Adelino Agostinho: venceu a luta quotidiana dos pescadores quando embarcavam nos seus frágeis dóris, nas suas jornadas extremamente perigosas, em busca do cobiçado bacalhau. Teve o espírito de perseverança e resiliência dos pescadores portugueses, que enfrentavam tempestades e condições adversas, mantendo viva uma tradição secular. Com a sua morte, perdeu-se mais um pouco da memória da pesca do bacalhau à linha, com dóris de um só homem, uma heróica, mas sofrida singularidade portuguesa. Isto, para deixar bem claro, que a epopeia do bacalhau na Cova e Gala e Buarcos é um património que deveria fazer parte da memória colectiva dos figueirenses.
Para quem tiver curiosidade pela História, recomendo que leia “Nos Mares do Fim do Mundo”, de Bernardo Santareno, uma obra literária que toca o universo denso de um dramaturgo e que foi inspirada na sua experiência pessoal, enquanto médico, na Faina Maior.
O livro faz-nos lembrar um navio fantasma que surge inesperadamente, mas pintado de fresco, e mais carregado. E nele regressam Artur Braga, que bebeu o sangue de um cão para não enlouquecer de sede após dias à deriva no mar; Zé Pinto, que se sonhou nas profundezas do oceano, horas antes de desaparecer para sempre, nas águas geladas da Gronelândia; e Rosa Bailão, que, reza a lenda, atirou foguetes para celebrar a chegada de um lugre bacalhoeiro onde afinal já não vinha o seu homem. Nele voltamos a reencontrar também os verdes, aprendizes de pescadores impreparados para lidar com o amor e com a morte, e maduros, como Ti Zé Caçoilo, que, longe dos seus amores, a enfrentaram, à morte, sozinhos nos seus botes, dezenas de vezes e viveram para contá-lo a um médico e escritor que navegou com eles, e com as suas histórias, Nos Mares do Fim do Mundo.
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