António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
A erosão na orla costeira figueirense
Pelo interesse do tema em debate - a erosão na orla costeira figueirense - publicamos a crónica do investigador Rui Curado da Silva e a resposta do deputado do PCP Miguel Tiago.
"Rui Curado Silva, investigador, investigou o Jornal Expresso e atribui-me palavras que eu não usei, tomando por boas as distorções que o referido jornal faz de um debate no meu mural de facebook. Não sei ao certo, por desconhecer, que investiga Rui Curado Silva, nem costumo invocar ignorância sobre os temas para fazer debates políticos. Penso mesmo que a acusação de desconhecimento feita de cátedra não revela outra coisa senão soberba e incapacidade de fazer os debates de forma frontal.
Apesar de ser geólogo e ter dedicado parte importante da minha vida a estudar o planeta - atmosfera, geosfera, biosfera - não utilizarei o diploma para explicar ao Investigador Rui Silva que o debate científico em torno dos factores antropogénicos que influem sobre o clima é aceso e intenso e que o que critico com severidade - tal como o meu partido - não é o conceito ou a velocidade com que se verificam alterações climáticas, mas as falsas soluções de mercantilização da atmosfera que o capitalismo nos tem imposto a pretexto da salvação do planeta.
Sobre os dados da subida do mar, julgo que o debate é interessante mas absolutamente irrelevante para o caso em questão, caso sobre o qual Rui Silva pretende atribuir-me "lágrimas de crocodilo" (palavras do próprio). O ritmo da subida do nível do mar é variável ao longo da história do planeta, tal como são os níveis do mar e tem relações com inúmeros factores, mas para o caso da visita que realizei em representação do Grupo Parlamentar do PCP à Figueira da Foz e às praias da Freguesia de São Pedro, tal medida (nível do mar) e tais factoes, são assuntos independentes do fenómeno que o PCP ali foi abordar. Não sei se o Investigador terá sequer investigado quais os factores e causas que estão a provocar o recuo da linha costeira nas praias a sul da Foz do Mondego antes de as atribuir às alterações climáticas. Em causa, no caso concreto, o recuo deve-se especificamente a uma intervenção antrópica, nomeadamente a construção do molhe norte na foz do Mondego.
O Investigador terá, porventura, assimilado de forma cristalizada as premissas do aquecimento global, mas isso não pode implicar que tente esconder as verdadeiras causas do que ali se passa, porque o assunto é sério demais para ser simplificado. A construção do molhe norte implica um crescimento anómalo da largura do areal a um ritmo de 20 a 40 m por ano, impedindo a deriva sedimentar para sul, não permitindo assim a deposição de sedimentos para alimentação dos areais das praias a sul da Foz. Ora, esta causa - talvez não tão romântica quanto a das alterações climáticas e da subida do nível do mar - é a evidente causa do que ali se passa e sobre ela, não só não deixei de referir (ao contrário do que afirma Rui Silva) como não deixou o PCP de intervir na Assembleia da República apresentando uma pergunta ao Governo sobre que medidas tomará o executivo para corrigir o desequilíbrio provocado na deriva sedimentar costeira na região centro do país.
É verdade que o PCP não entende que o mercado de licenças de emissões de gases com efeito estufa venha resolver os problemas ambientais. Essa posição do PCP é suportada pela realidade que demonstra que, apesar do mercado de licenças, as emissões têm tido tendência crescente. E é verdade que o PCP tem uma perspectiva não primitivista sobre o desenvolvimento económico e social, não defendendo que o processo produtivo seja incompatível com a Natureza e, ao contrário de algumas tendências, não defende que devamos regredir para as formas de existência quase primitivas, afirmando a necessidade de desenvolvimento das tecnologias produtivas e da posse colectiva dos meios produção como forma de integrar economia e ecologia. Colocando a produção ao serviço dos povos e não ao serviço dos lucros accionistas, a natureza é necessariamente salvaguardada, porque enquanto que os accionistas vivem da sua destruição, os povos vivem da sua preservação e exploração sustentada.
Nunca saberei se Rui Silva é daquelas pessoas que muitas vezes usam o facto de PCP e Verdes terem posições semelhantes em muitas matérias, para acusar os Verdes de serem um satélite do PCP. Se é, entrou em contradição com o que diz neste "artigo" de opinião. Se não é, revela afinal uma concepção de coligação no mínimo estranha, ao insinuar que o papel do Partido Ecologista "Os verdes" é menorizado por não ter sobre alterações climáticas exactamente o mesmo posicionamento que o PCP. Ora, dois partidos diferentes não são dois partidos iguais e isso enriquece a coligação, orgulha os seus activistas e honra os seus eleitores.
Nunca saberei se Rui Silva quis propositadamente ilibar o Governo das responsabilidades que tem na deposição anómala de sedimentos a norte do molhe e na erosão anómala nas praias a sul. Nunca saberei se Rui Silva é a favor ou contra as soluções que a SOS Cabedelo e a Associação de Body Board da Foz do Mondego apresentam para o caso. Nunca saberei se Rui Silva se deu ao trabalho de estudar deriva sedimentar e dinâmica costeira. Mas já fiquei a saber que o objectivo do "artigo" que escreveu nunca foi salvar a costa, nem explicar as causas do fenómeno sério que ali se verifica e nunca passou do mais básico e primário objectivo: mistificar e iludir o leitor sobre as posições do PCP."
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023
Passadiços no Paul do Taipal
"Como uma aparente boa ideia resultou num atentado à biodiversidade e num desbaratar de recursos públicos.
A conferência de imprensa convocada ontem pelo professor da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC) e especialista em aves, David Rodrigues, constituiu um «grito de desespero», manifestando publicamente as suas reservas à construção de um passadiço no Paul do Taipal, projeto da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho, com o aval do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF)."
sábado, 18 de novembro de 2023
Os moderados — os bagageiros e os vendedores de banha de cobra dos neoliberais
"Nos próximos tempos vamos ouvir falar muitas vezes de moderados e de radicais extremistas. Convém falarmos acerca das propriedades e dos êxitos dos moderados. Do contributo que deram à humanidade e que pretendem continuar a dar.
Vários livros ao longo dos tempos têm referido a “hora dos lobos” — Um, de Harald Jahner: A Alemanha depois da guerra. Um país em dissolução. Pessoas dispersas, desalojados, ocupantes, culpados. Pilha-se, rouba-se, inventam-se novas identidades. Outro, Alcateia, de Carlos de Oliveira.
Moderado é um título valioso nesta hora de lobos. O moderado é um género de canivete suíço da política ou um daqueles bonés americanos de basebol: one size fits all. Serve a todas as cabeças. Qual é a razão do sucesso dos moderados? O êxito dos moderados é que eles contribuem para a redução do ser humano à condição de animal doméstico, afável, obediente, crente no que lhe é fornecido como alimento espiritual pelos grandes meios de manipulação ao serviço dos poderes de facto, as grandes corporações e os seus clubes. É um ser acrítico e banal. É neste produto devidamente embalado que os políticos moderados propõem transformar os seus eleitores, os seus clientes, em troca de umas promessas de prosperidade quanto baste. O moderado passa a mensagem de que não há alternativa à sujeição, ao destino para garantir a segurança dos eleitores. Prega a imobilidade como a melhor escolha para a salvação. Defende a especulação bancária como o motor da sociedade e do progresso. E exige ética aos outros.
A natureza apresenta vários resultados da moderação, um dos mais conhecidos é o das trilobites, que se extinguiram porque não se movimentaram, não reagiram à mudança da temperatura das águas e fossilizaram. Na Europa, no Ocidente, os políticos moderados condenaram Galileu e Nicolau Copérnico pela heresia de terem afirmado que era a Terra que circulava à volta do Sol. Os moderados defendiam o geocentrismo, uma doutrina com milénios de aceitação. E os moderados também condenaram a teoria da evolução das espécies de Darwin. Na política, ao longo dos séculos e no Ocidente, os moderados defenderam o poder divino dos monarcas, as monarquias absolutas e a hierarquização dos seres humanos em classes e ordens, e os privilégios resultantes do nascimento como naturais. Sempre houve senhores e servos, patrões e empregados, ricos e pobres. A moderação política é um misto de resignação e de imobilismo. Violar esta moderação é colocar em causa a ordem que defendem, de seres superiores e inferiores, de desprezo instintivo por tudo o que lhe parece inferior. Os moderados pretendem a imposição da verdade das massas. A política do moderado é a “política venal.”
A política venal é a que resulta da “venda” de propostas que legitimam o exercício do poder com uma sucessão infinita de regras — o que conduz ao domínio da política pelo aparelho judicial que, na melhor hipótese, aplica as regras/leis de modo mecânico e, no pior, castra a capacidade da política se antecipar a crises e agir no terreno ainda não normalizado. Os moderados retiraram a visão do futuro da área da ação política, reduziram a política à administração de regras, os políticos ao funcionalismo, os povos a utentes e clientes de serviços. Para os moderados o progresso é a alienação através de vários meios, mais importante dos quais é o infoentretenimento, a informação apresentada enquanto espetáculo com um guião e intermezzos com cómicos adaptados das stand up comedies, a cargo de comentadores convidados. Comediantes.
A moderação é sempre apresentada como uma virtude, já na Bíblia a temperança é uma atitude recomendável, mesmo quando parece ser de contestação. Os movimentos populistas e neofascistas que surgem com a bandeira de regeneração e de transformação são na realidade proponentes da restauração de uma velha ordem e não uma nova ordem O nazismo é o caso mais conhecido. Os moderados europeus, em particular as duas grandes potências vencedoras da Grande Guerra, a Inglaterra e a França relacionaram-se com a Alemanha de Hitler através de políticos e políticas moderadas. E foram também os moderados que impuseram a moderação nas relações com os franquistas antes de durante a Guerra Civil. A relação natural dos moderados é como acompanhamento de radicais reacionários!
Os moderados das sociedades ocidentais consideram-se modernos porque entendem que já foi atingido um ponto de equilíbrio nas relações de poder e de direitos do homem. O Fim da História, de Fukuyama, é um manifesto dos moderados. Pelo seu lado, os movimentos restauracionistas agora em expansão no Ocidente, dos Estados Unidos à Austria e à Alemanha, defendem que se ultrapassou a ordem natural, a ordem da superioridade de umas raças sobre outras — por isso são racistas; — defendem a ordem da superioridade natural de uns grupos sociais sobre outros — por isso são elitistas e promovem os governos de ditadura — e entendem que o papel do Estado é impor a Ordem e não a de prestar serviços aos cidadãos — por isso são a favor do reforço de verbas para a “segurança” e a retirada de recursos aos apoios sociais públicos, desde as pensões de reforma ao serviço público de saúde. A conjugação destas duas ideologias, a dos moderados, que entendem já ter sido atingido o máximo de contratualização política e social desejável e a dos restauracionistas, tem como consequência a facilidade com que estabelecem alianças para o exercício do poder: no caso português a questão do PSD é a da aliança com o Chega, que está a ser normalizado e em experiências nos Açores; o mesmo acontece em Espanha entre o PP e o VOX e pela Europa.
Entre os moderados, vindos na sua maioria das sociais-democracias e das democracias cristãs, a ideia base é que com estas duas ideologias se esgotou a “modernidade” iniciada com a Revolução Francesa e com as guerras entre absolutistas e liberais. O pós modernismo dos movimentos radicais a propósito da revisionismo histórico, do acientifismo radical sobre o ambiente, as lutas sobre o género, entre outras, são, na realidade fugas reacionárias contra a mudança indispensável à adaptação das sociedades ocidentais às novas realidades do aparecimento de novos poderes no planeta (os Brics), da necessidade de gestão e partilha de recursos limitados, de novas bases de relacionamento entre civilizações.
O moderado não se quer interveniente nos riscos desta disputa, tal como não esteve interessado na ascensão dos movimentos nazis e fascistas da primeira metade do século XX, nem nos desafios colocados pelo final da Segunda Guerra Mundial, com a divisão do mundo em áreas de influência das superpotências, o desenvolvimento do movimento descolonizador e do sionismo, da implosão da URSS e da necessidade de intervir na substituição do comunismo por uma alternativa viável em termos de justiça social e de partilha de poderes. Os moderados ausentaram-se deste tempo de mudança e estiveram sempre ao lado dos poderes que talharam o mundo, como fiadores sensatos de decisões que contrariavam o senso e o futuro, mas proporcionavam lucros imediatos. Os moderados europeus aceitaram a nova ordem que os colocou de fora das transformações no seu espaço de influência histórico: o Médio Oriente, a Ásia Central e a margem sul do Mediterrâneo.
Os moderados de hoje são os que seguem a tradição de sacristãos dos oficiantes quando apoiam os Estados Unidos na guerra contra a Rússia e a China, e também quando apoiaram os Estados Unidos nas várias guerras no Médio Oriente e na Ásia, Iraque Afeganistão, Siria, Irão, Libano, Egito, Israel. Blair, Aznar, Barroso, Zapatero, Passos Coelho, Mario Draghi, Hollande, Lagarde, Cameron, são exemplos de grandes moderados. Foram os moderados que destruíram a única real mudança na Europa do pós-guerra, a criação da União Europeia com autonomia política e financeira. Os radicais neoliberais ingleses Tatcher e Blair fizeram o trabalho encomendado pelos EUA, os europeus moderados aliaram-se a eles. O resultado da moderação europeia é o que temos: uma União Europeia como estado vassalo dos EUA.
O moderado é um errante politico, um pedaço de cortiça que vai ao ritmo do tempo e é amoral. Para o moderado a liberdade e a justiça dependem da circunstância e da análise que fazem de como o bem e o mal são tidos em conta pela sociedade num dado tempo e deitam contas às vantagens que podem obter situando-se num lado ou noutro.
Resta uma tentativa de justificação para o êxito do político moderado: o seu êxito radica nas suas limitações, de a sua existência se processar entre águas, de ter a vantagem das metamorfoses dos anfíbios, dos sapos e das rãs, de uma vez larva, de outras vezes girino, de outras um produto que respira através de pulmões e coaxa. O êxito do moderado advém da sua adaptabilidade e elasticidade de princípios, de ser programaticamente impotente, mas útil como caucionador de radicais políticas reacionárias. A sua força reside em não se bater por única ideia, mas as credibilizar, porque é um moderado! Vamos vê-los a abençoar vários radicais restauracionistas, vigaristas e vendedores de promessas de pechisbeque.
Vamos ver e ouvir nos ecrãs de televisão muitos comentadores radicais a abençoar e promover moderados nos partidos adversários e a acusar de radicais aqueles que propõem medidas de simples bom senso, mas que não geram acumulação de riqueza e privilégios nos velhos senhores. O moderado é o neoliberal que serve de bagageiro ao radical fascista e lhe vende a banha de cobra sem assustar a clientela."
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Erosão costeira: para já, a precupação é a onda, o surf, o negócio…
Recordando um post de 11 DE ABRIL DE 2008, aqui no Outra Margem.
“O prolongamento em 400 metros do molhe norte do porto da Figueira da Foz foi hoje adjudicado, um ano depois do lançamento do concurso público que sofreu reclamações dos concorrentes e atrasos na análise das propostas.
A obra, considerada fundamental pela tutela e comunidade portuária, vai permitir a melhoria das condições de acessibilidade ao porto da Figueira da Foz e deverá estar concluída até Fevereiro de 2010.
Com um preço base de 12,5 milhões de euros, a intervenção compreende a extensão do molhe em 400 metros, bem como a ampliação do canal de navegação.”
Mas, será que alguém sabe, porque estudou, as REPERCUSSÕES QUE MAIS 400 METROS NO MOLHE NORTE terão na zona costeira na margem a sul do Mondego."
Hoje, 15 meses depois, ao lermos a página 9 do diário As Beiras verificamos que, infelizmente, tínhamos razão. Vale mais tarde que nunca. Pena é ser tão tarde, curiosamente a pouco mais de dois meses das próximas eleições autárquicas. Mas, isso é só um pormenor e deve ser apenas coincidência. Vejamos, então o que dizem hoje nas Beiras o vereador Lídio Lopes e o presidente da junta de freguesia de São Pedro, sobre o assunto:
“NO CABEDELO já se realizaram provas do campeonato do mundo de surf e várias etapas
do circuito nacional. Marcos Charana, presidente da Associação de Surf da Figueira da Foz,
lembra-se desses tempos. “O Cabedelo é uma das praias mais consistentes da zona Centro,
mas estamos prestes a perder a onda devido ao prolongamento do molhe Norte, com graves
prejuízos para a economia local”.
Sublinha, por outro lado, que o Cabedelo é o único sítio do concelho onde se pode fazer a iniciação à prática da modalidade.
Tânia Pinto, da direcção do Clube de Surf e Salvamento da Figueira da Foz, que tem escolinhas, corrobora: “é uma zona onde predominam as ondas com condições para iniciar a modalidade, ou seja, é o melhor local para a aprendizagem”.
Quando a onda não chega ao Cabedelo, a alternativa chama- se Cabelinho. Mas até esta poderá estar em vias de extinção.
É para tentar que a onda não desapareça que na Internet está a gerar-se uma vaga de fundo, impulsionada por surfistas, que exige soluções para os efeitos negativos das referidas obras (ver edição de sábado).
“Todos os desportos aquáticos radicais são importantes para a economia da freguesia, que oferece as melhores condições do concelho para a sua prática”, assevera Carlos Simão, presidente
da Junta de S. Pedro. O autarca defende, por isso, que “devem ser criadas mais e melhores condições para que os praticantes possam continuar a frequentar o Cabedelo”.
Mas, sem onda, a paisagem económica e desportiva não será a mesma. “Os praticantes já
se vinham queixando desse problema”, diz Carlos Simão, advogando “uma solução para que o surf se mantenha”. Os efeitos do prolongamento do molhe Norte, acrescenta, por outro lado, “estão a ser nefastos para a freguesia. Os técnicos dizem que é só numa primeira fase. Esperemos que sim...”.
As obras vão beneficiar o acesso à barra e estabilizar a navegabilidade no porto comercial.
“Somos a favor que se encontrem soluções que vão ao encontro de todos os interesses em causa, mas os desportos aquáticos radicais são uma imagem de marca da freguesia de S. Pedro, e assim deve continuar”, remata Carlos Simão.
Lídio Lopes tutela o pelouro do Desporto e da Juventude. O surf e o bodyboard fazem parte
dos campos de férias da autarquia.
Portanto, “para a Câmara da Figueira, a prática de desportos aquáticos tem toda a importância”.
O vereador frisa ainda que “o Cabedelo é uma opção de excelência em tempos referenciada
como sendo das melhores ondas do mundo para a prática de surf”.
Assim sendo, conclui, “deve ser dispensada atenção no sentido de se criarem infra-estruturas
que confiram qualidade aos praticantes e a quem visita a cidade” por causa do surf. Acerca dos efeitos das mencionadas obras, Lídio Lopes defende: “esse é um assunto que devemos monitorizar com os técnicos responsáveis pela obra no âmbito do estudo de impacte ambiental”.
O prolongamento do molhe Norte é uma obra da Administração Central.”
Bom, para já para Lídio Lopes e para o presidente da junta de freguesia de São Pedro, o importante é a onda, o surf, o negócio.
Um dia, e dois meses são 60 dias, ainda hão-de ser as pessoas.
segunda-feira, 25 de maio de 2015
O meu problema com os políticos é sempre o mesmo: é aquela parte de acertar na maneira de como eu e eles olhamos para a realidade...
Em tempo.
"Porto seguro", é o título desta crónica de Miguel Almeida.
Entretanto, pelo caminho, vão ficando as pessoas que vão morrendo nos acidentes marítimos à entrada da barra. Mas, isso, é só um pormenor que preocupa alguns patetas como eu. O importante são os números dos recordes das toneladas.
Enfim, estamos a viver um momento em que quase apetece arrumar as botas, que a razão já tem pouco a ver com o que se passa e vai continuar a passar nesta bela cidade da Figueira da Foz, em particular, e no país, em geral.
Mas, tenhamos um restinho de esperança: um dia ainda hão-de ser de forma genuína as pessoas a contar.
domingo, 18 de outubro de 2015
A barra da Figueira está assim por vontade dos homens
Em 2003, lembro-me bem da sua indignação por um deputado figueirense - no caso o Dr. Pereira da Costa - haver defendido o que não tinha conhecimentos para defender: "uma obra aberrante, o prolongamento do molhe norte".
Na altura, Manuel Luís Pata escreveu e publicou em jornais, que o Dr. Pereira da Costa prestaria um bom serviço à Figueira se na Assembleia da República tivesse dito apenas: "é urgente que seja feito um estudo de fundo sobre o Porto da Figueira da Foz".
Como se optou por defender o acrescento do molhe norte, passados 12 anos, estamos precisamente como o meu velho Amigo Manuel Luís Pata previu: "as areias depositam-se na enseada de Buarcos, o que reduz a profundidade naquela zona, o que origina que o mar se enrole a partir do Cabo Mondego, tornando mais difícil a navegação na abordagem à nossa barra".
Por outro lado, o aumento do molhe levou, como Manuel Luís Pata também previu, "ao aumento do areal da praia, o que está a levar ao afastamento do mar da vida da Figueira". Porém, e espero que isso seja tido em conta no disparate que é a projectada obra a levar a cabo pela Câmara Municipal da nossa cidade, "essa área de areia será sempre propriedade do mar, que este quando assim o entender, virá buscar o que lhe pertence".
O projecto do Engº. Baldaque da Silva
Existe um estudo sobre como melhorar o Porto da Figueira. Quem estiver interessado pode consultá-lo na Biblioteca Municipal, num dos jornais locais de 1914.
Esse precioso e importante trabalho, refere a construção de um "paredão a partir do Cabo Mondego em direcção ao quadrante sul".
Esse projecto, da autoria do Eng. Baldaque da Silva, para a construção da obra de um "Porto Oceânico", foi aprovado na Assembleia de Deputados para ser posto a concurso, o que nunca aconteceu, pois foi colocado numa gaveta.
Neste momento, como as coisas estão na enseada de Buarcos, já não deverá ser possível colocar ali o "Porto Oceânico", uma vez que as construções ocuparam os terrenos necessários ao acesso àquilo que seria um porto daquela envergadura.
Porém, o estudo do Eng. Baldaque da Silva poderia servir de base para a construção de um paredão com cerca de 1 800 metros, que serviria para obstruir o acesso das areias à enseada de Buarcos, traria benefícios consideráveis: acabaria o depósito de areias na enseada, barra, rio e praia; ficaria protegida a zona do Cabo Mondego e Buarcos, evitando a erosão das praias da zona e os constantes prejuízos na Avenida Marginal; serviria de abrigo à própria barra, quando a ondulação predominasse de Oeste ou O/N.
A sustentabilidade do porto da Figueira da Foz
Um dia destes, tive acesso a uns sub- capítulos duma tese do arquitecto figueirense Manuel Traveira, sobre a questão dos molhes.
Em 2011, na cerimónia de inauguração das obras do prolongamento do molhe norte, o Engenheiro José Luís Cacho, então Presidente da Administração do Porto da Figueira da Foz, sublinhou que “o porto da Figueira da Foz, que os pessimistas de serviço já viam com certidão de óbito passada, estava, afinal, pujante, de boa saúde e, agora, com estes avultados investimentos, mais preparado para enfrentar os desafios que se avizinham”.
No entanto, em 2013, o mesmo Engenheiro José Luís Cacho já demonstrava uma grande preocupação com a futura sustentabilidade do porto comercial.
"A quebra de receitas da administração do porto, devido à redução das taxas portuárias, é um facto preocupante", considerou, referindo ainda que tal situação é agravada por um "aumento futuro da despesa com as dragagens".
Por sua vez, o Dr. Hermano Sousa, Presidente da Comunidade Portuária da Figueira da Foz, referia que “a capacidade instalada, de 3 milhões de toneladas/ano, está longe de ser atingida. Apesar da admirável evolução, não podemos dormir à sombra destes resultados..." Do seu ponto de vista, para maximizar a utilização do porto, "era preciso consolidar o estado da barra, fixando o calado, ao longo de todo o ano, primeiro nos 6,5 metros e, posterior e idealmente, nos 7,5 metros, já a pensar nos navios de nova geração, que estão agora a sair dos estaleiros e chegarão em breve ao mercado".
Estudar e entender a dinâmica que cria o assoreamento de inverno é um dos requisitos para que o calado do porto figueirense possa receber embarcações de grande porte. A solução apontada, porém, tem sempre passado por dragagens, que custam muito dinheiro.
Imagem, entretanto, cedida pelo arquitecto Manuel Traveira |
Bypass
O bypass proposto pelo movimento SOS Cabedelo, poderia ajudar a atenuar as sucessivas dragagens que o porto tem vindo a efectuar e, ao mesmo tempo, atenuar os efeitos da erosão a sul.
Manuel Traveira na elaboração da sua tese consultou os relatórios que acompanharam as obras do porto da Figueira da Foz desde 1953 até 1972, elaborados pelo LNEC. Solicitou, também, os estudos mais recentes na Biblioteca do LNEC, mas o acesso público está vedado por lei pelo período de 20 anos a contar da data da sua realização. Apesar destes condicionalismos, a análise dos relatórios do “Estudo em Modelo Reduzido do Porto da Figueira da Foz”, demonstraram-se bastante esclarecedores para a compreensão das dinâmicas de assoreamento a que o porto está sujeito.
1º Fase de estudos, 1953-1961
Segundo Manuel Traveira, até à construção dos molhes exteriores do porto comercial (1960-1966), os estudos do LNEC incidiram a sua atenção na análise do regime fisiográfico desta zona da costa portuguesa, ensaiando em modelo reduzido o esquema de obras inicialmente proposto na procura do esquema ideal para as obras exteriores do porto.
Quanto ao estudo fisiográfico desta zona, concluiu-se que:
1- A direcção da ondulação mais frequente e mais forte, é proveniente de oeste e noroeste.
“O Laboratório realizou o traçado dos planos de ondulação […] mostraram que […] o seu rumo é para norte do W (oeste) e apenas raramente, para o sul daquela direcção. Do mesmo modo se verificou que as amplitudes mais fortes correspondem a rumos entre o W (oeste) e o NW (noroeste).”
2- As areias que causam os problemas de assoreamento da foz do Mondego são provenientes maioritariamente do mar.
O aumento da praia da Figueira
Já em 1958, antes do início das obras dos molhes, o LNEC antevia o que posteriormente se veio a comprovar: o enorme aumento da praia da Figueira da Foz devido à construção do molhe norte, uma vez que funciona como uma barreira ao forte transporte de areias que se faz sentir ao longo da costa de norte para sul.
O excessivo crescimento da praia de banhos da Figueira, em todas as soluções ensaiadas, tornou-se altamente prejudicial à manutenção de boas profundidades no canal da barra, referindo-se que “no caso da Figueira da Foz, qualquer canal que venha a ser dragado, e de que resulte uma secção molhada muito superior à que actualmente existe, não se manterá logo que as areias comecem a contornar o molhe norte".
Este fenómeno de assoreamento do estuário é facilmente compreendido através da análise da passagem de areias que ocorre da praia a norte para a praia a sul do rio Mondego e pela explicação de como se forma o banco da barra (banco de areia que se forma em frente à Foz do rio Mondego, altamente prejudicial para a navegabilidade do porto).
Passagem de areias de norte para sul do rio
Na enchente as areias entram dentro do estuário donde são em parte ou na totalidade expelidas na vazante para fora do estuário depositando-se a uma distância maior ou menor consoante o coeficiente da maré e a amplitude da vaga. Só após o banco da barra ter atingido uma certa cota é que se começa a dar a passagem para as praias a sul. Neste caso, as areias expelidas pela vazante para o banco da barra caminham sob a acção das correntes de maré e da vaga para a praia a sul.
Outra imagem, entretanto, cedida pelo arquitecto Manuel Traveira, a quem deixo o meu agradecimento. |
Uma vez que a areia tenha contornado a testa do molhe norte começará a caminhar ao longo da face interior do molhe. Forma-se, assim, um princípio de cabedelo que se vai pouco a pouco desenvolvendo até que as correntes de vazante começam a erodi-lo e a transportar o material arrancado para fora das testas do molhes depositando-o na zona do futuro banco da barra.
Por razões desconhecidas para Manuel Traveira, eventualmente explicadas pelo conteúdo de outros estudos aos quais não teve acesso, a construção dos molhes não seguiu importantes recomendações apontadas pelo LNEC.
A saber: o traçado curvo do molhe norte com a sua testa no alinhamento do antigo molhe sul (molhe velho), possibilitando uma maior protecção do estuário contra a penetração da vaga no seu interior; o molhe sul recuado (250 metros) em relação ao molhe norte com vista a facilitar a transposição natural das aluviões da margem norte do rio para as praias a sul; a construção de uma guia submersa no prolongamento do molhe velho, a fim de assegurar um traçado mais regular e com melhores profundidades.
2º Fase de estudos, 1968-1972
Durante as obras exteriores dos molhes concluídas em 1966, assistiu-se a um rápido crescimento da praia da Figueira, o que levou ao assoreamento do anteporto e necessária acção de dragagem já em 1967. Confirmadas as previsões do LNEC de que as obras exteriores por si só seriam incapazes de resolver o problema, este realizou, em 1967, uma reunião entre engenheiros da Direcção dos Serviços Marítimos (DSM) com o objectivo de procurar conhecer as possíveis soluções que a DSM previa encarar para a resolução do principal problema do porto da Figueira da Foz: o seu assoreamento a partir do mar.
Nesta reunião, ainda de harmonia com o estudo de Manuel Traveira, foi possível constatar que o caudal sólido litoral tinha assumido valores muito superiores aos dos estudos realizados até à construção dos molhes, e que seria urgente precisar esses valores com “a certeza antecipada de que serão elevados, pelo que este problema se irá sobrepor a todos os demais que condicionam a exploração do porto.”
Como possível solução do problema foi considerada novamente a possibilidade de “instalação de uma estação de bombagem de areias com conduta de repulsão submersa, conjugada com um quebra-mar paralelo à praia, em posição a definir." Como a transposição artificial da totalidade do volume sólido afluente à praia da Figueira deveria conduzir a encargos dificilmente comportáveis pela exploração do porto, foi posta em evidência a necessidade de conseguir que parte da transposição se faça naturalmente por acção da onda e das correntes de maré. Foi, porém, reconhecido que a orientação actual da entrada do porto é muito pouco propícia a esta transposição natural, pelo que se admitiu a hipótese de a alterar por um prolongamento do molhe norte.”
Porque não foi seguido o rumo que o LNEC sugeriu?
Devido à impossibilidade de aceder aos estudos mais recentes sobre o Porto Comercial, pelas razões anteriormente mencionadas, não foi possível a Manuel Traveira conhecer a razão pela qual, tanto nas obras interiores, realizadas na década de 1980 e 1990 do século XX, como nas obras exteriores do prolongamento do molhe norte iniciadas em 2008, se tenha optado por rumos diferentes dos sugeridos no plano geral de melhoramentos realizado pelo LNEC.
Todavia, segundo o SOS Cabedelo, o relatório do Grupo de Trabalho do Litoral (GTL) prevê a adopção de sistemas de transposição sedimentar" na barra da Figueira - 1,1Mm3 em cada ano - um circuito altenativo à passagem das areias na frente da barra que provocam a rebentação na entrada do Porto Comercial.
O Programa da Orla Costeira (POC), agora em discussão à porta fechada, em vez de avançar para a solução refugia-se na intenção das avaliações custo-benefício agravando o prejuízo a cada dia que passa.
Actualização às 10 horas e 18 minutos.
Acabei de inserir duas imagens que me foram disponibilizadas pelo Arquitecto Manuel Traveira, a quem aproveito para agradecer.
"É urgente demonstrar às pessoas que existe um problema muito grave mas que tem solução. Basta de tanta mentira."
De realçar o papel deste figueirense nesta importante e cada vez mais urgente missão.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
Mercado Municipal da Figueira da Foz
“Há cerca de um mês que a comissão intersectorial do Mercado Municipal Engenheiro Silva aguardava por uma reunião com Lídio Lopes a fim de ver esclarecidas questões como a permuta de módulos e a licitação das bancas naquele espaço comercial.
O tempo foi passando e a paciência esgotando. A falta de disponibilidade do vereador levou a que os concessionários interviessem na reunião da Câmara da Figueira da Foz, na passada segunda-feira, e estalasse o verniz.
"Desde o primeiro momento que quisemos estabelecer o diálogo para ver aclaradas estas situações, mas esta demora foi-nos deixando impacientes", explicou Custódio Cruz, em declarações ao DIÁRIO AS BEIRAS.
E justificou: "a celeuma da permuta de módulos deve obedecer a um regulamento mas temos assistido a situações que levantam dúvidas quanto à sua legalidade". Por outro lado, o "porta-voz" dos concessionários afirmou que a situação da licitação das bancas é outro aspecto que querem ver resolvido, por uma questão de "dignidade" do espaço.
"Só queremos evitar a morte antecipada do mercado", reiterou Custódio Cruz, sublinhando que o que está em causa não é apenas a preservação do mercado enquanto património cultural e edificado da cidade, mas também a necessidade de encontrar soluções que acautelem as pessoas que ali rabalham.
"A conduta não tem sido uniforme. Estão a actuar de forma diferenciada com os concessionários, e isso não deve ser assim", criticou.”
Segundo o mesmo jornal, “os ânimos exaltaram-se entre Lídio Lopes e Custódio Cruz, o que levou a que a oposição sugerisse que o assunto fosse discutido noutra altura. Contactado pelo DIÁRIO AS BEIRAS, António Tavares, vereador do PS, apenas comentou que os concessionários têm todo o direito de serem informados e denotou que existe falta de comunicação.
Por seu turno, o vereador Lídio Lopes não quis prestar declarações, afirmando "que os esclarecimentos serão prestados à porta fechada com os concessionários.”
Reunião de ontem desanuviou a tensão
Entretanto, no dia seguinte, ontem quarta feira, segundo o Diário de Coimbra, “cerca de meia centena de concessionários do Mercado Municipal reuniu naquele espaço com o vereador responsável, Lídio Lopes, para abordar algumas questões que os têm preocupado, designadamente no que diz respeito à permuta de alguns espaços. No final do encontro, Custódio Cruz realçou ao Jornal que, apesar de no início ter havido «alguma animosidade, por falta dos esclarecimentos», a reunião correu bem, mas «o aclarar de algumas situações (permutas) ficou para o dia 27», em reunião a realizar na autarquia. No entanto, o “porta-voz” dos concessionários garante que «não abdicamos de lutar para que haja licitação de bancas em Maio, porque queremos ver o mercado com a dignidade que merece e não como um espaço em situação de morte anunciada». Custódio Cruz diz que o vereador «pareceu sensível, em ir ao encontro desses interesses, mas ficámos à espera do resultado da próxima reunião e das suas intenções», convicto de que conseguiram dar «um passo importante nos objectivos que são os interesses dos comerciantes e a dinamização do espaço», até porque, recordou, «foi o próprio vereador que disse que não tem nenhum parceiro privado para fazer renovações do mercado e por isso, há que lhe dar dignidade e avançar com o que o regulamento permite, que é a licitação de bancas e tratamento igualitário».Por seu lado, o vereador também saiu satisfeito do encontro, porque «ficou claro que a câmara tem tido um comportamento correcto em relação ao mercado, do qual tenho conhecimento pessoal por ali ir inúmeras vezes, e compreenderam a justificação dada, naquilo que é uma prerrogativa da câmara, nas decisões que tem que tomar». Todavia, Lídio Lopes refere que o mercado «é uma família muito grande e em todas as famílias há, às vezes, momentos melhores e outros mais acesos. Esse momento está ultrapassado», frisou, garantindo que a reunião que vai efectuar «é no sentido de avançar no plano que elaborei o ano passado, de desenvolvimento de actividades e iniciativas, para consolidar o mercado como uma unidade comercial».O autarca sublinha ainda que aquele espaço «não está ameaçado nem nunca esteve e não são 3 ou 4 módulos que podem prejudicar o todo que são 178 concessionários permanentes e quase outros tantos em rotação ao dia e que, no seu conjunto, tem uma actividade permanente que lhe dá vida». Lídio Lopes salienta ainda que não existe «uma única banca por ceder de todas as solicitadas» e manifesta-se satisfeito porque o trabalho que tem sido desenvolvido «concorreu para uma diminuição desde 2005, dos custos com a energia eléctrica e água», ao mesmo tempo «que aumentamos a receita do mercado».”
Vamos aguardar então pela reunião do próximo dia 27 com optimismo.
quinta-feira, 30 de junho de 2022
«Os postais do Luís Osório são verdadeiros despertar de consciências!»
"Os auxiliares de ação médica não são lixo
sábado, 21 de abril de 2018
Um romance que precisa de dicionário
De um coro dos defuntos, para mais galardoado com o prémio Leya, esperaríamos, se não a melodiosa voz dos Anjos em Glória, pelo menos mais traquejo literário. Este novo coro pode cantar mas não alegra: linguagem pretensiosa, escalada entre o popular e o erudito, na forma que Aquilino criou e já tantos imitaram. O resto é um solfejar monótono de acontecimentos históricos, a velha cantiga das aldeias ajoujadas de bichos canhestros, brutos e ignorantes. Em linguagem musical, um breve resumo: nota baixa, com sorte de se não marcar o tempo. Aí, teria a nota de ser mínima.
O romance de António Tavares foi construído a partir da linguagem. O romance passa-se numa aldeia, único sítio em que o linguajar aquiliniano ainda podia a custo respirar. Usam-se palavras difíceis, cheias de ressonância visigótica, espingardeadas a esmo nas cenas de caçadas e que brilham entre os altares da religião popular, tão úteis ao escritor palavroso: há, nos paramentos e nos missais do vetus ordo, um imenso léxico hoje quase desconhecido que ele se pode entreter a desbravar.
Não nos deteríamos antes de mais na forma se não o sugerisse o próprio livro; a marca mais vincada do Coro dos Defuntos, a par de um bordão (diz ela) que volta e meia ajuda a amaciar a passagem de uns temas para os outros, é esta linguagem pouco habitual, amanhada na gíria agrícola, com variações sobre palavras vulgares e uns requebros de erudição clássica, que concede uns latinismos à narração.
A opção, não tivesse já dado frutos pela pena de Aquilino, secado pela de Jorge Reis e saturada por uma multidão de artistas interessados em aproveitar o solo fértil, até podia ser original. Mas se o fosse, se cada exclamação não consistisse num grito de afirmação de paternidade usurpada ao autor do Malhadinhas, e se em cada personagem uma protuberância aquilina não indicasse a verdadeira filiação, que poderíamos dizer mais do estilo?
Que não deixa de ser cómica a decisão (não sabemos se do autor se do editor) de dificultar a vida a quem lê pejando o texto de um jargão regional incompreensível para depois a facilitar pondo um dicionário com os termos difíceis usados no fim do livro; que este dicionário é uma cândida confissão pública do forçada que a linguagem é: habitualmente, quando alguém escreve, procura dizer aquilo que quer; se usa um dicionário daquilo que disse, não estará a mostrar que afinal quis não expressar aquilo que quer expressar? O estilo é, de certa forma, a marca da personalidade do autor, aquilo que é próprio dele; um dicionário só mostra a artificialidade do estilo, mostra que, de certa forma, foi forjado, não é sincero; não é, sequer, estilo.
O lamentável erro em que cai o autor está em julgar que o uso de palavras estranhas é uma forma de fazer estilo, ou que o uso de um léxico variado é uma forma de precisão linguística. A habilidade de fazer estilo com um léxico variado não consiste em usá-lo: nesse caso, o dicionário de Morais já teria há muito destronado o Padre António Vieira como Imperador da língua portuguesa; a habilidade que tem Camilo, que tem (nem sempre, mas ainda assim…) Aquilino, passa por usar o vocabulário de uma forma tão expressiva que este consegue imediatamente ser percebido. Não é preciso um glossário para o Amor de Perdição porque não há nele nada que se perca: as palavras não só exprimem as imagens, como se exprimem a si próprias. O que acontece no livro de António Tavares é que perdem força as ideias e significado as palavras, o vocabulário interrompe, atravanca, cria trânsito; a história está neste livro como Eliza Doolittle na primeira aparição na sociedade. Pouco à vontade, ajaezada com roupas que não são as suas, excessivamente empolada, de tal forma que tudo soa a falso.
Há uns momentos de espanto, em que a junção dos elementos logra uma verdadeira habilidade, mas em todo o resto a mistura é de tal forma grotesca que o resultado acaba por ser o mesmo que ver um chimpanzé com farda de colégio a acertar exercícios de aritmética: a vestimenta é tão ridícula – neste caso, tão enfatuada – que a verdadeira proeza perde efeito.
Uma última nota sobre a linguagem, já mais que mastigada: a quem quer usar o vernáculo mais montanhoso com o pretexto de tratar de uma aldeia insulada, não basta enchumaçar o texto com palavrório beirão; tem também de purgá-lo de barbarismos. Mais estranho do que ouvir alguém falar de uma “lura” é a surdez selectiva de uma aldeia que não conhece a língua como ela se fala na sua pátria mas apropria-se de estrangeirismos como “gare” para dizer embarcadouro ou estação.
Mas enfim, percorrida a linguagem, aproveitemos a chegada à “gare” para mudar de linha…
Romance de costumes ou mistério?
Hesitamos, no entanto, em qual apanhar, porque a respeito do enredo parece haver pelo menos duas. Não conseguimos perceber se o autor quis fazer um romance de costumes, a saltar entre cenas da vida aldeã, de tal modo que a intriga passasse para segundo plano, ou se quis urdir um mistério que dominasse a narrativa.
Parece ter andado aos tropeções entre uma hipótese e outra, sem ter verdadeiramente decidido escolher. Para a primeira hipótese, concorre a entrada em cena da Rainha e sua irmã, do posteriormente emigrado Jorge, ou de Manuel Rato. São personagens que a dado momento da narrativa ganham importância, antes de desaparecerem deixando, na melhor das hipóteses, um tímido rasto de menções breves aspergidas pelo texto. Podia fazer sentido acrescentá-las, embora não sejam de importância capital para o enredo – Manuel Rato serve para a engorda do drama principal e Jorge é apenas um instrumento cuja única característica é ter um instrumento que mostra a transformação da Olivita. Podia fazer sentido acrescentá-las, dizia-se, caso servisse para dar perspectivas diferentes de uma situação, acrescentar dramas complexos da personalidade humana, qualquer coisa; mas a sensação com que ficamos é de que não existem personalidades. Todas as personagens são manequins curvados ao jugo estilístico, que cumprem a função de joguete enquanto o autor tem uma descrição elaborada para apresentar e que, sorvada a descrição, morrem ou emigram sem que isso provoque sequer um pensamento sobre um movimento comum de êxodo ou aumento da solidão. Isto é, nem o facto de as personagens desaparecerem de uma maneira abrupta parece ser propositado.
Repete-se: a opção de apresentar uma série de personagens com pouca relevância para o corpo principal seria legítima, se elas fossem levadas até ao fim. O que acontece é que elas são demasiado expostas para ambiente e demasiado esquecidas para serem importantes.
Podia um enredo bem construído dirimir todas estas questões e provocar a remissão do livro; no entanto, o corpo principal – o argumento – nem sequer é muito cuidado. O tronco da história é a morte da Chinchona, antiga prostituta, que aparece estrangulada. Podia nascer aqui certo mistério, mas o autor trata logo de o sufocar, ilibando para os leitores o principal suspeito à luz da aldeia. Disfarça-o com uma historieta místico-absurda sobre pedras, esquece o enigma por uns tempos e só volta a ele para o resolver com uma solução semi-arbitrária, que o autor já quase tinha eliminado (quem a mata é a mulher de um tal Albano que visita a prostituta frequentemente, movida pelo ciúme, quando o marido partilha o leito entre mulher e cunhada, sem que isto a enciume).
O crime é resolvido por uma denúncia, cuja justificação é dada sem grandes delongas por uma vidente: a antiga beata, vertida em rapariga sofisticada, teria visto o crime. À medida que deixa de pertencer psicologicamente à aldeia, vão afrouxando os laços que a ligavam aos vizinhos e acaba por fazer a denúncia. Não se explica se haveria um peso na consciência, porque é que o desinteresse pela aldeia provoca um revigorar do caso e não um esquecimento, nem há sequer um sinal de mudança provocado pelo peso do segredo, importante o suficiente para motivar um suicídio.
É esta a partitura do coro dos defuntos. Última nota, apenas, para dois aspectos que marcam também o livro. O autor, com grandeza e à-vontade cosmopolitas, de conhecedor, vai mesclando uns acontecimentos históricos na relação da vida aldeã. São estes interlúdios curtos, com a profundidade e informação plástica de um manual de liceu ou, por vezes, tão arbitrários como resultaria da consulta esparsa de jornais coevos: um número da Flama, talvez um Século Ilustrado, e pouco mais. Seria um entretém inútil, se não servisse para mostrar como as personagens são criações vocabulares, não pessoas. Estas notícias motivam, por vezes, fumos de comentador político nos aldeãos. Ora, a forma de comentar passa por encontrar uma semelhança auditiva ou uma ambiguidade semântica na descrição séria dos acontecimentos e convertê-la numa versão dadaísta sem mais relação do que parecenças fonéticas.
É esta uma doença que ataca vários autores desde o advento do “realismo mágico”. Mas há outra, mais antiga e com antibióticos suficientes para já estar dizimada, que volta e meia ataca ainda António Tavares. Trata-se do velho lugar-comum da literatura jacobina que consiste em insinuar maliciosamente umas certas interrupções clericais no voto de castidade, certas permissividades para com o pecado em troca de dinheiro e, claro, a libertação sexual da virgem púdica. Neste caso, então, o texto transborda classe e denodo: a virgem desce do alto de uma árvore para aplicar uma felação num pastorinho.
Síndroma de um velho estilo, já repisado, morto e enterrado: enfim, é mais um a juntar-se ao coro.
Nota de rodapé.
O ex-político António Tavares, foi recentemente medalhado pela Câmara com um voto contra...
Carlos Maria Bobone é licenciado em Filosofia. Colabora no site Velho Critério.
terça-feira, 29 de janeiro de 2019
É importante “colocar a Figueira da Foz no mapa mundial das ondas”?
10 anos foi o tempo que demorei a conquistar este sonho. 10 anos de aprendizagem e partilha. Um caminho do qual me orgulho.
Hoje, vivi uma experiência única naquela que também já foi a minha escola. Foi mesmo especial, acreditem! Que aula tão interessante esta que o Koxa nos deu. Quem esteve presente sabe do que estou a falar.
Hoje, mais uma vez, e infelizmente senti a indiferença dos governantes da minha cidade sobre este assunto. Uma vergonha! Não estiveram presentes nem se fizeram representar para receber aquele que é o Recordista da Maior Onda do Mundo, Rodrigo Koxa. Foram feitos 4 convites: Sra. Vereadora do Desporto Mafalda Azanha, Sr. Vereador da Educação Nuno Goncalves, ao Vice-Presidente Carlos Monteiro e ao Presidente da CMFF João Ataíde.
Já me habituei a esta indiferença. Já tive a oportunidade de explicar, mas explico mais uma vez o "truque" para levar isto numa boa: consigo transformar este desinteresse e falta de sensibilidade em motivação. Mas, mesmo assim passo a esclarecer duas ou três coisas.
1º “senhores galos” vocês são os galos da capoeira porque nós existimos. Não duvidem disso!
2º Será que já perceberam que existe uma relação entra a maior onda surfada no planeta e a cidade? O mundo sabe disso”
3º Feliz por tudo isto que aconteceu hoje, mas envergonhado pela vossa atitude. Aliás, pela falta dela.
Que cidade de mar, de surf é esta que recebe assim o surfista detentor do guinness world record.
Obrigado professores, alunos, e a todos aqueles que tornaram isto possível. Sentimos o vosso calor. O mais importante. O melhor. Não duvidem!
Por falar em sonhos: isto um dia vai mudar. Sonhar não custa! E, a ABFM vai ter Escola nova, as obras começam já no próximo mês."
Pedro Agostinho Cruz
"É uma honra sem tamanho estar aqui em Portugal depois de ter surfado a onda da minha vida e reencontrar o Pedro que bateu a foto que mudou a minha vida. Passei a vida inteira a buscar algo especial e aqui juntou-se o talento dele, com uma foto especial, um enquadramento e ângulo especial”, disse hoje de manhã Rodrigo Koxa, na Escola Dr. João de Barros.
“Esta onda mudou a minha vida por completo, sempre surfei na «grande», trabalhei a vida inteira para estar nos dias maiores de ondas gigantes pelo mundo. Entendi que aqui era a «bola da vez», Portugal mudou o cenário das ondas gigantes, Nazaré passou a ser a onda mais cobiçada e tem, cada ano que vem, mais «big raiders» e fotógrafos do mundo inteiro”, afirmou.
O recordista da maior onda surfada esteve acompanhado por Pedro Cruz, o foto-jornalista que captou o momento. Acompanhados por José Castanho (director do Agrupamento de Escolas da Zona Urbana da Figueira da Foz), inauguraram um mural dessa fotografia histórica.
Recorde-se que Pedro Cruz vendeu a imagem em leilão tendo por objectivo angariar verbas destinadas a apoiar a construção das instalações da Associação de Bodyboard Foz do Mondego, destruídas com a passagem da tempestade Leslie. A imagem foi oferecida à escola pelo comprador que preferiu manter o anonimato.
“É bacana, legal, surfar e pegar ondas mas ainda mais gratificante é saber que podemos fazer parte de uma acção que envolve solidariedade, com pessoas que têm essa empatia de se colocar no local do outro. É muito bonito o gesto do comprador (da foto), porque quem faz caridade não precisa fazer publicidade”.
“Meu sangue é tuga”
Koxa confidenciou que nesta passagem por Nazaré e Portugal descobriu ser descendente de um português: “tenho um avô que fugiu de Portugal na época de conflito e foi para o Brasil. Através deste recorde comecei a trabalhar a cidadania portuguesa. Quero resgatar essa minha origem, até porque me sinto um pouco tuga também, meu sangue é tuga”.
De partida para o Brasil, garantiu ser sua intenção numa próxima oportunidade surfar na Figueira da Foz.
“É importante para cidade receber o recordista do mundo”
A imagem que logo correu mundo é para o foto-jornalista figueirense “um momento trabalhado e pensado durante muitos anos. Foram 10 anos de trabalho e finalmente conseguimos reunir as condições todas e fazer esta fotografia”.
Pedro Cruz mostrou-se “satisfeito por ajudar a minha cidade. É importante para cidade receber o recordista do mundo”.
Apesar do mediatismo à escala global com a imagem captada, admite que “está tudo igual, a vontade e determinação são as mesmas. Esta fotografia deixou de ser minha, é do mundo, as pessoas devem aproveitar esta fase boa, esta energia boa que está a acontecer na Figueira da Foz”.
Sobre a campanha solidária, sustentou que “de certa forma faço parte da Associação, foram eles que me educaram e que mostraram como hei-de olhar para o mar. Isto não é dar nada, é retribuir tudo o que eles me deram até agora. Se Nazaré apareceu na minha vida foi porque acompanhava as provas e as surfadas dos intervenientes que a escola tem, nomeadamente alguns alunos que são referências nacionais e alguns foram campeões europeus e mundiais”.
“Colocar a Figueira da Foz no mapa mundial das ondas”
“Sei o que é surfar na Nazaré, há muitos anos fui um dos pioneiros a desbravar aquela praia numa altura em que não havia motas (de água) nem nada”, disse por seu lado Nuno Trovão, reconhecendo o feito de Rodrigo Koxa.
O responsável pela Associação de Bodyboard Foz do Mondego endereçou igualmente palavras de agradecimento a Pedro Cruz: “o gesto dele fala por si, tenho um grande carinho pelo trabalho dele e pela pessoa que é”.
O seleccionador nacional de bodyboard adiantou que as obras de requalificação da Associação vão começar na próxima segunda-feira: “ainda não temos o dinheiro todo, mas contamos com o apoio do IPDJ, da Câmara, com verbas que angariámos, além do seguro, para fazer uma maior e melhor escola. Não foram fáceis estes meses, ficámos apenas 15 dias sem dar aulas aos nossos alunos. Mas se nós fizemos uma escola há sete anos, vamos fazer outra, maior e melhor com o apoio de toda a gente”.
Para Nuno Trovão, “as obras vão acabar a meio de março. É um excelente timing, a partir de abril começamos a ter muitos mais alunos. Com o bom tempo, dos 60 alunos de inverno passamos para 120 ou 150”, além da normal actividade relacionada com o desporto escolar e outros programas que a associação se encontra a preparar. “Por exemplo, com a Académica, para trazer para figueira os «Erasmus» para surfar". Entretanto, “vamos continuar a fazer o que temos feito nestes 25 anos, produzir campeões de bodyboard e de surf e colocar a Figueira da Foz no mapa mundial das ondas”.
(Jorge Lemos, via Figueira na Hora)
Nota de Rodapé do autor do OUTRA MARGEM:
O recordista da maior onda surfada esteve na Figueira, sem um cêntimo despendido pela autarquia local, acompanhado por Pedro Cruz, o foto-jornalista que captou o momento, para inaugurar um mural dessa fotografia histórica, que vai perpetuar o momento na Escola Dr. João de Barros.
Como não poderia deixar de ser, foram convidados autarcas figueirenses.
Não estiveram presentes nem se fizeram representar para receber aquele que é o Recordista da Maior Onda do Mundo, Rodrigo Koxa.
Foram feitos 4 convites: Sra. Vereadora do Desporto Mafalda Azanha, Sr. Vereador da Educação Nuno Goncalves, ao Vice-Presidente Carlos Monteiro e ao Presidente da CMFF João Ataíde.
Uma vergonha.
Muitos dos eleitos locais veem nos mandatos autárquicos alcançados e renovados uma espécie de alforria absoluta que os isenta e imuniza de toda e qualquer crítica até ao próximo acto eleitoral. A democracia não é isso, e o facto de terem legitimidade não os transforma numa nova espécie de vacas sagradas acima do escrutínio dos meros mortais que se dignam cortejar de quatro em quatro anos.
Competência, seriedade, capacidade para muito trabalho e abnegação, a existência clara de um projecto e uma linha de rumo e de uma política concreta devida e previamente explicadas aos figueirenses, era a fórmula, que de mágico não tem nada, de que o concelho precisa há muito.
O que é porventura mirabolante, e aponta mais para o caminho do pesadelo, é como é que é possível ainda ter no topo do Poder local gente de tão baixa estirpe e tão fraca categoria.