Imagem via Pedro Agostinho CruzOs partidos tornaram-se organizações opacas e nebulosas. Consequentemente, a desclassificação da democracia representativa agravou-se.
Pluralismo, no interior dos partidos, não passa de uma palavra: não tem consequência prática.
O voto que conta, o voto que decide é o dos interesses.
Com o desaparecimento da ideologia da vida política, o objectivo dos actores políticos é o alcançar um cargo que lhes permita conseguir comissões e tachos.
Como a passagem dos anos não perdoa, muitos dos velhos caciques estão a desaparecer.
Os novos jotas estão a vislumbrar janelas de oportunidade. Aspiram a ser eles os caciques que se seguem.
Com uma particularidade: são ainda mais ambiciosos, portanto, mais agressivos, mais ferozes e mais desonestos do que os anteriores.
A ética desaparaceu. De vulgares servis (assessores, chefes de gabinete, peões de brega...) alguns já se julgam os novos senhores do poder partidário. Calculistas, frios e cruéis, nada é obstáculo para as suas aspirações. Se necessário for, opta-se, sem qualquer limite, pela crueldade de procedimentos.
Sem formação académica, uns, outros com diplomas manhosos, sem competências técnicas ou profissionais, escolheram no final da adolescência a via mais fácil: a preguiça do gabinete para conspirar e promover a intriga pessoal e política (aproveitando a muleta das novas tecnologias) e o tráfico de votos nas eleições internas.
A justificação para a existência deste sub-mundo sórdido na vida política é a da defesa da tribo. Uma tribo sem moral.
As eleições internas são viciadas pelos jotas aspirantes a novos caciques. Isso pode passar pela inscrição de militantes, podendo ir até às chamadas chapeladas, quando não é possível alcançar o poder partidário de outro modo.
No país político, o financiamento partidário é um disfarce dos negócios menos claros, de luvas interessantes e comissões que acabam, umas nos sacos azuis, outras em gavetas de casas luxuosas ou cofres de banco discretos.
É nas câmaras e nas juntas que se fixa e cimenta o poder partidário.
O sistema é um só. Em Lisboa, na Figueira ou na Aldeia. Jamais aceitará a transição para um regime de democracia direta, com eleições primárias auditadas e prestação de contas pelos eleitos.
Alguém acredita na regeneração interna dos partidos e na moralização da vida política?
Sem formação cidadã, ética, sentido de servir e não servir-se, argamassa ideológica, o que vai continuar a mobilizar os aspirantes a políticos é o combate pelo tacho, as mordomias e o dinheiro.
Não é de hoje este estado de coisas.
À minha geração, a decisão limpa e honrada que restou à maioria, foi virar costas aos partidos.
Uns, calaram-se definitivamente. Outros, armados em D. Quixotes, optaram pelo serviço público, que consiste, por exemplo, em andar por aqui a tentar alertar a consciência colectiva.
O sucesso, porém, é pouco.
A sociedade é o que é: se tiver de escolher, prefere um qualquer D. Juan em detrimento do romântico D. Quixote.
Para mudar isto, a luta passa pelo combate cultural e pela valorização da ética.
E, claro, por uma nova escola e por outros e novos meios de comunicação.