"A FIGUEIRA É HOJE UMA CIDADE ESTÉRIL, IMPRODUTIVA, LÚGRUBE, SEM VIDA INTERIOR, SEM TRANSPORTES PÚBLICOS, SEM JUVENTUDE NEM ESPERANÇA, NEM UMA ÚNICA LIVRARIA, UM JORNAL PERIÓDICO, MAS REPLETA DE BARES, ÀS MOSCAS, DE COMÉRCIO FALIDO OU ENCERRADO, DE RUAS VAZIAS, DE EDIFÍCIOS EMPAREDADOS, DE INSTITUÇÕES DE CARIDADE, DE AGÊNCIAS IMOBILIÁRIAS, DE LOJAS DE PENHORES, DE IGREJAS EVANGÉLICAS, DE FANÁTICOS, DE CRETINOS, DE VELHACOS E DE SUPER-MERCADOS."
“Fernando Campos é um homem de poucas palavras e de poucos traços. Não é por timidez mas porque é um artista de essências, de contenção." Desta vez exagerou: gastou 7305 para nos presentear com um panfleto sarcástico, com tudo ao léu. Gabo a imaginação do Fernando: conseguir escrever 7305 palavras sobre uma cidade "que não tem nada de realmente diferenciado para oferecer", é obra. Ela própria, a Figueira, qual cidade maldita, se encarregou de fazer o caminho até chegar aqui: "o (pouco) património que exisiu foi depredado e avacalhado até à indignidade e à humilhação".
Durante largas décadas, a praia (outrora) da Claridade, agora da Calamidade, era a especialidade da Figueira.
A areia serviu para tudo: até para o negócio das areias.
A grande causa do declínio da Figueira passa também pelo problema da distribuição da areia.
A norte, a abundância tirou competitividade à praia.
A sul, a escassez tornou a areia um bem prioritário, mas proibitivo devido ao preço demasiado alto.
O preço a pagar pela má distrbuição da areia na Figueira, é para todos - seja a norte, seja a sul - um preço demasiado alto.
O problema da Figueira não é apenas da cidade - é de todo o concelho.
Areia existe, está é mal distribuída...