Antes do mais, um ponto prévio. Anda por aí muita gente "zangada comigo". Nada que já não soubesse. Temos pena, mas este estado de coisas está para durar. Como escreveu Paulo Francis. Vamos ao debate realizado ontem à noite no Casino Figueira.
Não tendo sido nada de particularmente entusiasmante, foi oportuno e esclarecedor. Sobretudo, deu par colocar em primeiro plano a crise figueirense.
Mais e melhor ainda: deixou a nu a complexidade da crise e do momento e ponto político em que se encontra o concelho, mostrando que a Figueira vai "continuar a definhar" e que este estado de anomia vai ser demorado e, portanto, perigoso.
Enquanto os “optimistas profissionais” não entenderem algumas coisas, nada vai mudar. A meu ver, entre muitas outras coisas, o seguinte:
1. que o mal não é o pessimismo, mas a estagnação e o atraso;
2. que o mal não é a desconfiança, mas os embustes criados por ficções políticas constantes e continuadas;
3. que o mal não é a descrença, mas a incompetência já amplamente demonstrada por quem tem governado a autarquia figueirense;
4. que o mal não é a falta de desenvolvimento, mas a permanência no poder de quem o tem bloqueado;
5. que o mal não são os problemas do mundo ou de Portugal, mas a incapacidade figueirense para lutar para vencer os nossos próprios problemas - e são muitos.
6. Só começaremos a dar a volta a isto, quando os figueirenses tomarem consciência do estado a que a Figueira chegou.
7. Para isso é preciso coragem. Desde logo, dizer a verdade e não propagandear histórias de ficção.
A crise da Figueira, em 2021, é, antes de tudo, anímica e política.
O concelho vive há quase 5 décadas dominado por um clientelismo que tudo tem triturado e devorado. O objectivo é a “ocupação” do poder autárquico.
Numa cidade e num concelho com falta de saídas profissionais para os jovens - o problema demográfico existente é elucidativo - praticamente só a ocupação do poder autárquico permite o acesso a tantos empregos, a tantas oportunidades de conseguir "tachos" e tantos jogos de influência.
Tirando os 12 anos de hegemonia do PSD - de 1997 a 2009 -, na Figueira o PS tem governado e repartido os lugares pela sua clientela.
Nestas eleições, no fundamental, é isso que está em causa para este PS de Carlos Monteiro.
Os outros partidos - tirando os tais 12 anos de PSD, que fez o mesmo que o PS tem feito desde a década de 80 do século passado - sem horizontes próximos de assunção de responsabilidades, limitam-se a constatar por parte do poder autárquico, aquilo que com a minha conhecida bonomia classificaria como a inexistência de capacidade para realizar (ou para dar para a realizar) obra, o que demonstra uma confrangedora e ingénua incompetência e um latente equívoco sobre as prioridades.
Por isso mesmo, o debate de ontem à noite, foi oportuno e esclarecedor. Em 2021, na Figueira, a poucos dias de umas eleições autárquicas, fora do arrivismo, da fantasia ou do sofisma, vai-se reduzindo perigosamente o espaço para a verdade e para a acção política séria. Citando Séneca: "Quando se navega sem destino, nenhum vento é favorável."
A democracia, assim, é um engano e em breve teremos mais uma terrível desilusão. Há quase 50 anos que temos para usar a "arma do povo" - O VOTO - e não saímos disto: o clientelismo partidário encontra um aliado decisivo no “partido do poder”. Sem "poder", não há votos suficientes. Sem votos não há “ocupação do poder”. Sem "ocupação do poder" não há distribuição de benesses.
Como sair disto em 2021: com Santana Lopes?
Na minha opinião - mas é só a minha opinião e vale o que vale - tenho dúvidas.
E, como diria o outro: "raramente me engano".
Para quem pretenda ver, ou rever, o vídeo com a devida vénia aos seus promotores fica aqui. Também, para memória futura.