"... vamos
habituar-nos à ignorância, aos erros ortográficos, aos erros de
concordância, à confusão de conceitos do líder do Chaga [não é
gralha]. "Bertol Brecth", "Dostoywesky", "massiço", "chisato", "solarengo", "despoletar", "há dez anos atrás", "buçal",
replicados pelos aios e escudeiros, gente que não sabe a diferença
entre um acento grave em "à" e um acento agudo em "ás" e que se calhar
até pensa que é assento, que escreve República sem acento agudo no u,
que confunde Presidência com Previdência, ou talvez não, nas mãos do
líder Ventas seria "Previdência e Abono de Família". Gente que nos idos
de quem têm saudades apanhavam 25 reguadas em cada mão e iam para o
canto da sala com umas orelhas de burro enfiadas cornos abaixo."
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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