"Enquanto, no Parlamento, as direitas brincavam ao revivalismo histórico, celebrando o 25 de Novembro, assinalava-se o Dia da Eliminação da Violência Contra as Mulheres. Os nossos deputados passaram horas entretidos a fazer a vontade à extrema-direita, celebrando o dia em que, há quarenta e nove anos, esta também foi vencida. Tudo por causa de uma guerra cultural que pretende reescrever a história, repisando a falsa narrativa que faz equivaler o 25 de Abril e a queda de quarenta e oito anos de regime fascista (!!!), a um 25 de Novembro que acabou com uns meses de PREC, matando as ambições revolucionárias do Partido Comunista e da extrema-esquerda.
Ora, estes falsos órfãos de Novembro, esquecendo-se que as pretensões contrarrevolucionárias da extrema-direita também foram vencidas na mesma data, ignoraram as vozes dos verdadeiros obreiros e (esses, sim) vencedores do 25 de Novembro, que não pretendem que a data valha mais do que sempre valeu, e organizaram um anacrónico “primeiro” aniversário de quarenta e nove anos, com o patrocínio de um PSD cada vez mais mobilizado por agenda alheia.
Desengane-se quem pensa que isto é uma espécie de fetiche pelo passado, porque esta gente não dá ponto sem nó e mira sempre adiante. A verdadeira intenção desta tentativa de sequestro do 25 de Novembro pela Direita é, em primeiro lugar, tentar esvaziar a importância de Abril e desassociá-lo da ideia (verdadeira) de que significou o parto da democracia (a sanha nunca passou!) e, em segundo, reforçar a narrativa (falsa) de que as forças de Esquerda (essas sim) são antidemocráticas e que foi a sua derrota, há quarenta e nove anos, o verdadeiro parto da democracia.
É preciso muito revisionismo histórico para, numa só efeméride, diminuir Abril, demonizar as forças que mais lutaram contra o regime fascista e pela liberdade (o Partido Comunista e os outros grupos de Esquerda), que estão aliás presentes na vida democrática portuguesa há cinquenta anos e, ao mesmo tempo, ainda transformar os derrotados (cujos contragolpes e atividades terroristas para reativar o regime não tinham a mínima sustentação popular e foram esmagados) em grandes protagonistas das celebrações! Reconfortante é comparar a comovente manifestação dos cinquenta anos de Abril que este ano tivemos, com a indiferença popular diante do saudosismo de Novembro.
Mas, voltando ao início, enquanto rolava a festinha, o 25 de Novembro que importa ficava para segundo plano. O que não surpreende, já que temos tido demasiadas demonstrações de que esta Direita, não só não têm nenhum interesse em lutar pela eliminação da violência contra as mulheres, como está mais interessada em eliminar os direitos (que nos custaram cinquenta anos a conquistar)."
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