Andam para aí a espalhar que a democracia é cara.
Eu atrevo-me a dizer mais:
a democracia, além de cara, é complicada.
A democracia precisa
de pessoas conscientes, que sejam saudáveis, tenham passado pela escola e tenham trabalho.
Numa democracia ideal
(eu sei que não existe...), o cidadão com
direito ao voto, também deveria estar em condições de ser ele o eleito e poder estar à
frente dos destinos de uma freguesia, de um concelho ou mesmo do País.
Mas, para isso, era necessário vivermos numa sociedade onde
o direito à saúde, à educação e ao
trabalho fosse acessível a todos.
Só assim será talvez possível um dia termos cidadãos saudavelmente democratas e em condições de promoverem e defenderem a democracia.
Por isso, é preciso uma sociedade onde haja Liberdade a
sério (como disse o Sérgio Godinho: com paz, saúde, habitação, educação,
trabalho...)
Os grandes capitalistas nacionais e internacionais, latifundiários,
generais e ditadores não precisam da democracia para nada - só os atrapalha, prejudica e ameaça.
As sociedades pobres e miseráveis, como a que está a ser
reconstruída em Portugal por este governo - e isso é perigoso - não sabem
sequer para que serve a democracia.
Daí, como dá conta quem anda no dia a dia pela Aldeia e pela
cidade, os danos que todos os dias são infligidos à democracia no nosso país.
Algumas pessoas
chegam ao ponto de abominar a democracia...
Oxalá me engane, mas vamos todos ver os números da abstenção nas eleições de 29
de setembro próximo.
Este é um caminho perigoso. Cada vez os portugueses - nós todos – estamos mais à mercê dos
tiranos, dos brutamontes e dos
desesperados.
Todos os partidos políticos, a meu ver, têm culpas no cartório, pois nunca
se preocuparam em promover a pedagogia
do pensamento crítico no seu interior. Mais ainda: cedo fazem sentir a quem
ousar colocar “pedras na engrenagem da máquina partidária”, que esse produto (a
critica...) deve ser usado com muita moderação e parcimónia. Aliás, o mesmo se passa na
sociedade civil. Quem ousa promover o debate, colocar questões ou exprimir discordância com
o pensamento dominante não é lá muito
bem visto pelos poderes...
Aqui, convém colocar um ponto de ordem ao texto: uma democracia
precisa dos partidos.
Porém, o combate ao populismo, à demagogia, ao oportunismo, aos
aproveitamentos pessoais, enfim, tudo o que tem sido normal na vida política em
Portugal nas últimas duas décadas, pelo menos, combate-se com a limpeza e higiene intelectual em todos os partidos. Ser
inteligente não é ser da esquerda ou da direita...
Ser inteligente é tentar contribuir, dentro das suas
possibilidades e limitações, para que a democracia funcione o melhor possível.