Quem não quiser igual, pois que vote diferente...
Uma coisa é fazer diferente, outra é dizer que se está a fazer diferente ou que, a seu tempo, "quando for possível", se irá fazer diferente. Uma coisa é mudar, outra é prometer mudanças enquanto se vai fazendo igual em cima da paciência infinitamente elástica de quem aceita que tudo fique na mesma, como vai ficando. Na boa tradição do centrão, o Governo PS acaba de imitar o seu antecessor na substituição de um comissário político por outro comissário político na presidência do CCB. Os socialistas podem agora argumentar com o que quiserem, o único critério foi a cor do cartão partidário. Os anteriores fizeram o mesmo, pois fizeram. Por isso é que agora, para não fazerem igual, teriam que fazer diferente. Seria necessário vontade e coragem política. Seria preciso abdicar dos tachos no aparelho do Estado que vão servindo para premiar as lealdades dentro dos aparelhos partidários. E eles não são doidos. São os tachos que os catapultam para o topo do aparelho dos partidos respectivos. E nenhuma atribuição de nenhum tacho tem um custo eleitoral com expressão suficiente para obrigá-los a quebrar com a cultura dos dois partidos. Se para a grande maioria dos eleitores a captura dos organismos públicos pelos aparelhos partidários é uma questão lateral na formulação das suas decisões sobre o partido ao qual confiam o voto, se a maioria dos portugueses incorporou como natural que o seu voto sirva também para dar o poder de substituir boys laranja por boys rosa e vice-versa, seguramente que não serão aqueles cujas carreiras se fazem à sombra desta indiferença que irão tomar a iniciativa de matar a sua galinha dos ovos de ouro. Amanhã já quase ninguém se lembrará que o Presidente do CCB foi escolhido pela sua militância partidária, sem concurso público nem projecto conhecido. E as próximas eleições serão muito depois de amanhã.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
1 comentário:
No ano de 2012 sua excelência o Primeiro-Ministro de Portugal de seu nome Pedro Passos Coelho deu aval para a substituição de António Mega Ferreira por Vasco da Graça Moura.
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