Foto de Pedro Cruz, sacada daqui
“Os lugares também têm traços próprios que fazem com que uma fotografia captada em determinado lugar específico seja única e irrepetível noutro espaço, dando valor acrescentado à beleza da diversidade. Na Figueira, poderemos sinalizar algumas marcas identitárias das quais se destaca a paisagem moldada na amenidade do estuário, no recorte da enseada e no dorso suave da Serra, dispondo de um invulgar e amplo sistema de vistas para todos os quadrantes. Esta é, com efeito, uma mais valia oferecida pela bondade da natureza, numa harmonia generosa que importa proteger e potenciar em termos económicos e culturais. Assim sendo, não podemos ceder às pressões imediatistas dos que querem plantar “prédios e apartamentos encavalitados com vista para o mar, para onde fazemos desaguar os esgotos de todas aquelas casas numa cacafonia urbanística que não nos distingue de todos os outros sítios” como escreveu Luísa Schmidt. Não é por uma mera questão de gosto ou por fundamentalismo de qualquer tipo. É a racionalidade de vivermos e promovermos o território como um recurso finito que, como tal, precisa de uma delicada gestão e de olhar profundo.
O amontoado de construções de manhosa qualidade arquitectónica que trepam desde o Cabo Mondego até meia encosta da Serra, ou as incríveis enxertias fora de escala do edifício Atlântico e do inacreditável prédio do vale do Galante, são tristes exemplos de como se desperdiça, impunemente, o valor de uma marca singular, permitindo-se, ao invés, a degradação do edificado centenário sobranceiro ao mar.”
Texto de Pedro Melo Biscaia, com a devida vénia, sacado daqui.
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