Esta narrativa integra sem dificuldade alguns factos que chocam o cidadão comum (casos de endividamento para consumo, muita formação profissional ineficaz, obras públicas de duvidosa utilidade, distribuição de empregos no Estado e empresas públicas, corrupção de vários tipos, etc.) ligando-os a má gestão do Estado, "a causa" da crise. É uma narrativa muito forte porque é plausível para o cidadão comum sem formação específica. Assim sendo, seria de esperar que as esquerdas tivessem investido fortemente na elaboração de uma alternativa, até porque a política de austeridade que tem sido seguida produziu uma calamidade social. Infelizmente, apenas foram produzidas narrativas parcelares sem consistência global. Uma contranarrativa teria de explicar em linguagem simples e popular que o endividamento foi gerado pela perda do escudo e que isso conduziu ao crédito fácil e à desindustrialização do país. Teria de dizer que com o euro perdemos as políticas de que precisamos para ir mais além no desenvolvimento. Teria de dizer também que perdemos a liberdade para decidir sobre as diversas vertentes do Estado social porque essas escolhas já estão feitas e inscritas nos tratados, as que a Alemanha aceitou ou mesmo impôs. Teria de dizer que não temos futuro dentro do euro.
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
A narrativa neoliberal não foi de férias
O discurso de Passos Coelho no Pontal foi mais um episódio de propaganda política, só possível porque as televisões perderam a vergonha. A pretexto de informação em directo, fizeram a transmissão na íntegra de um discurso de comício. Nada que espante, porque hoje a televisão desempenha um papel central na construção de uma narrativa hegemónica da crise, um discurso simples sobre as suas origens, os seus responsáveis e as transformações do Estado que nos farão sair dela. Para executarem o seu projecto político, os partidos que nos governam precisam, no mínimo, de uma generalizada resignação dos cidadãos. A forma mais eficaz de a produzir consiste em criar uma larga maioria de fazedores de opinião (jornalistas, economistas, politólogos, deputados, políticos senadores) que sustente nas televisões a mesma narrativa da crise, a narrativa neoliberal.
Em Agosto, a narrativa neoliberal não foi de férias.(daqui)
Portugal está em brasa...
1. Vinte ou trinta habitantes de um povoado despejavam água para o fogo e tentavam sufocar a vegetação incandescente. Os repórteres, que chegaram antes dos bombeiros, fizeram o que fazem os repórteres: ligaram a câmara, enquanto a população tossia no meio das brasas para salvar paredes, hortas e animais. No fim, nem uma recriminação: nem contra os bombeiros que se atrasaram, nem contra os jornalistas que ficaram a ver, nem contra o ministro que os ignorou. Só bonomia, equanimidade e esgotamento. Por muito que viva não deixarei de admirar a física dos nossos pategos. Atiram-se para as chamas, enterram os calcinados e depois vão comer uma bucha ou votar no deputado Abreu Amorim. (daqui)
2. Foi notícia de abertura nos telejornais dos três canais: "uma bombeira da Corporação dos Bombeiros Voluntários de Alcabideche sucumbiu às chamas no incêndio do Caramulo e acabou por falecer".
A notícia assim: o artigo indefinido "uma" bombeira e um facto narrado com objectividade "acabou por falecer".
As pessoas assistiram, teceram algum comentário e passaram a ouvir a notícia seguinte, sobre os subsídios de doença. Tocou a sirene em Alcabideche e a bandeira está a meia haste. Por aqui há uma aldeia de luto.
"Uma bombeira" não era um artigo indefinido seguido de um substantivo: tinha rosto, tinha corpo, tinha voz e um jeito desembaraçado de andar.
Tinha história de vida, família, amigos. Tinha nome. Morreu a Ana Rita, vinte e poucos anos, mãe da Madalena e apesar de ter sido notíicia de abertura dos telejornais para esta aldeia não era suposta ser uma notícia. Morreu uma de nós. (daqui)
3. A morte de uma bombeira de Alcabideche, de 22 anos, registada hoje no Caramulo, eleva para três o número de bombeiros mortos este ano no combate ao fogo. Impressiona como todos os anos por esta altura se fazem os mesmos diagnósticos depois de se cometerem os mesmos erros e de se repetir a mesma incúria crónica, em particular este ano, um ano em que o Governo também, como eles gostam de dizer, "poupou" nos meios de combate e no financiamento das corporações de bombeiros. Impressiona a hipocrisia das reacções de governantes e de autarcas compungidos. Revolta toda a insensibilidade que tentam dissimular com as palavras de circunstância que trazem sempre na ponta da língua. E o cúmulo da insensibilidade , evidência de todo o desprezo pela vida humana desta gente perigosa, chega-nos da Madeira: os doentes internados na ala de toxicodependentes do Hospital dos Marmeleiros, naquela ilha, ao contrário dos restantes doentes, não foram evacuados durante o incêndio que se aproximou da unidade hospitalar durante o fim-de-semana, noticiou esta noite a RTP. Dir-se-ia que Hitler não faria melhor, mas Hitler tinha um exército ao seu serviço. Alberto João Jardim não precisa de exército nenhum. Tal como os seus colegas continentais, conta com a indiferença e com a apatia de um povo incapaz de ter reacções de gente. Grande admiração: o horror está a passar por aqui. (daqui)
2. Foi notícia de abertura nos telejornais dos três canais: "uma bombeira da Corporação dos Bombeiros Voluntários de Alcabideche sucumbiu às chamas no incêndio do Caramulo e acabou por falecer".
A notícia assim: o artigo indefinido "uma" bombeira e um facto narrado com objectividade "acabou por falecer".
As pessoas assistiram, teceram algum comentário e passaram a ouvir a notícia seguinte, sobre os subsídios de doença. Tocou a sirene em Alcabideche e a bandeira está a meia haste. Por aqui há uma aldeia de luto.
"Uma bombeira" não era um artigo indefinido seguido de um substantivo: tinha rosto, tinha corpo, tinha voz e um jeito desembaraçado de andar.
Tinha história de vida, família, amigos. Tinha nome. Morreu a Ana Rita, vinte e poucos anos, mãe da Madalena e apesar de ter sido notíicia de abertura dos telejornais para esta aldeia não era suposta ser uma notícia. Morreu uma de nós. (daqui)
3. A morte de uma bombeira de Alcabideche, de 22 anos, registada hoje no Caramulo, eleva para três o número de bombeiros mortos este ano no combate ao fogo. Impressiona como todos os anos por esta altura se fazem os mesmos diagnósticos depois de se cometerem os mesmos erros e de se repetir a mesma incúria crónica, em particular este ano, um ano em que o Governo também, como eles gostam de dizer, "poupou" nos meios de combate e no financiamento das corporações de bombeiros. Impressiona a hipocrisia das reacções de governantes e de autarcas compungidos. Revolta toda a insensibilidade que tentam dissimular com as palavras de circunstância que trazem sempre na ponta da língua. E o cúmulo da insensibilidade , evidência de todo o desprezo pela vida humana desta gente perigosa, chega-nos da Madeira: os doentes internados na ala de toxicodependentes do Hospital dos Marmeleiros, naquela ilha, ao contrário dos restantes doentes, não foram evacuados durante o incêndio que se aproximou da unidade hospitalar durante o fim-de-semana, noticiou esta noite a RTP. Dir-se-ia que Hitler não faria melhor, mas Hitler tinha um exército ao seu serviço. Alberto João Jardim não precisa de exército nenhum. Tal como os seus colegas continentais, conta com a indiferença e com a apatia de um povo incapaz de ter reacções de gente. Grande admiração: o horror está a passar por aqui. (daqui)
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
“Qual é a tua onda?...”
É este o nome do serviço disponibilizado no site do Instituto
Hidrográfico (IH) da Marinha Portuguesa, que passa agora a divulgar as
previsões das condições de surfe para a zona da Figueira da Foz. O projeto foi
apresentado na terça-feira, ao final da tarde, no Centro de Estudos do Mar da
Figueira da Foz. “A ideia foi criar um serviço público de apoio à atividade do
surfe em todo o território nacional, incluindo as regiões autónomas”, explicou na oportunidade António Silva Ribeiro, diretor-geral do IH. A importância do serviço resulta da
“qualidade de informação que se dá aos surfistas”.
Para além das versões locais deste programa apontadas
especificamente para várias áreas regionais de Portugal e dedicadas ao apoio
das actividades desportivas surfísticas (Surf, Windsurf, Bodyboard, etc.) que
nelas são desenvolvidas, a Marinha Portuguesa, através do seu Instituto
Hidrográfico, irá depois lançar também uma outra versão específica deste tipo
de programa que vai ser dedicada ao apoio das actividades produtivas,
piscatórias e culturais, das companhas dos pescadores portugueses da
"Pesca de Cerco e Alar para Terra"
ou "Pesca de Arrasto para Terra" actualmente designada
"Arte-Xávega", as quais utilizam em Portugal os mesmos litorais
arenosos e as mesmas ondas que são utilizadas pelos surfistas.
Autárquicas 2013: o que podem esperar os figueirenses?..
Aquilo que se exige, a meu ver, neste momento da vida do nosso País, de uma câmara como a da Figueira, é que para além da gestão rigorosa dos recursos financeiros e humanos existentes, esteja direccionada preferencialmente para as necessidades dos figueirenses.
A análise que faço, até ao momento, da campanha política de Miguel Almeida, que já
dura há vários meses, é que tem sido uma
demonstração pura e dura do papel que desempenha hoje em dia a propaganda, em
detrimento da comunicação das soluções para resolver os problemas reais.
Nem sequer me estou a referir a ideias políticas ou a ideais...
Na ausência dos grandes discursos ideológicos, o que é
importante é a comunicação.
Mas, Miguel Almeida, pelo que tenho acompanhado da sua
campanha, certamente porque, por necessidade, quer
esconder a todo o custo a sua ideologia, tem uma dificuldade acrescida para passar a
mensagem: ainda não conseguiu colocar cá fora uma pequena frase, um slogan, uma
ideia - nada que motive os indecisos a decidir-se.
O “Prá Frente Figueira” é fraquinho, inócuo e, sobretudo,
nada original.
Diga-se porém, em abono da verdade, que do outro lado, as
coisas não vão melhor.
A esquerda ainda não demonstrou ter ideias claras e medidas concretas sobre o
que é verdadeiramente relevante para o futuro do nosso concelho .
Depois, sobre aquela que para mim é a questão de fundo, a esquerda está dividida: estou a referir-me ao problema da
privatização das águas da Figueira.
A política faz-se com habilidade, mas com coerência. Por isso, não
estou muito optimista com o que vai resultar de útil do
acto eleitoral de 29 de Setembro próximo para o concelho da Figueira.
Uma coisa, porém, dou como adquirida.
Até ele já sabe isso: Miguel Almeida é, desde já, um candidato derrotado.
Só admitiria outro resultado se se verificasse uma das duas hipóteses,
que são obviamente completamente inverosíméis:
1 - Os figueirenses desconheciam que havia outros
candidatos...
2 - Os figueirenses
seriam os portugueses mais burros...
Como não acredito nisso, apesar de tudo, estou razoavelmente optimista...quarta-feira, 21 de agosto de 2013
Na Bulgária ex-1º ministro vai ser futebolista profissional... aos 54 anos
Haja Deus!..
A campanha eleitoral em Viseu está a ser marcada por forte polémica: PS e CDS acusaram Fernando Ruas de fazer campanha pelo PSD nas últimas semanas, através da distribuição de dinheiro em duas missas diferentes.
"Foi um acto público de caciquismo ao melhor estilo", criticou Hélder Amaral, candidato do CDS à câmara de Viseu.
"Não lhe fica bem estar a esturricar dezenas milhares de euros", declarou, por seu turno, José Junqueiro, igualmente candidato, mas pelo PS.
Os dois partidos acusaram o presidente da câmara de atribuir subsídios às paróquias durante as missas.
O autarca confirmou ao Negócios as entregas dos cheques e recusa que tenha sido uma acção de campanha.
"Fui fazer aquilo que sempre fiz em 24 anos, que é apoiar as comissões fabriqueiras [entidades que gerem os bens da igreja]. Fui a mais que uma e vou continuar", assegura.
O facto de as assinaturas e entregas dos cheques acontecerem antes ou depois das missas é por "uma questão de conveniência" dos padres, justifica!..
"Foi um acto público de caciquismo ao melhor estilo", criticou Hélder Amaral, candidato do CDS à câmara de Viseu.
"Não lhe fica bem estar a esturricar dezenas milhares de euros", declarou, por seu turno, José Junqueiro, igualmente candidato, mas pelo PS.
Os dois partidos acusaram o presidente da câmara de atribuir subsídios às paróquias durante as missas.
O autarca confirmou ao Negócios as entregas dos cheques e recusa que tenha sido uma acção de campanha.
"Fui fazer aquilo que sempre fiz em 24 anos, que é apoiar as comissões fabriqueiras [entidades que gerem os bens da igreja]. Fui a mais que uma e vou continuar", assegura.
O facto de as assinaturas e entregas dos cheques acontecerem antes ou depois das missas é por "uma questão de conveniência" dos padres, justifica!..
Não é uma questão de dinheiro, é uma questão de poder...
Em tempo.
"As contas são do próprio governo alemão: entre 2010 e 2014,
cofres públicos de Berlim ganham 40,9 mil milhões a mais do previsto."
terça-feira, 20 de agosto de 2013
O Fernando no seu melhor...
"Essa cidadania embrutecida e alarve é o público alvo ideal para as inaugurizações do período pré-eleitoral. Num concelho em que a rede de saneamento básico não cobre ainda todo território, as obras de requalificação da zona envolvente do Forte de Stª Catarina por exemplo, são um luxo absurdo no qual foram investidas somas pornográficas em materiais nobres como o granito natural, o aço patinável e o inox; e nem um cêntimo sequer na requalificação do forte propriamente dito. Não foi feito nem um pequeno esforço para aliviar esta edificação militar (património do tempo de D. João I, reconstruído pelos filipes e testemunha das guerras peninsulares) dos ridículos acréscimos que lhe foram sendo feitos durante mais de um século por inefáveis entidades ligadas ao turismo e por um inenarrável club de tennis que lhe está colado à ilharga, como uma carraça, desde 1917. Todavia ainda tiveram engenho para o intervencionar escalavrando-lhe, a nascente, mesmo junto à muralha, uma medonha escadaria, toda em betão armado.
Mas, como antevi aqui, a pièce de resistence da requalificação da zona envolvente do forte foi, sem dúvida, a construção de um espelho de água artificial à sua volta, a meia dúzia de metros da foz natural do maior rio português e do oceano atlântico.
E, na inauguração, estavam lá todos: as forças vivas - com as entidades oficiais e os seus séquitos, as oficiosas, com as suas eminências e as suas boas famílias, com os cardosos e seus afins logo na primeira fila - e as mortas com os seus papalvos, aos milhares, para assistir à fanfarra dos discursos e molhar os pés cansados no espelho de água.
Ninguém reparou que este reflecte uma ruína.
Estavam todos inebriados com o luxo asiático da zona envolvente.
Penso que esta imagem é bem a metáfora perfeita de uma cidadania de merda. Ou melhor, o retrato fiel de uma figueirinha loira.
Uma figueirinha decadente e loira que se mira ao espelho e nem sequer vê o triste e baço despojo que ele reflecte, hipnotizada com o brilho fátuo da moldura dourada."
Fernando Campos, no O Sítio dos Desenhos
.
A mudança só pode começar em nós...
A maioria dos portugueses não liga à política. A não ser que pense que pode vir a ganhar alguma coisa com tal esforço...
De contrário, até abomina e crucifica os que ousam ter ideias e manifestar opinião.
De contrário, até abomina e crucifica os que ousam ter ideias e manifestar opinião.
Diga-se, em abono da verdade, que os partidos existentes em Portugal, por aquilo
que conheço, também não ajudam.
Quase todos, para não afirmar mesmo todos, só aparecem
quando cheira a eleições e os políticos contentam-se com as palmadinhas nas
costas dadas pelos indefectíveis, após
as “missas”, como se viu ainda recentemente no Pontal.
Por sua vez, as Universidades,
os meios de comunicação e alguns
movimentos de cidadãos (como aconteceu recentemente na Figueira com os 100%)
não são soluções duradouras, apenas representam uma alternativa ou esperança conjuntural.
A culpa é de nós todos, enquanto colectivo.
Estamos mais
receptivos ao fácil, cómodo e confortável marasmo em que vamos apodrecendo, enquanto País
produtor de irrelevâncias a vários níveis e, naturalmente, também políticas.
Sendo mais concrecto: conforme podemos verificar olhando,
por exemplo, para o que se passa neste momento no nosso concelho, digam-me se se
passa alguma coisa de relevante no debate político sobre o que se pensa para o
futuro da Figueira, quando estamos a pouco mais de um mês de um acto eleitoral
importantíssimo para o futuro de todos nós, figueirenses!..
Pelo que consigo observar – e procuro ser um cidadão atento- em vez de ideias, temos questiúnculas e fait
divers a marcar a agenda política local...
Assim, como será possível mudar este estado de coisas?
Começando, talvez, por pensar e cuidar de nós.
Sim, de nós - que temos
sido tão estúpidos graças a Deus...
Ontem, foi Dia Mundial da Fotografia
foto de Pedro Agostinho Cruz |
Tenho a certeza, que enquanto
fotógrafo, o “puto” autor da foto acima, é dos que não prejudica uma arte
que tanto ama e respeita...
Espero que a fotografia lhe retribua e lhe proporcione tudo o que merece.
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