"Dá ideia que as estatísticas se revoltaram contra a política portuguesa e aí as temos, num tumultuoso desfile contestatário, denunciando 30 anos de conluio de interesses entre três partidos governantes e as respectivas clientelas. E o resultado é a pobreza extrema que ameaça agora, no mais elementar dos direitos de subsistência, os que já eram pobres mas também a classe média.
Quarenta por cento dos novos pobres portugueses são desempregados ou endividados que anteriormente não viviam na pobreza. É assim Portugal, campeão europeu da desigualdade: novos portugueses e os mesmos ricos, acrescidos de uma casta de novos-ricos que proliferam na babugem dos velhos donos do País, cada vez mais ricos."
No entanto, "reina a calma na panela de pressão".
Texto extraído da crónica "Inexorável", de João Paulo Guerra, que pode ser lida na íntegra aqui.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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