Ana Carvalho
"É essencial compreender a relação entre a mobilidade pedonal e o comércio tradicional, porque, de facto, o comércio depende do volume de tráfego pedonal das ruas onde está instalado. Em contrapartida, só existem peões na rua se houver uma boa razão para estes se deslocarem até lá, para o que concorre a qualidade da oferta de comércio/serviços e da experiência.
Os melhoramentos feitos nos últimos anos ao nível do espaço público na rua da República, e, noutros locais da cidade, têm essencialmente o objetivo de ajudar a atrair mais pessoas a estas áreas comerciais e de as tornar mais confortáveis para os peões caminharem, em detrimento dos automóveis, que poderão ficar, na proximidade, nos excelentes parques de estacionamento.
Reiterando que o sucesso das áreas comerciais depende do fluxo de peões, julgo que os comerciantes sobrestimam a importância do carro, pois há estudos que afirmam que os gastos nos estabelecimentos são maiores em áreas pedonais, dado que é mais provável que as pessoas, que se deslocam a pé, vejam as montras e entrem nas lojas, e que por lá fiquem algum tempo, aumentando as vendas (WalkBoston, 2011).
Por outro lado, o comércio de rua, que tenta captar os consumidores que fogem aos centros comerciais e que procuram proximidade e uma experiência de consumo e produtos diferentes daqueles que são oferecidos nas grandes superfícies, oferecendo, também, adaptação nos horários de funcionamento, têm demonstrado sucesso.
Neste contexto, os eventos promovidos na rua da República, nalguns sábados dos últimos meses, incluindo a “Feira das Velharias”, serviram para testar se a pedonalização (que afinal atraiu tantas pessoas para a rua nestes dias!) teria impacto positivo nas vendas dos espaços comerciais.
Dir-se-ia que foi um sucesso, contudo, foi uma pena ver tantos espaços comerciais fechados à tarde, e tantas reclamações de comerciantes, apesar de toda a animação artística e cultural proporcionada pela CMFF, ACIFF, S. F. Dez de Agosto e pelo NUFICOL.
Claro que o comércio é uma atividade privada e, por isso, é difícil influenciar os produtos que vendem ou os horários que praticam, mas deixo o desafio: por que não tentar?"
Ana Oliveira
"Confesso: quando o tema foi sugerido decidi, no imediato, verificar o impacto de diversas zonas pedonais que existem em Portugal, bastando uma pesquisa num motor de busca e a informação que surgiu foi bastante elucidativa.
Desde Coimbra, Leiria, Lisboa, Évora e até mesmo o caso do Funchal na Ilha da Madeira. Os estudos de vantagens e desvantagens acerca dos espaços pedonais são muitos, avaliando o impacto das superfícies comerciais e de novas formas de consumo, o afastamento do trânsito e o que isso afeta o comercio tradicional de rua.
Aliás, apenas utilizei um dos métodos, muitas vezes utilizado pelo executivo socialista da câmara municipal e pelos seus apoiantes convictos, que é, no essencial, comparar o que querem fazer, com outras cidades, muitas vezes dando exemplos de “peso” de referências fora do nosso país.
O problema é que, quando fazem estas comparações ou já estamos uns anos atrasados da realidade atual ou, então, não se tentou perceber como foi realizado o planeamento do projeto e como se procedeu à sua execução, ou seja terem uma perceção do impacto da mudança na vida de quem trabalha e frequenta estes espaços diariamente.
Se acho que a rua da República deveria ser pedonal? Não consigo responder com um “sim” ou um “não”, mas posso dizer que esta rua merece dignidade como todas as ruas e recantos do concelho e não podemos continuar a assistir ao que tem acontecido nos últimos tempos... Estaleiros montados e sem um fim à vista, afastamento das pessoas do comércio através de projetos que não tiveram qualquer ponderação e planeamento prévio... numa atitude de que o que verdadeiramente interessa é realizar “obra” para justificar de, alguma forma, promessas esplanadas em cartazes eleitorais mas que na verdade nunca se irão concretizar.
Para se avançar com zona pedonal ou não na rua da república deve-se começar pelo início e contrariar tudo o que tem sido feito nestes últimos anos... ouvir quem sabe... ouvir as pessoas... e só depois planear e executar!
Mas se queremos voltar a ter identidade e vida na baixa da cidade, nomeadamente, a rua da república, devolvam o porto de pesca à margem norte."