Isto não é ficção.
“Na Figueira da Foz, a chuva condicionou o desfile do
Carnaval de Buarcos que acabou por se realizar com entrada livre, resultando
numa perda de receitas. A organização do evento chegou a equacionar o
cancelamento do desfile cerca das 13h00, mas, com a paragem da chuva minutos
depois, decidiu-se pela sua realização, embora sem cobrar o bilhete (3,5 euros)
de acesso ao recinto.”
A água molha.
Por isso, quem anda à chuva molha-se.
Naturalmente.
Numa altura em que na Figueira o assunto do momento é o carnaval, o mínimo que se devia exigir era que a
natureza aquosa da água fosse uma unanimidade.
No entanto, sempre que São Pedro decide ligar a torneira
celestial, a reacção que se observa nas pessoas é a de uma surpresa desconcertante!
Os seres humanos, como os animais terrestres que são,
consideram que o contacto involuntário com a água é desagradável.
Logo é
natural que fiquem surpresos.
O que estranho, é que
aqueles que se encontram dentro de edifícios, debaixo da protecção concreta de
tectos e paredes, apresentem surpresa e incredulidade pelo facto de, no meio do
segundo mês mais chuvoso do ano, chover.
O frio esfria.
O facto de temperaturas baixas incomodarem os seres humanos,
nesta altura do ano, também faz todo o
sentido.
Como a nossa temperatura corporal é cerca de 37 graus, sentimo-nos
mais confortáveis em temperaturas amenas.
No entanto, sempre que os termómetros registam temperaturas
ligeiramente abaixo dos 10 graus, o espanto e o choque surgem como se
tivéssemos sido transportados, numa questão de segundos, do calor do deserto do
Saara para o frio das tundras da Sibéria.
Estamos em plena época da demoníaca trindade de chuva, vento
e frio.
Os portugueses transformam-se em criaturas ainda mais soturnas
e traumatizadas.
Sempre que podem, aproximam-se das lareiras e aquecedores com a paranóia de
gazelas perseguidas. Cobrem-se de mantas e cobertores.
Ficam carentes, irritadiços, frágeis e sonolentos.
Podemos discordar sobre quase tudo.
Mas, por estes lados, está mais do que na altura de chegar a um consenso sobre os fenómenos
meteorológicos.
Todos sabemos o essencial sobre a matéria.
No Verão está calor e não chove; na Primavera está ameno e,
às vezes, chove; no Outono está ameno e, frequentemente, chove; e no Inverno
está frio e chove – muitas e muitas vezes.
Eu sei que existe muita incerteza na previsão do estado do
tempo.
A meteorologia é uma ciência traiçoeira.
Ela partilha isso com os piratas, os políticos e as ciências
económicas.
Mas, no Inverno, o
natural é estar frio e chover – muitas e muitas vezes…
Será que também vai ser necessária a força da "troika" para percebermos isso de uma vez por todas?..