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terça-feira, 12 de março de 2024

A leitura pode ser um murro no estômago para muitos à esquerda, mas vale a pena...

O texto é longo. Muitos, inclusive "das esquerdas", podem não gostar nem concordar com tudo. Mas está aqui muita reflexão. Muito incómodo. E muita verdade.
Por Miguel Carvalho: 10 IDEIAS SOBRE AS LEGISLATIVAS

«1 - Quem me conhece sabe que ando, no mínimo há dois anos, a dizer a frase que Pedro Nuno Santos proferiu esta noite, (exceptuando a percentagem, claro, pois não seria bruxo para adivinhar): não há tantos racistas e xenófobos em Portugal como se pretende fazer crer. Mas o que fez a esquerda para perceber a potencial base eleitoral do Chega e o seu crescimento? Zero. O Chega cresce à custa das mentiras, enganos e sonhos por cumprir que só responsabilizam PS, PSD e, em parte, o CDS. Mas também cresce porque há uma esquerda que julga que lhe basta ter uma agenda e imensas certezas sobre um povo que, como se nota, não conhece de todo. Nem escuta de verdade. 

Pedro Nuno Santos e Rui Tavares parecem ter sido os únicos a perceber, ainda que tarde, que há um trabalho que a esquerda tem de fazer (além de renovar-se, claro): falar com os eleitores, ouvi-los, mostrar que as ideias, mesmo quando são muito boas, também se explicam e podem demorar a convenver quem acumula muitos desencantos, de muitos anos, por esse País fora. Há um quotidiano devastador, no País rural e suburbano, que precisa de ser vivido e percebido, e para os quais não chega uma resposta "pronto-a-vestir". Uma esquerda que só tem agenda e acha que não deve discuti-la terra a terra serve para pouco ou nada.

2 - Para aqueles que achavam que antigos eleitores de esquerda nunca votariam no Chega, eis a resposta, contundente. Ou acham que aqueles 18 por cento vieram de Marte? Pois, é outra tese que ando a pregar há mais de dois anos, quase sempre em minoria. E nem um certo jornalismo que vive numa bolha consegue ouvir ou perceber. Sim, há muitos eleitores ex-PCP, ex-BE, ex-PS que votaram Chega. Ontem como hoje, por fé, sem terem lido Marx nem Mussolini. Mais do que estigmatizá-los, talvez fosse melhor ouvi-los e perguntar-lhes porque escolheram Ventura. Mas isso dá muito trabalho, não é?

3 - Insisto: uma boa parte dos eleitores do Chega é resgatável para o "lado bom" da democracia. Estão lá, foram lá parar pelas mais variadas razões. E é preciso entendê-las, dar uma solução a muitos problemas que se eternizam. Mas o que temos assistido, sobretudo à esquerda, é a um discurso de trincheira que varre tudo a estigmas. Não, não são todos saudosistas, racistas, xenófobos. Há muitos, mas não são todos. Bem sei que a mentira, a desonestidade, o discurso do ódio, anda de Ferrari. Mas o jornalismo e a política que se dão ao respeito não podem responder a estes fenómenos com o discurso de trincheira, estigmatizante, mesmo que a verdade ande, inevitavelmente, de trotinete nos tempos que correm. O escrutínio é necessário e urgente. Mas também deve ser metódico e inclusivo. Quem analisa o Chega não deve confundir quem manda com quem vota. Parece óbvio, mas a verdade é que não foi. O resultado está à vista.

4 - A esquerda tem de ser reponsabilizada pelo que ofereceu de bandeja hoje: a incapacidade de se entender após a "Geringonça"; uma maioria absoluta gerida com amadorismo e sem integridade em muitos setores da governação; posições controversas sobre a guerra na Ucrânia; uma agenda exposta de forma arrogante, como se bastassem as certezas quanto ao seu brilhantismo para que todo um povo as aplaudisse como avanços civilizacionais que são. Parte da esquerda não percebeu o povo português nos anos seguintes ao 25 de Abril. Não, a revolução não estava madura. Como nunca esteve. Passaram 50 anos e a culpa é apenas do povo que não percebe o bem que a esquerda lhe faz?

5 - Uma nota sobre o PCP: podem dar as voltas que quiserem, cultivar a vitimização do costume, repetirem o "olhe que não, olhe que não", mas a posição sobre a Guerra na Ucrânia é algo que eleitores de esquerda de sempre (fora os outros) jamais esquecerão. Na mentalidade de muitos, ainda habituados a pensar entre quatro paredes, a Rússia ainda é um bocadinho a União Soviética. E todos sabemos como Putin também adora ir buscar essas referências históricas enquanto financia a extrema-direita europeia. Mais: um partido que remete um João Ferreira para a humilhação de um 10º lugar em Lisboa merece parte do que lhe aconteceu. O PCP podia, em devido tempo, ter reunido o melhor do que hoje é o BE ou o Livre (e parte do PS até). Escolheu o seu caminho, sempre cheio de certezas sobre o que o povo quer e acabará por reconhecer à CDU. Agora o lema é resistir. Até quando? É assim que se defendem os trabalhadores? É assim que se oferece uma vida melhor? É assim que se representa quem não tem, nas suas vidas, outra representação que não seja dada pelo PCP? É assim que se defende Abril? "Mais 15 dias e isto piava de outra maneira". A sério, Paulo Raimundo? Já agora: na Festa do Avante dos 50 anos do 25 de Abril ainda teremos as barraquinhas da Coreia do Norte e do MPLA? É só para saber...

6 - Chamem-me doido, mas não estou a ver bem o que Ventura vai fazer com tanta euforia, além de berrar mais alto. Aqueles deputados todos vão servir para quê, exatamente, se Montenegro mantiver a palavra dada? Para já, só há um nome para isto: ejaculação precoce. Vejamos: para o governo não vai, acordo parlamentar não vejo como. Festeja o quê? Ah, sim,  tem uma bancada gigante, tem. E quadros? E políticas que não andem ao sabor da espuma dos dias e do ressentimento? Ao Chega resta-lhe sonhar que a legislatura dure muito pouco e possa culpar os outros do que não fizeram pela maioria estável de direita. Aí sim, pode ser que lhe saia a sorte grande.

7 - Montenegro fez uma boa campanha, apesar do CDS, do PPM e do cheiro das tintas. Mas o cordão sanitário ao Chega não é convicção. É tática. Montenegro deve ter percebido a tempo que os custos de um qualquer acordo com o Chega seriam devastadores. Temo mesmo que muita gente com peso abandonasse de vez o partido. E com estrondo. Que PSD sobraria para a História depois de um acordo que faria Sá Carneiro dar voltas no túmulo? No momento de avaliar o que pesava mais, escolheu o que pensava ser menos destrutivo para o partido. E vendeu-o como convicção. Fez bem.

8 - O crescimento do Chega deve também muito ao jornalismo "pingue-pongue", de pouco escrutínio de fundo e muito ruído, de declaração e contra-declaração, de casos e casinhos, sem distinção de envergadura e gravidade. Há um jornalismo que também esteve em jogo nestas eleições e perdeu. Prefere a preguiça do Portugal sentado, do comentário e do parlatório, e menos o País real, que há muito anseia por se fazer ouvir no centro das decisões, mas não é escutado. Despovoado, esquecido, negligenciado, deserdado, votou para se fazer ouvir. Não gostaram? É o que lhes resta. Se lhes chamarem "fachos" só vai piorar, acreditem...

9 - Excelente discurso de Pedro Nuno Santos. Goste-se ou não do estilo, foi claro, frontal. Percebe-se que não está ali para "engonhar" e a política precisa dessa transparência, para o bem ou para o mal. Mas o PS tem muito, muito para fazer para recuperar a imagem de um partido confiável, que não trai nem se prostitui de pantufas, quando lhe dá jeito. É o trabalho de uma geração, talvez possa ser esta. “Não há 18% votantes racistas ou xenófobos em Portugal, mas há muitos portugueses zangados que sentem que não tem tido representação, queremos reconquistar a confiança destes portugueses". Estas palavras são todo um programa. Começar agora é um pouco tarde, mas ainda não é o fim do mundo.

10 - O Livre fala para uma esquerda que se cansou do mofo da esquerda. Para poder ser esquerda de novo. Uma esquerda que aprende com os erros é coisa rara. Talvez haja caminho por aqui. Sem Joacines nem outros erros de casting ou de avaliação pode ser que este seja, para muitos, o início de uma bela amizade. (O Livre foi terceiro no Centro Histórico do Porto. O que é que está a acontecer nos subterrâneos da política que ainda não detetamos?).

P.S. Perdoem, mas não estou pessimista em relação à liberdade e à democracia. Pelo contrário. Acho que, para muitos, este é o princípio do fim, embora não pareça. E entretanto, pode ser que o tempo faça cinza da brasa e outra maré cheia venha da maré vaza...

P.S. II Para um artigo que escrevi há umas semanas e será publicado em breve na Divergente, escrevi: "Nos próximos atos eleitorais, a começar pelas Legislativas de março, o eventual aumento da participação eleitoral pode acabar no colo de uma reforçada direita radical ciberpopulista, que afronta a mediação informativa profissional e reduz o escrutínio jornalístico a terra queimada". E mais não digo, leiam o resto depois.»

terça-feira, 13 de junho de 2023

Conheço o PS há 50 anos...

Nos bastidores da política figueirense, elementos ligados ao PS/Figueira, acusam-me de várais coisas. Entre elas, de não gostar do PS. 
E, se calhar, têm razão. 
Previno, desde já, que a explicação vai ser longa. Vou abordar quase 50 aos da minha «estória» de vida e o mesmo tempo da história da democracia portuguesa, vividos por mim na primeira pessoa.
Quem tiver curiosidade, continue. Para mim será um gosto acompanharem esta reflexão que fiz, com a juda de muita leitura, aproveitando 5 dias de descanso e de isolamento numa aldeia perdida na Serra da Estrela. 

Desde logo, para começar, porque não gosto de partidos que, para tirar dividendos plíticos, tentam reescrever a história.
Lembram-se da tentativa feita (via jornais, rádios e televisões) em 2019, do PS de filiar a Crise Académica de 69 (Coimbra) no Partido Socialista.
Quiçá, ainda mais grave: da tentativa de apropriação, por elementos do Partido Socialista, do movimento estudantil simbolizado no “17 de Abril”.
Nada mais falso. Essa tentativa, mais ou menos velada de reescrever a história, pode, com o apoio acrítico ou a pura ignorância dos meios de comunicação, ter tido algum sucesso.
Porém, não teve força suficiente para historicamente impor essa mentira.
A saber.
Em 1969, nem Partido Socialista havia. O que havia era a ASP, Acção Socialista Portuguesa, fundada em Novembro de 1964, em Genebra, por Mário Soares, Tito de Morais e Ramos da Costa.
Assim sendo, a filiação de qualquer movimento estudantil ou político da época no actual Partido Socialista, só seria legítima se aqueles, ou parte daqueles que então actuaram, se identificassem com a acção política de Mário Soares ou das organizações políticas por ele dirigidas, visto ele ser, indiscutivelmente, mais até do que depois do 25 de Abril, a figura mais visível desse sector da oposição democrática.
"Mário Soares, desterrado para S. Tomé, por deliberação do Conselho de Ministros presidido por Salazar, tinha regressado em Novembro de 1968 cerca de um mês e meio depois da tomada de posse de Marcello Caetano. Logo a seguir a este regresso, um núcleo da ASP (Associação Socialista Portuguesa) de Coimbra, constituído por um ou dois estudantes (Luís Filipe Madeira e um outro) e apoiantes históricos de Mário Soares na região, como António Arnaut, António Campos e Fernando Valle, organizou em Coimbra, no ambiente restrito de uma República – “Os Kágados” –, uma sessão com Mário Soares para falar sobre o desterro em S. Tomé, o seu regresso e a situação política do país. No ambiente agitado do meio estudantil que então já se vivia em Coimbra, a presença de Soares e as suas intervenções n’ “Os Kágados” não tiveram praticamente nenhum impacto político entre os estudantes, tal era o distanciamento da juventude oposicionista ao “socialismo” de Soares e seus amigos. Aliás, esse encontro não terá corrido nada bem a Soares, apesar de apadrinhado por alguns notáveis vultos da intelectualidade coimbrã, como o professor Paulo Quintela e outros. Não apenas por Mário Soares não captar nenhuma simpatia entre a juventude de então, mas também por o seu regresso do desterro, tão próximo da tomada de posse de Marcello, ter levantado uma onda de boatos sobre a sua acção futura política que, por mais injustos que fossem, o prejudicavam seriamente." 
O mesmo distanciamento se notou, aliás, meses mais tarde, no II Congresso Republicano de Aveiro (Maio de 69) no qual a intervenção de Soares, centrada na exigência de cumprimento do art.º 8.º da Constituição (1933), foi acolhida com muita frieza. Posteriormente, "em Outubro de 1969, na campanha eleitoral para as legislativas – as primeiras da era marcelista -, Soares quebrou a unidade oposicionista, apresentando em quatro distritos (Lisboa, Porto, Braga e Castelo Branco) listas da CEUD (Comissão Eleitoral de Unidade Democrática) apoiadas pela ASP, que recolheram uma ínfima parcela dos votos da oposição democrática. Isto, apesar de durante a campanha eleitoral, Soares se ter esforçado por marcar inequivocamente todas as diferenças (Comício de Entrecampos, no - posteriormente chamado - Teatro Vasco Santana) que o distinguiam (a ele e aos apoiantes do seu movimento) da CDE (Comissão Democrática Eleitoral), movimento unitário da oposição democrática, por ele considerado de inspiração comunista, não obstante nele participarem activamente e em lugares de grande destaque alguns daqueles que mais tarde ocuparam lugares de grande relevo no Partido Socialista, como, por exemplo, Jorge Sampaio." 
Soares, porém, mantinha-se fiel, como aliás sempre se manteve, mesmo depois do 25 de Abril, a uma transição do fascismo para a democracia segundo os princípios e os valores inscritos no “Programa para a Democratização da República”, "apresentado em 1961 pela velha guarda republicana."

Em 1973, viria a ser o “primeiro” fundador do Partido Socialista e dois anos depois (1975) o líder do partido mais votado em eleições livres.
Mário Soares, não gozava na década de 60 da simpatia da maior parte dos portugueses. Era mesmo olhado com alguma hostilidade pela juventude estudantil antifascista.
Então, como explicar  a popularidade e as vitórias eleitorais depois do 25 de Abril?
Quem andou no "barulho", sabe que em 1975 e anos seguintes o PS cavalgou uma forte onda anticomunista, que Soares soube habilmente aproveitar e até instrumentalizar a partir de tudo o que à esquerda do Partido Socialista se estava a passar durante a Revolução. 
E recorda que muito do que se passou: por exemplo, que muitos dos que foram responsáveis pelo que se passou, acabaram, anos mais tarde, depois da “normalização” e já "regenerados", por integrar as fileiras do Partido Socialista.

Depois de Soares, tivemos muitos outros. E tivemos Socrates... E tivemos Seguro, que o mesmo é dizer, "o mais vulgar populismo de direita".
Recorde-se que Seguro, na disputa eleitoral interna com Costa, "apresentou um conjunto de propostas que agradava a todos aqueles que consciente ou inconscientemente pretendem desviar as atenções dos verdadeiros problemas para as fazer incidir sobre questões menores, frequentemente anti-democráticas, que nada resolvem e apenas têm o condão de permitir acercar-se do poder, em último termo, tomá-lo, àqueles que delas fazem uso."
Para se fazer uma ideia mais precisa do que representam algumas das propostas apresentadas por Seguro,  basta lembrar "que só os prejuízos semestrais do BES ou o «desfalque» do BPN davam para pagar por décadas os cinquenta deputados que Seguro queria eliminar, eliminando com eles a representatividade democrática do Parlamento."
Seguro, que tem uma imagem de homem sério, politicamente é um homem de direita. Consequentemente, continua a defender uma política de direita.
Já seria motivo de profunda preocupação se estas propostas tivessem sido apresentadas para “ganhar votos”, junto do eleitorado socialista menos atento, aos portugueses em geral, de modo a cativar uma parcela do eleitorado situado à direita ou no centro-direita, capaz de votar no PS, depois de profundamente decepcionado pela política do Governo de Passo Coelho. 
Vamos mais longe: se tivesse como objectivo mobilizar "aquele outro eleitorado menos esclarecido que regularmente vota PS".
Nestes pressupostos todos, as propostas de Seguro continuariam a ser reprováveis, mas apesar de tudo justificáveis ou, pelo menos, compreensíveis, no “vale-tudo” eleitoral.
Mas não era esse o caso. Estas propostas dirigiram-se "àqueles a que poderíamos chamar a «elite» do eleitorado socialista, àquela fatia do eleitorado composta pelos militantes, que são a essência do partido, e pelos simpatizantes que voluntária e empenhadamente se mobilizaram para escolher o “número um” do Partido Socialista." 
Esse foi o problema: "sendo Seguro um homem que faz política desde a mais tenra idade, nado e criado nas “jotas”, profundo conhecedor do partido, dos seus militantes e dos simpatizantes mais empenhados na vida político-partidária, a apresentação daquelas propostas no auge da disputa eleitoral intra-partidária só podiam querer significar que elas tinham a virtualidade de seduzir eleitoralmente aqueles a que se dirigiam".
As propostas apresentadas então por Seguro explicam muito daquilo que é o PS.
Ao tentar ganhar votos entre os militantes do partido e os simpatizantes inscritos passou, digamos assim, uma espécie de atestado de menoridade política da “essência” do Partido Socialista.
Se o então responsável máximo do partido e profundo conhecedor dos seus meandros, entendia que as propostas publicitadas eram susceptíveis de cativar a excelência do eleitorado socialista ou, pelo menos, a sua maior parte, então a conclusão a que inevitavelmente se tem de chegar é que o Partido Socialista se situa ainda muito mais à direita do que qualquer análise imparcial poderia supor.    
E esse PS continua a andar por aí. E Seguro também...
E, agora, "temos" o PS de Costa.
Há quem diga que "Pedro Nuno Santos será o próximo líder do PS"
Mas será, "que consegue  chegar a primeiro-ministro"?
A ala do centro e a ala da direita do PS, teme que o ex-ministro "seja uma inflexão à esquerda".
Num partido como o PS, "uma dita ala esquerda é mesmo uma coisa muito complexa." Muitos consideram que no actual momento, "o partido se situa à esquerda." Sendo assim, sabendo que estamos a fazer uso de uma lógica formal muito redutora e que as coisas podem ser vistas de outra maneira, vamos admitir que essa dita ala esquerda do PS está realmente descontente com o rumo que o partido tem tomado.
Portanto, no futuro a inflexão do PS, a meu ver, tem várias hipóteses de ser ao centro, ou, ainda mais visível, à direita.

Penso que todos nos lembramos, que no acto elitoral da reeleição de Eanes, Soares e os seus fiéis apoiantes retiraram o apoio a Eanes com o objectivo (não alcançado graças à outra parte do PS) de impedir a sua vitória, mesmo sabendo que o preço a pagar por esse comportamento, poderia ser a eleição do candidato da direita.
Na derrota de Freitas, o PS dividiu-se em duas candidaturas (uma de direita, Soares; outra, de esquerda, Zenha). Os independentes e católicos de esquerda, na ausência de um candidato consensual, apoiram Lurdes Pintassilgo. O  PCP, que começou por apresentar o seu candidato, desistiu na primeira volta a favor de Zenha, não tendo, todavia, esses votos sido suficientes para garantir a Salgado Zenha a passagem à segunda volta. 
Soares acabou por ganhar, graças aos eleitores que na primeira volta votaram Pintassilgo e ao voto dos comunistas, cujo apoio foi decidido num Congresso Extraordinário, seguido por uma disciplina de voto sem falhas, sem a existência da qual jamais Soares teria sido Presidente da República.
Na vitória de Sampaio concorreram factores difíceis de convergir noutras situações. Em primeiro lugar, Sampaio tendo feito o seu percurso até 1978 à margem do PS e quase sempre, desde muito antes do 25 de Abril, em oposição a Mário Soares, granjeou na restante esquerda uma simpatia e um estatuto como nenhum outro socialista alguma vez teve. Por outro lado, Sampaio, apesar de não gozar da simpatia da maior parte dos “históricos” do PS e de ter rompido com Guterres, conseguiu, numa altura em que Guterres estava politicamente muito ocupado na preparação da campanha para as legislativas (Estados Gerais), antecipar a sua candidatura e impô-la ao PS como um facto consumado. Apesar de Sampaio não ser o candidato que Guterres escolheria, se o tivesse podido fazer, o PS (oficial) viu-se obrigado a apoiá-lo seguindo assim a restante esquerda que nem sequer levou qualquer candidato às urnas, já que tanto Jerónimo de Sousa (PCP) como Alberto Matos (UDP) desistiram a seu favor. 
Sampaio concorreu contra Cavaco de quem uma significativa maioria de portugueses estava positivamente farta, após dez anos de cavaquismo com tudo o que isso até hoje representou de negativo para Portugal e para os portugueses.  
Depois, é o que sabemos. Em 2006, Cavaco foi eleito e em 2011, reeleito. Tanto numa como noutra eleição, o PS foi incapaz de apresentar uma candidatura consistente e susceptível de ser apoiada pela esquerda. 
Em 2006, Sócrates, completamente inebriado com a maioria absoluta que tinha acabado de alcançar um ano antes, desprezou as presidenciais e minimizou a sua importância.
Soares, já sem fôlego para novo mandato, querendo continuar a “ajustar contas” com Cavaco, numa época e num contexto em que já não estava em condições de o fazer, viu-se confrontado com o aparecimento da candidatura de outro socialista, Manuel Alegre, avidamente apoiado pelos que na área do PS e suas proximidades se estavam posicionando contra Sócrates, tendo-se então assistido a uma verdadeira luta fratricida, com corte de relações pessoais e acusações de toda a ordem entre ambos os candidatos. O clima criado pelos dois candidatos e a maioria absoluta de Sócrates desmobilizaram completamente o eleitorado de esquerda, tendo Cavaco sido tranquilamente eleito logo na primeira volta.
Em 2011, Cavaco foi reeleito, deixando logo no dia da vitória um aviso muito claro do que iria ser a sua presidência nos cinco anos subsequentes: mesquinha, vingativa e sectária. 
Não enganou ninguém!
Mas, o mal, mais uma vez, tinha sido feito pelo PS…

E chegámos a Marcelo. E é o que sabemos.
E porquê? Não existia um candadato com um perfil reconhecidamente vencedor à esquerda?
Porém, esse candidato existia no seio do Partido Socialista. Existia mas não foi escolhido, nem ele demonstrou publicamente qualquer interesse em desempenhar esse papel.
Na euforia da vitória “interna“ de António Costa, supôs-se – as sondagens ajudavam a este entendimento – que facilmente derrotaria a direita nas legislativas de 2015, alcançando uma maioria absoluta. E é neste contexto que é incentivada no seio do PS, informalmente, mas com apoios muito claros da liderança e de todos os que lhe são muito próximos, a candidatura de Sampaio da Nóvoa.
Acontece que sucedeu o que toda a gente sabe: António Costa não alcançou a maioria absoluta, nem sequer a maioria relativa nas legislativas e aquela candidatura, que havia sido lançada com base numa pressuposição que falhou, passou quase de imediato a ser contestada no interior do Partido Socialista pelos opositores de Costa, pelos adversários da solução governativa entretanto alcançada e pelos ressabiados da ressaca das primárias.
E como sempre acontece no Partido Socialista, também desta vez, os oponentes de liderança não tiveram qualquer problema em “empurrar” para a disputa eleitoral uma personalidade da direita do partido, que não tinha, objectivamente, quaisquer condições para ganhar eleições, mas cuja candidatura teria o efeito – efeito que ninguém com um mínimo de experiência política poderia deixar de antecipar – de desmoralizar e desmobilizar o eleitorado socialista e da esquerda em geral, impedindo desta modo a polarização da eleição entre o candidato da direita e o da esquerda, com vista a obrigar aquele a definir-se politicamente.
Dada a divisão reinante no seio do PS, Marcelo pôde fazer uma campanha apolítica como se previa, assistindo de palanque aos ataques cruzados das “candidaturas socialistas”, e ainda teve a sorte ter sido objectivamente favorecido pelo aparecimento de, pelo menos, dois “candidatos folclóricos”, cujo discurso e a divulgação que os media fizeram, muito contribuíram para a consolidação da campanha à volta de questões de escasso interesse político.

Se o Partido Socialista perdesse a chamada ala esquerda e se dele se afastassem aqueles eleitores que à esquerda, às vezes contrariados e quase nunca convencidos, votam nele por não se reconhecerem ou não confiarem nas demais alternativas existentes, o PS deixaria de parecer o que é e passaria a ser um partido de centro direita. 
A sua preocupação é apenas uma: garantir a alternância relativamente ao partido imediatamente à sua direita. 
O PS é isso mesmo. Mesmo com uma "ala esquerda" e com um núcleo relativamente importante de votos da esquerda, o PS é como é – apesar da "geringonça", não fez e não faz  uma política em que a esquerda se consiga rever e apoiar.

É preciso ter presente a história do Partido Socialista e a sua verdadeira natureza. 
Assim como o papel dos demais “partidos irmãos” europeus, digam-se eles socialistas, social-democratas ou trabalhistas, depois da Queda do Muro e da implosão da URSS. Esses tais "partidos irmãos do" PS, devidamente descaracterizados foram em grande "levados pela vertigem da História".
Não souberam, ou não quiseram, compreender o que realmente se estava a passar, tendo sido inclusive por obra sua que todas as portas foram abertas para o relançamento de um capitalismo sem freios com as consequências que agora estão à vista e contra as quais esses mesmos partidos socialistas se consideram impotentes para as contrariar ou inverter.
O PS, em 25 de Abril de 1974, "intitulava-se um partido à esquerda".
Todavia, nunca houve politicamente uma “maioria de esquerda”, apesar de ela existir aritmeticamente, nem houve qualquer tipo de entendimento à esquerda minimamente durável. Houve sim uma coligação com o CDS, o único que não votou favoravelmente a Constituição.  
Porquê? Porque o PS de Mário Soares tinha uma estratégia muito clara da qual não nunca se afastou um milímetro: institucionalizar em Portugal uma democracia representativa, se possível de base exclusivamente parlamentar, sem qualquer tipo de cedências a qualquer outra forma de poder que não a resultante do voto popular.
"Mário Soares seguiu à risca esta estratégia, fazendo as alianças de ocasião que lhe pareceram as necessárias para a consolidar e recusando, sem problemas de consciências ou hesitações, qualquer tipo de entendimento à esquerda.
Mário Soares acreditava na solidariedade dos partidos socialistas e social-democratas europeus, acreditava no “socialismo em liberdade” e acreditava acima de tudo na Europa como palco ideal de concretização das suas ideias políticas. E continuou a acreditar, nos anos imediatamente subsequentes à Queda do Muro e à desagregação da URSS, que estavam, finalmente, reunidas as condições ideais para pôr em prática aquele ambicioso projecto político."
Aliás, "é bom que se recorde que não foi sob o comando executivo de Soares à frente do PS que a organização económica consagrada na Constituição Portuguesa foi revista e completamente descaracterizada, mesmo tendo em conta a Lei n.º 77/77. Soares patrocinou e promoveu, juntamente com o PSD, a revisão de 1982, que no essencial consagrou aquilo que fora a sua estratégia politica depois do 25 de Abril. Mas foi com a revisão de 1989, promovida pelo cavaquismo com o apoio do PS de Constâncio que se abriu à porta às privatizações e tudo o mais que elas trouxeram. Cumprida a tarefa, Constâncio demitiu-se de secretário-geral do PS por divergências insanáveis com a família Soares, na altura centradas em João Soares."

Mesmo quando o PS esteve politicamente mais à esquerda nunca a sua política favoreceu qualquer entendimento à sua esquerda. Meia dúzia de anos depois da revisão constitucional de 89, veio o “guterrismo” que escancarou as portas da economia à Europa.
O PS, hoje, pratica o neoliberalismo, atenuado pela promoção de um certo assistencialismo que a existência de dinheiro com fartura possibilita. 
Temos no poder a nova geração de socialistas a preparar o caminho para o capitalismo sem freios, voraz e insaciável que jamais abrandará a sua marcha com vista à constituição de uma sociedade inteiramente dominada pelo mercado. Uma sociedade onde impera o poder do mais forte, onde campeia a liberdade ilimitada, bem à semelhança do que se passa na selva. 
Não tenhamos iliusões, é para onde nos dirigimos pela mão do PS. 
O “nosso” PS continua a cumprir o seu papel histórico desde o 25 de Abril de 1974.

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

"Portugal não será excepção"


«O acordo que o PSD-Açores fez com o Chega inaugura uma etapa crítica na vida política nacional. O PSD percebeu que só chegaria ao poder em aliança com o segundo partido da direita, e esse partido é o Chega. Para isso, seria preciso que ele se tornasse respeitável, e a oportunidade surgiu com estas eleições nos Açores. Aberto o precedente, agora é só esperar pela oportunidade no Continente, e ela virá na sequência da pandemia.


A ascensão de um partido da extrema-direita era previsível porque o PS apenas faz a gestão, é certo que com alguma sensibilidade social, do capitalismo selvagem instituído na UE, o capitalismo da austeridade inscrita nos tratados. A verdade é que gerir um sistema podre não trava a extrema-direita. Hoje há muitíssima gente farta de esperar por melhores dias, há muitas vidas abandonadas, não reconhecidas, invisíveis, há muitos desiludidos com as promessas não cumpridas da democracia, muitos eleitores dispostos a votar em alguém que dê expressão à sua raiva.»


Nota de rodapé.
Deixo, se assim o entenderem, para uma merecida leitura atenta, um magnífico e lúcido texto de Luís Osório.

Comparar o Chega ao Partido Comunista ou ao Bloco de Esquerda é pornográfico

«1.
Mais pornográfico do que o acordo PSD com o Chega nos Açores – e do reiterar por parte de Rui Rio da disponibilidade para que esse acordo possa ser nacional – é o repetir do argumento de que não faz sentido criticarem o PSD por se aliar ao Chega quando o PS se aliou ao Partido Comunista e ao Bloco de Esquerda.
Um argumento ensaiado por vários comentadores dispersos por aqui e por ali. E repetido até à náusea nas redes sociais por pessoas comprometidas com a possibilidade de uma nova ordem à direita.
O Partido Comunista e o Bloco de Esquerda são tão maus ou piores do que o Chega é o mantra que passou a ser uma palavra de ordem. E é isso que iremos ouvir nos próximos larguíssimos meses.
2.
Comparar um partido com simpatias pelo fascismo, um partido que faz pactos com movimentos populistas em toda a Europa, um partido que deseja o regresso da pena de morte, que quer vigiar muçulmanos e expulsar ciganos, que grita aos quatro ventos que deseja instaurar uma “quarta República” e um partido em que militantes chegaram a defender que as mulheres que abortam deveriam ficar sem ovários não pode ser comparável – nem por brincadeira – ao Partido Comunista.
3.
E o simples facto de isso ser ensaiado por gente do PSD – em nome da ambição do poder, é a triste prova de que em nome da vingança em relação a António Costa irá valer tudo – até um pacto com o demónio.
Vamos lá a ver.
O Partido Comunista é um partido com 100 anos. Ao longo da sua história viu largas centenas de militantes morrerem em nome de uma ideia de libertação do fascismo salazarista.
Enquanto os outros desistiam o PCP manteve-se na luta.
Não desistiu.
Não se rendeu.
Milhares foram torturados, centenas mortos, quase todos viram as famílias ser atingidas, chantageadas, todos deixaram de ter a possibilidade de trabalhar ou de existir como seres humanos.
E nesse combate inclemente contra a ditadura estiveram ao lado e participaram em campanhas políticas de apoio a figuras que não eram comunistas.
Norton de Matos e Humberto Delgado foram apoiados fortemente pelo PCP.
Da mesma maneira que estiveram ao lado de projetos que aglutinavam muitos outros democratas não-comunistas como a CDE (apenas para dar um exemplo)
Já agora, em 1975, no final do PREC, quando todos vaticinavam que o PCP iria tomar o poder por ter, aparentemente, o controle do poder militar e das armas, foi Álvaro Cunhal e o seu secretariado quem travou a possibilidade.
E essa foi a razão para que Melo Antunes, o ideólogo do 25 de Novembro, tenha ido à televisão defender os comunistas e defini-los como essenciais à democracia.
Na história da democracia portuguesa nunca existiu, e já lá vão quase 50 anos, o mínimo deslize institucional. Nos sindicatos ou nas câmaras municipais os comunistas deixaram a sua marca sem nunca colocarem em causa a democracia que ajudaram a fundar.
4.
É chocante ver alguma gentalha comparar os comunistas com o Chega.
Chocante comparar homens e mulheres que se sacrificaram e ofereceram a sua vida, com pessoas como André Ventura e os que o seguem.
Gente como António Dias Lourenço (e poderia falar de tantos outros ou outras), sempre de sorriso franco, sempre capaz e disponível para um abraço, mas sempre com o ímpeto da luta, do combate por uma revolução em que acreditou até regressar à clandestinidade aos 95 anos.
É o que penso quando nele penso. Regressou à clandestinidade, nunca me passa pela cabeça que tenha morrido.
É o que penso, sim.
No seu regresso a Vila Franca e ao Alentejo onde conseguiu que tantas centenas acreditassem que era possível derrubar Salazar (Saramago dedicou-lhe Levantado do Chão). No seu regresso a Peniche onde voltará a dar um salto de 30 metros para as águas de onde nenhum cabrão de nenhum PIDE acreditou que fosse possível escapar. No seu reencontro com o filho de dez anos, António como ele, que viu morrer com uma leucemia. Estava na cadeia e Salazar concedeu-lhe dez minutos para se despedir da criança.
Contou-me, sabem?
É como se o ouvisse. “Custou-me tanto. Queria bater aos guardas, mas seria a última imagem que o filho levava do pai. Tive de me fazer de forte, sorrir e dizer ao António que brevemente nos iríamos voltar a ver”.
Como é possível comparar?
5.
E como é possível comparar o Chega e tudo o que defendem com um partido como o Bloco de Esquerda?
Um partido maioritariamente composto por gente que não viveu em ditadura, composto por jovens anticapitalistas (é certo), mas que mantém na sua matriz o idealismo de Miguel Portas, Fernando Rosas ou Luís Fazenda. E será André Ventura comparável a estes três fundadores ou a Francisco Louçã?
6.
Não sou comunista ou bloquista, mas este é um tempo em que as pessoas têm de perceber muito bem o que está em jogo.
Faz sentido que o PSD esteja magoado com a “geringonça”, sou capaz de compreender com facilidade a acidez. Deve ter custado.
Mas há limites.
E Rui Rio acabou de passar esses limites.
Um partido democrático não se pode coligar ou entender com um partido como aquele.
Não é simplesmente possível.
Porque se for possível então tudo é possível.»

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Porque é que o Swell não ficou no Cabedelo? Não teria sido possível, por exemplo, aproveitar o antigo restaurante para um biblioteca de praia?

À esquerda a Biblioteca da Praia da Tocha. À direita o Swell a ser colocado num transporte que custou 24.585,00 € pagos por todos nós...
Será que a freguesia de S. Pedro não tem presidente de junta?

A praia da Tocha, no Concelho de Cantanhede, situa-se na região Gândara... A sua areia fina, as suas dunas extensas, os seus pinhais próximos, são trunfos importantes desta praia. Como ficou registado numa postagem OUTRA MARGEM de 9 de Agosto de 2006, a Praia da Tocha tem uma particularidade: uma Biblioteca em pleno areal. E nas estantes do interior da construção de madeira, onde está instalada a Biblioteca, existe um significativo acervo bibliográfico constituído sobretudo por obras de ficção e várias colecções de literatura infantil e juvenil, que podem ser requisitadas pelo prazo máximo de 15 dias.
A Biblioteca de Praia, na Praia da Tocha, unidade móvel que, em anos anteriores registou, não só elevados níveis de afluência como, igualmente, um assinalável êxito na promoção de iniciativas culturais, foi criada especificamente para funcionar como extensão da Biblioteca Municipal de Cantanhede no fomento da leitura e no desenvolvimento da sua acção cultural durante o período de Verão. Esta Biblioteca possui diversas valências, designadamente serviço de leitura, consulta de jornais, internet, ludoteca e audiovisuais, promovendo simultaneamente actividades lúdicas especialmente orientadas para crianças e jovens. Para consulta no local, estão disponíveis jornais diários e diversas revistas periódicas, bem como equipamentos áudio e vídeo e um computador com ligação à internet, cuja utilização, limitada a períodos de trinta minutos, está sujeita a marcação prévia.
Para funcionamento do serviço de leitura, foi criada no exterior uma esplanada com cadeiras e mesas que permitem a acomodação de 20 pessoas sentadas à sombra, espaço que serve também para os técnicos da Biblioteca Municipal de Cantanhede, destacados para o efeito, dinamizarem regularmente jogos e ateliês de expressão plástica apropriados para crianças de diferentes níveis etários.
O objectivo é oferecer a quem frequenta a Praia da Tocha o contacto diário com os meios de comunicação e disponibilizar produtos culturais em diferentes tipos de suporte que permitam tirar o melhor proveito possível do tempo de lazer.
No passado dia 12 a Figueira tomou conhecimento da «estória» do Swell Café (resumida em 62 mil + 20 mil + cerca de 30 mil euros desperdiçados por falta de planeamento)...
A Câmara da Figueira da Foz deslocalizou um restaurante pré-fabricado do Cabedelo para o parque municipal de campismo, na margem norte da cidade. O imóvel foi adquirido no âmbito das obras de requalificação daquela zona de praia da Freguesia de São Pedro, tendo sido avaliado em 62 mil euros. A autarquia pagou ainda cerca 20 mil euros ao concessionário, como indeminização compensatória pelo fim da actividade.
Os custos associados à mudança do imóvel, instalação no parque de campismo e reconversão em bangalô, pronto a funcionar, ascendem a cerca de 30 mil euros. O transporte foi feito numa viatura especial, que atravessou as duas pontes sobre a foz do Mondego. “Foi colocada a hipótese de se vender a estrutura para poder continuar no Cabedelo, mas o valor que ofereceram estava muito abaixo da avaliação”, esclareceu o presidente da autarquia, Carlos Monteiro, ao DIÁRIO AS BEIRAS.
Será que na freguesia de S. Pedro, mesmo no Cabedelo, este restaurante não teria utilidade? Por exemplo, não poderia ser transformado numa Biblioteca de Praia, tal como a Praia da Tocha tem já há longos anos, em vez de o terem levado para o Parque de Campismo, para servir de bangalô, evitando-se assim o gasto de 30 mil euros?

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Leitura para os próximos dias... (7)

(Um livro de leitura obrigatória para quem quiser perceber muita coisa que se passou na Figueira nos últimos 40 anos)

DO REINADO DO EFÉMERO À ACTUALIDADE
"Passaram entretanto mais duas décadas, com início no mandato de Santana Lopes (1998-2001), ao qual costumo chamar de reinado do efémero.
Anos de foguetes e facilidades, diga-se de passagem bastante ao gosto popular, a Figueira foi "posta no mapa", como então se dizia, à custa de muita despesa improdutiva, origem duma enorme dívida - mais de metade da qual foi deixada ao seu sucessor por contabilizar - que os figueirenses continuam a pagar...
Alguns aspectos positivos para o futuro da cidade, como a conclusão da estrutura viária circular, há anos aguardada, e a construção do Centro de Artes e Espectáculos, estão longe de justificarem este início duma espiral de endividamento."

Nota de rodapé.
Com este 7º. apontamento, por agora, fica por aqui, a divulgação que temos vindo a fazer do livro do dr. Joaquim de Sousa, «Figueira da Foz. Memória de um mandato e os anos perdidos».
Esta novo livro de Joaquim de Sousa vai ficar a perdurar para além do efémero que é a espuma dos dias da vida figueirense....
Entretanto, na Figueira a volatilidade continua a ser a regra. Pensa-se no hoje. Mais que o hoje, pensa-se no agora. 
O amanhã, para os governantes locais, já é algo longínquo, indefinido. 
Uma das poucas certezas que tenho, neste momento,  é que na governação da Figueira  o que permanece é o efémero! 

Fernando Cardoso, no lançamento desta obra do dr. Joaquim de Sousa disse: "Se este livro não der polémica é porque a cidade morreu"...

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Leitura para os próximos dias (6)

(Um livro de leitura obrigatória para quem quiser perceber muita coisa que se passou na Figueira nos últimos 40 anos)
"A fantasia de 50 milhões de contos em 1991 (hoje 507 milhões de euros) ligada a "investidores" mais do que duvidosos duma empresa fantasma chamada Globo Air, do Aeroporto Internacional Costa de Prata, com TGV (elevado) a ligar a Coimbra, Leiria e Fátima...  Nunca passou de alguns anúncios na social e da exposição de uma maquete para iludir os incautos".

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Leitura para os próximos dias... (5)

(Um livro de leitura obrigatória para quem quiser perceber muita coisa que se passou na Figueira nos últimos 40 anos)


A TORRE J. PIMENTA, foi afinal um exemplo elucidativo de como o exercício da democracia pode ter efeitos perversos.

Nota de rodapé.
"Que prédio tão feio", lembram-se?..
Uma das muitas histórias por contar desta nossa cidade, que premiou alguns dos contentinhos deste regime deletério em que vivemos, que contribuíram para o actual momento da Figueira da Foz... 
Vamos contar a «estória»
3 de Fevereiro de 1981. Na reunião realizada nesse dia, a Câmara deliberou, com os votos da A.D. e do então vereador socialista José Elísio de Oliveira, autorizar a firma J. Pimenta a aumentar sete andares à torre de apartamentos em construção na Avenida do Brasil. 
Com os votos daqueles vereadores fez-se letra morta do plano de urbanização aprovado em Assembleia Municipal, que previa dez andares para aquele edifício!.. 
Para que conste, transcrevo as razões aduzidas pelo vereador do P.S. José Elísio de Oliveira, que juntou o seu voto à oposição, o que tornou possível a aprovação de mais sete andares à torre J. Pimenta. 
Pois, pois... 
«Voto a favor do deferimento por: 
 Depois das alterações ao projecto apresentado pela firma em doze de junho de mil novecentos e oitenta, não consta do processo qualquer parecer técnico ou entidade que clara e inequivocamente demonstre que do ponto de vista técnico ou urbanístico a Torre não deve subir além dos dez andares. 
A apreciação do ponto de vista estético é sempre subjectivo e discutível e a mim não me fere aprovar uma Torre de dezassete andares naquele local, tanto mais que dada a existência da Torre da Sociedade Figueira-Praia, me parece que a Avenida beneficia esteticamente. 
Embora o actual executivo não seja responsável pela aprovação da torre da Sociedade Figueira-Praia julgo correcto dar o tratamento semelhante à firma J. Pimenta»

Fica este documento histórico que, espero, seja um contributo para se perceber o que se passou posteriormente na cidade da Figueira da Foz, nos meandros da política autárquica. 
Assim aconteceu. E nada aconteceu por acaso... 
A solução, caros leitores, deverá estar no vento!.. 
Será que, soprará, alguma vez, a favor da verdadeira mudança?..
Assim aconteceu. E nada aconteceu por acaso... 
Chegados a 2018, cansados e desiludidos, os figueirense não têm grande pachorra para a política, nomeadamente para a autárquica. 
É pena, até porque  as autarquias vão sendo um esteio incontornável na nossa arquitectura político-administrativa.

sábado, 11 de agosto de 2018

Leitura para os próximos dias... (3)

(Um livro de leitura obrigatória para quem quiser perceber muita coisa que se passou na Figueira nos últimos 40 anos)

"As reuniões da Câmara eram semanais, todas abertas ao público, com direito a intervenção dos munícipes numa das intervenções mensais.
Havia apenas um vereador a tempo inteiro, uma funcionária da Câmara para secretária do Presidente e dispunha-se de uma só viatura - datada de antes do 25 de Abril - e de um motorista para servir todo o Executivo.
Meios modestos, mas mais do que suficientes para quem quisesse trabalhar...
O Gabinete de Apoio à Presidência da Câmara da Figueira da Foz conta presentemente com oito (!) pessoas.
Nunca vi quaisquer vantagens nesta imitação do "Terreiro do Paço", a não ser a criação de lugares para os militantes dos Partidos e a dispensa dos eleitos de trabalharem a sério no que lhes compete."

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Leitura para os próximos dias (2)

(Um livro de leitura obrigatória para quem quiser perceber muita coisa que se passou na Figueira nos últimos 40 anos)

... "a estratégia delineada e posta em execução não teve sequência e a cidade foi depois deixada durante anos  à mercê dos interesses dos "patos bravos", com uma construção desordenada, de fraca qualidade e superior às necessidades, quantas vezes ao arrepio dos Planos de urbanização..."

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Leitura para os próximos dias...

(Um livro de leitura obrigatória para quem quiser perceber muita coisa que se passou na Figueira nos últimos 40 anos)
 
As eleições autárquicas de 1979 decorreram num período áureo da Aliança Democrática (AD)...
"Saneado" da lista candidata à Assembleia da República por alguns influentes da Maçonaria - à qul nunca pertenci nem quis pertencer - e encontrando-se o PS sem candidato ( o Presidente cessante só aceitava candidatar-se para exercer funções em tempo parcial, o que o PS considerou inaceitável) aceitei o desafio.
Tinha todas as condições, pois conhecia bastante bem o concelho...
Vencemos com maioria relativa (3 PS, 3 AD, 1 APU, hoje CDU).

Nota de rodapé.


O dr. Joaquim de Sousa é um daqueles (poucos) figueirenses que poderiam ter feito muito mais pela cidade da Figueira da Foz.
Conhecia (e conhece, como poucos, o concelho...) é competente, dinâmico, honesto e é (continua a ser) aquilo a que se costuma designar como um "animal político".
Ao contrário do tempo que passa, na altura,  com a "vivência colhida pela passagem pelo 1º. Governo democrático trouxe para a vida autárquica a experiência necessária para   saber que o populismo se combate com o pragmatismo".
Este testemunho do dr. Joaquim de Sousa, de que tenciono publicar  pequenos apontamentos nos próximos dias (o que, espero, aguce o apetite para a sua leitura integral...), é também "um exercício memorialista que tem o mérito de trazer à tona a lembrança de um tempo que foi de total disponibilidade, empenhamento e transparência na gestão da res publica."
Como escreve o jornalista Quaresma Ventura no Prefácio, "é um simples acerto de contas" e não como alguns, porventura, quererão fazer passar, "um ajuste de contas com o passado".
Resta-me agradecer as excessivas e amáveis palavras do dr. Joaquim de Sousa na dedicatória que, pelo seu punho, colocou no "meu" livro.
Não sendo um Homem (nem um político...) perfeito, nem de consensos, apesar das  divergências que, ao longo dos anos tivemos, é um figueirense que (e nisso o seu grande Amigo Zé Martins também foi o meu Mestre...) me habituei a respeitar.
Pelo dr. Joaquim de Sousa continua a falar a sua frenética actividade diária em prol da cidade que ama como poucos.
Podia ter feito muito mais pelo concelho...
Todavia, as forças ocultas, que sempre existiram na Figueira, não deixaram...
O grave da questão - e os figueirenses, em maioria absoluta,  não se apercebem do facto - é que os erros que estão a ser cometidos na actualidade, vão comprometer o futuro das próximas gerações de figueirenses...

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Leitura para os dias de chumbo : “Relatório da Proteção Civil municipal deteta falhas no parque de estacionamento do hospital”

Não sei se, apenas, por inabilidade política, incompetência ou azelhice pura, esqueceu, mais uma vez, uma coisa básica...
A política e a culinária devem respeitar o mesmo princípio: precisam de ingredientes certos, mas é na sua correcta aplicação que está a arte. 
Hoje, a comprovar aquilo que, até para um ignorante  era fácil de adivinhar, acabei de ler um curioso e sintomático texto, com assinatura de j´Alves,  publicado no jornal AS BEIRAS. Dado o seu manifesto interesse para os utentes do Hospital Distrital da Figueira, com a devida vénia, passo a citar:

“O relatório que a coligação Somos Figueira pediu aos Serviços Municipais de Protecção Civil, via câmara, a que o DIÁRIO AS BEIRAS teve acesso, aponta falhas no parque de estacionamento do Hospital Distrital da Figueira da Foz.
O documento começa por realçar a redução da largura dos corredores de emergência, que, sobretudo “devido ao sistema de curvas, não cumprem as medidas normalizadas”. Foram “identificadas ainda dificuldades na primeira curva de acesso, com a possibilidade de colisão com o telheiro”, acrescenta o documento.
Por outro lado, recomenda a instalação de um sistema alternativo do levantamento da cancela, para o caso de falhar a eletricidade. A necessidade de serem distribuídos mais cartões de livre acesso ao hospital pelas entidades de transporte de doentes é outras das considerações. Neste ponto, aponta que à delegação de Carvalhais da Cruz Vermelha foram entregues dois cartões para 22 viaturas. E nas suas homólogas da Figueira da Foz e da Borda do Campo existe uma relação de um para oito e de um para sete, respectivamente.
O horário do rececionista, que termina às 20H00, também é questionado pelo relatório, destacando que pode atrasar a saída das viaturas de transporte de doentes. No entanto, salvaguarda que esta pecha está a ser colmatada pela recepção do HDFF, com a qual se comunica através do intercomunicador instalado no acesso ao parque.
Por último, a Proteção Civil regista que a máquina de leitura de cartões não tem altura suficiente, obrigando os tripulantes ou auxiliares das viaturas de transporte de doentes a saírem da viatura para procederem a esta operação. O relatório termina sugerindo a aplicação de oito medidas.
HDFF contra-argumenta
Saliente-se que o relatório, com data de 11 de março, foi enviado para o gabinete do presidente da Câmara da Figueira da Foz, João Ataíde.
Este, por sua vez, reencaminhou-o para as administrações do HDFF e da empresa municipal Figueira Parques, que explora o parque de estacionamento.
O hospital respondeu, por escrito, ao autarca, contra-argumentando a maioria das considerações do relatório.
Não obstante, a administração do HDFF mostra-se disponível para corrigir algumas situações. Nomeadamente, distribuir mais cartões de livre acesso pelas entidades transportadoras de doentes, com a concordância do concessionário do parque. Por outro lado, admite que a máquina de leitura de cartões e senhas não tem altura suficiente, disponibilizando-se para solucionar este problema.
Em declarações ao DIÁRIO AS BEIRAS, a administração do HDFF acrescenta que tem vindo a “acompanhar com cuidado e atenção o processo que resultou da requalificação e ordenamento do estacionamento no espaço do HDFF e está disponível para com, a Figueira Parques, estudar a melhor solução para o parque de estacionamento, tanto nas questões relacionadas com o acesso às instalações como com as questões de tarifação”.
Remata afiançando que “a gestão do parqueamento continuará a merecer a atenção e a avaliação que lhe são devidas, numa óptica de permanente melhoria”.
Chuva de críticas
Teo Cavaco, vice-presidente da Concelhia da Figueira da Foz do PSD e deputado municipal da coligação Somos Figueira, divulgou o relatório na Foz do Mondego Rádio, na noite de segunda-feira, na qualidade de comentador político. Não poupou nas críticas ao executivo camarário socialista, por ter envolvido a Figueira Parques na gestão do parque de estacionamento do HDFF.
O comentador realçou que o relatório da Proteção Civil “é absolutamente arrasador”, defendendo que “não havia razões de fundo para o estacionamento ser pago”.
Este é o pomo da discórdia entre a oposição e o executivo. Os primeiros censuram o segundo por ter arrastado (em 2013) a edilidade para uma decisão que prejudica os utentes. Este, por seu turno, justifica a medida com a necessidade de ordenar o estacionamento na zona de praia adjacente ao hospital. João Carronda e Joaquim Gil, que completam o painel de comentadores políticos da Foz do Mondego Rádio, também não foram parcimoniosos nas críticas à maioria socialista. “O executivo deixou-se ultrapassar pela oposição”, por ter sido esta a pedir o relatório à Proteção Civil, disse Carronda, que é deputado municipal do PS. E acrescentou que “houve alguma teimosia e autismo político”. Já o independente Joaquim Gil realçou que o envolvimento da autarquia no parque de estacionamento é “uma questão ainda por resolver”.
Um mal menor
Contactado pelo DIÁRIO AS BEIRAS, o gabinete de João Ataíde ressalva que “a conceção e a construção do parque de estacionamento é da exclusiva responsabilidade do HDFF”. Ou seja, a empresa municipal limitou-se a instalar os parquímetros e a explorar o espaço. Dito isto, acrescenta que a vantagem de a Figueira Parques ter dito que sim ao convite da administração do hospital é “poder corrigir” situações como aquelas que o relatório da Proteção Civil evidencia. Mas também para aplicar taxas mais amigas do utilizador. Se não fosse uma empresa municipal a gerir o espaço, o tarifário seria ainda mais elevado, defende o gabinete da presidência da Câmara da Figueira da Foz. A propósito de preços, eles já foram reduzidos e, ao que o DIÁRIO AS BEIRAS apurou, deverão baixar ainda mais.”

Em tempo.
Tal como prevímos há muito, Ataíde e esta maioria absoluta do PS,  têm um lindo problema para resolver com esta história do estacionamento pago no Hospital Distrital da Figueira da Foz.
Como é que uma Câmara, que não tem dinheiro para fazer cantar um cego, avança com 80 mil euros para resolver um problema que não é seu, que na melhor das hipóteses prevê recuperar em cinco anos, metendo-se num enorme imbróglio, isso, confesso, faz-me  uma enorme confusão!..
Vamos esperar pelos próximos capítulos...

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Os dias difíceis da imprensa regional…


Crónica de uma morte anunciada… “A da morte anunciada de «O Figueirense» para 28 de dezembro!” 
Pode lê-la, pela pena de Joaquim Gil, Director... 
Razão – mais uma vez na pena do Director: “a razão que me foi transmitida foi de natureza financeira. E eu só posso acreditar e só tenho razões para acreditar que a razão é financeira e, como sempre referi à administração, os números são números, não os discuto. 
Mas que outra razão poderia ser? 
Se acaso fosse a linha editorial, se se quiser, a linha dos meus editoriais, então teria bastado um sinal, um simples sinal, para que eu saísse espontânea, leal e imediatamente pela porta por onde entrei. Eu ando sempre com as chaves do carro no bolso… 
Se acaso fossem as eleições autárquicas que por aí vêm, eu teria lembrado que passei por três eleições sem uma nota de reparo, nomeadamente nas autárquicas de há três anos, com elogio de ganhadores e perdedores e até público louvor de um dirigente distrital do Bloco. 
Quero aliás referir aqui, expressa e formalmente, que eu só tenho uma agenda, qual seja, no plano jornalístico, a dos leitores e, como diretor, a do acionista. 
Por isso, ao contrário do que me foi sugerido e até recomendado, me mantive afastado dos poderes vários, do convívio e dos afetos – exceto daqueles que já eram os meus, pois sou de fidelidades e da lealdade! – que um dia, inevitável e inelutavelmente, cobram ou, pelo menos, condicionam. 
Agora, sim, vou andar por aí livre como o passarinho a que abriram a porta da gaiola… 
As razões deste encerramento só podem ser, pois, as financeiras.”
 



A imprensa regional  - e não é de hoje - vive dias difíceis.
(Por experiência própria, sei do que escrevo e sei o que sente neste momento o meu Amigo Jorge Lemos e restantes pessoas ligadas ao O Figueirense, a quem endereço uma palavra de solidariedade, pois estive ligado a dois projectos figueirenses que tiveram de encerrar por dificuldades económicas: Barca Nova e Linha do Oeste.)
Mas, infelizmente, O Figueirense não irá ser caso único, nos próximos tempos, na imprensa regional. Às dificuldades que já vinham do passado, a crise económica e a perda de hábitos de  leitura das novas gerações fizeram o resto em 2012.
Contudo, a crise agravou-se desde que o Estado praticamente acabou com a distribuição da publicidade institucional pelos jornais regionais, como sabemos um suporte financeiro importante para a sua sobrevivência. As dificuldades em cobrar as assinaturas, menos publicidade ou publicidade mais barata e menos apoios do Estado, através da abolição do porte pago, o que levou  ao aumento dos custos de distribuição, explica o resto.
Entretanto, os jornais reagiram, pensando apenas no presente: despediram  jornalistas e prescindiram de colaboradores, imprimiram  menos páginas, passaram a usar papel mais barato e, alguns, chegaram mesmo a mudar a periodicidade.
Resultado: os jornais tornaram-se  mais pequenos,  menos interessantes e pluralistas e, por consequência, perderam capacidade competitiva num mercado cada vez exigente e concorrencional.
A perda de títulos regionais é uma realidade em Portugal. O Figueirense é, apenas,  a próxima vítima de que tenho conhecimento.