Lucros Excessivos, podendo mesmo chegar ao ponto de recusar pagá-la. A APED tem a desfaçatez de afirmar – sem se rir, note-se – que as suas associadas só têm lucros porque, apesar da subida de custos, “são eficientes”.

Já cá faltava a Tirania do Mérito. Claro que quem vive dos rendimentos do seu trabalho só não consegue ter lucro, nem dinheiro para comer porque não é eficiente. Sabem o que acontece aos cidadãos que vivem dos rendimentos do seu trabalho quando não pagam os seus impostos? A Autoridade Tributária penhora-lhes os salários, as contas bancárias e, até, as casas.

Seria, aliás, interessante que as/os cidadãs/ãos comuns passassem a utilizar a mesma argumentação que usam os grandes grupos económicos para justificar o facto de continuarem a aumentar os seus lucros, em tempos de sofrimento para a esmagadora maioria das pessoas: toca a imputar os vossos custos da cadeia de valor ao custo do trabalho e serviços que prestam aos vossos empregadores. A alimentação subiu 25,66% no cabaz alimentar essencial, em 2022? Os custos de energia e de transporte subiram 23,7% (cfr. p. 13 do Boletim), em 2022? Suba-se o salário de quem trabalha acima disso.

Na verdade, o argumento da crise económica só funciona para alguns. Para os que conseguem aproveitá-la para multiplicar a sua riqueza. Como qualquer outra dita “crise”, o que está a acontecer é uma inaceitável, injusta e impiedosa transferência de vantagens económicas daqueles que vivem apenas do seu trabalho para aqueles que controlam as cadeias produtivas e de distribuição de bens de venda ao público.

E o Estado não pode ficar impassível. Cada um/a de nós não pode ficar inerte. Não podemos continuar a achar que “é assim porque foi sempre assim”. Que não há alternativas. Que não vale a pena.

Senão, como cantava o Zeca Afonso, corremos o risco de ficar apenas a trautear:

“Eles comem tudo e não deixam nada”

Ganância, o motor da inflação


Ficou claro que a expansão do lucro tem desempenhado um papel maior na história da inflação europeia nos últimos seis meses.

"A frase é de Paul Donovan, CEO da UBS Global Wealth Management.

E deixa igualmente claro aquilo que já todos sabíamos: o principal motor da inflação é o aumento do lucro de certas empresas, que compensam as suas perdas explorando os consumidores.

Os senhores feudais do BCE, reunidos em retiro numa pequena povoação finlandesa, parecem ter chegado à mesma conclusão. Dizem as más línguas que, entre uma sessão de meditação e o chá das cinco, alguém terá apresentado um PowerPoint que revelava um aumento dos lucros de algumas empresas, de certos sectores, quando o expectável seria uma diminuição.

A cada nova crise capitalista – e elas são cada vez mais frequentes – o resultado tende a ser sempre o mesmo. Todos ficam mais pobres, excepto os mais ricos, que ficam muito mais ricos. E quando falo em mais ricos, falo de bilionários. Dos donos disto tudo. Não falo do tipo que até tem uma empresa, uma boa casa com piscina, um Mercedes para o dia-a-dia e um Porsche para o Domingo.

Precisamos, com urgência, de um novo modelo económico que nos sirva a todos."

João Mendes, via Aventar

BUARCOS RECEBE CAMPEÕES DE MARCHA ATLÉTICA


Este domingo (12 de março), a Federação Portuguesa de Atletismo, com o apoio da Associação Distrital de Atletismo de Coimbra, Câmara Municipal da Figueira da Foz e Junta de Freguesia de Buarcos e São Julião, leva a efeito a realização dos Campeonatos Nacionais de Marcha Atlética, em Estrada, na distância de 20 km, num circuito marcado na marginal em Buarcos.

Estes campeonatos contam com a presença de nomes destacados da marcha internacional. Desde logo pelos atuais campeões nacionais nas distâncias de 35 km, João Vieira (que ainda somou mais um título nacional em pista coberta) e Inês Henriques.

As provas começam às 9.15 horas, com os campeonatos nacionais de 20 km femininos e os 10 km, para sub-20. Às 9.30 terá início a prova masculina (20 km masculinos, e de 10 km sub-20).

Mais informações na página da Federação Portuguesa de Atletismo, com os resultados a serem apresentados na plataforma FPA Competições.

Há uma geração que está a morrer nas estradas

"O problema do tratamento dos dados estatísticos é, muitas vezes, a desumanização das conclusões. Perdermo-nos nos números e nas percentagens. Sermos incapazes de traduzir a real dimensão de uma fatalidade de forma assertiva e consequente. Façamos, por isso, o seguinte exercício: se lhe dissermos que em Portugal continua a morrer-se demasiado nas estradas, o mais provável é não ficar surpreendido. As razões são variadas e sobejamente conhecidas: excesso de velocidade (quase 70% das infrações!), sinalização deficiente, álcool e drogas no sangue. Enfim, não são infelizmente raros os casos em que todos estes fatores se conjugam num desfecho explosivo. Mas se lhe dissermos que os acidentes rodoviários são a principal causa de morte entre os cinco e os 29 anos, talvez então o caro leitor trave a fundo. E se acrescentarmos que a sinistralidade representa, em custos económicos e sociais, o equivalente a 3% de toda a riqueza produzida num ano, talvez isso lhe dê vontade de continuar a fazer perguntas."
Para continuar a ler, clique aqui.

sábado, 11 de março de 2023

Carlos Moedas: quem não sai aos seus degenera...

Vasco Gonçalves, um Homem do Futuro

Para Carlos Moeda há duas espécies de munícipes: "há munícipes como os outros e há munícipes que levam a coisa preparada..." 

Carlos Moeda, numa entrevista dada em 10 do corrente:
Pergunta do jornalista: "Durante o seu primeiro mandato também está convencido que vai conseguir fazer a estátua ou o busto de Vasco Gonçalves?"
Resposta de Carlos Moeda: "Estávamos a falar de reuniões de câmara e todos nós somos humanos. Gosto e sempre gostei de ser agradável com as pessoas e ao fim de dez horas chega um senhor e confesso, com toda a humildade, que já estava cansado e disse-lhe um sim e que falasse com os meus assessores. Não faz nenhum sentido fazer em Lisboa, por todas as razões e por todos nós - ainda era muito novo, mas todos vivemos esse período -, qualquer estátua ou qualquer busto de Vasco Gonçalves. Isso é algo que acontece quando somos humanos e sobretudo quando estas coisas são também preparadas pela própria oposição. Ou seja, estava ali a ouvir os munícipes e aquele não era um munícipe como os outros, era um munícipe que trazia a coisa preparada."

Já agora, vou lembrar quem é, para mim, Vasco Gonçalves.
Um  Homem Honesto e de Verdade. Um homem a quem tem de se reconhecer, além da  honestidade, boa-fé. 
Lutador incansável pelas causas justas da Humanidade, depois do 25 de Abril de 1974 integrou o Conselho da Revolução e assumiu o cargo de primeiro-ministro entre o segundo e quinto governos provisórios, tendo promulgado e defendido algumas das medidas mais marcantes do período revolucionário: um ordenado mínimo que beneficiou 60% dos trabalhadores, a nacionalização da banca e de empresas; a reforma agrária, o subsídio de desemprego, o subsídio de Natal para reformados e pensionistas, a lei sindical, o direito de manifestação e concentração entre outras.
Nos primeiro anos pós 25 de Abril de 1974, os direitos e conquistas sociais impulsionados pela acção colectiva dos trabalhadores foram legitimados pelos Governos de Vasco Gonçalves. Por exemplo, o subsídio de desemprego, para a vida de muitos milhares de portugueses em situações sociais desesperantes,  continua a ser, face ao persistente desemprego, o único e magro provento com que contam, resultado dos seus descontos e não, como os propagandistas neoliberais querem fazer crer, benesses do estado ou destemperamento orçamental. 

Esta medida, em 2023, pode ser avaliada, simultaneamente, por duas maneiras: é encarado naturalmente, como o ar que se respira, como se não tivesse história, por grande parte da população; e é alvo dos maiores ataques (no limite: para o liquidar) por parte dos partidos da burguesia.
Vasco Gonçalves, sofreu injúrias, foi sujeito a intimidações e ultimatos, mas nunca abandonou os ideais do socialismo, nunca traiu os que nele confiaram, nunca desistiu de lutar pelas transformações políticas, económicas, sociais e culturais que tirassem Portugal dos atrasos acumulados em meio século de ditadura fascista e treze anos de guerras coloniais. O ódio dos capitalistas e latifundiários contra a revolução, visava particularmente Vasco Gonçalves. Não lhe perdoavam o ser coerente e corajoso.
Contudo, foi sempre um homem de coragem e de grande carácter.
A humanidade de Vasco Gonçalves, os valores éticos que abraçava, a disciplina revolucionária que orientou sempre a sua acção.
Em 25 de Abril de 1974, o então coronel de engenharia Vasco Gonçalves realizou um dos objectivos de vida: participou activamente no derrubamento da ditadura fascista. 
O que tornou o General um Homem mais feliz e  realizado: «Se não tivesse participado no 25 de Abril, se a queda do fascismo me passasse ao lado, ficaria com um desgosto para toda a vida».

O Futuro passa, a meu ver, por continuar a manter abertas as portas que Abril abriu. Por elas passa a libertação do Homem.
Tal como Vasco Gonçalves, «o futuro com que sonhei não é cada vez mais saudade, é, sim, cada vez mais, necessidade imperiosa. Assim o povo o compreenda».
Penso que Carlos Moedas, filho do velho Zé Moedas, um comunista respeitadíssimo na terra, cofundador do "Diário do Alentejo" e uma espécie de lenda viva na cidade, nunca nadou nas mesmas águas políticas do pai e jamais quererá ir por aí... 
Portanto, porque carga de água estaria disponível para colaborar na homenagem a Vasco Gonçalves?

Porque já passaram 48 anos, convém ir avivando a memória...

Recordando o 11 de Março de 1975 e a insistente calúnia contra a democracia de Abril

Passam hoje 48 anos. O fracasso da operação militar desencadeada por sectores afectos ao General Spínola, na manhã de 11 de março de 1975, contribuiu para a radicalização do processo revolucionário português e para o reforço da Esquerda Militar no seio do Movimento das Forças Armadas. Permanecem, no entanto, por esclarecer diversos aspectos, nomeadamente no que diz respeito ao grau de envolvimento de alguns protagonistas e aos principais objectivos da operação. 
Analisando o «11 de março», identificando a complexa rede de alianças políticas e militares formada nos meses anteriores, as reações despoletadas pelo boato de uma iminente «Matança da Páscoa» e os diversos protagonistas do golpe militar fracassado naquela data, em 2023, como no decorerr destes 48 anos que nos separam do acontecimento, a direita faz da mentira a arma preferencial para justificar as suas ações e manipular o povo a que se dirige. 
Em tempos conturbados, onde os herdeiros políticos de Março de 1975 se arvoram como grandes defensores da democracia, importa relembrar que só deles provieram e provêm as ameaças à ordem democrática. 
Por conseguinte, hoje como há 48 anos, só o seu derrube incondicional deve estar nas nossas preocupações e no nosso horizonte.

Será desta que avançam as obras que foram adiadas em 2020?..

 Via Diário as Beiras

Uma primeira página que é uma síntese entre o saber acumulado e a observação da vida que é vivida no dia a dia...

Se isto não é cultura, alguém que explique o que é cultura... 

sexta-feira, 10 de março de 2023

...“as mulheres quase não existem na toponímia” do concelho da Figueira da Foz

 Via Diário as Beiras

A Quinta dos Padres

 Diário as Beiras

Nota de rodapé
mesmo em frente ao Pavilhão do Ginásio Clube Figueirense, mais cedo do que tarde, brotará uma cortina de prédios... 
Dado que aquele espaço está inserido no corredor verde das Abadias, que deveria ir até ao Parque de Campismo, não seria mais razoável aproveitar aquele espaço, inserindo na zona verde estacionamento e equipamentos desportivos?

Que lugar vai António Costa merecer na história da nosssa democracia?

"António Costa meteu-se, sem ninguém o mandar ou sequer empurrar, na posição onde Marcelo o queria ver sentado, maioria absoluta mas não muito absoluta, o Governo com mais trapalhadas por segundo na história da democracia e que só continua a governar porque Marcelo não vislumbra alternativa na casa-mãe a que pertence. 

Como é que António Costa vai ficar para a história, como o gajo que derrubou o "muro de Berlim" das soluções governativas à esquerda, ou como o maior inepto da democracia que meteu a extrema-direita no Governo 50 anos depois do 25 de Abril?"

Daqui

Ministro das Infraestruturas, João Galamba, vem abrir debate sobre energias renováveis offshore e economia do hidrogénio

 Via Diário as Beiras

Para ler melhor, cliar em cima da imagem

Na passada quarta-feira, cerca das 19 horas...

 Via Diário as Beiras

O que restará, a quem vive no litoral, se as previsões mais pessimistas para a subida do nível do mar baterem certo?

"No espaço de Portugal perdeu para o Atlântico a área equivalente a mais de 1.300 campos de futebol. E a principal razão é a falta de areia nas praias. Está presa nos rios ou nos estuários por causa das barragens e da redução dos caudais. Juntamente com a construção de pontões, ao longo do século passado, que acumulam areia a norte mas degradam as praias a sul, a erosão vai aumentando." 

"Presidente rasga o Governo"

Imagem Jornal Público

Excertos da entrevista de Marcelo Rebelo de Sousa, ontem à noite, aos jornalistas António José Teixeira (RTP) e Manuel Carvalho (Público), por 
Pedro Correia, via Delito de Opinião

«[Esta] é uma maioria que nasce já com o desgaste de seis anos de governo (...) numa legislatura um pouco patológica.» 

«Foi um ano praticamente perdido.» 

«Estamos a gerir o dia-a-dia e a olhar para o curto prazo e não para o médio prazo.» 

«Isto [trapalhadas em série na TAP] marcou o Governo. É como a TAC, que cria radiações irreversíveis no corpo. É uma ilusão pensar que não deixa efeitos políticos.» 

«Temos um PRR que, na minha visão, está atrasado.» 

«É preciso corrigir as desigualdades entre professores.» 

«É preciso uma reconstituição sistémica do Serviço Nacional de Saúde, que tem de ser repensado rapidamente.» 

«Dar sete dias para discutir um diploma sobre habitação depois de sete anos de espera é uma coisa do outro mundo.» 

«Já se percebeu que os municípios não têm capacidade para descobrir as casas devolutas.» 

«A pior coisa que podia haver era votar leis a correr no Parlamento, numa matéria desta natureza e com esta incidência no futuro.» 

«O Governo tem de ter a noção que vai ser, daqui até ao fim das suas funções, alvo de um escrutínio rigorosíssimo neste tipo de questões, na escolha do pessoal político. E bem. E que há, naturalmente, personalidades cimeiras: a seguir ao primeiro-ministro, o ministro das Finanças é porventura o ministro mais importante do Governo neste momento. Portanto, vai haver obviamente uma concentração de foco sobre ele.» 

«Mantenho esse princípio de manter a legislatura até ao fim, mas não peçam para renunciar ao poder de dissolver [a Assembleia da República].» 

«O Presidente da República, até ao dia 9 de Setembro de 2025, tem o poder de dissolução.»

quinta-feira, 9 de março de 2023

"...tornar a Figueira da Foz uma marca é imprescindível porque, cada vez mais, as cidades competem entre si"...

 Via Diário as Beiras

Taxa turística, habitação, eleições intercalres, casino...

«A Câmara da Figueira da Foz pretende adquirir dois edifícios devolutos na cidade que pertencem ao Ministério da Defesa Nacional para os transformar em residências universitárias ou habitação a custos acessíveis.
"Vamos ver como é que podemos combinar os dois vetores", disse ontem aos jornalistas o presidente da Câmara, Pedro Santana Lopes, no final da reunião de Câmara, sobre os dois prédios situados na zona nobre da cidade, com 24 apartamentos no total.
Salientando que o financiamento para residências universitárias acabou, o autarca disse, durante a reunião, que isso não impede a sua requalificação para esses fins, de forma a aproveitar a instalação do campus universitário da Universidade de Coimbra na Figueira da Foz.
No entanto, o presidente da autarquia figueirense, também admite que os 24 fogos podem ser integrados no programa de habitação a preços acessíveis, para povoar mais zonas da cidade.
“Estamos a trabalhar sobre grande pressão e manifestámos ao Ministério da Defesa o nosso interesse na aquisição”, salientou Santana Lopes, frisando que a venda de casas na Figueira da Foz se processa em “ritmo elevado”.
Os dois edifícios foram retirados do Fundo Nacional de Reabilitação do Edificado, gerido pela Fundiestamo, para o qual tinham sido colocados em 2019, para serem destinados ao arrendamento acessível, mas as obras nunca avançaram.
A Câmara da Figueira da Foz pretende adquirir dois edifícios devolutos na cidade que pertencem ao Ministério da Defesa Nacional para os transformar em residências universitárias ou habitação a custos acessíveis.
“A ministra da Habitação disse que os imóveis vão sair da lista da Fundiestamo e o secretário de Estado da Defesa confirmou que conta com o ministério da Habitação para concretizar isso. Saindo [os edifícios] dessa lista podemos fazer imediatamente a proposta de aquisição”, sublinhou Santana Lopes.
O PS, através da vereadora Glória Pinto, considerou que o executivo municipal não deve transformar os prédios em residências para estudantes “quando [a Figueira da Foz] tem necessidades mais antigas”.
“Parece-me prematuro”, enfatizou a eleita socialista, salientando que o município deve apostar na criação de parcerias com idosos que estão sozinhos para que acolham jovens estudantes, durante o período de estudo na cidade.»
Imgens via Diário as Beiras.


O escândalo da TAP aconteceria se ela fosse privada?

Pedro Tadeu, jornalista, via Diário de Notícias

"A ilegalidade, confirmada por uma perícia da Inspeção-Geral das Finanças, do pagamento de uma indemnização de 500 mil euros pela saída da administradora Alexandra Reis da TAP está a servir para alguns partidos e vários comentadores sentenciarem a incapacidade do Estado para gerir a companhia de aviação e reivindicarem a sua privatização total.

O pressuposto dessa argumentação é que, com uma governação privada, este tipo de problemas não aconteceria na TAP ou, se acontecesse, afetava apenas os investidores privados, não os contribuintes.

Bem, a história da TAP prova exatamente o contrário.

A TAP foi privatizada pelo governo de 19 dias de Passos Coelho, em junho 2015. David Neeleman e Humberto Pedrosa ficaram com 61% do capital da empresa e liberdade para a gerirem, pagando, diz-se, 270 milhões de euros. O Estado ficou com 34%, os trabalhadores com 5%.

Suspeita-se, porém, que na prática quem pagou o aumento de capital com que os privados entraram na TAP foi a própria TAP, através de um negócio de compra de aviões da Airbus cuja arquitetura financeira "criou" uma circulação de dinheiro que está a ser investigada pelo Ministério Público.

Essa investigação só está a ocorrer porque, quando em 2021 o Estado voltou a controlar a gestão da empresa, foi feita uma auditoria a esses contratos. Antes a empresa privada TAP mantinha tudo sob segredo e nada se sabia.

Ou seja, a privatização, a confirmarem-se estes factos, terá, na prática, sido paga pelo contribuinte.

Quando o governo de Passos Coelho caiu, António Costa negociou com os acionistas privados da TAP novas posições na empresa: em junho de 2017 o Estado ficaria com 50% da empresa e os privados com 45%. Mesmo assim David Neeleman e Humberto Pedrosa manteriam o controlo, livre, da gestão da empresa. O governo pagou aos privados para concretizar esta alteração mais de 2 milhões de euros.

Ou seja, apesar dos contribuintes passarem a ter metade da empresa, não a controlavam e anda pagaram "mais uns trocos" por isso.

Os privados continuaram a governar a TAP. Começaram a acumular prejuízos e, em vez de os suportarem do seu bolso, viraram-se para o Estado e pediram financiamento.

A 10 de junho de 2020 a Comissão Europeia, argumentando que esses prejuízos em 2018 e 2019 já eram superiores a 220 milhões de euros (em 2020, com a pandemia, o Grupo TAP contaria 1 418 milhões de prejuízo) exigiu uma reestruturação da empresa (leia-se despedimentos e redução de atividade) para autorizar o governo português a emprestar à companhia aérea mil e 200 milhões de euros.

Ou seja, a gestão privada da TAP não livrou os contribuintes de despesas. O país, pelo meio, ficou com uma companhia aérea mais pequena e o Estado com os custos sociais criados pelos despedimentos.

A 30 de junho de 2020, com o tráfego aéreo paralisado por causa da covid-19 e o acionista privado indisponível para capitalizar a empresa (apesar de ter recebido o empréstimo de mil e 200 milhões), o governo, para salvar a companhia, decidiu, resgatá-la.

Em julho de 2020, o Estado chegou a acordo com David Neeleman para ficar com a sua posição, pagando 55 milhões de euros. A TAP passou a ser 72,5% pública e o Estado começou a governá-la - curiosamente obtendo, posteriormente, resultados positivos, ao contrário do que conseguiram os privados.

Em 21 de dezembro de 2021 o Estado fez um aumento de capital na TAP SA e passou a controlar a totalidade da empresa. Os mil e 200 milhões emprestados em 2020 foram convertidos em capital, e 536 milhões, entretanto emprestados em 2021, também.

O contribuinte voltou a pagar, é verdade, mas a partir daqui ocorreu uma grande diferença em relação aos seis anos de gestão privada e que o caso Alexandra Reis veio comprovar: é que a boa ou má gestão da empresa passou a poder estar sujeita a avaliação pública, a ser analisada, debatida e criticada pela comunicação social, pelo Parlamento e, até, pelos tribunais.

Cada ato duvidoso na gestão pública da TAP passou a ser escrutinado, mesmo com um governo de maioria absoluta - quando a gestão pública corre mal o contribuinte é que paga, é verdade, mas fica-se a saber como tudo aconteceu, quem foram os responsáveis e eles, como se vê no caso de Alexandra Reis, também pagam por isso.

Cada ato duvidoso da gestão privada da TAP, como a história comprova, é escondido, disfarçado, diluído numa opacidade financeira a que se chama "segredo empresarial" - e, quando corre mal, os privados saem, sem o devido exame público à sua atuação e o contribuinte paga esses erros sem saber porquê.

Privatizar uma empresa de serviço público implica impedir que o público, o contribuinte, a possa fiscalizar - mas não impede que o mesmo contribuinte pague os desmandos da gestão privada. A história da TAP comprova-o."