segunda-feira, 17 de maio de 2021

A Esperança e as duas filhas

Santo Agostinho:
"A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação ensina-nos a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las."

Autárquicas 2021 na Figueira: ponto da situação em 17 de Maio de 2021

Tal como na vida, também na política, em situações sem retorno possível, agarramo-nos a pormenores.
A cada pormenor, como se fosse a boia de salvação. 
Ávidos de encontrar uma saída. 
Noutras ocasiões, houve a avidez de poder e de dinheiro na luta pela sobrevivência...
Na política, tal como na vida, porém, ninguém quer morrer poderoso e rico.
No fundo, andamos todos ao mesmo: o objectivo principal é não morrer. 
E, se possível, sobreviver...

Horácio, poeta

“A força bruta, quando não é governada pela razão, desmorona sob o seu próprio peso”.

Quinto Horácio Flaco, em latim Quintus Horatius Flaccus, (Venúsia8 de dezembro de 65 a.C. — Roma27 de novembro de 8 a.C.) foi um poeta lírico e satírico romano, além de filósofo. É conhecido por ser um dos maiores poetas da Roma Antiga.

domingo, 16 de maio de 2021

Morreu Diniz de Almeida

Fica a saudade e um enorme agradecimento a um "Capitão de Abril"!
Foto via OBSERVADOR

Tendências para o que resta de 2021: andar de bicicleta...

Na Figueira, a mais sólida tendência para o que resta de 2021, ano de autárquicas, é esta: tudo o que está suficiente passará a medíocre. Tudo o que está mau ficará pior. 
Vamos ver a evolução do covid. No que toca à pobreza, o desemprego, à economia, às dívidas, às falências, os ataques aos direitos, às liberdades e às garantias individuais, não vamos melhorar. O direito à opinião vai ter de ser defendido.... 
O "bom povo figueirense" vai ficar azedo: a razão é simples- não vai aguentar a crispação. 
Nem vale a pena perder tempo e palavras com isto. Está escrito nas estrelas.
E quanto às eleições autárquicas de Outubro próximo?.. A ver vamos como diz o ceguinho...
Entretanto, vou continuar a dar umas voltas de bicicleta... E não só na Figueira...
Houve tempo, em que o meu maior desejo era ter uma bicicleta.
Agora, que é tempo em que posso ter todas as bicicletas, não é uma bicicleta que quero.
Este é o tempo de querer a idade de poder ter uma bicicleta, quando não podia ter bicicleta nenhuma.
Em Portugal, houve tempo em que não se podia votar livremente.
Agora, que é tempo de democracia, sinto que é o tempo em que o meu voto não altera nada.
Mas, em Portugal, tem de ser sempre tempo de haver eleições livres.
Espero é poder chegar ao tempo em que o meu voto mude alguma coisa.
Será que chegarei a tempo de saber o que é esse tempo?
Gostaria de ter tempo para viver o tempo de vir a ser um velho sábio.
Seria então o tempo de conhecer o significado do tempo que leva uma vida.
Mas será que todos os velhos conseguem alcançar o significado do tempo que leva uma vida?
É certo que ainda não tenho tempo para ser velho, mas o tempo passa.
Entretanto, passou já tempo para perceber que a luta contra o tempo está perdida.
Também já é tempo de saber que o tempo acontece rápido.
Tenho tentado que o meu tempo não seja uma corrida contra o tempo.
Gostaria de conseguir que o meu tempo fosse uma corrida com o tempo.
Entretanto, sei perfeitamente que já perdi muito tempo.
Mas será que todo o tempo perdido foi tempo inútil?
E terá acontecido que todo o meu tempo útil foi tempo ganho?
 

Há dias para o repúdio presidencial?

«Uma gralha numa notícia da Lusa da responsabilidade de um jornalista motivou o repúdio do presidente. Quanto à vigilância e a agressão a jornalistas só silêncio. É mais do que falta de sentido de Estado. É mais um exemplo da vacuidade presidencial. E assim vai a República»

Pacheco Pereira na Revista Sábado

 

Benjamim Disraeli, antigo primeiro-ministro do Reino Unido:
- "o mundo é governado por personagens muito diferentes daquelas que são imaginadas por aqueles que não estão atrás dos bastidores".

O que fizeram ao Cabedelo!..

Memória...

Ontem, foi uma tarde de sábado livre.
Deu para fazer algo agora pouco habitual. Fui até ao Cabedelo. 
É raro, agora, ir até aquelas bandas.
O Cabedelo, em anos anteriores, por esta altura, constituía já um ponto de referência estival no concelho da Figueira da Foz.

O tempo passou.
Há obras em curso.   
E quando há obras e o tempo passa, muda tudo - sobretudo os velhos hábitos.
 
Ontem, a mente, liberta de preocupações, deixou-se inundar por inúmeras recordações que se sobrepunham de forma intemporal.  
Deu para dar conta do apagamento de velhos pontos de referência. 
Triste ver esse apagamento. 
Dói. 
Mas também dói o vazio humano que se via no café, nos novos arruamentos e, até, praia. 

Um vazio humano, um vazio de sentimentos e um vazio de esperanças. 
Dói ver o vazio e a decadência a desfilar perante os olhares de quem se entretém, durante uma bela tarde, a analisar os passantes e o ambiente. 
Interroguei-me sobre o que se passava, como se fosse muito complicado encontrar as explicações. O que não é: a desoladora realidade está ao alcance de qualquer um de nós.

O Cabedelo perdeu encanto e capacidade de sedução. 
Agora, é um local vazio de gente, vazio de sentimentos e vazio de esperança. 
O Cabedelo está morto. É um  vazio humano num cemitério de obras completamente desajustadas e que nada têm a ver com aquele local. 

O Cabedelo está morto. Mas está mesmo. 
Não fiquei muito tempo. Os espaços  onde passei  belas tardes, locais de alegrias e de esperanças, no fundo altares de almas, estavam vazios. Incomoda-me o vazio, incomoda-me a agonia do Cabedelo, incomoda-me gente que aceita com resignação a morte do Cabedelo. 
Triste Povo. Triste Figueira. Triste concelho. Triste Cabedelo.

sábado, 15 de maio de 2021

2021 TEM MESMO DE SER ANO DE CRISPAÇÃO NA FIGUEIRA?

Embora de modo pouco subtil, mas discreto,  está em curso na Figueira um ataque à independência da opinião.
O rio está a engrossar, pois nele estão a desaguar várias águas, todas convergentes, caudalosas, intimidantes e dispostas a varrer até as margens. 
O panorama, nos próximos meses advinha-se um pouco para o escuro e tóxico. 
Os alvos já estão escolhidos.

Os culpados são uns "velhos do Restelo", uns pessimistas frustrados, que queriam ter uma gloriosa carreira pública, mas que não ganham eleições como o PS/Figueira ou o dr. Santana Lopes e vivem martirizados por isso.
Não passam de uns invejosos, que só sabem escrever, o que, como se sabe, não é coisa decente e, muito menos, útil. 
Útil e decente é promover festas, lançar foguetes, implantar piscinas e centros de espectáculos, com dinheiros públicos, deixando os municípios endividados por décadas.
Esses frustados, que só sabem dizer mal, são incapazes de tudo e de qualquer coisa.

Fica por saber é uma coisa simples: o que é que os "velhos do Restelo" têm que irrita particularmente?
Primeiro: têm poucas ilusões.
Segundo: têm uma atitude bizarra, excêntrica e antiquada, face à liberdade: prezam a liberdade de uma forma que só pode ser prezada por quem não a teve, e isso também não há volta a dar, só acaba com o túmulo. Salazar,  censura, polícia política, não são memórias menores nem displicentes. 
Terceiro: têm noção individual da liberdade.
Quarto: têm a convicção que há um bem que ninguém lhes consegue roubar: a "cultura própria".

Certamente que existem muitas outras razões. Contudo, tudo assenta num enorme "problema" para quem vive assim em 2021 na Figueira da Foz: na sua independência.

Antípodas

O jornalismo existe.
Para informar. 
A propaganda existe.
Para convencer. 
Deveriam estar um para a outra, como Portugal está para a Nova Zelândia. 

sexta-feira, 14 de maio de 2021

Convite

Vem aí o verão.
Sem medo, venham visitar S. Pedro, vila-jardim, criada a pensar em si e em mim.  
Venham experimentar a sensação de visitar uma vila-jardim, criada sem qualquer justiicação.
No fundo, só porque sim...
Ficou uma vila sem passado e sem glória em vez de uma Aldeia com história.
Sobrou um Cabedelo transformado em degredo...

Editor de política da Lusa demite-se após texto que identifica deputada de forma racista

Imagem via Entre as brumas das memória
«O editor de política da Lusa José Pedro Santos demitiu-se do cargo na sequência de um texto disponibilizado aos clientes, e publicado nas edições online de vários órgãos de comunicação social portugueses, em que uma deputada do PS era identificada de forma racista. 
O texto foi disponibilizado pela Agência Lusa na quinta-feira à noite, por volta das 22 horas. Após ter sido detetado o "erro", José Pedro Santos apresentou o pedido de demissão do cargo. Por volta da meia-noite, a Lusa emitiu um comunicado em que lamenta profundamente o erro da notícia em que uma deputada do Partido Socialista foi identificada "de modo inaceitável, contra todas as regras éticas e profissionais". "A Direção de Informação da Lusa lamenta profundamente o erro de uma notícia transmitida pela agência sobre a constituição da comissão da revisão constitucional em que uma deputada do Partido Socialista surge identificada de modo inaceitável, contra todas as regras éticas e profissionais constantes do Código Deontológico dos Jornalistas e do Livro de Estilo da Lusa", dá conta a nota difundida. 
 A Direção de Informação da Lusa acrescenta que vai "proceder a uma investigação sobre o que aconteceu" e "apresenta as suas desculpas à deputada, ao Partido Socialista" e a "todos os clientes e leitores" da agência. O Sindicato dos Jornalistas, confrontado com o sucedido, remeteu o caso para o Conselho Deontológico, o qual averiguará as circunstâncias e ouvirá os intervenientes, como é prática deste órgão de regulação profissional.»

Coisas verdadeiramente importantes de que somos privados pelo covid...

«A DIRECÇÃO DA ASSOCIAÇÃO RECREATIVA MALTA DO VISO DECIDIU POR UNANIMIDADE CANCELAR A 33ª FESTA DA SARDINHA AGENDADA PARA OS DIAS 9, 10, 11 E 12 DE JUNHO.»

Fui vacinado no passado dia 10 e ainda não me transformei numa abóbora!..


"Portugueses com mais de 60 anos vão receber a 2.ª dose da vacina da AstraZeneca".

Época balnear arranca este fim de semana e falhar máscara pode valer multa

O Governo vai avançar com um regime contraordenacional idêntico ao que é aplicado no incumprimento das restantes regras da pandemia, pelo que os banhistas que violem as regras incorrem numa multa entre 50 e 100 euros. Já para os concessionários, que não podem permitir excessos de lotação nem circulação sem máscaras, inclusive para ir à casa de banho, podem ter multas entre 500 e mil euros
Vão manter-se os semáforos que darão indicação sobre a lotação das praias mas com algumas mudanças, que podem levar a que arrisque chegar a uma praia “verde” e ela passar rapidamente para outra cor. No ano passado considerava-se que uma praia estava com lotação baixa (semáforo verde) quando tinha um terço da lotação e agora o verde vai sinalizar praias que estejam com metade da ocupação. Mas os restantes patamares mantêm-se e as praias não vão poder exceder os 90% da lotação (sinal vermelho).
Tentar entrar à força, segundo o que foi noticiado, pode valer multa, mas não ficou claro como seria aplicada.

Praia do Cabedelo, freguesia de São Pedro. Autor: Celso Silva/Digitart. Via Figueira na Hora


Já se sabe que as praias vão receber mais banhistas neste verão, porque as limitações à lotação, introduzidas no ano passado, serão aliviadas. No concelho da Figueira, vamos ver o que vai acontecer no Cabedelo...

A MINHA CONCEPÇÃO DO MUNDO, DO TEMPO, E DA VIDA

Um texto de Alfredo Pinheiro Marques, de 12 de Maio de 2021, sobre si próprio, que também nos pode levar a reflectir sobre nós próprios, e colocar em questão o que andamos por aqui a fazer. A ler.

«Só é possível viver para o Futuro. Não vale a pena viver senão para criar uma obra: criar o que vai poder crescer, e ser Futuro. E, como há muito foi dito aos homens e às mulheres, há três tipos de obras que podemos criar: plantar árvores, gerar filhos, e escrever livros.

As árvores, os filhos e os livros são parecidos porque vão ter a sua própria vida, e não vão ser nossos. Como tudo. E é melhor assim. Quanto mais se possui mais se é possuído.
Devemos criar, e devemos libertar-nos. É por isso que devemos esforçar-nos, ter cuidado, e dar o nosso melhor com as árvores, os filhos e os livros que criarmos, enquanto os criarmos. E depois devemos contribuir para o Futuro, libertando-nos e libertando-os.

As árvores que plantei, longe, nas minhas origens passadas, vim depois a deixá-las lá. E lá irão crescer por si mesmas, junto à árvore maior, e não irão ser acompanhadas por mim.
Aqui e agora, onde vivo — espero viver, e espero morrer —, só quis plantar, e só plantei, duas árvores, nos meus jardins: uma palmeira virada para o Sul, e um ácer virado para o Norte.
E, além disso, tentei salvar, e salvei, regando-as, algumas que estavam, na rua, mais perto da minha porta. Elas estavam condenadas a morrer à nascença, pela hipocrisia dos Orcs do funcionalismo público e dos políticos pagos com o dinheiro público do Estado português, que fingem que plantam árvores (mandam-nas plantar à iniciativa privada, em troca do dinheiro do imobiliário), e depois fingem que as regam; e não regam uma só vez (e até as que já cresceram vêm a mandar cortar depois, para não terem de tratar delas). Algumas, das da minha rua, salvei-as eu, à nascença. E depois endireitei-as, enquanto jovens, apontando-as para o alto. Iriam crescer tortas, rasteiras e votadas a pouco futuro, e ninguém iria preocupar-se com isso (e assim até se iria justificar, depois, o seu corte).

Não gerei filhos (e talvez até tenha sido melhor assim, pois, em todo o caso, as situações com que fui confrontado no meu país, aos quarenta e oito anos de idade, iriam dificultar-me ter conseguido criá-los). Os que geram filhos somente esperando rever-se neles, e conseguir neles o que não conseguiram nas suas próprias vidas, podem vir a cometer um grande erro, e ter amargos resultados. Pois eles vão ser (como devem ser) eles próprios; e vão seguir o seu próprio caminho, que hão-de descobrir por si próprios ("Kata ton daimona eaytoy"). O que poderia ter sido feito (se tivesse sido feito) teria sido endireitá-los, quando jovens, apontando-os para o alto, para não crescerem tortos, rasteiros e votados a pouco futuro, e ninguém se preocupar com isso.

Não é possível viver senão para o Futuro. Sempre.
O Passado já passou, sempre. E o Presente nem sequer existe, nem vai nunca existir (e, também por isso, não é sequer possível viver para ele… e os que o fizerem simplesmente vão viver a rastejar, tortos e rasteiros).
Quem for inteligente sabe. Como os Japoneses, que nem sequer conhecem esse conceito de Presente. Nem sequer conhecem esse tempo verbal, nem o usam na sua linguagem (e quem já aprendeu japonês, ou tentou aprender, também tem obrigação de saber).
Neste mundo, só existe o Passado (a História) e o Não-Passado. O pretérito e o não-pretérito. Porque o Presente e o Futuro são a mesma coisa, vertiginosa ("O Futuro é Agora"), e  torna-se Passado (História) a cada momento. Vertiginosamente.
Na Primavera, depois de cada Inverno, florescem as cerejeiras, e os ácers renascem, e as palmeiras crescem um pouco mais, silenciosas e pacientes ("O Justo Florescerá como a Palmeira"). Lenta e vertiginosamente.

Neste mundo, a única coisa que podemos e devemos fazer ("dúplice dono, sem me dividir, de dever e de ser") é conhecer o Passado.
Conhecer — e explicar, para que se conheça (pois só se conhece o que se explica) — o Passado, a única coisa que verdadeiramente existe para ser conhecida.    
Só é possível criar o Futuro (o que ainda não existe) se se conhecer o Passado (a única coisa que existe). Conhecer, neste mundo, aquilo de que ele é feito: a "matéria", chamada tempo, de que é feito um mundo assim, como o nosso.

Porque o nosso Espaço só é compreensível no Tempo. Foi criado pelo Tempo.
Nós, os homens e as mulheres, os que vamos morrer, e sabemos que vamos morrer, somos, de facto, o contrário absoluto dos gatos (os "bons servos das leis fatais que regem pedras e gentes", os que sentem só o que sentem). Eles são, ou podem ser, por natureza, os maiores mestre do Zen e/ou da Geopolítica. Porque vivem, e dominam, no Espaço, e ignoram totalmente o Tempo. Ao contrário de nós, que vivemos (e não dominamos…) no Tempo… e ignoramos quase totalmente o Espaço (com excepção de alguns poucos de nós, que nos temos dedicado às viagens, à História dos Descobrimentos Geográficos e à Cartografia, ou à Astronomia…).

Nós só podemos viver no Tempo. Na História.
No espaço, o nosso mundo, sempre tão insignificantemente pequeno, é ainda assim grande de mais para nós (mais pequenos ainda): desde o mundo dos Japoneses (os do Sol Nascente), até ao nosso mundo, o dos Portugueses (os do Pôr-do-Sol), seus contrários absolutos. É claro que podemos encontrar-nos, podemos peregrinar, e o nosso homem, de aqui de Montemor-o-Velho, foi o que foi lá ao outro lado do mundo (e, depois dele, o meu Amigo Paulo Rocha). Mas todos sabemos, eles lá no Oriente, e nós cá no Ocidente, que somos do lugar onde nascemos e onde estão, na terra, as cinzas dos nossos antepassados.
Eu sou de ao pé da (nossa) mais alta montanha, a Serra da Estrela.
E, no fim do rio da minha infância, vim ter à foz do Mondego. Na Beira, do Mar.
Os Japoneses ensinaram-nos que a verdadeira força é a de, quando queremos (pacientes, no meio da vertigem), sermos capazes de ficar imóveis, como as montanhas.
À beira do rio vemos passar o cadáver do nosso inimigo. Mas sabemos que é o mesmo rio que vai levar o pó das nossas cinzas.

A História é a única realidade que existe. Que nos cerca ("Vivemos no meio dos mortos", e "a Morte comanda a Vida"). A única realidade em que vivemos, e que alguma vez poderemos conhecer, se alguma vez conseguirmos conhecer (explicar) alguma coisa.

Eu sou só um contra-regra no teatro do mundo, porque a minha própria história me fez assim. E sei que o autor da peça escreveu "Amanhã, e outra vez amanhã, e novamente amanhã, rastejam devagar dia a dia até à última sílaba do tempo. (…) A vida é só uma sombra que passa. Pobre actor que, por uma hora, freme e treme o seu papel no palco. E logo sai de cena”.

Nada mais existe, nem pode existir, neste mundo que é o nosso, senão a História. Porque, para nós, o Presente não existe, nem nunca vai existir ("a pedra quer ser pedra, e o tigre um tigre"). Até o próprio Borges quis ser Borges; e eu vou querer ser eu.

Só se pode viver para o Futuro, e é por isso que a minha obra, o livro que escrevo, a minha "magnum opus"… — para a qual todos os livros que até hoje escrevi foram sempre ainda somente aproximações… — vai ser uma obra de História, e para a História.
Para compreender e explicar. Memória e exemplo do Passado, para libertação do Futuro.

A partir de hoje ­— bem mais ainda do que, desde o meu passado, desde a juventude (desde há tanto tempo…) — eu vou querer ser somente um historiador. E o livro que vou escrever, como escritor, vai ser somente um livro de História. Até porque só agora é que — finalmente… — tenho a idade própria para conseguir. Finalmente, alcancei-a…
Vou (voltar a) querer ser só um historiador, e nada mais. E é por isso que vou passar a preferir ignorar a insignificância do (inexistente) Presente, e desprezar as suas "moscas da praça pública". Vou deixar de me preocupar com os animais que por aí vão relinchando, grunhindo e zurrando enquanto se esfregam uns nos outros (como dizia o meu Pai, "asinus asinum fricat"…). Há muito Orwell, o especialista dos animais de todas as quintas, nos explicou que são os porcos e os burocratas os que vivem para triunfar no Presente… porque bem sabem que quem vier a dominar o Passado vai dominar o Futuro, e quem domina o Presente domina o Passado. E, antes disso, o professor dele, Aldous Huxley (com quem tinha aprendido que vinha aí o "Admirável Mundo Novo", já muito antes de 1984), nos tinha explicado a todos que "a mais importante de todas as lições que a História tem para ensinar" é a de que "os homens não aprendem muito com as lições da História". E é por isso que é preciso fazer a História, e dizer a Verdade.
É por isso que, para o Futuro, eu vou querer — mais do que nunca, e para sempre — ser historiador. Do mundo. E de mim próprio. E do meu pobre país (subdesenvolvido e insustentável para sempre). E da minha própria família (incluindo o meu longínquo parente, dos séculos XV-XVI, Rui de Pina, o historiador que ficou amaldiçoado e maldito, para sempre, por ter sido o que, nas suas crónicas, contou a verdade… e deixou revelada, para o Futuro, a "Maldição da Memória"… e a verdadeira razão da desgraça, para sempre, desse pobre país subdesenvolvido e insustentável). Vou tentar fazer a história dos que me são queridos e próximos, e até dos que me são distantes e desconhecidos, mas com os quais poderei aprender alguma coisa.

Porque ἱστορία é compreender e explicar (é o contrário de rezar…). Quando, onde, quem, porquê, e de que maneira. Tempo, espaço, vida, e causalidade.

Amo, também, a Poesia (a magia religiosa, e a música dionisíaca)… mas prefiro seguir o caminho apolíneo da Lucidez (o Budismo)… Aquilo que, nós, aqui, Ocidentais, chamamos a Razão (a ciência, e a compaixão racional). Sigo a minha "Exacta Paixão