domingo, 26 de novembro de 2023
Afinal, quem deu cabo da Geringonça?
sábado, 25 de novembro de 2023
Tragédia
Via Delito de Opinião
"Membro do partido do poder, Davyd Arakhamia participou nas negociações com os russos no início da guerra. Este importante dirigente de Kiev veio agora reconhecer em público que havia um acordo que previa paz em troca de neutralidade, mas Kiev recuou, após pressões do PM britânico, Boris Johnson. O que queriam os russos? A garantia de que a Ucrânia não entraria na NATO. Isto aconteceu em Março de 2022, era conhecido, mas foi agora explicado na própria televisão ucraniana. Qual era então a soberania dos ucranianos? Nenhuma, mas o apoio europeu baseou-se no argumento de que Kiev tem o direito de proteger a sua soberania. Milhares de mortos depois, a guerra está a correr mal: na frente, há centenas de baixas diárias e os soldados têm falta de munições. Há informações sobre motins, descontentamento, desvio de armas, corrupção em larga escala, grandes dificuldades em vários locais. Sem opções, com um bloqueio de estradas na Polónia, o governo de Kiev tenta a fuga para a frente e está a recrutar mulheres, adolescentes e velhos. A estratégia ocidental de apoiar a Ucrânia por quanto tempo fosse necessário deu origem a uma tragédia com milhões de refugiados e ao colapso de um país que enfrenta a derrota iminente."
Imagem IA: Bing image creator
Primeiro a Liberdade e, depois, a Democacia, são conquistas do 25 de Abril!
Os partidos políticos eram proibidos.
O sistema eleitoral era uma farsa.
Os homens jovens eram obrigados a combater na Guerra Colonial em Angola, Moçambique e Guiné, em nome de um império que já não fazia sentido.
As mulheres precisavam da autorização dos maridos para viajarem.
Só em Lisboa, viviam 90 mil pessoas em barracas em 1970.
Boa altura para olhar para as mudanças vindas com a revolução.
Temos 50 anos de democracia atrás de nós, já é tempo de sermos crescidinhos e não andarmos por aqui com mentiras e caricaturas.
O 25 de abril de 1974 mudou Portugal
Antes de 25 de Abril de 1974 o nosso País vivia num regime de ditadura. Não exisitia liberdade. Foi na madrugada desse dia que o movimento dos capitães, encabeçado por Salgueiro Maia, saiu à rua e colocou um ponto final no regime.
Quase não houve tiros ou confrontos, algo raro num golpe militar, o que fez com que a revolução portuguesa ficasse conhecida como a revolução dos cravos, pois estas perfumadas flores vermelhas foram colocadas no cano das espingardas e distribuídas pelo povo que enchia as ruas numa explosão de alegria.
Agora, todos os maiores de 18 podem votar, não temos a polícia política, a PIDE, que tinha informadores em todo o lado para escutar conversas das pessoas. Agora, podemos falar na rua, mesmo que seja em grupo.
Contudo, os legados do 25 de Abril que as pessoas mais valorizam, têm a ver com o Estado social: habitação, educação, assistência médica. São associados à democratização e ao que o 25 de Abril trouxe especificamente de positivo.
Por isso, é que foram sempre tão atacadas pelos partidos de direita.
Apesar dos recuos civilizacionais, é preciso defender o principal significado do 25 de Abril para os portugueses: a democratização, que a criação de um regime democrático trouxe a Portugal.
Vale a pena recordar que apenas 15% consideram que aplicar o programa da troika foi essencial para salvar o regime, ao passo que 43% pensam que isso contribuiu para o destruir.
Passados todos estes anos há ainda muitos portugueses que não esqueceram o impacto do programa da troika no regime democrático e nas nossas vidas.
O 25 de Abril de 1974 continua a ser o símbolo da vontade dos portugueses em criar uma sociedade mais justa e mais solidária, com dimensões sociais importantes.
Hoje é dia 25 de Novembro de 2023.
sexta-feira, 24 de novembro de 2023
No PS, os esquerdistas acabam sempre no centro
«Cara leitora, caro leitor:
Não me entusiasma minimamente esta discussão sobre o "centrismo" que anima por estes dias o PS. É o problema de já não ter 40 anos: já vi quase todos os protagonistas em todo o lado.
Quando eu era miúda, Jorge Sampaio era da esquerda do partido contra António Guterres, um espécime mais à direita. Embora, anos antes, os dois representassem – com Vítor Constâncio – uma ala mais à esquerda do que Mário Soares. Tanto foi assim que Luísa Melo, então mulher de António Guterres, apoiou a candidatura presidencial de Salgado Zenha contra Mário Soares, na época da ala direita. Guterres tinha que apoiar Soares por razões políticas, mas era, tal como a mulher, um fidelíssimo de Zenha.
Quando Mário Soares abandonou o partido havia um candidato da ala direita – Jaime Gama – que perdeu para os dois primeiros da "ala esquerda": Vítor Constâncio e Jorge Sampaio.
Quando foi o confronto Sampaio-Guterres, já Guterres era da ala direita, tendo ir buscar ao velho gamismo Armando Vara. Na sua equipa, tinha dois jovens considerados prodígios, António José Seguro e José Sócrates.
Na campanha de Jorge Sampaio ficou um seu delfim, o jovem António Costa – que tinha feito o estágio de advocacia no escritório que Sampaio partilhava com o seu tio. Havia mais "esquerdistas" com Sampaio: Alberto Martins, João Cravinho, Vera Jardim e Ferro Rodrigues.
Costa foi depois ministro de Guterres e, após o PS ganhar as eleições, acabou, nas reuniões do Conselho de Ministros, a fazer uma dupla de ministros azougados com o ainda jovem Sócrates, que vinha da ala direita. Os dois irritavam-se muito, contava-se na época, com a dificuldade de Guterres em decidir.
Quando Guterres se demite é preciso arranjar um candidato muito depressa. A coisa foi decidida em "petit comité". Era para ser o centrista Jaime Gama, a avançar, mas depois recua, e acaba a candidatar-se o esquerdista Ferro Rodrigues, que junta na sua direcção a esquerdista Ana Gomes, o esquerdista Paulo Pedroso, o jovem esquerdista (hoje eventualmente centrista) Pedro Adão e Silva.
Ferro Rodrigues viria a ser em 2015 o primeiro símbolo da geringonça – a maioria de esquerda do Parlamento elegeu-o seu presidente. Sem tomar posição nesta disputa interna, Ferro hoje está cheio de dúvidas sobre a solução da geringonça. "Quando hoje se põe dentro do PS como bandeira o ressuscitar dessa experiência, é conveniente que quem a queira ressuscitar faça um balanço da parte positiva e da parte negativa", disse esta semana ao Observador.
Voltando ao passado: quando Sócrates decide avançar em 2005, Costa apoia-o. É célebre o encontro em que Costa combinou com Sócrates que a sua geração não haveria de repetir a guerra fratricida entre Sampaio e Guterres em 1992. Manuel Alegre avançou contra Sócrates, representando a ala esquerda – um dos apoiantes de Alegre chamava-se Augusto Santos Silva, hoje um "centrista" que apoia José Luís Carneiro.
Quando o reinado de Sócrates chega ao fim, confrontam-se Francisco Assis e António José Seguro. Assis era um centrista que foi apoiado por quase todos os notáveis que tinham estado com Sócrates, incluindo o outrora esquerdista António Costa.
António José Seguro, que era da ala direita no tempo Guterres/Sampaio, passaria em 2011 para a ala esquerda contra o centrista Assis. Seguro tinha o apoio das federações exaustas com o socratismo e do dirigente federativo Pedro Nuno Santos (na época não tão notável assim), do notável esquerdista de sempre Alberto Martins e de um dirigente, então presidente da Câmara de Baião, chamado José Luís Carneiro. Em 2011, Pedro Nuno e Carneiro estavam os dois juntos na ala segurista.
Só que então aparece um esquerdista, António Costa, que já o tinha sido (com Sampaio), deixado de ser (apoiando Sócrates e Assis) e voltado a assumir o "esquerdismo" quando decidiu candidatar-se contra António José Seguro, transformado subitamente no "direitista" do PS – por ter aprovado o Tratado Orçamental, por exemplo.
Na entrevista que deu ao PÚBLICO, José Luís Carneiro diz que "a marca" de Pedro Nuno Santos "é o enclausuramento à esquerda". Enquanto isto, Pedro Nuno Santos – o negociador da geringonça – anda a esforçar por ser o mais branco possível sobre as suas relações com os partidos à esquerda. E se, enquanto comentador, defendia que o excedente orçamental servisse para pagar a médicos e professores, mal apresentou a candidatura deixou de explorar o assunto.
Pedro Nuno entrou no Largo do Rato para anunciar a candidatura de mão dada com Francisco Assis – que esteve contra a geringonça – e fez ontem um "número de campanha" a almoçar no Hospital de Santa Maria, alegadamente para debater propostas para a saúde com o presidente da SEDES, Álvaro Beleza, que esteve na direcção de António José Seguro. A SEDES é um think tank que defende propostas essencialmente de direita.
O problema é que tudo isto é fado. E o fado chama-se pertença à União Europeia, onde, como dizia há pouco tempo a constitucionalista Teresa Violante ao PÚBLICO, o eleitorado está condenado a escolher entre "um programa coca-cola e um programa pepsi-cola".
Alguém está a ver o PS, seja dirigido por Pedro Nuno Santos ou por José Luís Carneiro, a não cumprir qualquer compromisso europeu? A Europa só aceita políticas centristas (viu-se com o Syriza no poder na Grécia). Achar que vem aí a revolução com Pedro Nuno Santos é um argumento para "épater les bourgeois". Simplesmente, a revolução é impossível e o "esquerdista" acabará centrista como todos os membros da ala esquerda que o precederam.»
Saúde Pública. Laboratório falsificava análises com água fervida e desinfetada
Soube-se, que a Polícia Judiciária "deteve 20 pessoas e realizou 60 buscas a entidades públicas e privadas, no âmbito de uma investigação por falsificação de análises de água destinada ao consumo humano".
Segundo a PJ, a Operação Gota D'água "tem por objeto a atividade fraudulenta de um laboratório responsável pela colheita e análise de águas" destinadas a consumo humano, águas residuais, águas balneares, piscinas, captações, ribeiras, furos e poços, estando em causa crimes de abuso de poder, falsidade informática, falsificação de documento agravado, associação criminosa, prevaricação, propagação de doença e falsificação de receituário.
O laboratório envolvido nesta investigação por falsificação de análises de água destinada ao consumo humano é do distrito de Bragança e pretendia, com aquela alegada prática, ganhos económicos e corresponder aos pedidos dos clientes, adiantou a PJ/Vila Real. Segundo o “Notícias de Coimbra”, que cita o DN, a "entidade em causa é o Laboratório Regional de Trás-os-Montes, onde um dos gestores revela no Linkedin que é ”Member of the board” da Águas da Figueira, SA."
Segundo este jornal lisboeta "a gestão está a cargo de João Feliciano, que acumula com o cargo de CEO da AGS, Alexandre Vilarinho, que é igualmente vereador da Câmara de Macedo de Cavaleiros e presidente da Assembleia Intermunicipal da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, e ainda Francisco Morais."
No seu perfil no Linkedin Francico Morais confirma que é “manager do LRTM | Laboratório Regional de Trás-os-Montes e ” Member of the board” daÁguas da Figueira, SA, entre outros e outras.
A Água da Figueira é detida em partes iguais pela Aquapor - Serviços, S.A. e pela referida AGS - Administração e Gestão de Sistemas de Salubridade, SA.
“A atividade da Águas da Figueira começou em março de 1999, após a celebração do Contrato de Concessão dos Sistemas de Captação, Tratamento e Distribuição de Água e de Recolha, Transporte e Tratamento dos Efluentes do Concelho da Figueira da Foz”.
"Contactadas pelo Notícias de Coimbra, a Águas da Figueira S.A e a Câmara Municipal da Figueira da Foz não quiseram responder se foram alvo de buscas ou se foi detido ou constituído arguido algum dirigente ou funcionário no âmbito desta Operação Gota D´água.
Tendo em conta que o comunicado da PJ falava em buscas em Coimbra, o Notícias de Coimbra também questionou a AC – Águas de Coimbra EM e a Águas do Centro Litoral, empresas que descartaram o seu envolvimento na operação policial que marcou o dia informativo."
O PREC e a destruição do “capitalismo do Estado Novo”
Via Expresso
quinta-feira, 23 de novembro de 2023
"Insólito, triste e grave."
O incendiário Ventura aproveita a onda e continua por aí à solta...
Santana deve ter tido azar no dia que escolheu para a visita...
“Estávamos ausentes da Figueira da Foz devido a compromissos previamente assumidos, mas estaremos disponíveis para visitar o Paço de Maiorca e participar em todas as discussões [sobre o seu futuro]”, afiançou a líder dos vereadores socialistas, Diana Rodrigues, ao DIÁRIO AS BEIRAS.
“Lamento não ter aparecido, mas compromissos familiares impediram-me de participar na visita ao Paço de Maiorca. Se houver uma nova oportunidade para visitar o Paço de Maiorca, farei os possíveis para ir”, afirmou ao mesmo jornal o deputado municipal do PS Nuno Melo Biscaia. Por outro lado, o autarca socialista ressalvou que “não houve nenhuma orientação do partido [sobre quem devia participar na visita]”, já que “foi dada liberdade”.
Está em causa a falsificação de análises de água destinada ao consumo humano
Recorde-se que a Polícia Judiciária (PJ) de Vila Real anunciou ontem que realizou 60 buscas domiciliárias e não domiciliárias, que visaram diversos particulares, empresas e entidades públicas, em diferentes concelhos do território nacional, entre os quais, Coimbra.
quarta-feira, 22 de novembro de 2023
Um grande texto sobre o tempo que estamos a viver, que merece ser lido com atenção
"UMA REFLEXÃO SOBRE O TEMPO QUE ESTAMOS A VIVER", publicada por A. Galopim de Carvalho no blogue Rerum Natura é um texto que, a meu ver, merece leitura atenta.
«Estamos a viver um tempo altamente preocupante, não só a nível internacional, como cá dentro deste “torrão” de iliteracia de quase tudo, mercê de um sistema educativo que deu e dá diplomas, mas não deu nem dá esse tudo que tanta falta nos faz.
O poder do feiticeiro reside da ignorância dos seus irmãos tribais. Quer isto dizer que, quanto mais inculto for o povo, mais facilmente é dominado e, até, desprezado pelo poder.
Tornámo-nos um país caído nas lutas entre aparelhos partidários, onde emergem políticos incompetentes e oportunistas, de que a nossa sociedade está cheia, onde, de há muito, impera a corrupção, o vírus do futebol profissional e a promiscuidade entre a política, o poder económico e a justiça.
Ao aproximar-se a data de comemorarmos os 50 anos de liberdade (apenas a de expressão, reunião, criação de partidos, associações e coisas assim) é com um sentimento de profunda decepção que me dou conta deste grande número de anos desaproveitados. É por demais evidente que não soubemos aproveitar a liberdade que nos foi oferecida, para erradicarmos muitos dos nossos atavismos civilizacionais e culturais. “O que é preciso é ter bons padrinhos”. “O gajo é que foi esperto, amanhou-se. Entrou de mãos a abanar e hoje anda de Mercedes”. “Estudar para quê? O que interessa é esperteza p’ró o negócio”. “São 230 euros, mas se for sem recibo, a gente fecha os olhos e só pagas 180”. “Quanto mais cedo vier a reforma, melhor”. Estas e outras frases e atitudes do desenrascanço, do enganar o Estado ou o patrão, ainda perduram em muitos dos nossos compatriotas.
Como já escrevi tantas vezes e volto a escrever a generalidade da classe política a quem os Capitães de Abril, há quase 50 anos, generosa, honradamente e de “mão beijada” entregaram os nossos destinos, mais interessada nas lutas partidárias, nos compadrios e nas vantagens do poder, esqueceu-se completamente de facultar aos cidadãos cultura civilizacional, científica e humanística. Esqueceu-se? Ou entendeu que havia outras prioridades?
É evidente que a revolução iniciada com o 25 de Abril de 1974 nos trouxe grandes progressos materiais e sociais, por demais apontados, mas muito aquém do que poderia ter sido se as competências e as vontades tivessem sido outras. Mas pouco ou nada mudámos nas mentalidades. Vimos um vislumbre de um real propósito de elevação do nível cultural e cívico dos portugueses no fugaz e efémero programa da 5.ª Divisão de Estado-Maior-General das Forças Armadas, chefiada pelo saudoso primeiro-tenente médico Ramiro Correia, mas não vimos nada que se lhe comparasse em nenhum dos governos constitucionais destes cinquenta anos de democracia. Fez-nos falta a honestidade, o pensamento e a vontade de servir de Melo Antunes, o “capitão de Abril” que nos deixou cedo demais.
À semelhança do sempre esquecido mundo rural, as nossas cidades têm, ainda, uma lamentável percentagem de analfabetos funcionais, a par de uma classe média a que a escola não deu a educação, a formação e a preparação essenciais a uma cidadania plena, antes. Uma escola que, desde há muito, por falta de visão política, atravessa uma crise, sem solução à vista, As conquistas na segurança social, nos cuidados de saúde, na ciência, no ensino e no apoio à cultura conseguidas na vivência em democracia que se seguiu à Revolução dos Cravos, estão a fugir da nossa vida colectiva como areia por entre os dedos. Só a justiça se mantém intacta no seu pedestal.
Perdemos uma parte significativa da independência nacional e assistimos à asfixia e destruição de muitas das nossas valências económicas. Estamos a viver tempos de miséria e, até, de fome para um número cada vez maior de famílias, de miserável abandono dos idosos, de corrupção descarada e impune e de aumento do número e da riqueza dos ricos. A chamada classe média está a afundar-se, o desemprego está a ressurgir e é mais um incentivo crescente à igualmente dramática emigração de uma juventude qualificada.
Tudo isto e mais alguma coisa foi sabiamente previsto por Natália Correia (1923-1993), grande portuguesa, que deixou nome na poesia e na política (deputada à Assembleia da República entre 1980 e 1991). Estou muito longe de ter lido a obra desta saudosa açoriana de São Miguel, mas o que li, em especial, poesia, sempre me mostrou, pela excelência do conteúdo e da forma, a mulher com quem tive o privilégio de conviver nos últimos anos da sua vida. Quando a procurei, em começos da década de 90 eu era um profissional, a tempo inteiro, com 30 anos de dedicação exclusiva a uma ciência demasiado terra-a-terra - a geologia - em busca de um outro caminho que tinha o dela e de muitos outros mestres da palavra, por modelo. Prenderam-me a esta lutadora a intransigência com que defendia a liberdade, a solidariedade, a justiça e a cultura, o desassombro, a elevação e a beleza, a força e a energia, que usou na palavra falada e escrita, características que sempre igualei às do também grande e saudoso Ary dos Santos.
Apraz-me aqui e agora transcrever, pelo que têm de impressionante realismo, algumas premonições desta grande Senhora, trazidas a público por Fernando Dacosta em “O Botequim da Liberdade” (Casa das Letras, 2013). "Portugal vai entrar num tempo de subcultura, de retrocesso cultural, como toda a Europa, todo o Ocidente". “O Serviço Nacional de Saúde, a maior conquista do 25 de Abril, e Estado Social e a independência nacional sofrerão gravíssimas rupturas. Abandonados, os idosos vão definhar, morrer, por falta de assistência e de comida”. "Os neoliberais vão tentar destruir os sistemas sociais existentes, sobretudo os dirigidos aos idosos.
Só me espanta que perante esta realidade ainda haja pessoas a pôr gente neste desgraçado mundo e votos neste reaccionário centrão". "As primeiras décadas do próximo milénio serão terríveis. Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência, abater-se-ão aqui por muito tempo”. “Espoliada, a classe média declinará, só haverá muito ricos e muito pobres”.»
Morreu o encenador Carlos Avilez
O actor e encenador foi fundador do Teatro Experimental de Cascais (TEC) em 1965.
Apesar de toda a devoção do Ventura, o Chega não caíu do céu...
"... o que faz crescer o Chega e todos os partidos como o Chega é a raiva de ver como os lucros de oligopólios como os da banca crescem exponencialmente à custa dos clientes, pela via das prestações de crédito maximizadas pelos decretos do BCE e pela cartelização de juros dos depósitos a prazo, e de constatar como o esbulho fiscal é desviado da Saúde, da Educação e do restante Estado social, todos eles em falência absoluta apesar de serem a contrapartida da cobrança de impostos no contrato social que os Governos rasgaram unilateralmente.
Viu-se por aí uma onda de gente a festejar a revisão em alta da classificação da dívida portuguesa por parte de uma agência de rating, uma empresa privada à qual é permitido ter voz activa na formação de preços no mercado de dívida pública. Só isto já seria razão suficiente para não ter nada para festejar. Mas a agência justifica o seu veredicto na solidez que o sector financeiro alcançou com os lucros que enraivecem e com aquilo a que, do ponto de vista meramente orçamental, nos habituámos a ouvir chamar “contas certas” mas que, do ponto de vista do utente, é a completa insuficiência com que se depara quem necessite de recorrer a um serviço público, mais raiva.
É a própria agência de rating a estabelecer a relação. Festejar o novo rating da dívida portuguesa é festejar os lucros escandalosos de sectores como o financeiro e é festejar a ruína de um Estado social que nunca foi nenhum luxo. Não é possível festejar uma coisa sem festejar também a outra. Uma é a causa e a outra é a consequência. São as duas faces da mesmíssima moeda. Festejá-lo é ignorar a raiva que faz crescer os monstros da extrema-direita. Corresponder ao convite ao voto nos seus partidos de líderes partidários que convivem com lucros escandalosos parasitados a quem de repente se viu sem dinheiro para a prestação da casita com a mesma indiferença com que vão arruinando tudo o que é público pode adiar o fenómeno Chega durante uma, duas, três eleições, mas a raiva fica por aí a fermentar.
Até ao dia em que as pessoas sentirem que já não têm quase nada a perder e se deixem encantar pelo salvador da Pátria que consiga capitalizar o seu desencanto em votos. Votar em quem vai governando a maior transferência de riqueza dos de baixo para os de cima de que há memória é sempre assim que termina."