terça-feira, 21 de maio de 2019

Algumas notas da reunião camarária de ontem

Via Diário as Beiras

"Aprovada constituição do Conselho Municipal de Turismo
De acordo com a proposta da maioria socialista, a presidência do CMT será do presidente da câmara ou de quem ele designar para o efeito. A autarquia propõe que integrem o CMT representantes do Turismo Centro de Portugal, Associação Comercial e Industrial, Sociedade Figueira Praia, administração portuária, Associação dos Industriais de Hotelaria e Restauração do Centro, agências de viagem, Associação Figueira com Sabor a Mar, Associação das Colectividades, agrupamentos de escolas, forças de autoridade e protecção civil.

O presidente da câmara, Carlos Monteiro, afirmou que a estrada que liga Buarcos a Quiaios através do Cabo Mondego, conhecida como “Enforca cães”, começará a ser requalificada pela autarquia logo que o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) der luz verde.

O vereador do PSD Ricardo Silva elencou as obras realizadas durante os mantados do PSD (1997 – 2009, um de Santana Lopes e dois de Duarte Silva), destacando a “infraestruturação do concelho”. Longa foi a lista lida pelo autarca da oposição, fazendo referência a todas as obras que considerou relevantes. Pelo meio, o edil social-democrata (cargo que acumula com o de presidente da Comissão Política Concelhia do PSD) foi tecendo duras críticas ao legado de 10 anos de poder socialista na Figueira da Foz, agora com Carlos Monteiro à frente dos destinos do concelho. “Nos últimos anos, a Figueira da Foz perdeu influência política, económica e respeito, no contexto regional. Em contra ciclo com o país, não optimiza as nossas potencialidades turísticas e não tem uma estratégia que se conheça para inverter tal situação”, atirou Ricardo Silva.
Nota: (o texto da intervenção de Ricardo Silva pode ser lido clicando aqui).

O líder do executivo camarário da Figueira da Foz, Carlos Monteiro, que também preside ao Secretariado da Concelhia do PS, não deixou o vereador do PSD Ricardo Silva sem resposta às críticas que fez aos dois mandatos e meio da maioria socialista.
O autarca lembrou que já foram pagos 61 milhões de euros da dívida da autarquia herdada dos social-democratas (cerca de 90 milhões com as empresas municipais incluídas). “E ainda temos de pagar mais [para pagar]…!”, acrescentou. “Esta actividade partidária tem alguns limites”, defendeu o presidente, num tom mais crispado, reagindo ainda ao longo e acutilante ataque do referido vereador da oposição."

segunda-feira, 20 de maio de 2019

Meia bola e força...

Impressiona a proximidade e a ligeireza existente entre o futebol e a política.
Estou a acompanhar a sessão camarária que está a decorrer na Câmara Municipal da Figueira da Foz e, ao mesmo tempo, a dar uma espreitadela à televisão. Neste momento, SIC/N, RTP3, TVI24, CMTV, A BOLATV e SPORTMAIS, estão a dar imagens do autocarro do Benfica pelas ruas da capital a caminho da câmara municipal de Lisboa.
Neste momento acabei de, mais uma vez, ver a resolução da questão das reuniões à porta fechada ser adiada. A 2 de fevereiro de 2015, a maioria absoluta PS manteve a primeira reunião do mês interdita ao povo e aos jornalistas. António Tavares, que na altura, fora das reuniões de câmara, defendia que todas as sessões deviam ser abertas, impediu isso com o seu voto!
Há momentos, Carlos Monteiro, Ana Carvalho, Nuno Gonçalves, Mafalda Azenha, Miguel Pereira e Diana Rodrigues voltaram a desperdiçar  uma oportunidade de virar uma página que em nada dignifica a Democracia Figueirense.
Continua a ser  estranho que bastou ter uma maioria absoluta, para os mesmos protagonistas interditarem aquilo que em maioria relativa nunca ousaram propor em 4 anos (de 2009 a 2013). Este, é um sinal de que a República e a Democracia, em Lisboa e na Figueira,  atravessam um momento especialmente perigoso. O que está a passar neste momento, são sinais da existência de uma frágil fronteira entre a estrutura cívica dos representantes  do Estado e o mundo do futebol.

Vivemos dias vazios na Figueira, ou há dias mais longos que outros?..

 Silêncio ensurdecedor


"... porque continuam as restrições ao calado das grandes embarcações, porque não está garantida a abertura da barra durante maiores períodos nem a segurança da navegação, nomeadamente das pequenas embarcações, em constante perigo de naufrágio, porque não se consegue abrandar os impactos negativos, com a acreção a norte e a erosão a sul, porque não têm tido qualquer resultado as intervenções na costa, porque persiste sem solução à vista o deficit sedimentar a sul…
Há dois anos, uma recomendação da Assembleia da República instou o Governo a apresentar um estudo que avalie a implementação do bypass defendido pelo SOS Cabedelo na entrada do porto da Figueira da Foz – quando é que finalmente vamos perceber se funciona, se é viável, se faz barulho?!…"

Cravo vermelho ao peito...

Deputada do PS conseguiu fundos europeus para projectos que já estavam concluídos 

"Hortense Martins utilizou a empresa da qual era gerente para receber subsídio de construção para uma unidade de turismo que já estava a funcionar há 24 meses.

 Hortense Martins, deputada do Partido Socialista (PS), conseguiu um subsídio de 171 mil euros em 2010 para a construção de um Centro de Lazer e Turismo Gastronómico, um projecto familiar que já funcionava há dois anos, avança o jornal Público esta segunda-feira.
Em 2013, apenas três anos depois, a deputada, que é líder do PS no distrito de Castelo Branco e mulher do presidente da Câmara local, Luís Correia, conseguiu mais 105 mil euros para uma unidade de turismo que também já estava a funcionar na altura em que a respectiva candidatura foi aprovada.
Segundo o Público, a candidatura para obter financiamento foi feitra através da Investel, empresa da qual Hortense Martins era gerente e que pertencia à família da deputada.
De acordo com o regulamento, a aprovação deste tipo de apoio determina que as despesas efectuadas só podem ser reembolsadas se o investimento em causa não estiver concluído à data de aprovação do pedido de financiamento, escreve o mesmo jornal.
Na presidência da Adraces, uma associação de desenvolvimento regional, responsável pela aprovação dos subsídios estava na altura Arnaldo Brás, vereador na Câmara de Castelo Branco, António Realinho, director executivo e coordenador da equipa técnica da associação que, desde 1992 até agosto do ano passado, acumulou essas funções com as de vice-presidente e com a gerência de múltiplas empresas. Realinho cumpre desde agosto de 2018 uma pena de quatro anos e meio de prisão por burla e falsificação em negócios relacionados com uma das suas empresas.
Ao Público, Hortense Martins não confirmou as reuniões com António Realinho e refere que "nunca contratou os serviços do mesmo". No entanto, o jornal dá conta de mais de uma dúzia de reuniões que foram registadas entre ambos.
A deputada refere ainda que renunciou em 2011 à gerência da Investel."

Europeias...

A menos já de uma semana das eleições europeias temos aí o fado da  abstenção... 
Cantado por aqueles que mais contribuem para o povo mostrar a sua indiferença.
Não venham com a cantilena de que altos níveis de abstenção representam um cartão vermelho, de protesto e de descontentamento contra a política em geral e ao estado a que isto chegou.
Isso é comodismo. Querem protestar, votem em branco, inutilizem o boletim, mas vão lá! 
Abstenções de 60%, 70%, 80%, não são formas de protesto: são apenas, só mais uma forma de mostrar comodismo e o quanto o tuga se desinteressa por aquilo que lhe diz respeito e só ele pode contribuir para melhorar. 
Querem um país democrático?
Votem...

A propósito de reuniões à porta fechada ao público e aos jornalistas

João Portugal, Carlos Monteiro, João Ataíde, Ana Carvalho e António Tavares, são 5 nomes incontornáveis no passado recente da Figueira da Foz.
Uma Câmara Municipal é um órgão democrático do Poder Local, onde o presidente só consegue impôr a sua vontade se tiver o apoio ou a conivência da maioria dos vereadores. 
Gosto de ser rebelde e ter o passo lento, pois tal tem servido  para apreciar melhor o caminho, ter memória e também para  viver mais um bocadinho.

Ricardo Silva vai apresentar proposta para que as duas sessões camarárias voltem a estar disponíveis ao público e aos jornalistas

Imagem sacada daqui
A segunda reunião de câmara ordinária do mês realiza-se hoje, às 15H00. Por isso, será aberta ao público e aos jornalistas. 
Embora a ordem de trabalhos, às 7 horas da manhã de hoje ainda não esteja disponível no site do Município, conforme imagem, via Diário as Beiras, tomámos conhecimento que inclui uma proposta do vereador do PSD Ricardo Silva para que as duas sessões mensais sejam abertas ao público e aos jornalistas, e não apenas a primeira. 
Na sessão de hoje, serão ainda discutidos e votados o projecto de Regulamento do Conselho Municipal de Turismo (ponderação de custos e benefícios), que segue para consulta pública, e a concessão de obra pública para a reabilitação, reconversão e exploração do complexo PiscinaMar (cessão da posição contratual). A construção do Centro Escolar do Bom Sucesso também faz parte da agenda. Aquele ponto refere-se à adjudicação, por 933.526,15 euros (mais IVA), à construtora Marvoense e a nomeação do gestor de contrato.

domingo, 19 de maio de 2019

Lições de um truque

"O truque politiqueiro de António Costa, que deleitou os tudólogos da política e os media, deixa-nos algumas lições sobre o que Costa e Centeno querem fazer connosco depois de outubro. 
1. Voltar a domar a força de trabalho. Se inteiras classes profissionais e uma grande parte dos trabalhadores ganharam novas expectativas quando julgaram que, derrotando a direita, derrotavam a austeridade punitiva, é preciso não lhes conceder vitórias (...) Costa regressou à tradição histórica (Soares, 1976-77 e 1983-85, Sócrates, 2005-11) que do PS conhecíamos demasiadamente bem: se necessário, ofender os direitos e esmagar as expectativas dos grupos sociais que os levaram ao poder, punindo-os com a mesma política e a mesma explicação moral que a direita usa(ria), ao mesmo tempo que se lhes pede gratidão porque com a direita seria ainda pior... 
2. Inscrever Centeno na História como outro mago das Finanças — antes, claro, de ele acabar em Bruxelas, ou num gabinete secundário do BCE, ou, pior um pouco, em alguma consultoria da Goldman Sachs, daquelas que o Norte entrega a um “bom aluno” do Sul para que o guie pelos Suis do mundo. Esta categoria ficcional dos magos das Finanças tem, como sabemos, grande sucesso em Portugal (...) O que Centeno pede a milhões de portugueses com salário e reformas mínimas é que não tentem perceber sequer a enormidade das injeções na banca, mas que se escandalizem com os “privilégios” dos professores, desrespeitadores do resto dos funcionários, dos alunos, dos pais, dirigidos por um “extremista” que é preciso parar definitivamente!"

Manuel Loff, Lições aprendidas, Público

sábado, 18 de maio de 2019

Ganda Berardo...

Mais políticos, não!.. Líderes, sim líderes, é o que precisamos na Figueira.

No fundo, não são os políticos que fazem uma cidade como a Figueira: é uma cidade com a Figueira quem faz os seus políticos.
Para nós, figueirenses, a política é coisa só para os políticos. Só para senhores e senhoras importantes. Precisamos muito de gente melhor do que nós, que tenha estudado, que saiba falar bem, falar estrangeiro até, que seja aparentemente educado, de bom trato e de bom nome. Na Figueira, mais importante que ser é parecer. No fundo, parecer um cavalheiro bem vestido, bem falante, que não tenha os  vícios do povo, a quem possamos chamar senhor doutor  ou senhor  engenheiro. O que seria deste concelho sem os nossos doutores e engenheiros? 
Já imaginaram os figueirinhas sem um senhor para servir? Na Figueira sermos todos iguais?..  Isso não é para nós, na Figueira a política é para os políticos: muita sorte terão suas excelências os políticos se, nós, o povo, formos votar. Temos sempre muita coisa importante para fazer.
Sei que os políticos, quando estão no poder na Figueira nunca gostam de quem coloca o dedo na ferida. Gostam é daqueles que não fazem mais nada senão queixar-se:  seja do estado do concelho, dos políticos  que são todos iguais, do tempo que ora está frio, ora está um calor de rachar, dos roubos dos árbitros de futebol, mas logo que possível colocam-se a jeito se, com isso, puderem mamar uns tostões numa iniciativa promovida pela Câmara...
Dá-me gozo pensar  que a Figueira é uma democracia onde há liberdade de expressão e de pensamento e oportunidades para todos, em especial para os jovens, pois a o estudo e a competência é o critério vigente!.. 
Mas, como não sou tolo, nem destituido de todo, sei que não é assim. Sei, como toda a gente sabe, que os políticos só passam cartucho ao povo em períodos de campanha eleitorial. Os políticos são algo parecido com aquelas mulheres que dizem que o mais importante numa relação é a sinceridade e, a seguir fingem, orgasmos. Tal como na religião, também na política, a Figueira é um concelho de cidadãos não praticantes.
Em resumo, como a crónica do João Vaz, hoje publicada no Diário as Beiras, aponta: a Figueira não precisa de (mais) políticos. Precisa de líderes. 

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Agitação e propaganda a quanto obrigas...

... a crónica desta semana no Diário as Beiras

A Figueira há-de ser dos que têm confiança em si mesmos e a auto-estima no sítio...

Foto: Clara Gil
Gostava de vos ver na praia a perseguir gaivotas. Sem medo...

Ordens Honoríficas, vulgo condecorações...

Aproveitar a maré
(créditos: Jornal de Negócios/LUSA)

"Ultimamente, o líder do PSD não tem dito coisas muito acertadas. O Verão está à porta, com ele a silly season, e Rui Rio está a ver se consegue corrigir a mira, desviando-a dos seus pés.
Não me pareceu por isso desajustada a sua sugestão de que, aproveitando-se o facto de se ir equacionar a retirada das condecorações ao figurão Berardo, se aproveitasse o momento para fazer uma pequena limpeza nas Ordens Honoríficas. Não me parecendo viável dar-lhes um banho à mangueirada com creolina, pois isso seria pouco consentâneo com os nossos princípios, poder-se-ia começar por aí.
Quem nas últimas décadas tem escrito o que escrevi sobre a matéria só pode congratular-se com a sugestão de Rio.
E podiam aproveitar a ocasião para também fazerem uma triagem às que foram atribuídas em Macau antes e depois de 1999 a agradecer favores de vária ordem. É que há para aí mais uns figurões – que nunca deviam ter sido condecorados e que só o foram porque os vapores da pataca eram mais fortes do que os do decência – a pedirem insistentemente que lhes retirem as ditas. Por causa do peso, não é por mais nada.
Se então o fizessem no Dez de Junho, em vez de atribuírem mais uns quantos brindes a tipos de duvidosa estirpe, podiam aproveitar para realizar uma sessão solene, com toda a pompa, a anunciar as que foram retiradas. 
Poderia ser que assim o povão aplaudisse a separação do trigo do joio, se reencontrasse com a Chancelaria e, quem sabe, lhe reconhecesse alguma utilidade prática."

Defender o mar: Miguel Figueira no Parlamento (mais vez)...

quinta-feira, 16 de maio de 2019

O momento de Carlos Monteiro?

Imagem sacada do Diário as Beiras
Quando João Ataíde deixou a Figueira e partiu para Portugal, ficou a certeza de que o óbvio ficaria visível: não podia servir para Portugal o que não servia para a Figueira.
Para o seu lugar, avançou Carlos Monteiro. Politicamente, antes de 2009, de 2001 a 2005, foi membro da Assembleia de Freguesia de S. Julião da Figueira da Foz.  E, de 2005 a 2009, foi membro da Assembleia Municipal da Figueira da Foz. 
Com a ascenção de Carlos Monteiro a presidente, o provincianismo figueirinhas delirou com a ideia de ser um dos seus a limpar o que foi feito por  quem realmente mandou na Figueira, entre outubro de 2009 e abril de 2019.
O resultado de pôr quem não serviu para a freguesia de S. Julião a lidar com um concelho como a Figueira ficará, a meu ver, nos dois próximos anos, cada vez mais visível.
Com a ida de Ataíde para Lisboa, Monteiro teve o seu momento de deslumbramento. A notícia deixou-o eufórico. Tem, segundo ele, motivos para sorrir a bem sorrir: ganhou o dia, senão uma nova vida política. Foi um daqueles momentos raros, um golpe de sorte (também pode ser de azar...) que acontecem por vezes às pessoas e também aos políticos. Daqueles momentos que fazem tudo ganhar objectivo e sentido - toda a espera, toda a paciência, os sapos engolidos e todo o trabalho, finalmente,  a valerem a pena. 
Falta, porém, Monteiro sentir-se validado pelos votantes do concelho. O verdadeiro objectivo do medíocre percurso político de Monteiro, ser aceite por uma sociedade figueirense que sempre o rejeitou.  A derradeira meta é vencer essa rejeição.
Há uma razão que orienta os passos dos políticos. E depois há sempre a razão por detrás da razão. Medo ou coragem. Tudo na vida política passa por aí. Na próxima terça-feira à noite vamos ver o que vale a Figueira pública e visível. É às dez & 10.

"Vemos júris de prémios constituídos por escritores que se premeiam uns aos outros"..

Via jornal i
O mesmo acontece com a multiplicação dos prémios literários, instituídos por editoras, bancos, fundações, câmaras municipais, juntas de freguesias, etc. O que pensa deles?
Não saímos de Camões. Camões morre em 1580 e vai a enterrar num lençol que se vai buscar a casa do Conde de Vimioso. E os Portugueses ficaram, desde então, com o trauma de que pode haver por aí mais escritores geniais a viverem mal. Não queremos repetir a ingratidão do século XVI, o que está bem. Pensa-se então que o melhor é instituir muitos prémios para que os escritores actuais se sintam agasalhados. Para que tenham todos, pelo menos, a oportunidade de ter o seu lençol para descer à terra. Mas a constituição dos júris também me parece reveladora. Vemos júris de prémios constituídos por escritores que se premeiam uns aos outros. Não significa isto que não haja escritores com capacidade de escrutínio. Muito pelo contrário. Mas um escritor é uma figura pública, também ele publica livros e é candidato a prémios. É por isso mais difícil acreditar na sua isenção.
Voltamos a Camões: [os prémios] “Melhor é merecê-los sem os ter, / Que possuí-los sem os merecer”
As entidades que promovem os prémios deviam talvez entender-se entre si. A instituição de um prémio anual parte do princípio de que todos os anos são publicados livros de grande qualidade, que merecem reconhecimento. Ora isso pode não acontecer. Não deveríamos banalizar os prémios. Tenho a ideia de que antes eram iniciativas mais raras e exigentes.

Quem fez Joe Berardo?

Mariana Mortágua, via Jornal de Notícias
José Berardo integrou um exclusivo grupo de banqueiros e gestores que cresceram à sombra do privilégio da finança nos anos da farra bolsista, que construíram fortunas com créditos bancários e rendas do Estado, que beneficiaram do beneplácito geral e da estreita cumplicidade dos meios políticos do bloco central (em que se inclui o CDS).
Zeinal Bava, Hélder Bataglia e José Berardo, todos condecorados pelos seus méritos empresariais. Berardo, no pico da crise acionista do BCP, chegou mesmo a ser considerado pelo comentador Marcelo Rebelo de Sousa a figura empresarial do ano. Uma lista de personalidades que poucos contestaram, e os que se atreveram foram acusados de "preconceito ideológico" contra banqueiros e seus derivados. Uma lista que não pára de aumentar, e à qual podemos acrescentar outros nomes, como o de Ricardo Salgado ou de Nuno Vasconcellos, da Ongoing. Uma lista que saiu muito cara ao país.
O processo de ascensão social e económica de Berardo está ligado ao Estado. Por um lado, a Caixa emprestou mais de 300 milhões para a compra de ações do BCP. Por outro, o Estado aceitou financiar a coleção de quadros de Berardo, pagar as despesas da sua manutenção, e expô-la numa das mais prestigiadas montras culturais do país, valorizando-a. Durante anos o Bloco criticou esse protocolo e questionou o seu preço para as contas públicas, sem sucesso.
Em 2016, já depois de ser pública a penhora de 75% dos títulos da ação Coleção Berardo por três bancos, o Ministério da Cultura renovou o protocolo com a Coleção, afirmando publicamente que não tinha conhecimento de qualquer penhora sobre as obras. Pela mesma altura, José Berardo e o seu advogado punham em prática um golpe jurídico para chamar novos acionistas (por si controlados, suponho) à Associação Coleção Berardo, diluindo a posição dos bancos credores. E como se tudo isto não fosse mau demais, o Estado ainda aceitou perder a opção que tinha de comprar a Coleção a um preço fixo determinado em 2006, tendo agora que se sujeitar à chantagem de Berardo e ao preço de mercado de obras que valorizam graças ao CCB e ao investimento do Estado.
Pelo meio, cumpre dizer que a Fundação José Berardo não pagou impostos pelos lucros que fez em Bolsa porque é, imagine-se, uma IPSS.
As burlas têm de ser julgadas, as dívidas têm de ser cobradas, e os ex-administradores punidos em caso de irregularidades ou gestão danosa. Mas tudo parece pouco para aplacar o sabor amargo da injustiça, num país que insiste em desconfiar mais de pobres que de banqueiros charlatões.

Peço-vos:

nunca confundam pessoas desinteressadas com pessoas desinteressantes...