Hoje, é um dia que
vai ficar na história da democracia da nossa cidade: realiza-se a primeira
reunião da Câmara da Figueira da Foz à porta fechada desde o 25 de Abril de
1974.
Tal, registe-se, fica a dever-se à maioria absoluta
de João Ataíde obtida nas autárquicas do passado dia 29 de setembro.
As forças políticas com assento na assembleia municipal, mas
sem representação na vereação camarária, por unanimidade, em declarações hoje
publicadas no jornal AS BEIRAS, estão contra a decisão da maioria absoluta de Ataíde e dos
seus vereadores.
António Baião, dirigente local do PCP e candidato que ficou
a cerca de 40 votos de ter sido eleito vereador:
“Sendo a decisão apenas justificada com os dossiês reservados,
não concordo nem compreendo, porque todas as matérias devem ser do conhecimento
dos munícipes. Portanto, não compreendo a necessidade de se realizarem reuniões
de câmara à porta fechada.”
João Paulo Tomé, deputado municipal do Bloco de Esquerda:
“Não concordo. As reuniões de câmara até deviam ser mais
públicas do que são.
Até parece que as pessoas (os decisores) têm coisas para
esconder… Pondo-me na posição de quem tem a responsabilidade de governar o
concelho da Figueira da Foz, governaria à frente de toda a gente, para não haver
dúvidas e em nome da transparência.”
Vânia Isabel Batista, deputada municipal do CDS/PP, eleita
na lista da coligação “Somos Figueira”.
"Não concordo com a decisão.
Respeito-a, porque é legal e o executivo tem maioria
absoluta, que lhe foi dada pelos figueirenses nas eleições autárquicas.
No entanto, não consigo descortinar a necessidade de fechar
as reuniões ao público. Este tipo de decisões afasta cada vez mais os eleitos
dos eleitores."
Mesmo no seio da maioria socialista, a medida gerou alguns incómodos. Sabe-se que
até no executivo, dois vereadores
e também militantes do PS - Carlos
Monteiro e António Tavares – revelaram discordância,
no recato dos bastidores da vereação socialista, tendo, no entanto, votado a
favor da proposta do presidente Ataíde na reunião de câmara do passado dia 24
de outubro - que é aliás a sua única
tomada de posição pública conhecida.
Também na oposição camarária, logo na primeira reunião, deu
para notar algumas divergências...
Miguel Almeida, foi o
único a votar contra. João Armando
Gonçalves e Azenha Gomes, optaram pela abstenção. Anabela Tabaçó, esteve
ausente.
E pronto.
Hoje, vai ficar
consumada a vontade de João Ataíde: fechar a primeira das duas reuniões de
câmara mensais ao público e aos jornalistas.
Se a medida vai ter caráter
experimental, ou vai vigorar no decorrer de todo o actual mandato, é o que
veremos nos próximos capítulos.
Entretanto, aos poucos que ainda se interessam pelo que se passa na sua cidade, resta aguardar pela divulgação da prometida nota de imprensa, sobre a primeira reunião camarária fechada da história da
democracia figueirense pós 25 de Abril de 1974.
Para memória futura: tal fica a dever-se a uma maioria absoluta do
Partido Socialista.
Terá o dr. Mário Soares, o Patriarca do PS, e um apoiante interventivo na eleição desta maioria absoluta alcançada por João Ataíde, conhecimento do facto?
Será com decisões destas que se vai conseguir reforçar a participação dos figueirenses na vida colectiva da sua cidade?
As pessoas, como sabemos, cada vez comparecem em menor número aos actos eleitorais.
E se os políticos sempre pensassem nisso - principalmente, fora das campanhas eleitorais!..