"Eu revolto-me, logo existo", escreveu um dia Albert Camus.
Folgo em saber que existem alguns que
têm estômago para aguentar a falta de civismo, a
ignorância, a arrogância, a pobreza de espírito e a futilidade de
quem os governa. Seja em Bruxelas, seja em Lisboa, seja
na Figueira, seja na Aldeia.
Ainda bem, que não sentem o incómodo
de ver, ouvir e ignorar.
Já eu, para meu azar, nasci e cresci
sem a bênção da resignação, capacidade que evitaria a náusea que
sinto, o asco que me assola, quando olho para essa gente que em
Bruxelas, em Lisboa, na Figueira e na Aldeia gere o destino de todos
nós.
Para meu azar, sou incapaz de
considerar normal que os melhores jovens deste país tenham de sair
dele para poderem ter um futuro. Para meu azar, sou completamente
inapto para ser cretino ao ponto de aceitar a ditadura da maioria que
ouve e defende os fulanos que em Bruxelas, em Lisboa, na Figueira e
na Aldeia não sentem o incómodo de ver, ouvir e ignorar.
Continuem, porém, tranquilos, impávidos e
serenos. Dispenso solidariedade, pois também eu, como
escreveu o Poeta, "não sei por onde vou, só sei que não vou por
aí".