A Figueira é uma Terra com tradições muito antigas no ciclismo.
Via Diário as Beiras
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
Via Diário as Beiras
A Figueira Champions Classic, corrida de ciclismo de estrada na Figueira da Foz, agendada para 12 de fevereiro, é a principal novidade no calendário de provas portuguesas de escalão internacional para 2023.
Esta prova, uma clássica de nível mundial, com a participação de grandes ciclistas oriundos de vários países, vai ter como palco o nosso concelho. A Figueira Champions Classic corre-se numa extensão de 190 quilómetros, com partida na zona do Relógio, na cidade da Figueira da Foz, e percorre as 14 freguesias.
Haverá cobertura televisiva, através da Eurosport, no dia 12 (com transmissão para mais de meia centena de países) e da CMTV.
Entre muitos outros, farão parte do pelotão da “Figueira Champions / Casino Figueira” dia 12 de fevereiro, Fabio Jakobsen e Kasper Asgreen. A Soudal Quick-Step já confirmou a presença de ambos, tal como Remi Cavagna, um dos melhores contrarrelogistas do mundo, a par de Asgreen.
Por parte da Team DSM, o ciclista alemão John Degenkolb é outro dos nomes já confirmados.
O neerlandês Fabio Jakobsen, actualmente um dos melhores sprinters mundiais, em 2022 provou o seu poderio ao sagrar-se Campeão Europeu de Estrada e será com essa camisola que vai desfilar nas estradas da Figueira da Foz. Múltiplo vencedor de etapas na Volta ao Algarve, fazem parte do seu palmarés vitórias na Vuelta e no Tour de France, assim como em outras corridas do circuito World Tour.
Kasper Asgreen é um ciclista todo o terreno e bastante vocacionado para as clássicas. Certamente terá uma palavra a dizer na “Figueira Champions / Casino Figueira”. Contudo, também se destaca no contrarrelógio, sendo campeão dinamarquês desta especialidade, sendo também dono do título em estrada. Já venceu uma etapa na Volta ao Algarve e várias clássicas belgas, como é o caso da Volta a Flandres, em 2021.
O francês Remi Cavagna, também ele da formação belga, já conquistou o título de campeão francês em contrarrelógio, tal como em estrada. Do seu palmarés consta uma vitória de etapa na Vuelta e foi medalhado em Europeus de contrarrelógio.
Por sua vez, a equipa da Soudal Quick-Step que vem mostrar-se à Figueira da Foz fica completa com gregários como Tim Declercq, Dries Devenys, Casper Pedersen e Ilan Van Wilder, este último um jovem em quem os belgas depositam muita esperança para o futuro.
Por parte da Team DSM, o alemão John Degenkolb, também ele vencedor de etapas na Volta ao Algarve, é outro dos nomes confirmados na Figueira da Foz. Destacam-se vitórias deste corredor em etapas nas três grandes voltas – Giro, Tour e Vuelta –, bem como em dois dos cinco monumentos (Milão-São Remo e a Paris-Roubaix).
A Figueira é uma Terra com tradições muito antigas no ciclismo.
Desde logo, o enorme e espantoso atleta, que foi o figueirense José Bento Pessoa, nascido a 7 de Março de 1874, campeão mundial e o maior ciclista de velocidade do seu tempo.
"No final do século XIX, o homem da Figueira tinha um carácter forte, independente, mas aberto às influências do estrangeiro.
A foz do Mondego, era um porto de mar aberto ao comércio internacional, o que propíciava a convivência com os povos mais evoluídos do Norte da Europa.
A Figueira, então uma pequena cidade com cerca de 5 000 habitantes, vai viver por volta de 1895, uma época áurea. Local privilegiado à beira mar plantado, a sua praia, então "a mais bela de Portugal", e a lhaneza da sua gente, atraem veraneantes de vários cantos da Península Ibérica. Nos meses de verão, isso é decisivo para o desafogo financeiro e novos conhecimentos que marcam o figueirense. Todavia, como tudo na vida, também tem um ponto menos positivo: a instabilidade e a incerteza profissional."
Não esquecer, porém, a importância da influência inglesa no desenvolvimento da Figueira do final do século dezanove, tanto a nível comercial, como desportivo.
Um porto de mar que permitia a entrada dos maiores barcos comerciais de então, quase todos de pequeno calado, teria de receber a visita dos britânicos.
Recorde-se: "o tratado comercial luso-britânco 1703, conhecido por Tratado de Metwen, nome do negociador inglês, permitiram a vinda de britâncos a Portugal e à Figueira.
Havia permutas comerciais que englobavam os nossos vinhos e os têxteis ingleses."
É neste contexto, por influência dos povos do Norte da Europa, que os figueirenses começam a ver o desporto como uma necessidade.
Surgem as regatas realizadas na foz do Mondego. Criam-se os primeiros Clubes: Associação Naval Figueirense, Clube Ginástico e a Associação Naval 1º. de Maio.
No S. João de 1893, realiza-se um festival velocipédico. "O entusiasmo provocado pela prova leva à criação de mais uma colectividade: o Clube Velocipédico Figueirense, mais tarde designado por Ginásio Figueirense."
Progressivamente, foi assim que a Figueira, rapidamente, se torna a terceira potência desportiva do nosso País.
A par do remo e da canoagem, a vitalidade desportiva da Figueira, passa pela ginástica, esgrima, futebol, tiro, hipismo e ciclismo.
A bicicleta era, então, uma maravilha criada pelo Homem. Depois do balão de hidrogénio e do comboio (o irmão mais velho da bicicleta, como então se dizia) a bicicleta é encarada como a resolução dos problemas de locomoção do homem, relegando a tração animal para um plano secundário.
É no contexto vivido no último quartel do século XIX na Figueira da Foz (porto marítimo e comercial aberto ao mercado internacional, estância balnear a crescer e a ter cotação a nível da Península Ibérica e, ainda, como potência desportiva a seguir a Lisboa e Porto), que nasce o desportista José Bento Pessoa.
Nadou, remou, defendeu bolas no futebol, mas acabou por preferir a novidade dos velocípedes. Após as primeiras vitórias na Figueira da Foz, com apenas 20 anos de idade, José Bento Pessoa fica lançado no meio desportivo português, como um extraordinário atleta.
O ciclismo, na altura, era um desporto de elite. Comprar uma bicicleta só estava ao alcance de uma minoria.
José Bento Pessoa vai para Lisboa trabalhar para um comerciante com uma loja de bicicletas - Manuel Beirão de seu nome.
É a partir daí que Bento Pessoa tem a oportunidade de viver do ciclismo.
Profissionaliza-se. É inscrito na União Velocipédica Espanhola (não estava ainda fundada a União Velocipédica Portuguesa) e começa uma carreira que espantou Portugal e o Mundo.
Correu em Espanha, França (Paris) Bélgica (Gand), Suiça (Genebra), Itália (Turim) Alemanha (Berlim) e Brasil (Pará).
Em Espanha, torna-se um ídolo: nas 68 corridas que lá fez, venceu-as todas.
A 10 de Abril de 1898, no Velódromo de Genebra, na Suíça, perante 20.000 pessoas, bate o invencível campeão suíço Théodore Champion. Em Berlim a 8 de Maio de 1898, talvez o ponto mais alto da sua carreira, no decorrer do Grande Prémio Zimmerman, à época a prova velocipédica mais importante da Europa, em honra de Arthur Augustus Zimmerman, vence o campeão do mundo Willy Arend.
Quando as notícias das suas vitórias chegavam à sua terra, o entusiasmo dos figueirenses expandia-se em manifestações ruidosas e festivas: saíam as filarmónicas, a fachada do Teatro Príncipe iluminava-se, havia marchas, au flambeaux – uma loucura.
Quando o campeão vinha descansar – meia Figueira ia festejá-lo. Chegou a ir da estação do caminho-de-ferro para casa aos ombros dos mais entusiastas.
Em 1 de Setembro de 1901, os clubes ciclistas do país prestaram uma homenagem ao grande campeão. Para lhe ser entregue uma mensagem e um brinde, organizou-se a estafeta ciclista Lisboa-Figueira.
José Bento Pessoa morreu na Figueira da Foz, a 7 de Julho de 1954.
A Câmara da nossa cidade, em 1955, prestou-lhe uma homenagem ao atribuir o seu nome ao Estádio Municipal.
Outro ciclista de envergadura e que atingiu grande nome no panorama velocipédico nacional, foi António Alves Barbosa, um dos maiores desportistas figueirenses de todos os tempos.
António Alves Barbosa nasceu em 24 de dezembro de 1931, na Fontela, freguesia de Vila Verde, concelho de Figueira da Foz.
Foi o maior ciclista português da década de 50 do século XX.
Era filho de José Alves Barbosa, que foi contemporâneo e amigo de outro ciclista figueirense: o já atrás referido José Bento Pessoa, o melhor ciclista do mundo de 1892 a 1902.
Poucos recordarão a loja onde José Alves Barbosa alugava bicicletas, na actual Avenida 25 de Abril, na Figueira da Foz, junto do Grande Hotel, por debaixo da Piscina Praia.
Em 1947, com 16 anos de idade, António Alves Barbosa iniciou-se no ciclismo, filiando-se na Associação de Ciclismo do Norte, como aluno.
Começou a usar o nome do pai, tornando-se conhecido por ALVES BARBOSA. Em Portugal representou o Sangalhos. Em França a Rochet e a Rapha-Gitane. Em Espanha a Faema. Correu de 1949 a 1962. Foi 3 vezes vencedor da Volta a Portugal (1951, 1956 e 1958), 2 vezes Campeão Nacional de Fundo/Estrada (1954 e 1956), 5 vezes Campeão Nacional de Velocidade/Pista (1954, 1955, 1956, 1958 e 1959) e duas vezes Campeão Nacional de Ciclo-cross (1961 e 1962).
Participou 4 vezes na Volta a França, 3 na Volta a Espanha, 2 na Volta a Marrocos, 2 na Volta à Andaluzia, 2 no Paris-Nice e em muitas, muitas outras corridas no estrangeiro.
Foi o primeiro ciclista português a vencer três vezes a Volta a Portugal, em 1951, 1956 e 1958. É o ciclista com mais etapas ganhas na Volta a Portugal (Alves Barbosa 33; Cândido Barbosa 25 e Joaquim Agostinho 24).
Em 1951, com apenas 19 anos de idade, cometeu a proeza de vencer a Volta a Portugal com a camisola amarela do primeiro ao último dia.
Em 1956 ganhou a Volta a Portugal, triunfando em 10 das 23 etapas.
Em 1958, envergou a camisola amarela na 2ª. etapa da Volta a Portugal, entre Lisboa e Alpiarça. Nunca mais a despiu, como já tinha feito em 1951.
Na década de 50, provavelmente, teria ganho todas as Voltas a Portugal, não fossem as mais diversas vicissitudes:
- Em 1952 foi impedido de participar porque estava a cumprir o serviço militar;
- Em 1953 e 1954 a Volta não se realizou;
- Em 1955 foi agredido por espectadores, perto da cidade do Porto, quando já era camisola amarela e ia ganhar a etapa e a Volta com um avanço significativo (desta forma perdeu para Ribeiro da Silva).
Ainda em 1955 obtém mais uma vitória no estrangeiro, na “Corrida 9 de Julho”, em São Paulo (Brasil), então a maior prova ciclista da América do Sul, que registou a participação de 500 concorrentes.
Alves Barbosa disputou a Volta a França em 1956, 1957, 1958 e 1960 e a Volta a Espanha em 1957, 1958 e 1961. Foi o primeiro ciclista português a ficar colocado nos primeiros dez da Volta à França.
O cinema aproveitou-se da sua popularidade. Em 1958, foi rodado o filme "O HOMEM DO DIA", em que Alves Barbosa foi protagonista e motivo temático para captar um público que começava a fugir das salas de cinema para a recém-chegada televisão.
Em 1961 iniciou uma carreira de treinador de ciclismo, no Sport Lisboa e Benfica.
De 1975 a 1978 e de 1989 a 1992 foi director técnico nacional da modalidade.
Alves Barbosa foi ainda comentador de ciclismo na rádio, na televisão e em diversos jornais.
Em 1990 recebeu a medalha de mérito desportivo.
Em 2007 foi condecorado com a Medalha de Ouro da Juventude e dos Desportos de França.
Alves Barbosa faleceu no dia 29 de setembro de 2018.
A Volta dos Campeões, que se realizou a partir de 1931 e durou até atá à década de sessenta do século passado, é outro marco da relevância do ciclismo no concelho da Figueira da Foz
Teve como vencedores nomes famosos do panorama ciclista português: por exemplo, em 1932 José Maria Nicolau, ganhou a 2ª. edição da Volta dos Campeões. Em 1961, um ano antes de terminar a sua carreira, o vencedor foi o nosso Alves Barbosa.
São inúmeras as chegadas da Volta a Portugal à Figueira da Foz.
Porém, a chegada à nossa cidade da edição desta prova, em 1973, ficou célebre.
Nesse ano, Joaquim Agostinho, na opinião de muitos, o maior ciclista português de todos tempos, cometeu, talvez, a sua maior proeza desportiva em Portugal.
Aconteceu na etapa que trouxe a caravana voltista de Abrantes até à Figueira da Foz. Nessa etapa, que teve lugar ao sexto dia da prova, Joaquim Agostinho isola-se ao pelotão logo no início da tirada. Num autêntico contrarrelógio, de quase 200Km, finaliza uma das mais épicas etapas da Volta a Portugal, com 13 minuto de avanço sobre o pelotão.
A importância duma prova de um desporto que movimenta muita gente, como o ciclismo, ficou plasmada na reunião da Câmara da Figueira da Foz que aprovou, por unanimidade, um apoio à realização de uma prova clássica internacional de ciclismo, em fevereiro de 2023.
Esse investimento, vai ser compensado, não só pela “muitíssima gente” que a Figueira Champions Classiccidade vai trazer à ciade, como também pela promoção que a cobertura televisiva vai fazer em 11 e 12 de Fevereiro de 2023.
NOTA DE RODAPÉ.
Bibliografia: José Bento Pessoa (Biografia) – Romeu Correia; A Bola; consultas bibliográficas de notícias da imprensa local existentes na Biblioteca Municipal da Figueira da Foz e Figueira Champions Classic.
A informação foi avançada hoje pelo presidente da Câmara da Figueira da Foz, Pedro Santana Lopes, que falava aos jornalistas no final da reunião do executivo.
Os barcos, um deles movido a energia elétrica, vão ligar diariamente, com várias carreiras, a zona de São Julião (na Figueira da Foz) ao Cabedelo, na margem sul do rio Mondego, com a finalidade de mitigar os constrangimentos de trânsito causados pelas obras que decorrem na Ponte Edgar Cardoso.
“Espero que a lotação seja suficiente para as necessidades que vamos enfrentar”, salientou Santana Lopes, acrescentando que os cais estão concluídos e que falta apenas articular os horários de funcionamento com as empresas da margem sul e os operadores rodoviários para que “as carreiras [fluviais] possam funcionar em pleno”.
Segundo o vereador Manuel Domingues, que citou a Infraestruturas de Portugal, o encerramento noturno da ponte, entre as 20:30 e as 06:30, com exceção para os veículos de emergência, e nas noites de sexta-feira para sábado e sábado para domingo, previsto inicialmente para fevereiro, só irá ocorrer a partir de março.
O autarca salientou ainda que estão a ser realizadas todas as diligências para que a Autoestrada 17, que atravessa o concelho (distrito de Coimbra), seja gratuita durante o período noturno das obras, para a ligação entre as duas margens do rio.
A requalificação e reforço da Ponte Edgar Cardoso, sobre o rio Mondego, iniciada no final do ano passado, com um prazo de execução de 21 meses, representa um investimento de 16,8 milhões de euros.
A Ponte da Figueira da Foz, como também é conhecida, projetada pelo professor Edgar Cardoso, foi a primeira ponte rodoviária com o tabuleiro ‘atirantado’ realizada em Portugal, tendo sido aberta ao tráfego em 1982.
A parte mais importante da obra será a substituição dos tirantes, mas a intervenção inclui também o reforço das vigas do tabuleiro e do sistema de fixação do tabuleiro, reabilitação dos aparelhos de apoio, decapagem e pintura geral do tabuleiro metálico e trabalhos complementares de pavimentação, iluminação, drenagem, juntas de dilatação, reparação e proteção de superfícies de betão."
Este ano, a primeira onda do festival Gliding Barnacles, foi "surfada" numa mesa redonda com o Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, o Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, Pedro Santana Lopes, o presidente do Turismo do Centro, Pedro Machado, e o surfista e fundador do GB, Eurico Gonçalves, para discutir a importância dos eventos culturais na promoção do turismo. Foto Jot´Alves/Diário as Beiras
O festival, cuja edição de 2022 começou ontem no Cabedelo, Figueira da Foz, "foi considerado um exemplo de evento diferenciador com capacidade de atrair visitantes internacionais e de promover a região e o país."
Na mesa-redonda, "houve unanimidade em considerar que a singularidade e diferenciação são factores apelativos na promoção turística."
Em contacto com o território e as pessoas “o Gliding Barnacles interpreta os requisitos de evento que, para nós, pode potenciar a Figueira da Foz, a região e o país”, disse o presidente do TCP, Pedro Machado, salientando que qualquer turista pretende ter uma experiência cultural que tenha contacto com a gastronomia, território, património e pessoas.
Segundo o dirigente, o festival promovido pela Associação +Surf, que decorre de ontem a domingo, com mais de 250 participantes de 30 nacionalidades, “soube colocar camadas: da identidade, da estética, da música, que o diferenciam e singularizam, apesar de estar ancorado no surf”.
“Acreditamos que este evento, nesta prova de mais de 200 quilómetros que temos de costa a região Centro, é absolutamente singular, comparativamente com outros”, sublinhou Pedro Machado.
Para o ministro da Cultura, Adão e Silva, o surf não é apenas um desporto, “mas também uma experiência cultural”.
“Existem territórios totalmente alavancados que tinham uma boa onda e isso demorou a acontecer em Portugal, mas está agora a acontecer não só como factor de atração turística, mas também como valorização e transformação da identidade territorial”, referiu.
“A diferenciação não é apenas económica e social, é uma diferenciação cultural de valorização dos territórios”, sublinhou.
Também o presidente da Câmara da Figueira da Foz, Pedro Santana Lopes, destacou a importância do Gliding Barnacles na promoção da cidade, salientando que o festival junta “vários ingredientes, numa mistura perfeita”.
O autarca frisou que se trata de um evento muito importante, “até porque está do lado da margem sul, numa área do concelho que tem um enorme potencial de valorização”.
Eurico Gonçalves, presidente da Associação +Surf, prometeu para o ano uma reflexão na 10.ª edição, para manter o festival “genuíno e no caminho da sustentabilidade e criatividade”.
Com Diário as Beiras
"Os auxiliares de ação médica não são lixo
A crónica de António Agostinho publicada na Revista Óbvia em Maio de 2022.
Se nada for feito, dentro de poucos anos o turismo na Figueira poderá não passar de uma bela recordação. Neste momento, o produto turístico que a Figueira tem para vender não é único no mercado do sector: o sol nasce em todo o lado.
Por conseguinte, aquilo que a Figueira for capaz de oferecer, para além do sol, é que poderá atrair o turista. A praia, a não ser que um golpe de asa genial de Santana Lopes reverta a situação, há muito que deixou de ser aquela que Ramalho Ortigão viu em finais do século XIX: "a mais linda praia de Portugal!”
A praia da Figueira, já não é a primeira praia de banhos portuguesa. Uma praia bela, que caprichosamente se estendia entre o Forte de Santa Catarina e a baía de Buarcos, banhada pelas águas límpidas e despoluídas do frio Atlântico, visão que se espraiava para poente, até ao longe, lá no horizonte longínquo, até tocar e se confundir com o azul do céu.
A partir da década de 60, quando os turistas ingleses abastados descobriram o Algarve, estâncias balneares como a Figueira, começaram a perder importância.
Na altura, a Figueira tinha uma actividade pujante nas pescas, nos têxteis, na indústria conserveira, exploração das salinas, estaleiros, no vidro. Foi por essa época, que foi implantada na Leirosa a primeira fábrica de pasta de papel. No interior do concelho, a agricultura e a pecuária ajudavam a compor o orçamento familiar.
Quando os decisores políticos e o sector ligado à actividade turística, começaram a descobrir e a perceber que, na Figueira, o turismo era uma actividade com retorno económico, com base nesta percepção, tentaram adaptar-se.
O primeiro erro histórico veio a seguir: deixaram que fosse o turismo a ditar o desenvolvimento e não o desenvolvimento da região a potenciar a actividade turística.
Aos poucos foram copiando alguns dos piores exemplos em matéria de urbanismo e ordenamento do território, aumentando a capacidade hoteleira e de restauração, mas começando a diminuir os padrões de qualidade que caracterizaram o concelho nos anos 40 e 50 do século passado. Foi aí que teve início a transformação na urbe sem qualidade e esteticamente pouco harmoniosa em que nos tornámos. Que o último executivo PS agravou, por exemplo, com as obras em Buarcos e a trapalhada que implantaram no Cabedelo.
Registe-se, porém, que foi na década de 80 que se cometeram os maiores atentados à sustentabilidade do meio ambiente. A Torre Jota Pimenta e o edifício Atlântico, são disso exemplo. Depois, para compor o ramalhete, veio o Galante.
O termo sazonalidade faz parte do dia a dia de quem vive de e para o turismo na Figueira da Foz. Se, por um lado, recebemos milhares de turistas em determinados períodos, por outro lado, não criámos as infra estruturas de base consentâneas com uma actividade motor de toda uma região.
Ao turismo na Figueira, resta-lhe funcionar paralelamente com as outras actividades económicas. A Figueira é, hoje, uma urbe desorganizada e carenciada ambientalmente, sem sustentabilidade e com fracas noções de estratégia de desenvolvimento.
O Turismo figueirense sofre uma concorrência feroz de mercados mais atraentes.
Pensar o futuro do turismo na Figueira, é definir se queremos continuar a apostar no turismo da forma que temos feito até aqui, ou se queremos introduzir algo inovador que passe pelo planeamento e sustentabilidade.
A meu ver, continua por definir o que precisa a Figueira da Foz em termos turísticos.
Continuamos "a viver um claro momento de impasse". O "concelho continua doente. As aspirinas não resolvem nada". Continuamos "a precisar de antibióticos"...
O desígnio turístico figueirense está claro: "tornou-se um concelho organizador de eventos".
Organizar ou patrocinar alguns eventos, foi a grande ambição do turismo figueirense nos últimos anos.
Até ao momento, o desígnio da actividade avulsa promovida neste sector nos úíltimos tempos continua. A verdade, porém, é que não existe qualquer lógica económica. A máquina de agitação e propaganda da autarquia atira para cima das pessoas uns números medidos a "olho".
No turismo, como em qualquer negócio, custa muito criar uma marca. E a Figueira da Foz, que já foi uma marca no turismo nacional – e muito importante –, hoje é um destino banal. Sem essa imagem de marca de qualidade, não é capaz de atrair alguns segmentos de clientes mais exigentes e com maiores recursos financeiros. É nos consumos dos que nos visitam, que vemos o poder de compra dos turistas que escolhem a Figueira da Foz.
"Em horário nobre, perante a incredulidade de Clara de Sousa, mas mantendo uma expressão deliciosamente neutra, José Milhazes traduziu em direto o que milhares de jovens num concerto punk estavam a gritar.
Foi um momento extraordinário.
Por ter provado da forma menos subtil o quanto estamos formatados a uma comunicação sem rasgo.
Todos nós dizemos a mesma coisa.
Todos nós alinhamos os mesmos alinhamentos.
Todos nós escolhemos as mesmas palavras, a mesma retórica, a mesma estratégia de comunicação, o mesmo modo de chegar a quem nos lê, ouve ou vê.
O “caralho” dito por José Milhazes em direto na SIC foi, por tudo isso, um momento revelador.
E isso é importante que seja dito.
Também eu me ri muito.
Também eu revi o momento mais de dez vezes.
Também eu mostrei a amigos e aos filhos mais velhos.
Também eu partilhei.
Também eu vi os memes, os bordados de ponto cruz, as canecas, as t-shirts.
Também eu vi a inconfundível cara do Milhazes plasmada um pouco por todo o lado.
Foi como se uma panela de pressão tivesse esgotado a sua capacidade de aguentar mais. O país descomprimiu da guerra e da pressão de carregarmos todos os dias o mundo às costas, os portugueses respiraram fundo e abraçaram a autenticidade e a rutura com o que todos os dias nos entra por um ouvido e nos sai por outro.
Ouvimos, mas deixámos de ouvir.
Olhamos, mas não vemos.
Banalizámos as imagens.
Não tropeçamos no que nos dizem porque as palavras são uma música com uma batida igual todos os dias.
Foi um momento alto da carreira de José Milhazes por nos ter provado o que já sabíamos, mas não conseguíamos explicar.
Queremos comunicadores que nos desinquietem os sentidos, que nos abanem, que nos virem do avesso e nos retirem da zona de conforto.
Ao dizer um palavrão em prime time percebemos o quanto estávamos precisados de ser despertos.
Que a metáfora seja o princípio para algumas mudanças.
Que se inventem novas palavras que nos expliquem o mundo.
Que surjam pessoas com a capacidade de não dizerem o óbvio, de não soletrarem o abecedário das cartilhas que nos adormecem.
E que este “caralho” revelador possa transformar-se no futuro em novos modos de comunicar que não precisem de usar asneiras para nos despertarem os sentidos.
Esse será o desafio.
Novas palavras.
Novos protagonistas.
Novos modos de comunicar, de pensar, de contar sobre o mundo.
Se isso for conseguido o país ficará mais desperto para o que se diz e para o modo como se diz."