O vereador PS na Câmara da Figueira, António Tavares, hoje
no jornal AS BEIRAS.
“Pretende a Comissão Europeia, em consonância com o Governo português,
que os salários baixem até cinco por cento.
Os objectivos são sérios: baixar o desemprego, aumentar a competitividade
das empresas e reduzir o endividamento do país ao estrangeiro.
A lógica é fácil de entender: a descida das remunerações diminui
o preço do factor trabalho, suscitando mais contratação, reduz os custos de
produção, tornando as mercadorias mais competitivas e mais “exportáveis”, e, com
menos rendimento, baixa o consumo e, por conseguinte, as importações; vista
assim, a economia parece fácil.
O problema é que por trás da sedutora dedução que explica as
diferentes variáveis existem pessoas com necessidades reais. Apesar disto, a
solução de baixar os salários parece ser sempre a forma mais fácil de resolver todos
os problemas que as sucessivas crises vão gerando.
E tal acontece apesar de os empresários estarem preocupados com
a diminuição do consumo, de o Governo afirmar que o crescimento das exportações
está consolidado e de o ministro Pires de Lima referir que o “ajustamento” salarial
no sector privado foi “o suficiente”. Repare-se, no entanto, no seguinte: em
2011, a produtividade real por hora trabalhada era, no nosso país, de 16,5
euros. Na média da zona euro era, quase, 37 euros. Na Holanda, este valor era
de 46,2 euros, em França 45,4, em Itália 32,5 e em Espanha 30,2 euros, para só
citar alguns países. Ou seja, mesmo ganhando pouco, com baixa produtividade, os
custos do trabalho resultam elevados; e lá se vão a competitividade, as
exportações sustentadas, a diminuição do desemprego. Não é, portanto, baixando
os salários que vamos compor a situação; a verdadeira conquista é a da
produtividade e esta depende muito mais de outros factores que o trabalho.”
Pois é: a ganância ainda vai dar cabo deles...
Recorde-se o que desencadeou a crise financeira: o
empobrecimento das pessoas.
Este empobrecimento foi a consequência de o
crescimento da riqueza dos ricos se ter tornado superior ao crescimento total
da riqueza, o que implica que passou a alimentar-se do empobrecimento dos
não-ricos.
Claro que houve os produtos tóxicos, mas isso tudo só
estoirou porque as pessoas deixaram de ter dinheiro para os alimentar - foi aí
que eles se tornaram "tóxicos", antes disso eram fantásticos...
Consta, por aí, que a economia está a melhorar pois as
exportações estão a crescer.
Todavia, sabemos que não é assim...
É óptimo que as exportações cresçam mas não são elas que
marcam a economia - o que marca é o mercado interno.
Nos últimos anos, a crise financeira agravou-se porque os portugueses estão a
empobrecer.
Portanto, presumo eu, a solução não passa por empobrecê-los mais...
Austeridade, para este governo e os interesses que defende, consiste apenas em tirar dinheiro às
pessoas...
A ganância desmesurada ainda vai arruiná-los...