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sábado, 15 de abril de 2023

O Museu do Mar e a Casa dos Pescadores de Buarcos

Da série, Museu do Mar (continuação)...

Em Fevereiro de 2020, tivemos alguns episódios desta série: "que local propõe para a instalação do museu do mar?"
Em Fevereiro de 2022, tivemos em cena novos  episódios desta mesma série: "a Figueira devia ter um Museu do mar?"
Há aqui qualquer coisa fora de tempo: em 2022 questionou-se se "a Figueira deve ter um Museu do mar?"
Então porque é que, em 2020, dois anos antes, se queria saber o local onde deveria ser instalado, se ainda havia dúvidas se a Figueira deve ter um Museu do mar!..

Em Abril de 2023, a Figueira tem um Núcleo Museológico do Mar, sediado em Buarcos, inaugurado a 29 de maio de 2003, pelo então Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio

"Esta unidade museológica nasceu da necessidade - há muito sentida - de recuperar e divulgar algumas das principais memórias históricas e práticas piscatórias mais identificativas das comunidades da orla costeira do concelho da Figueira da Foz."

Todavia, quem o visitou, sabe que aquilo não representa praticamente nada da importância que o mar tem no passado do nosso concelho.

A Figueira merece um Museu do Mar tematicamente adequado, para uma cidade de tantas tradições marítimas. Existem possibilidades de uma parceria entre a Câmara e o CEMAR e a disponibilidade de apoios de várias entidades, entre as quais a Marinha Portuguesa.

O nosso Museu do Mar, se alguma vez chegar a existir, deveria contar as vidas das mulheres e dos homens que viveram do rio, do mar junto à costa portuguesa e dos que se aventuram na faina maior. Contudo, o nosso Museu do Mar teria de contar também a história da fauna e da flora marítima da nossa faixa costeira e a história da actividade industrial e comercial que a Figueira teve com o aproveitamento do mar. 

Existe um projecto, cujo "guião temático e plano de conteúdos, teórico e conceptual, está desde o dia 13 de Setembro de 2018 formalmente entregue pelo Centro de Estudos do Mar à Câmara Municipal da Figueira da Foz (o seu teor textual e iconográfico foi divulgado publicamente...), e que, desde então, ficou bem guardado, em alguma gaveta, pelo respectivo funcionalismo público de "Cultura" e respectivos eleitos político-partidários, ao seu serviço."

Ao que foi denunciado na altura por parte do CEMAR, no tempo da presidência de Carlos Monteiro, houve quem metesse "pedrinhas na engrenagem" ao desenvolvimento do projecto entregue "formalmente em 13 de Setembro de 2018, depois  do desaparecimento do anterior Presidente da CMFF, com quem essa parceria havia sido tratada)."

Chegados aqui, vamos ao que interessa: não seria a Casa dos Pescadores de Buarcos um local interessante a ter em conta para a instalação do futuro Museu do mar da Figueira da Foz de que tanto se tem falado nas últimas décadas?

Imagem via Diário as Beiras

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Da série, Museu do Mar (continuação)...

Em Fevereiro de 2020, tivemos alguns episódios desta série: "que local propõe para a instalação do museu do mar?"
Em Fevereiro de 2022, temos em cena novos  episódios desta mesma série: "a Figueira devia ter um Museu do mar?"
Há aqui qualquer coisa fora de tempo: em 2022 questiona-se se a "a Figueira deve ter um Museu do mar?"
Então porque é que, em 2020, dois anos antes, se queria saber o local onde deveria ser instalado, se ainda há dúvidas se a Figueira deve ter um Museu do mar!..
O que não poupávamos em papel de jornal se a Figueira tivesse mar!..

Lembrando, via Centro de Estudos do Mar e das Navegações Luís de Albuquerque (CEMAR),  esse extraordinário figueirense que foi Manuel Luís Pata.

"Não é demais repetir que, para além das matérias culturais, também nas outras matérias, as do Património Natural e Ambiental (dinâmica sedimentar das areias, porto comercial errado, erosão costeira), foi Manuel Luís Pata quem chamou as coisas pelos seus nomes — chamou bois aos bois... —, pronunciando-se sobre o maior e o mais grave de todos os problemas da Figueira da Foz, o problema que levou à decadência e ao desaparecimento, no todo nacional, desta região e desta Cidade de Mar.

O problema que, ainda hoje (e, agora, mais do que nunca), continua a ser decisivo, momentoso, e grave, para o Presente e o Futuro da Figueira da Foz e da sua praia… Mas perante o qual, em vez de se procurarem e se encontrarem quaisquer soluções verdadeiras e efectivas, só se têm aumentado, acrescentado, e avolumado, os maiores erros vindos do Passado… Assim se agudizando as contradições, eternizando os impasses, e se originando as situações insustentáveis, absolutamente previsíveis, e de extraordinária gravidade (que nenhuma hipocrisia pseudo-"ambientalista" vai poder disfarçar), que cada vez mais se aproximam, nos desenlaces do futuro próximo dessa "Praia da Calamidade" que é, infelizmente, a da Figueira da Foz.

Em suma, para além da dramática gravidade da catástrofe cultural que é o estado de destruição, abandono, e desprezo, do Património Cultural e Histórico Marítimo da Figueira da Foz (uma área em que este homem, só, absolutamente autodidacta, e descendente de Pescadores, fez o que pôde, e fez muito, somente com os seus próprios meios, enfrentando todas as contrariedades que lhe foram movidas nos círculos que eram supostos defender e preservar esse Património Cultural), também acerca da calamidade ambiental irresolúvel em que a Figueira da Foz desde há décadas se encontra sepultada (com toda a gente a fingir que não vê, quando a areia, tanta, está à frente dos olhos…) foi Manuel Luís Pata quem tomou sempre posição pública, voluntariosamente, corajosamente, à sua maneira.
Foi ele quem disse o essencial: "a Figueira da Foz virou costas ao Mar…!".

É essa coragem que distingue a verdadeira intervenção e serviço de utilidade pública (e da parte de quem nem sequer recebe, para fazer tal intervenção cultural ou ambiental, quaisquer remunerações, reformas, etc., pagas com dinheiro público…!). É a coragem de quem tenta voluntariosamente ser útil à sua terra, metendo ombros a tarefas e a obras que são trabalhosas e meritórias (em vez de viver simplesmente em agrados e ambições de carreirismo pessoal, em intrigas políticas fáceis, nos bastidores, acotovelando à esquerda e à direita, à sombra do poder do momento). É a coragem de quem é capaz de se pronunciar, não menos voluntariosamente, sobre tudo o que é verdadeiramente importante, não receando, para isso, tocar nas feridas dos assuntos verdadeiramente graves e polémicos (em vez de mostrar a cara em artigos de jornal para escrever sobre insignificâncias pessoais e diletantismos, "culturais", pseudo-"progressistas").
É a coragem — típica de Pescador…? (mesmo quando um pouco brusca…?) — de quem é capaz de tentar mesmo fazer alguma coisa, a sério (mesmo que não consiga…)… e, para isso, é capaz de tentar enfrentar, de frente, qualquer vaga, seja de que tipo for. Em vez de viver no (e do) manhoso tacticismo, no (e do) elogio mútuo, no (e do) tráfico de influências, nos bastidores do poder que anseia e rodeia, e ao qual espera chegar rodeando.
Enquanto todos os verdadeiros problemas, os do Presente e do Futuro, culturais ou ambientais, ficam por resolver (e, por isso, se agravam)… e todos os verdadeiros patrimónios, os do Passado, culturais ou ambientais, se vão perdendo com o tempo ("como neve diante do sol")... Enquanto as nuvens negras das catástrofes, quer culturais e sociais, quer ambientais e ecológicas, se avolumam, em dias de sol, no horizonte próximo.

A Cultura e a Natureza estão, talvez, estranha e paradoxalmente ligadas de uma forma muito íntima, de maneira muito simbólica: quem sabe se, um dia, na luxuosa pobreza extrema, e na merecida desgraça última, quando se enfrentar as vagas assassinas de um tsunami que venha a devastar uma área de ocupação humana ao nível do mar — mas… será possível que haja alguém que, em pleno século XXI, esteja a querer legitimar ("ecologicamente"…!!!), e a, assim, adensar e avolumar (!) uma ocupação humana (dita "turística", e "cultural"… e, até, "ambiental"…! [e, na verdade, pré-imobiliária…?!]) ao nível do mar…?! —, irá ser lembrada, e recordada, com saudade, a geometria fina e a silhueta esguia, cortante, dos antigos "Barcos-da-Arte" ("Barcos-do-Mar"), em "meia-lua"… Que, nesse dia, já não existirão… nem existirá ninguém que os saiba construir...! (embora, provavelmente, vá continuar a existir gente funcionária e política, paga com dinheiro público, que estará pronta para tentar continuar a viver à custa dessas tais matérias, "culturais", e "ambientais", dos barcos antigos, e das praias ecológicas…).

Com o nosso Exº. Amigo Senhor Manuel Luís Pata, aprendemos, há muito tempo, o lema que ele sempre proclama (e que nós sempre repetimos): "O Mar não gosta de cobardes… não gosta de quem lhe vira as costas…"."

sábado, 22 de fevereiro de 2020

Da série, Museu do Mar... (5)

Museu do nosso mar
 
"Não tenho dúvidas: a localização do futuro museu do mar deverá ser no Cabo Mondego. Por razões muito simples.
1. A infraestrutura já está parcialmente construída, sendo as antigas instalações da fábrica de cal perfeitas para isso. 2. Iniciar-se-á o processo de requalificação e construção da ligação entre a Murtinheira e o Teimoso, criando, assim, uma ligação vital para o norte do concelho. 3. Instalaríamos o museu num local com um património geológico e biológico único no nosso país.Pa ra mim, a dúvida já nem é o local, mas sim o foco do futuro museu do mar. Afinal de que mar iremos falar? Em que ramo científico ligado ao mar vamos basear o nosso museu? As hipóteses são inúmeras, mas tentar falar de todo o mar pode ser um de-sidrato difícil de alcançar com qualidade. Não é por acaso que a nossa Exposição Mundial, a Expo 98, se dedicou à água e aos oceanos, sendo certo que, até aí, ficou muito por explorar.
Dado que é impossível falar de todo o mar, considero que os principais temas do nosso museu deverão ser a ligação da Figueira ao mar, ou seja, como é que a proximidade do mar influenciou o desenvolvimento humano na Figueira da Foz, abordando as vivências dos pescadores, a evolução do porto comercial, o desenvolvimento do turismo balnear e os primeiros vestígios de desenvolvimento humano.
2. A singularidade do património natural do Cabo Mondego, procurando “repatriar” alguns dos achados geológicos e biológicos encontrados no Cabo Mondego.
3. Deverá haver uma sensibilização significativa no que toca às questões ambientais, transmitindo aos futuros visitantes o estado chocante a que chegaram algumas regiões dos nossos oceanos.
O museu do mar irá ser um polo de atração de visitas de estudo e de curiosos relativamente ao nosso mar. Mas o museu do mar irá ser também o primeiro passo para abrir novamente o Cabo Mondego aos figueirenses, um património singular, que infelizmente temos vindo a perder."


Via Diário as Beiras

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Da série, Museu do Mar... (4)

Histórias do mar
"Um museu do mar terá de contar as histórias das mulheres e dos homens que viveram do mar. Dos que se aventuravam pelas ondas adentro como o meu avô Aureliano Curado e de todas aquelas e aqueles que em terra faziam tudo para que a faina corresse pelo melhor. Mas o museu do mar terá de contar também a história da fauna e da flora marítima da nossa faixa costeira. 
Desde o tempo em que baleias e delfins abundavam na nossa costa (vendia-se carne de delfim no mercado da Figueira no início do século XX) até aos dias de hoje onde restam apenas espécies de pequeno porte (sardinha, carapau, cavala e pouco mais). A estreita e frágil faixa costeira com nutrientes para a fauna marinha resume-se à placa continental submersa de apenas algumas milhas de extensão. As profundas placas oceânicas são consideravelmente estéreis e com muito pouco interesse para a pesca. Quem visitar o museu terá de ganhar consciência destas questões. Uma boa referência para um museu deste tipo é o Museu Marítimo de Ílhavo e o excelente trabalho da equipa coordenada por Álvaro Garrido que deu ao museu uma dimensão digital, espalhando pelo mundo as histórias dos nossos pescadores. Foi assim que encontrei a ficha do meu avô Aureliano no portal Homens e Navios do Bacalhau. A minha família que se encontra espalhada pelo mundo, da Costa de Lavos à Austrália, emocionou-se depois de uns meros cliques, descobrindo fotografias e histórias que desconhecíamos dos nossos antepassados que se fi zeram ao mar. Um museu assim terá de se relacionar forçosamente com o mar. Certamente, teremos arquitetos capazes de concretizar de uma forma sublime essa união entre terra e mar. Há um conceito que considero particularmente simpático, que é a requalificação de edifícios degradados para novos espaços. Neste particular, serão boas opções o antigo posto da GNR em Buarcos ou a antiga fábrica do Cabo Mondego. No entanto, seria importante descentralizar este museu a outros lugares de memória nas restantes localidades costeiras do concelho, como já podemos encontrar na Casa dos Pescadores da Costa de Lavos."

Via Diário as Beiras

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Da série, Museu do Mar...

MARE ficus

"O Museu do Mar tem que ser diferente.
Arrojado, inovador, divertido, interativo, oferendo uma experiência sensorial inigualável ao visitante.
Tem que ter dimensão mundial. Somente assim haverá capacidade de mobilizar pessoas do país e do
estrangeiro para o visitar.
Deverá ser um Museu dentro de água, imerso por mar.
Cabo Mondego? A estudar bem, mas à primeira vista parece haver potencial para se tornar nesse espaço que almejamos, um ponto de encontro entre o Mar e a Terra, onde se possamos desfrutar de uma nova perspetiva sobre os elementos que nos rodeiam.
Transformar a Figueira da Foz numa terra de mar, com rio e serra, entre investigação e bons restaurantes de peixe é quase uma aposta na sobrevivência do terceiro setor, serviços ligados ao conhecimento e à diversão. E aqui o Museu do Mar poderá desempenhar um papel fundamental,
exercer um papel pedagógico sobre os riscos que “o Mar” enfrenta, desde as alterações climáticas à
pesca excessiva. Mais do que isso, a Figueira poderia ser hipoteticamente a “capital da costa Ocidental portuguesa”, entre Lisboa e o Porto, não há nenhum cidade com a dimensão e escala da Figueira. Aveiro está afastada da praia.
Peniche e Nazaré não têm dimensão nem escala.
Sonho alto, porque não sei se haverá dinheiro num futuro próximo. O município da Figueira da Foz
tem gasto muito dinheiro em apoios a telenovelas, balneários, rotundas, obras de duvidosa valia,…etc., são 100 mil Euros aqui mais 50 mil acolá, e os fundos desaparecem.
E a Figueira não deve regressar ao passado, como está a acontecer agora, tem que se voltar para
o futuro com uma visão própria, apostando nas suas vantagens competitivas, enquanto território
com condições naturais privilegiadas. O Museu do Mar pode ser parte da necessária mudança que
queremos, reinventando a Figueira."

Via Diário as Beiras

Nota OUTRA MARGEM, UM BLOGUE QUE VEM DE DE LONGE: O último bacalhoeiro da Figueira da Foz
Construído na Holanda, em 1949-50, com o nome "SOTO MAIOR", passou a chamar-se JOSÉ CAÇÃO em 1974. 
Com o declínio das pescas portuguesas, após adesão à União Europeia, houve uma tentativa de transformar este navio em museu, mas sem o apoio da Câmara da Figueira presidida então por Santana Lopes, acabou na sucata por volta de 2002-2003. 

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Da série, Museu do Mar... (2)

 Começar pelo telhado

"Ou porque é preciso fazer uma “prova de vida”, ou para criar um “facto político”, ou porque se julga mais fácil e eventualmente menos impopular tentar justificar o erro com uma distração do que reconhecê-lo, ou ainda porque a opinião pública fica efetivamente convencida de determinada realização, não quando ela o é de facto mas apenas porque foi (sucessivamente) anunciada, nesta Figueira política já deixou de ser surpreendente a pirueta, a inércia e a leviandade, até porque o povo (o que ainda vai votar) parece gostar e estar satisfeito.  Entendo que uma forma séria de abordar a questão da instalação de um Museu do Mar não pode começar pelo local, mas pela resposta assertiva às seguintes perguntas prévias: Há um claro e estratégico consenso no concelho da Figueira sobre o que deve ser, hoje, um Museu? Há um espólio, material e imaterial, que justifique um Museu do Mar “da Figueira”? Há uma vontade política, social, económica e cultural abrangente, que envolva todos os players, relativamente à necessidade de construção de um Museu do Mar? Já foi feito algum estudo sobre o esforço necessário para a concretização deste desiderato e respetivo impacte (económico, fi nanceiro, cultural, social)? A CIM-Região de Coimbra é/fará parte do projeto? O Turismo Centro Portugal já foi contactado? E o Ministério da Cultura, sabe? Algum dos pré-auto-envolvidos na “discussão” (os presidentes das Juntas de Buarcos e São Julião e de São Pedro e o presidente da Câmara), além de terem divulgado “que já têm um local”, realizou alguma reunião (de trabalho, estratégica ou sequer para auscultação) sobre o assunto?
Não tenho dúvida em afirmar que a resposta é um “não” a (quase) todas as perguntas atrás formuladas, pelo que mal vai um concelho no qual a falta de desígnio proporciona a continuação desta tendência para começar a casa pelo telhado, com as consequências que todos estamos a ver."


Via Diário as Beiras 

Nota via OUTRA MARGEM. 
Na altura, comprar o Palácio de Maiorca, o Convento de Seiça e fazer o Caríbe foram  as prioridades...
Estávamos em 1998 na Figueira da Foz.
Santana Lopes tinha tomado posse de presidente da Câmara Municipal há poucos meses.
Com o apoio do Centro de Estudos do Mar - CEMAR, uma comissão de cidadãos (constituída por Manuel Luís Pata - que, então, estava a publicar os seus livros sobre a Figueira da Foz e a Pesca do Bacalhau, e já era associado do CEMAR - e pelos últimos Capitães figueirenses desse navio: o Capitão Marques Guerra e o Capitão Abreu da Silva) desenvolveu esforços para tentar salvar da destruição e da sucata o último de todos os navios bacalhoeiros da Figueira da Foz (o "José Cação", antigo "Sotto Mayor").
Com o declínio das pescas portuguesas, fruto em grande parte da adesão à União Europeia, após o falhanço da tentativa levada a cabo nos anos de 1998 e 1999 de transformar este navio em museu - a Câmara da Figueira presidida então por Santana Lopes não apoiou a iniciativa da sociedade civil - o “José Cação” acabou na sucata por volta de 2002-2003.
Recordo, um pequeno excerto de uma  interessante crónica de Manuel Luís Pata, publicada no jornal O Figueirense, em 2.11.207.
"A pesca do bacalhau foi a indústria que mais contribuiu para o desenvolvimento da Figueira da Foz. Nas campanhas de 1913/14 foi este o porto que mais navios enviou à Terra Nova (15 navios), ou seja, quase metade de toda a frota nacional. Hoje o que resta? Nada de nada!”
Foi assim que as coisas se passaram, mas tudo poderia ter sido diferente. Recordo as palavras do vereador então responsável, Miguel Almeida de seu nome: “esta proposta (a oferta do navio que o dr. António Cação fez em devido tempo à Câmara Municipal da Figueira da Foz, presidida na altura por Santana Lopes) foi o pior que nos podia ter acontecido”.
Como disse na altura Manuel Luís Pata, “nem toda a gente entende que na construção do futuro é necessário guardar a memória”
E, assim,  o “José Cação” foi para a sucata. Como sublinhou Álvaro Abreu da Silva, o seu último Capitão, "foi e levou com ele, nos ferros retorcidos em que se tornou, a memória das águas que sulcou e dos homens que na sua amurada se debruçaram para vislumbrar os oceanos”.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Da série, Museu do Mar... (3)

Finalmente o museu do mar

"A Figueira da Foz e a sua costa desde sempre tiveram um vínculo estreito ao oceano, principalmente pelas actividades piscatórias, da longínqua pesca do bacalhau nos mares gelados do norte, passando pelo arrasto, pelas traineiras de relativa proximidade, não esquecendo as artes e a pesca fluvial, a curta distância da foz do rio, também ele “mar”, misturadas as suas águas com as salgadas que o recebem no final da “viagem”, e também por via do turismo.
A existência de um museu que recolha o espólio relacionado com a ligação umbilical que temos ao mar, é um imperativo e a ideia da sua implantação só peca por tardia mas muito bem vinda e desejo ardentemente que realidade a curto prazo. Onde “nascer”? Recentemente assistimos a contradições por parte de dirigentes autárquicos sobre o assunto, dando-se a impressão de que cada um “puxa a brasa à sua sardinha”, rivalizando incompreensivelmente. O futuro museu do mar e o próprio mar não são propriedade exclusiva de ninguém, mas património de todos. Então a localização da estrutura deverá acontecer num sítio que sintamos também como património comum. Nenhum local me parece ter este carisma que não o Cabo Mondego. Quando pisamos aqueles lugares sentimonos em casa. Parecem-me os mais adequados para o propósito, criando-se um sítio museológico de larga importância, com a rota dos dinossauros ali patente, condições de excelência. Entendo que a distância do núcleo urbano e as acessibilidades poderão constituir dificuldades mas havendo genuína vontade, do longe se faz perto, do difícil se faz fácil. Necessário será um esforço financeiro mas tal não pode levantar-se como entrave. Falamos de cultura e não de simples entretenimento. Não poderão ser esquecidas as facetas menos felizes da nossa ligação marítima, designadamente as memórias das tragédias, do naufrágio do “Nova Leirosa” ao “Olívia Ribau”. Outro factor a acautelar será a preservação do Núcleo Museológico do Mar, em Buarcos, peça emblemática da cultura do município, com tantas provas dadas, nomeadamente no seu serviço educativo."


Via Diário as Beiras

quinta-feira, 16 de julho de 2020

A CELEBRAÇÃO E O SILENCIAMENTO DO CEMAR, NA FIGUEIRA DA FOZ DO MONDEGO, NOS 25 ANOS DA SUA CRIAÇÃO NESTA CIDADE (2019-2020)

(Comunicado e Nota de Informação -15 de Julho de 2020)

Alfredo Pinheiro Marques
"Neste ano de 2020 completam-se 25 anos desde a criação, na cidade da Foz do Mondego, do Centro de Estudos do Mar e das Navegações Luís de Albuquerque - CEMAR.
Nos últimos meses, desde Março, deveria ter continuado em curso, se tal tivesse sido possível, o ciclo dos Encontros do Mar 2020 através do qual o CEMAR, com um elenco vastíssimo e qualificadíssimo de conferencistas, semana após semana, ao longo do ano inteiro de 2020, tinha começado a fazer a celebração dessa efeméride dos 25 anos da sua fundação — um ciclo que, no entanto, infelizmente, só pôde ser efectivado nas suas primeiras oito semanas, de Janeiro a Março, quando a suspensão desses Encontros teve que ser pelo CEMAR publicamente anunciada (em comunicado e nota de informação datado de 12 de Março e então enviado aos participantes e ao público em geral) devido à gravidade da situação de saúde pública, internacional, europeia, e nacional, originada pela pandemia do SARS-CoV-2 (Coronavirus) e consequente desaconselhamento da realização de qualquer espécie de evento público.

A esse imperativo geral de racionalidade e legalidade amplamente tido em conta no país e no mundo (de se suspenderem eventos que pudessem contribuir para o agravamento da situação de pandemia), somou-se, no entanto, também, para além disso, neste caso particular da suspensão do Ciclo Comemorativo na Cidade da Figueira da Foz dos 25 Anos do CEMAR (2020), o facto de, neste caso e nesta cidade, estar agora em curso em 2019-2020 uma ampla série de situações estranhíssimas e escandalosas (somando-se a muitas outras, também não menos estranhas, e graves, que já vinham do passado, ao longo dos vinte e cinco anos anteriores), protagonizadas pela entidade pública da administração autárquica desta cidade, a entidade chamada Câmara Municipal da Figueira da Foz (CMFF), no trato havido da parte dessa entidade pública local (seu funcionalismo público, e seus eleitos político-partidários) para com o CEMAR. Para com o CEMAR que, como ninguém ignora, é a mais significativa, duradoura, e produtiva (qualitativa e quantitativamente) de todas as associações científicas, culturais e editoriais (e com estatuto de utilidade pública) desde sempre existentes na história desta cidade. Para com o CEMAR, em geral, e sobretudo agora para com a celebração dos seus 25 Anos, e a criação do Museu do Mar na Figueira da Foz, em particular, nestes anos 2019-2020.

Dando um último exemplo de paciência, o CEMAR não quis deixar de conceder, nestes anos de 2019-2020 — desde 09.07.2019... e até ao dia em que se completou um ano exacto desde essa data (na semana passada, em 09.07.2020 —), uma última oportunidade para que essa entidade da administração pública local da Figueira da Foz, através do seu actual Exº. Sr. Presidente de Câmara, tivesse podido apresentar, institucionalmente, se o tivesse querido fazer, as suas explicações, desculpas, e reparações, por todas e cada uma dessas situações em geral, que vinham do passado (ao longo dos últimos 25 anos), e sobretudo agora pelas situações mais recentes, em particular, ocorridas nas vésperas e na efectivação desta Celebração dos 25 Anos do CEMAR, nomeadamente o silenciamento censório, encerramento ao olhar do público, e posterior desmontagem (encerramento em 09.07.2019, exactamente na semana anterior a poder começar a ter público significativo, no início da “saison” figueirense de 2019…!!!), da grande exposição sobre a figura histórica do Infante Dom Pedro de Coimbra e de Buarcos, vinda do Tribunal da Relação de Coimbra, que era um contributo embrionário para o MUSEU DO MAR na Figueira da Foz; bem como as inadmissíveis atitudes praticadas da parte dessa Câmara Municipal para com o Ciclo dos Encontros do Mar 2020 durante as oito semanas em que esse ciclo esteve em curso, e até mesmo, por fim — última gota de água, vergonhosa —, para com o acto público da inauguração, no dia 27.01.2020, da exposição CEMAR 1995-2020 — Vinte e Cinco Anos - Na Beira, do Mar. O acto público, no Theatro Trindade de Buarcos, através do qual foi celebrado, ao fim de quarenta minutos de espera (!), com a ausência da CMFF (!), o dia exacto da criação do CEMAR, a mais significativa, duradoura e produtiva de todas as associações científicas, culturais e editoriais alguma vez criadas e mantidas na cidade da Foz do Mondego (criada em 27.01.1995, por escritura pública assinada no Salão Nobre da CMFF, e tendo, então, na época, essa Câmara Municipal a presidir à sua Assembleia Geral).

Este foi o nosso último exemplo de paciência, até Julho de 2020. A partir do qual pela parte desta associação científica privada sem fins lucrativos, com estatuto de utilidade pública, se vai passar a exigir que pela parte dessa entidade da administração pública autárquica do Estado Português chamada CMFF ­— do seu funcionalismo público, dito de Cultura, instalado nos seus respectivos Serviços, ditos de Cultura, do Museu Municipal existente… e por parte dos seus sucessivos eleitos político-partidários, ao seu serviço —, sejam apresentadas as suas explicações, desculpas, e reparações.
Explicações, desculpas, e reparações, por todas e cada uma das situações que já vinham do passado (e são bem graves, durante vinte e cinco anos…), e sobretudo agora pelas situações que estão neste momento pendentes, no presente: as atitudes de discriminação, silenciamento censório, e torpedeamento insidioso, de tudo aquilo que diga ou possa dizer respeito ao CEMAR. Sobretudo a criação do Museu do Mar… em relação ao qual existe uma parceria entre a CMFF e o CEMAR (com um projecto entregue formalmente desde 13 de Setembro de 2018), mas que, na verdade, como já se percebeu, há quem queira impedi-lo a todo o custo (desde o desaparecimento do anterior Presidente da CMFF, com quem essa parceria havia sido tratada)."

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Da série, top figueirense (feijoada de búzios e piscinas)... (2)

Dez longos meses

"Um dos sinais do atraso de uma região é a sua incapacidade de definir um desígnio, logo, por extensão, de não conseguir estabelecer uma estratégia, e portanto não fazer a mínima ideia de como gerir os recursos existentes internamente, muito menos de perceber como alocar os disponíveis à sua volta.
Não é preciso grande atenção para perceber que na Figueira dos últimos anos as ideias são apresentadas por impulso - sobretudo de calendário partidário e pessoal (e não obedecendo a uma lógica, muito menos pensando em sustentabilidade) – e têm sempre um travo amargo de cópia provinciana, de deja vu… são uns passadiços e um GeoParque no Cabo Mondego “como os de Arouca/do Paiva”, um Museu do Mar “como o de Ílhavo”, uma piscina de marés “como a de Matosinhos”…
A freguesia de Buarcos e São Julião tem uma piscina coberta? Não, só existe a do Ginásio Club Figueirense, mas enquanto se vão trocando acusações vai valendo umas inaugurações de supermercados. 
A piscina de mar da Figueira, edifício projetado por Isaías Cardoso e inaugurado em 1953, considerado, em 2002, património de interesse público pela sua arquitetura, está abandonado e sem que a Câmara pareça interessar-se em encontrar uma solução? Sim, mas o que é que isso interessa?
Mais uma vez, foi atirada há alguns dias a ideia da construção de uma piscina de marés, sem que se tenha realizado qualquer estudo geológico, de impacto (ambiental, económico, social), ou que alguém tenha apresentado um valor dos recursos exigidos para a concretização do projecto ou sequer da localização exata da construção, a qual teria necessariamente de evidenciar a ação do Homem sobre a natureza sem a ofuscar nem beliscar.
Ora, uma vez que esta construção visaria dotar a Figueira de mais um produto turístico (entendido enquanto resultado dos recursos naturais e culturais e os serviços  disponibilizados num espaço geográfico delimitado) na época “alta”, não seria mais avisado investir em produtos que tragam turistas na época “baixa” (dez longos meses…) e que proporcionem melhores condições de vida a quem cá reside e/ou trabalha todo o ano?"

Via Diário as Beiras

Nota OUTRA MARGEM
"na Figueira dos últimos anos as ideias são apresentadas por impulso - sobretudo de calendário partidário e pessoal (e não obedecendo a uma lógica, muito menos pensando em sustentabilidade) – e têm sempre um travo amargo de cópia provinciana, de deja vu… são uns passadiços e um GeoParque no Cabo Mondego “como os de Arouca/do Paiva”, um Museu do Mar “como o de Ílhavo”, uma piscina de marés “como a de Matosinhos”

FIGUEIRA, CAPITAL DO PLÁGIO? E NINGUÉM INVESTIGA?
As vozes dissonantes e desalinhadas, portanto, incómodas, são cada vez mais tidas em conta. 
Daí, o exercício da Cidadania preocupar tanto poderes que utilizam sistemas de governar falidos.
Na Figueira é sempre carnaval. Até no passado sábado e domingo...

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Ainda não é desta que a Figueira vai voltar a estar cheia encher de estudantes...

* Espera-se que a iniciativa tenha êxito. Porém, isso vai depender do número de matrículas...

* São cursos para  técnico superior profissional. 2 anos lectivos, o que não dá direito a uma licenciatura.

Fonte: Diário as Beiras

"Foi  assinado  ontem o protocolo que abre caminho a cursos profissionais superiores, que arrancam no próximo ano lectivo na Escola Secundária Bernardino Machado. Serão leccionados  pelo  Instituto  Superior de Engenharia de Coimbra (ISEC), ao abrigo de uma parceria que envolve a autarquia, a Associação Comercial e Industrial da Figueira da Foz (ACIFF) e a Bernardino Machado.
Os três  cursos que vão ser ministrados (eletromecânica, robótica, manutenção industrial e sistemas informáticos), não conferem licenciatura, mas garantem acesso directo àquele grau académico, com equivalência em diversas cadeiras. As aulas serão leccionadas em horário pós-laboral. Cada turma terá um mínimo de 20 alunos. Este é, porém, um indicador, pois a tutela do ensino superior pode autorizar que os cursos arranquem com menos alunos.
O presidente da ACIFF foi o primeiro a usar da palavra, após a assinatura do protocolo.
“Está identificada a lacuna dos quadros intermédios das empresas”,  disse Nuno Lopes. Para o dirigente da estrutura patronal, os cursos do ISEC irão colmatar aquela falta.
O director da Bernardino Machado, Pedro Mota Curto, frisou que a escola deverá ser a única em Portugal a cumprir a directiva da União Europeia segundo a qual as escolas da rede pública europeias devem ter metade dos alunos a frequentar o ensino profissional. A contextualização de Pedro Mota Curto serviu para reforçar a vocação histórica daquela escola para cursos técnico-profissionais.  Neste  momento, a Secundária Bernardino  Machado  tem seis cursos profissionais, distribuídos por 20 turmas, e os alunos têm emprego garantido. Aliás, a procura, por parte das entidades patronais, é superior à oferta. “Sabemos das necessidades das empresas”, afirmou ainda Mota Curto.
O presidente do ISEC, Mário Velindro, começou por recordar: “já houve uma série de tentativas de colaborar com escolas da Figueira da Foz, mas, por um outro motivo, não foi possível”.  “Espero que seja o primeiro de muitos projectos que temos pela frente”,  afirmou o responsável do ISEC.
Por sua vez, o presidente da Câmara da Figueira da Foz, Carlos Monteiro, iniciou a sua intervenção lembrando que, este mês, foi aprovado o protocolo com o Instituto de Emprego e Formação profissional para a cedência do Sítio das Artes para a instalação de um pólo de formação. Por isso, e se for aprovada a candidatura para a expansão da Zona Industrial,  destacou, “2020 pode ser um ano importante para a Figueira da Foz”. E porque a indústria exige mão de obra especializada, o autarca defendeu: “Não faz sentido não termos recursos humanos o mais possível qualificados”
Em resposta aos jornalistas, Carlos Monteiro defendeu que, “se houver condições para o futuro museu do mar”, a Escola do Mar poderá ser instalada junto ao equipamento. Há vários anos que o Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra procura um espaço na cidade para instalar aquela valência. Entretanto, com os cursos do ISEC, a Figueira da Foz passará a ter o ciclo completo de ensino profissional, incluindo pós-graduações, mestrados  e  doutoramentos do Marefoz."

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Da série, top figueirense (feijoada de búzios e piscinas)...

Marés

"Sim, a Figueira precisa de uma piscina na cidade. 
Toda a gente concorda. 
Mas, uma piscina de marés com a nossa água fria é um outro desafio. 
Ninguém gosta de tomar banho de água fria quando pode ter água quente. Portanto, ter uma piscina que aproveita a água das marés, vinda do mar ou do rio, não é um investimento com retorno garantido, pelo contrário, o risco de insucesso é elevado. A não ser que haja investidores privados que consigam. 
Em 2020, será exequível fazer um “remake” das piscinas de Leça da Plameira desenhadas por Siza Vieira? As pessoas aderem? Não sei, tenho dúvidas e não gostaria de ver o município a investir dinheiro público numa aventura destas. Visitei este verão na Galiza, concretamente na cidade de Ourense, piscinas naturais com água quente termal, algumas públicas junto ao rio Minho, outras privadas no meio de parques ou da cidade. 
Há toda uma tradição e um conforto em piscinas termais, com água quente, que não existe nas piscinas de marés. As pessoas aderem tanto de verão como de inverno. 
Antes de pensar em piscinas de marés deveríamos responder aos desafios do património municipal abandonado. 
Ou património que não está a ser rentabilizado, como por exemplo o Museu do Sal. 
Sempre que levo amigos e turistas ao Museu está fechado. Azar? Não, apenas um modelo ultrapassado de gestão com dias de abertura e horários desencontrados com as condições físicas do local. 
Há tanto a fazer para melhorar o património…"

Via Diário as Beiras 

Nota OUTRA MARGEM  
É penoso e embaraça cumprir o papel de figueirense realista e desiludido, que não se entusiasma com o que não existe. 
Consola-me saber, porém, que o desespero da triste realidade, pelo menos, é um sentimento seleto. Exige sofisticação. Não é para todos. 
Já a felicidade dos contentinhos, a meu ver, é um sentimento pobre. Tem mesmo, parece-me, qualquer coisa de fácil e vulgar. Está ao alcance de toda a gente. 
Na Figueira, parece, quase toda a gente é bestialmente feliz. Quase toda a gente vive num concelho maravilhoso. 
Não conheço muita gente como eu: infeliz e preocupada.
Não sei se foi por me sentir um pouco solitário neste meu estar: gostei de ler esta crónica de João Vaz.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Onde ficou o respeito pela história da Cova e Gala e pela memória da homenagem aos pescadores da faina maior?..

Sexta-feira, 10 de julho de 2009. Nesse dia, pelas 16 horas, no Clube Mocidade Covense, com a abertura da Exposição alusiva à pesca do Bacalhau, teve início a homenagem aos marítimos covagalenses promovida pela Junta de Freguesia de São Pedro.
Igualmente nesse dia, em continuação do programa, decorreu na mesma Colectividade, uma palestra sobre a temática da pesca do bacalhau, proferida pelo dr. Alfredo Pinheiro Marques, Director do Centro de Estudos do Mar.
No dia seguinte, sábado, também no Clube Mocidade Covense, prosseguiu a Exposição e houve passagem de filmes.
Finalmente, no domingo, dia 12, o evento teve o seu último dia, com o seguinte programa: Missa na Capela de São Pedro, pelas 11 horas, por alma dos marítimos covagaleneses já falecidos. Seguiu-se a inauguração do monumento do pescador do bacalhau, na rotunda da entrada norte da freguesia e um almoço volante, aberto a toda a população, no Largo da Borda do Rio.
Foi este o programa. 10, 11 e 12 de Julho de 2009, foram os dias, o mês e o ano escolhidos pela Junta de freguesia de São Pedro para a realização da homenagem aos marítimos covagalenses.
Sou filho, neto e bisneto de pescadores - alguns do bacalhau. Sei o que foi a pesca do bacalhau: uma autêntica escravatura. 
"Maus tratos, má comida, má dormida... Trabalhavam vinte horas, com quatro horas de descanso e isto, durante seis meses. A fragilidade das embarcações ameaçava a vida dos tripulantes". 
A iniciativa não corrigiu a injustiça. Mas fez-se uma coisa bela e digna na Aldeia. Portanto, o mínimo que se esperava era que o monumento a  recordar estes heróis fosse preservado e alvo de respeito por quem de direito.
Foi o que não aconteceu.

Em tempo.
Como demonstrei aqui, em 7 de Dezembro de 2009, a Vila de S. Pedro não existe.
A Vila de São Pedro, criada em 5 de Junho de 2009, é a “a povoação de São Pedro ( uma coisa que não existe!..), no concelho da Figueira da Foz, distrito de Coimbra, elevada à categoria de Vila”
Se duvidam disto, leiam o Diário da República nº. 150, 1ª. Série, Lei nº. 58/2009. 
O projecto de lei que foi aparente e alegadamente redigido, e seguramente assinado, pelo então deputado Miguel Almeida, foi um oportunismo político.
Faltavam 6 meses para eleições legislativas e estavam a começar por aquela altura as jogadas e as influências para a constituição das listas de candidatos a deputados. Era necessário para o então senhor deputado Miguel Almeida mostrar serviço – fosse o que fosse - para ver se conseguia um lugarzito nas listas.
Compreende-se – a vida custa a todos -  mas não pode ficar sem registo a demagogia e o provincianismo ridículo da iniciativa.
A freguesia de S. Pedro faz parte da cidade e da malha urbana da cidade da Figueira da Foz
Da cidade da Figueira da Foz fazem igualmente parte as freguesias de Buarcos, de S. Julião, de Tavarede. Tal qual como a cidade de Lisboa contem as freguesias da Madragoa, de Alvalade ou de Belém.
Alguém está a ver o presidente da freguesia de Belém a reivindicar que Belém passasse a ser vila, porque está nela a Torre, o museu dos coches ou a pastelaria dos pastéis de Belém. Ou até, porque, vejam lá, tem Presidente da República?..
Recorde-se: a freguesia de S. Pedro passou a vila, porque tem uma pizzaria, uma farmácia, não sei quantas cabeleireiras, uns tantos restaurantes, porto de pesca, boas praias, zona industrial, Hospital...
E se alguém se lembrasse de propor a despromoção da cidade da Figueira?
Acham utópico?...  
Não tem Hospital, está  à beira mar, mas não tem porto de pesca,  nem tem indústria, tem areal, mas não tem praia...
Passados todos estes anos, a  única consequência que  resultou para S. Pedro com a condecoração de vila, foi  o enorme gozo que o então presidente da junta certamente teve ao inaugurar a rotunda “Vila de S. Pedro” num sítio um tanto ou quanto fora dos circuitos rodoviários mais intensos da freguesia.
Palavra que estava a esperar que à entrada da freguesia de S. Pedro, ali logo à saída da ponte dos arcos, houvesse algo  a indicar que estávamos na  “Vila de S. Pedro”.
Tardou. Mas, como sei do que a casa gasta sabia que não falhariam. E não falharam.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Ainda a campanha "A Figueira que já não é só da Foz"...

"... alguns dos figueirenses continuam a não perceber a ideia e contexto desta campanha criada pela agência de comunicação Creation.
A campanha de promoção nesta primeira fase surge com Outdoors espalhados pela cidade, porém a relação imagem/texto em parte deles não se entende. Por exemplo, neste Outdoor que está na entrada da cidade onde é mencionado "Figueira dos Museus", a imagem que pinta o mesmo é referente ao Museu do Louvre, Paris, França. Também os Outoors referentes ao mar "Figueira do Molhe Norte", "do escritório", etc, são complementados com as mais belas ondas tubulares do Oceano Indico. Quem também surge a surfar nos Açores, na Ilha Terceira, é o medalha de bronze, nos Mundiais de Bodybaord ISA - 2011 Luís "Porkito" Pereira, "Figueira do Porkito", que numa primeira fase nem era a imagem do próprio que estava no site.
Esta relação de imagem em que algo está para algo para alguém, está a deixar os figueirenses confusos."
Via Pedro Cruz

Nota de rodapé.
Atentem e deliciem-se com este comentário do Pedro Rodrigues. Como sempre uma prosa acutilante e  um humor crítico fora de série.  Mais: na minha opinião absolutamente brilhante.
"Do 5° molhe? O sítio mais negligenciado pela Câmara da Figueira da (...)? Está boa essa! Pelo menos preocupam-se com a saúde visual da malta: contrataram oftalmologistas para criarem estes outdoors."

segunda-feira, 16 de março de 2020

Da série, numa cidade de grandes manifestações culturais, a começar pelos grandiosos carnavais, é necessário alienar as pessoas com propaganda sobre "teatro municipal"?

Teatro Municipal
"Algumas dos meus colegas cronistas têm tendência para dizer que “sim” a toda e qualquer construção de nova infraestrutura. Contudo, o paraíso económico, a prosperidade ilimitada, recursos infinitos, o Estado que investe sem “rei nem roque” é obviamente uma falácia. Não existe tal possibilidade orçamental, não podemos ter tudo, piscina municipal, piscina de marés, museu do mar, teatro municipal, etc. Isto num país altamente endividado e num concelho ainda a pagar as dívidas contraídas no final dos anos 90, início deste século. Portanto, dizer que “sim a tudo” é querer ficar bem na fotografia, “enganando” os leitores quanto à viabilidade a curto prazo de tanto investimento em infraestruturas. Um Teatro Municipal na Figueira da Foz? Não faz muito sentido, temos o CAE, dezenas de coletividades e alguns espaços municipais onde é possível fazer teatro. O “Teatro Municipal” já existe, situa-se onde há grupos a representar. Uma parte fica no Sítio das Artes, onde o Páteo das Galinhas dinamizou nos últimos anos dezenas de peças e milhares de horas de atividade teatral. Deve-se este fulgor à iniciativa de um grupo de pessoas que amam o teatro, com particular destaque para a “Bé” Cardoso (recentemente falecida) – uma mulher comprometida com as artes e que deu um grande impulso ao teatro amador na Figueira da Foz. Para estes amadores não é necessário muito apoio institucional, muito menos um edifício pomposo a dizer “Teatro Municipal”. Precisam sim de um “Sítio das Artes”, polos de criação artística com capazes de criar sinergias entre pessoas, albergando diferentes grupos com interesses diversos. Termino este artigo com uma referência oportuna ao grupo cénico da Sociedade Boa União Alhadense. Um outro bom exemplo de “Teatro Municipal”. Fazem teatro sem esperar que haja grandes apoios, dando vida aos vetustos edifícios de várias coletividades mostrando aí a sua arte."
Via Diário as Beiras

Nota OUTRA MARGEM.
Importante era conseguir que o verão passasse a ser em Fevereiro. Até na Figueira, o frio esfria. Problema -  e grande -, pois o evento é ao ar livre, é o facto das temperaturas baixas incomodarem os seres humanos, na altura do desfile do carnaval...  Como a nossa temperatura corporal é cerca de 37 graus, sentimo-nos mais confortáveis em temperaturas amenas. Para mais num descampado frente ao mar! Na Figueira, o desfile do carnaval, costuma acontecer em demoníaca trindade de chuva, vento e frio. No Verão está calor e não chove; na Primavera está ameno e, às vezes, chove; no Outono está ameno e, frequentemente, chove; e no Inverno está frio e chove – muitas e muitas vezes. Importante, era conseguir que o o Verão passasse a ser em Fevereiro na Figueira!..
O limite, na Figueira, não é o céu.
O limite, pode ser o simples facto de, na Figueira, ser sempre carnaval.
Na Figueira, esse sonho tem sido possível...
Portanto, nada mais natural, que este executivo camarário se sinta  na obrigação de mantê-lo e assegurar o engenho e arte de o ir tornando realizável. A ele, ao carnaval... Não ao desnecessário teatro municipal.
E ainda bem que assim pensa quem de direito. 
A vida são dois dias, o carnaval são três e a saúde é um estado transitório que não augura nada de bom! 
E enquanto o pau vai e vem, folgam as costas.
Que continue o Carnaval. Viva o carnaval!