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sexta-feira, 15 de março de 2024

E agora, Sr. Presidente?

Neste conturbado tempo que vivemos, em Portugal, na Europa e no Mundo, Miguel Sousa Tavares é dos raros com acesso à comunicação social de larga difusão, que tem a coragem de ser claro e objectivoNo texto publicado hoje no Expresso sublinha o papel de Marcelo Rebelo de Sousa, no derrube do Governo de António Costa e na consequente ascensão meteórica da extrema-direita. 
"E agora, Sr. Presidente, como é que nos tira desta embrulhada onde nos meteu? Como aqui escrevi há duas semanas, o rol de promessas eleitorais, associado à conjuntura internacional, torna Portugal ingovernável: ou porque não serão cumpridas e serão então cobradas nas ruas e nos serviços públicos, ou porque serão cumpridas e nos levarão à falência.

E agora, Sr. Presidente?

Como era mais do que previsível, acordámos segunda-feira com um país ingovernável. Era previsível para qualquer um, mas especialmente para alguém como Marcelo Rebelo de Sousa, que passou uma vida inteira a acumular fama e proveito como imbatível leitor e construtor de cenários políticos, capaz de ler nos astros o que o comum dos mortais ainda não tinha descortinado na parede em frente. Deixemo-nos, pois, de meias-palavras: Marcelo não tem desculpa. Estamos como estamos porque ele assim o quis.

No “Público”, e na esteira de vários outros, Manuel Carvalho escreveu que “o prenúncio desta degradante democracia liberal estava à vista quando uma maioria se extinguiu à luz dos indícios de corrupção”, pelo que “Marcelo fez o que a sua consciência lhe ditava e que o grosso da opinião publicada lhe exigia”. Pois, o problema é que o grosso da opi­nião publicada tomou por indícios de corrupção o que não leu com atenção ou não percebeu, e, no mais, um Presidente deve guiar-se por aquilo que, em cada momento, quer a opinião pública, e não a opinião publicada. Até porque, em contrário, há quem diga mesmo que foi Marcelo quem sugeriu a Lucília Gago que introduzisse no comunicado da Procuradoria-Geral da República o tal parágrafo que ambos sabiam que levaria à imediata demissão de António Costa. Eu não acompanho essa teoria da conspiração ou do maquiavelismo, mas continuo a perguntar-me o que se terá passado na conversa entre o Presidente e a procuradora-geral que antecedeu a demissão do primeiro-ministro: terá Marcelo exigido saber, como lhe competia, o que havia de sólido nas suspeitas em relação a António Costa? E, em face disso — que era nada, como concluiu o juiz de instrução —, conformou-se com a execução pública do PM às mãos da PGR e com a sua demissão? Isto feito, e mal feito, com que legitimidade constitucional optou por recusar o nome indicado por António Costa para lhe suceder na chefia do Governo ou, em alternativa, pedir ao PS que indicasse um nome, como se faz em todas as democracias normais? Quem disse a Marcelo que em 2022 os portugueses tinham votado apenas em António Costa, e não também no PS, e que, se por qualquer razão ele não terminasse o seu mandato, preferiam eleições antecipadas e desembocar na situação que temos agora? A que deve ele obediência: às suas inclinações partidárias, às suas interpretações políticas ou às regras da Constituição da República? E, já agora, para que lhe serviu a opinião de um Conselho de Estado rigorosamente dividido a meio sobre o caminho a seguir? Apenas para o desprestígio acrescido de ver dois dos conselheiros, por si nomeados e ligados à AD, votarem pela convocação de eleições e depois aparecerem a fazer campanha eleitoral pela mesma AD…

E agora, Sr. Presidente?

Não, Marcelo não tem desculpa. Trata-se de alguém que passou anos a defender o valor da estabilidade e da previsibilidade dos mandatos levados até ao fim. Que, nos últimos dois anos, disse e repetiu que nada poderia pôr em causa o ritmo de execução do PRR — a última grande oportunidade de financiar o desenvolvimento do país com dinheiros europeus —, chegando a dizer a uma ministra que não lhe perdoaria um só dia de atraso. E, afinal, manda tudo ao charco em duas penadas e cavalgando uma insustentável ficção processual do Ministério Público relativamente ao PM — que, isso sim, devia preocupá-lo, e muito. Interrompe uma governação antes ainda do meio do seu termo, paralisa o país durante meses, lançando o alerta em Bruxelas, e dá-se ao luxo de deitar borda fora aquilo que qualquer país europeu hoje mais preza: uma maioria absoluta de um partido dentro do sistema democrático. Hoje podíamos ter à frente do Governo alguém como Mário Centeno, o nome que António Costa levou a Marcelo e que este recusou: alguém que nem sequer era filiado no PS, que conhecia o Governo e as finanças, que tinha provas dadas aqui, conhecimento e prestígio lá fora. O país não teria parado, o PRR e os principais dossiês não estariam paralisados e, sobretudo, aqueles que ainda se esforçam por acreditar num futuro para Portugal não experimentariam mais uma vez a decepção de ver a vida a andar para trás, a sua e a de Portugal, porque lá em cima se anda a brincar com coisas sérias para satisfação de protagonismos ou de impulsos infantis.

Mas não é apenas a instabilidade governativa que eu não perdoo a Marcelo. Mais ainda do que isso, o que não lhe perdoo é ter soltado a besta presa na cave, a besta da demagogia: o Chega. Por mais análises que me forneçam sobre as razões sociológicas e políticas do milhão e cem mil votos do Chega, algumas certamente pertinentes, há uma que desde logo o justifica: a compra de votos. O Chega comprou votos, comprou muitos votos, e comprou-os com uma campanha de demagogia despudorada e irresponsável. Contem-nos: nas forças policiais e respectivas famílias são 100 mil; nos reformados, a quem prometeu, pelo menos, uma pensão equivalente ao salário mínimo, mesmo para quem não contribuiu, serão uns 300 mil; nos professores, a quem prometeu tudo o que reclamam, dos 120 mil terão cativado uns 30 mil; nos agricultores outro tanto, e por aí fora, tudo junto somando metade do milhão e cem mil votos de André Ventura. Num país onde tantos se habituaram a exigir tudo do Estado e tão poucos se perguntam quem e como pagará, o discurso de Ventura está condenado ao sucesso, muito mais do que o racismo, a xenofobia, o autoritarismo e tudo o resto a que, por preguiça, gostam de o reduzir. O sucesso eleitoral de André Ventura chama-se demagogia à solta, e o pior de tudo é que, por competição e por sobrevivência, ele contagiou em larga medida todos os outros. Como aqui escrevi há duas semanas, o rol de promessas eleitorais, associado à conjuntura internacional, torna Portugal ingovernável: ou porque não serão cumpridas e serão então cobradas nas ruas e nos serviços públicos, ou porque serão cumpridas e nos levarão à falência.

Quando recusou a solução de estabilidade governativa que o país esperava e que ele próprio tinha apregoado durante tanto tempo, preferindo antes lançar o país numa aventura eleitoral desnecessária e de efeito previsível, Marcelo sabia ao que ia. Mas não se conteve, porque há muito que ele ia dando sinais de incontinência, aliás com ameaças explícitas. E não venham cá com o desgaste dos “casos e casinhos”, porque no mais grave deles — o caso Galamba, onde Marcelo entrou em choque frontal com o PM, exigindo publicamente a demissão do ministro — ainda estou para perceber qual é a responsabilidade de um ministro que demite um assessor que se recusou a entregar uns documentos exigidos por uma Comissão Parlamentar de Inquérito e depois, sem mais qualquer intervenção da sua parte, vê o assessor invadir à força o gabinete, roubar o computador de serviço e levá-lo para casa, só o devolvendo a um agente do SIS e por intervenção de outro membro do Governo. Mas, ainda que a razão fosse os “casos e casinhos”, a renovação do Governo com a indigitação de outro PM, e exterior ao PS, esvaziava o argumento.

Não, a verdade é outra: o cargo deve ser profundamente aborrecido para quem gosta de viver a vida. O primeiro mandato presidencial acredito até que possa ser estimulante e apelativo: andar por aí a conhecer o país e as pessoas, dar beijos e abraços, ser recebido com a despreocupação de quem só pode prometer o bem e não fazer o mal, viajar lá fora e conhecer os grandes do mundo, escutar o hino com a herança de quase nove séculos às costas. Mas, isto passado, o segundo mandato é mais do mesmo e, sendo o tédio mau conselheiro, a tendência para a asneira torna-se inevitável. Mas nenhum resiste à tentação do segundo mandato, nem mesmo alguém como Mário Soares, que tinha tão mais vida do que aquela que cabia nas paredes de Belém. No primeiro mandato vimos o melhor de Marcelo, um contagian­te suspiro de alívio depois dos anos de chumbo da majestade cavaquista; no segundo, estamos a assistir ao seu pior, à facilidade com que os grandes princípios degeneram numa absoluta vacuidade. Prejudicial ao país. Mas, enquanto o tempo não passa e isto não tem fim, fica a pergunta a que só ele tem obrigação de responder: e agora, Sr. Presidente, como é que nos tira desta embrulhada onde nos meteu? Dia 15 de Março, sexta-feira, cinco dias depois do acto eleitoral, ainda nem sequer sabemos quem ganhou as eleições e se quem ganhou quer mesmo governar."

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Associações de imigrantes apontam para os riscos de um discurso que se aproxima da extrema-direita e que não encontra sustentação na realidade

Dados oficiais desmontam tese de Passos sobre imigração e segurança

Via Diário de Notícias

"... basta olhar para os números da Segurança Social, segundo os quais em cada 100 imigrantes, 87 são contribuintes para o sistema (no caso dos portugueses, são 48 para cada 100). Ou seja, a esmagadora maioria está a trabalhar, sendo que nestes números há reformados e crianças. Mais: entre os estrangeiros só 38 em cada 100 beneficia de apoios sociais, enquanto nos portugueses o número sobe para 79 em cada 100."

sábado, 17 de fevereiro de 2024

Diogo Ribeiro campeão mundial dos 100 metros mariposa

 


«O nadador português Diogo Ribeiro sagrou-se hoje campeão mundial dos 100 metros mariposa, nos Mundiais aquáticos, a decorrer em Doha, no Qatar, repetindo o título conquistado na prova de 50 metros mariposa. 
Diogo Ribeiro venceu a prova em 51,17 segundos, um novo recorde nacional, depois de já ter conseguido na sexta-feira o melhor tempo das meias-finais, com máximo luso (51,30).»

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Jorge Moreira da Silva: o subsecretário-geral das Nações Unidas Jorge Moreira da Silva esteve em Rafah e alerta para que “a população de Gaza está em risco de uma diminuição brutal”

 Decência e coragem


«Impressionou-me ver o número de crianças feridas que estavam em trânsito para fora de Gaza. Crianças amputadas, crianças desfiguradas e com um olhar resignado, crianças de seis anos com um olhar como se tivessem 80 e muitos anos. Mais de 50% das casas estão destruídas e 85% da população não vai ter para onde ir, quando a guerra terminar. (…) Morreram mais crianças nos últimos 100 dias do que em todos os conflitos no mundo nos últimos cinco anos. Portanto, estamos perante uma catástrofe humana sem precedentes. Não quero poupar nas palavras. É uma catástrofe humana sem precedentes porque, ao contrário de outras catástrofes humanas, as pessoas não têm para onde fugir. As pessoas fogem da guerra para salvar a vida. No caso de Gaza, não há refugiados porque não podem sair.
[A população de Gaza] está presa num triplo sentido. Está cercada por um contexto de guerra e, portanto, está a ser bombardeada, (…) Por outro lado, já se notam surtos de doenças do foro diarreico porque não há água potável, não há medicamentos, muitas doenças do foro respiratório. (…) Há uma casa de banho para cada 400 pessoas e um chuveiro para cada 1850 pessoas. (…) Temos 50 mil grávidas sem qualquer tipo de cuidado que vão dar à luz. Eu já nem sei que adjectivos usar porque nos últimos 100 dias utilizei todo o dicionário de adjectivos.
(…) Depois, vi uma coisa surpreendente: vi produtos a serem rejeitados. Há uma lista de produtos rejeitados por Israel porque considera que podem ser de uso duplo e, portanto, que podem ser utilizados para outros fins, como a construção de armas ou coisas que possam ameaçar. Eu vi painéis solares, frigoríficos solares, lanternas solares, brinquedos, bonecas, livros para colorir, botijas de oxigénio que são um suporte de vida básico, tudo rejeitado. Quando se rejeita uma caixa porque tem um item supostamente proibido, todo o camião é rejeitado. Portanto, repare como as dificuldades que estão a ser colocadas a ajuda humanitária tornam esta guerra ainda mais indigna e ainda mais imoral, ainda mais ultrajante quanto aos direitos básicos
».

"Da pungente entrevista de Jorge Moreira da Silva, Subsecretário-geral das Nações Unidas, ao Público e à Renascença, no esteio da decência, coragem e perseverança de António Guterres, perante a gravíssima e inaceitável situação em Gaza. A contrastar com o silêncio e a complacência (e até indecência), que continuam a prevalecer nas direitas."
Nuno Serra

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Abençoadas eleições

Via Campeão das Províncias

Ramal de Alfarelos vai ser duplicado até B Lares

«A duplicação do ramal de Alfarelos está em fase avançada de projecto, conforme anunciou o secretário de Estado Adjunto e das Infraestruturas, Frederico Francisco, com este investimento a beneficiar a ligação ferroviária à Figueira da Foz (até B Lares) e a ligação à Linha do Oeste. 

“O ramal de Alfarelos está, neste momento, em fase avançada de projecto”, estando o lançamento do concurso da duplicação e modernização para este ano, e a conclusão prevista para antes da primeira fase da linha de alta velocidade Porto-Soure, que implicará a duplicação da Linha do Norte entre Taveiro e Coimbra. Quanto à possibilidade de abertura de mais serviços entre Aveiro e Coimbra, quando a linha de alta velocidade estiver concluída, Frederico Francisco disse que tendo “um horário cadenciado de comboios regionais de hora a hora, não é dos sítios do país onde, neste momento, haja uma maior necessidade de aumento de oferta”

Já sobre se não é mesmo possível reverter a decisão encerramento da actual estação de Coimbra A, Frederico Francisco confirmou que “não”, em declarações à agência Lusa. “Quer dizer, possível é sempre, ela tem é um custo que nós achamos que é inaceitável. O custo seria atrasar a entrada em funcionamento do Sistema de Mobilidade do Mondego durante vários anos, um sistema que já está muito atrasado e que faz falta à população já há muitos anos”, referiu. 

O ramal de Alfarelos é um caminho-de-ferro de linha larga, com cerca de 16,5 quilómetros de extensão, que une as Estações de Alfarelos, na Linha do Norte, e Bifurcação de Lares, na Linha do Oeste. Estabelece também uma importante ligação entre estas duas linhas, completando a ligação ferroviária entre Coimbra e a Figueira da Foz, permitindo o acesso directo à Linha do Oeste de tráfego proveniente do Norte. Foi construído pela Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses, tendo sido aberto à exploração em 8 de Junho de 1889. Entre Lares e Reveles, a linha atravessa duas pontes da vala do Campo, com uma distância de cerca de 100 metros entre elas; no troço entre Reveles e Verride, existem dois pontões. A linha passa, entre Marujal e Montemor, por outras três pontes, da Vala Real 1, do Rio Soure, e da Vala Real 2. No troço de Montemor a Alfarelos, a linha apenas possui um pontão, de Montemor-o-Velho. 

O ramal é percorrido por serviços entre as Estações de Coimbra-B e Figueira da Foz, com paragens em Alfarelos, Montemor, Marujal, Verride, Reveles, e Bifurcação de Lares.»

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Antigo presidente da Naval, Aprígio Santos, condenado a dois anos de pena suspensa

Via JORNAL O JOGO


"O Tribunal de Coimbra condenou hoje o antigo presidente da Naval Aprígio Santos a uma pena de prisão de dois anos, suspensa por igual período, pelo crime de abuso de confiança fiscal, em valor superior a 860 mil euros.

Também a Naval SAD, com sede na Figueira da Foz, foi condenada pelo mesmo crime, tendo o coletivo de juízes decidido aplicar uma pena de 240 dias de multa, à taxa diária de 100 euros, o que totaliza o montante de 24 mil euros."

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

"Soares é fixe": em 2024, na Figueira, ninguém se vai esquecer de Mário Soares

Mário Soares, de seu nome completo Mário Alberto Nobre Lopes Soares, nasceu em Lisboa, em 7 de Dezembro de 1924, filho de João Lopes Soares, professor, pedagogo e político da Iª República, e de Elisa Nobre Soares. Casou com Maria de Jesus Simões Barroso Soares em 1949, falecida em 7 de julho de 2015. Tiveram dois filhos, Isabel Soares, psicóloga e directora do Colégio Moderno, e João Soares, advogado e deputado à Assembleia da República, e cinco netos - Inês, Mafalda, Mário, Jonas e Lilah. Faleceu no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, às 15:28 do dia 7 de Janeiro de 2017.
As comemorações do centenário do nascimento de Mário Soares, na Figueira, tiveram ontem início com a inauguração da exposição de fotografia “Mário Soares – 100 Anos, 100 Fotografias – Democracia”, de Alfredo Cunha, no Centro de Artes e Espetáculos, e uma declamação de poesia e dança. 
O programa vai prolongar-se até dezembro de 2024, com um conjunto de actividades e mostras documentais e fotográficas, atravessando as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974. 
Na sessão inaugural, o presidente da Câmara da Figueira da Foz, Pedro Santana Lopes, sublinhou que Mário Soares (fundador e primeiro líder do PS, opositor ao regime de Salazar/Caetano, após o 25 de Abril de 1974, ministro dos negócios estrangeiros, primeiro-ministro - entre 1976 e 1978 e entre 1983 e 1985, Presidente da República entre 1986 e 1996) foi um líder marcante, com a democracia “nas entranhas” e uma grande capacidade de lutar sem preconceitos nem vaidades. 
“No tempo em que vivemos precisamos de inalar exemplos destes para podermos ter força para lidar com este mundo complicado em que vivemos”, disse ainda Santana Lopes.
No evento de ontem, participaram também os socialistas Carlos Beja e António Campos. Para Carlos Beja, amigo do homenageado, Portugal “teve a sorte de a seguir ao 25 de Abril de 1974 ter um homem com a visão política e o conhecimento do mundo de Mário Soares”. Para António Campos, também fundador do PS, deve-se a Mário Soares “a liderança e capacidade para segurar e consolidar a democracia” no país. 

"O programa das comemorações dos 100 anos do nascimento de Mário Soares será retomado a 21 de março. É o Dia Mundial da Poesia, que o Município da Figueira da Foz assinala com os “poemas de vida de Mário Soares”, por António Durães, acompanhado ao piano por Luís Pipa, no CAE. 
Abril é o mês da conquista da liberdade em Portugal e o início do processo democrático do país. Mário Soares, opositor ao regime totalitário do Estado Novo, não podia ser esquecido. No dia 18, as 5ªas de Leitura, com David Castaño, realizam-se sob o signo “Mário Soares e a revolução”. No dia 20 do mesmo mês e no mesmo local, realiza-se um colóquio sobre Mário Soares, com a participação de Santana Lopes, António Campos, António Valdemar, Fernando Rosas, Carlos Ascenso André e Jaime Gama (este sujeito a confirmação). 
No dia 25 de abril, o município figueirense assinala os 50 anos da Revolução dos Cravos com o concerto Sin+fonia pela Paz, no CAE. 
Estão ainda agendados eventos para 11 de junho, 1 e 22 de outubro, 23 de novembro (colóquio com Santana Lopes, António Campos, António Valdemar, Carlos Gaspar, José Luís Cardoso, e Mota Amaral (este, a confirmar) e 3 de dezembro."

Em Dezembro de 2016, estava Mário Soares internado no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, a jornalista Maria Elisa que entrevistou muitas vezes o antigo Presidente da República, deu um testemunho emocionado sobre o papel de Soares na história da Democracia portuguesa. 
Disse aos jornalistas: “tenho medo que as gerações mais novas não percebam o quão importante foi Mário Soares”.
No Portugal de hoje, em que os cidadãos têm medo do futuro, talvez esse seja o ponto mais relevante desta iniciativa de Pedro Santana Lopes: relembrar o enorme contributo de Mário Soares para o Portugal em que vivemos em 2023.

Era eu muito novo, alguém me disse que "velhice é posto".
Agora que cheguei, confirmo: é um posto, mas muito ingrato.
Sem me vangloriar disso, sou do tempo: 
- do Salazar. - do Marcelo Caetano. - do Palma Carlos. - do Vasco Gonçalves. - do Pinheiro de Azevedo. - do Sá Carneiro. - do Pinto Balsemão. - do Ramalho Eanes. - do Sócrates. - do Passos Coelho. - do António Costa - do Toni de Matos. - do António Calvário. - do Artur Garcia. - da Madalena Iglésias. - da Simone de Oliveira. - da Shirley Bassey... 
- do escudo. - dos surtos de cólera. - dos chiqueiros e esgotos a céu aberto. - dos filmes e livros proibidos. - da guerra colonial. - das barracas nas dunas da Cova . - da miséria. - da fome. - do pé descalço.
- em que se morria por falta de cuidados médicos. - do trabalho escravo, no mar e em terra. - da obrigatoriedade da disciplina de Religião e Moral no ensino secundário...
- do 25 de Abril de 1974.
E, também, sou do tempo de Mário Soares. 
O 25 de Abril de 1974 permite que ande por aqui.
A  nossa Pátria, em oito séculos de história, portou-se quase sempre mal com as suas gentes.
Reconheçamo-lo...
Quem somos nós para o contestar?..
Nos dias que passam, a injustiça, o silêncio, o medo e a fome  aumentam neste velho País.
Sente-se e, por vezes, ouve-se,  aqui e ali, um soluço que risca o frio muro da tristeza – o que, mesmo para gente com muita lata, mas pouca vergonha, não deixa de causar incómodo.
Mas, o pano de fundo é desolador: Portugal, quase moribundo e arfante, parece estar a morrer devagar.

"Soares é fixe". Continue, pois, a comemorar-se Mário Soares, que desde o dia 24 de Junho de 2010, uma quinta-feira, pelas 12h00, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, tem a Chave de Honra da Cidade da Figueira da Foz.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Mário Soares foi um político humano: não teve sempre razão e enganou-se muitas vezes

Hoje, pelas 18h00, no Centro de Artes e Espectáculos, vai decorrer a apresentação pública do programa comemorativo do centenário do nascimento de Mário Soares.
Na oportunidade, decorrerá também a inauguração da exposição de fotografia de Alfredo Cunha «Mário Soares- 100 anos 100 Fotografias- Democracia».
Mário Soares foi uma grande vedeta política. No País e na Figueira.
Encheu a Fonte Luminosa em Lisboa. Mas, mais difícil ainda, também encheu a Fonte Luminosa na Figueira.
Mário Soares, consta,  continua a ser  uma referência. Foi  o homem a quem Portugal deve não ter sido arrastado para o bloco comunista em 1975, tendo como expoente mais visível a manifestação da Fonte Luminosa, em Lisboa, no chamado Verão Quente.
Na altura, Portugal dirimiu. Portugal sentiu. Portugal decidiu.
Entretanto, Portugal deprimiu. Portugal ressacou. Resultado: Portugal recuou.

"O tempo de Mário Soares", um texto Eduardo Lourenço, publicado em 18 de Janeiro de 2006, no Jornal Público, lido nos dias de hoje, "é os olhos da história".
Foi publicado no tempo do fim de mandato do Presidente Jorge Sampaio e da realização das sétimas eleições presidenciais portuguesas, após o 25 de Abril de 1974, que tiveram lugar a 22 de Janeiro de 2006.
Como sabemos os resultados foram estes: Cavaco Silva, com 2.758.737 votos, ganhou com uma percentagem de 50,64%.  Manuel Alegre, com 1.127.472 votos e uma percentagem de 20.70%, ficou em segundo lugar. Mário Soares, com 781.513 votos e uma percentagem de 14.35%, ficou em terceiro lugar. De registar ainda os 467.360 votos e a percentagem de 8,28% alcançada por  Jerónimo de Sousa nesse acto eleitoral. 
Continuemos em 2006. Vamos ao texto de Eduardo Lourenço.
«A campanha eleitoral não tem sido exactamente aquele torneio político exemplar que alguns idealistas impenitentes sonharam. Faltou-lhe paixão e sobraram escusadas flechas em forma de boomerang. [...] Trazer para esta sociedade, mais do que nunca sociedade de espectáculo, o eco da antiga paixão portuguesa, quer a recalcada do antigo regime, quer a exaltada e exaltante das duas décadas após Abril, era uma aposta arriscada, para muitos perdida e, em todo o caso, objectivamente quixotesca. Filho desses dois tempos, de que foi actor político precoce e, depois, personagem histórico, Mário Soares ousou trazer de novo para uma arena pública, já longe desses tempos turbulentos, essa antiga paixão política, sem querer saber se estaria ou não fora de estação. Passada a surpresa, esta audácia quase juvenil do antigo Presidente da República foi recebida com cepticismo por muitos, com sarcasmo por outros e, sobretudo, como uma ocasião inesperada para ajustar contas antigas e menos antigas com o homem que, melhor do que ninguém, de entre os activos, se identificou e é identificado com a Revolução de Abril e, em particular, com o tipo de democracia que ela instaurou em Portugal. [...] O mundo é que não é exactamente o mesmo mundo onde essa aventura pessoal e transpessoal foi possível. E esse mundo tinha de mudar, não o homem Mário Soares, mas a imagem dele no espelho alheio. O mesmo homem que, em tempos, passou entre nós como “o amigo americano” quando isso significava que o destino da nossa frágil democracia implicava alinhamento com a primeira das democracias ocidentais, aparece, hoje, aos olhos dos que têm interesse em cultivar essa vinha, como “antiamericano”, o que é, naturalmente, ainda mais simplista do que a antiga etiqueta. A única verdade desta valsa ideológico-mediática é clara: o antigo mundo que foi, durante décadas, o do horizonte da luta política de Mário Soares, funciona em termos de repoussoir — e Mário Soares, mais fiel aos seus ideais de sempre do que se diz, aparece, em fim de percurso, mais à “esquerda” do que nunca o foi. [...] Este tempo de Mário Soares não é apenas o tempo de Mário Soares. É o de várias gerações que, como ele, num mundo então histórica, ideológica e culturalmente dividido entre “direita” e “esquerda”, não apenas no Ocidente mas à escala planetária, escolheu um campo, numa época em que não escolher era ficar fora, não apenas do combate político, mas do combate da vida. É inócuo e só na aparência, prova de imaginária lucidez, pensar que esse comportamento releva de uma versão simplista e maniqueísta do mundo. Essa era a textura do mundo e da história que nos coube viver e só quem pretende viver fora deles se imagina sobrevoá-los como os anjos. É uma bela aposta a de Mário Soares, perdida ou ganha. Com a sua carga romanesca e a sua trama paradoxal. Mário Soares não é — nem a título histórico, nem ideológico — toda a esquerda portuguesa, mas nunca foi mais representativo dela, da sua utopia e das suas inevitáveis miragens, do que hoje, quando, aos oitenta anos, se apresenta como alguém, dentro dessa escolha, susceptível de incarnar ainda, melhor do que ninguém, essa velha aposta que entre nós nasceu com Antero e teve em António Sérgio, entre outros, as suas referências culturais, infelizmente mais vividas com sugestões poéticas do que propriamente políticas. Dizem-me que os dados há muito estão lançados e mesmo que os jogos estão feitos. Não o duvido. [...] Os seus adversários neste combate inglório e soberbo foram sempre outros. Não só os que se lembram do seu militantismo juvenil, como os que não esquecem a sua conversão definitiva ao socialismo democrático, mas, sobretudo, os que nunca lhe perdoaram o ter lutado pela democracia em Portugal, antes e depois de Abril. É isso que a verdadeira direita não esquece. É muito mais gente do que se supõe. É a mesma que põe na sua conta, como uma mancha indelével, a absurda culpa de ter “perdido” uma África que ninguém “perdeu” senão ela. [...] A esquerda não o traiu, nem ele se traiu nela. O drama é que essa esquerda de que pela última vez se faz paladino é, ao mesmo tempo, uma realidade — embora ideologicamente recente — e uma quimera. O problema da esquerda nunca foi a direita [...] mas a esquerda mesmo como pura transparência da história. A esquerda, sendo em intenção mais virtuosa, não é menos opaca, no seu angelismo imaginário, que a mais obtusa direita. Sobretudo quando não se dá conta disso. Em alegoria caseira, estas nossas eleições tão consensualmente democráticas, ilustraram com suavidade à portuguesa esta fatalidade. O combate no interior da nossa suicidária esquerda foi, à sua maneira incruenta, uma espécie de Alfarrobeira política. Talvez algum cronista, no futuro se inspire nela para nosso ensino inútil. Ou um poeta. Mas não terá Mário Soares.»

Voltando a 2023. Basta ver televisão para perceber que a matriz da democracia, que é a liberdade, é algo sistematicamente "esquecido": no panorama da comunicação social portuguesa e no comentário político não há pluralismo.
Esta constatação simples, facilmente visível por qualquer um de nós, se estiver minimamente atento ao que o rodeia, é um exemplo de como corre perigo a liberdade e a democracia.
Para quem goste ou não do político, foi isto que Mário Soares deixou como legado: a capacidade de saber quando a liberdade corre perigo. Ninguém como ele identificou os responsáveis, denunciando-os na praça pública, alguns até do seu partido. Enquanto a vida lhe deu forças, nunca pactuou com os inimigos da liberdade. 
A democracia portuguesa vive tempos difíceis. Daí, em 2023, a importância de recordar Mário Soares e, sobretudo "a herança que deixou"
Esta "nova" (velha) direita portuguesa, que se auto-considera intelectual e liberal, pratica um  liberalismo, que continua a "não enjeitar a teta do orçamento".
Sempre foi assim: quer antes quer depois do 25 de Abril .
Desta nova direita, composta maioritariamente por políticos nascidos depois do 25 de Abril de 1974, esperava-se mais: que tivesse novas ideias e dispensasse o obscurantismo como arma política. 
Mas, citando Vasco Pulido Valente: "a referência ideológica da direita portuguesa continua a ser Salazar, o que lhe confere um inequívoco certificado de origem."
Nas elites desta "nova" (velha) direita, quase 50 anos depois da censura ter terminado numa manhã de Abril, o obscurantismo continua a fazer o seu caminho. 
Para esta "nova" (velha) direita, "Mário Soares nunca será um homem de coragem e muito menos um grande político."
Para eles o que o moveu "foi a vaidade e a soberba."
Estamos num País livre, onde se pode dizer tudo e mais alguma coisa. Basta passar os olhos pelas redes sociais.
Mas que moral tem esta rapaziada? Sabem o que foi a luta pela Liberdade e pela dignidade que levou muitos a ter passar pela prisão política?
Esta "nova" (velha) direita é perigosa.
Podia não ter respeito por Mário Soares. Mas, há mínimos que os manipuladores da história deveriam respeitar: nomeadamente a verdade histórica.
Tentar utilizar a ignorância arrogante como uma mais-valia eleitoral é insurportável.

Mário Soares não é um político da minha especial simpatia.
Porém, foi um político humano: não teve sempre razão e enganou-se muitas vezes.
Espero que as comemorações que hoje se iniciam na Figueira contribuam para clarificar isso.
Para quem está atento e vive em 2023 num País chamado Portugal, isso é importante: "quem o diz é a História"

Nota de rodapé.
Nos bastidores da política figueirense, elementos ligados ao PS/Figueira, acusam-me de várais coisas. Entre elas, de não gostar do PS. 
E, se calhar, têm razão. 
Previno, desde já, que a explicação é longa. 
Quem tiver curiosidade, continue. Basta clicar aqui.
Para mim será um gosto visitarem esta reflexão que publiquei em 13 de Junho do corrente ano.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Os números falam por si: Portugal é um país víciado nos jogos de fortuna e azar

«O dinheiro, enquanto dinheiro, não rende nada, ele não se multiplica nem se reproduz.» Paulo Nakatani, economista
Notícia Jornal de Notícias de hoje: 
Portugueses gastam quase 400 mil euros por dia no Eurodreams.
"São pessoas que são maioritariamente operários, comparativamente com os trabalhadores dos serviços que têm um padrão de jogo muito menos frequente". 
Só França e Espanha superam Portugal nas vendas do novo jogo. Foram apostados 14 milhões de euros e atribuídos quatro milhões em prémios. No primeiro mês de comercialização, os portugueses gastaram por dia 388 mil euros com o novo jogo de apostas, o Eurodreams, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. 
Portugal ocupa o terceiro lugar nos países com mais vendas e já foram atribuídos no nosso país mais de um milhão de prémios, no valor de quatro milhões de euros, embora nenhum jackpot. O prémio mais alto pago em Portugal foi de 173,92 euros, mas a maioria é de 2,50 euros."

Segundo um estudo publicado em Setembro passado, "em Portugal, perto de 100 mil pessoas têm problemas de dependência em relação às raspadinhas. Trinta mil desenvolveram mesmo uma perturbação de jogo patológico, segundo um estudo do Conselho Económico e Social. Quem mais joga são indivíduos com menor instrução social, poucos rendimentos e mais vulneráveis. 
O estudo Quem Paga a Raspadinha, apela a maior regulamentação, a começar pela criação um cartão de jogador que permita identificar padrões de uso de jogo que possam ser patológicos. Só este ano, os apostadores já gastaram 1,4 mil milhões de euros em raspadinhas, o que equivale a quatro milhões por dia. 
"As pessoas que jogam mais frequentemente raspadinhas são pessoas com baixa instrução, com rendimentos mais baixos, nomeadamente entre os 400 e 650 euros mensais, e também pessoas que têm outros problemas de saúde como o consumo excessivo de bebidas alcoólicas", explicou à RTP Pedro Morgado, coordenador do estudo.
Os mais idosos têm mais probabilidade de se transformarem em jogadores dependentes que os jovens. "É um vício que afeta os mais velhos, os mais pobres, os menos instruídos e os mais vulneráveis da sociedade"
Segundo Pedro Morgado, o estudo conclui ainda que "existem piores indicadores de saúde mental, nomeadamente sintomas de ansiedade, depressivos e de stress, nas pessoas que têm estes problemas com o uso de raspadinhas". O estudo não encontrou diferenças "entre os homens e as mulheres, o que também é significativo"
"Em todas as outras modalidades de jogo, os homens tendem a gastar mais e a ter mais problemas de jogo patológico. Portanto, essa ausência de diferenças, é um sinal de que, neste jogo em particular, as mulheres são mais afetadas do que noutros tipos de jogo"
O autor do estudo defende que uma das formas de combater o vício é, primeiramente, "aumentar o debate público acerca da regulamentação deste tipo de jogo"
"Uma vez que é um jogo interpretado, pela maioria das pessoas como não tendo consequências potencialmente negativas. Necessitamos de aumentar a literacia e criar medidas que ajudem os que não conseguem controlar a perturbação, a limitar o acesso ao jogo", acrescentou. 
Pedro Morgado defende a criação de "um cartão de jogador" e frisa que "não está em causa, de maneira nenhuma, proibir este tipo de jogo. Porque a proibição traz outros problemas, nomeadamente o jogo ilegal"
"É também importante dizer que este é um problema significativo em Portugal, tendo em conta a popularidade das raspadinhas, mas há outras modalidades que também estão a crescer e também nos preocupam, como o jogo online. É preciso uma política que olhe, de forma integrada, para todos estes problemas que têm consequências muito nefastas para a nossa sociedade".

João Henrique Silva, na crónica "Raspar o pobre", publicada no Diário de Notícias, considera, que, "para lá dos estudos, necessários e sempre importantes, já podemos dar um nome a essa “doença”: ela chama-se... pobreza! A sedução de um jogo fácil e barato, com eventual gratificação instantânea, contribui para os mais pobres criarem uma idealização, alienada e viciante, do seu “status”, em busca de uma vida diferente. Como resistir à tentação, se a publicidade assedia os incautos por todos os lados? E, lá no fim da engrenagem, é sempre o Estado “glutão” que fica a ganhar. Todavia, a realidade não melhora: subsiste desigualdade, economia débil, défice geracional, e a pobreza endémica que atasca na inércia um país há 50 anos prometido.
“Quem paga a raspadinha?”, pergunta o estudo do CES. A Santa Casa não será, com certeza: o pobre bem raspa, mas afunda-se cada vez mais…Marx dizia: “o homem pobre tem um deus rico”
Diríamos agora: um pobre país de pobres, tem uma Misericórdia rica!"

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Henry Kissinger morre aos 100 anos

Para muitos militantes de esquerda, Kissinger foi um criminoso ao serviço dos Estados Unidos. 
Mas o que são Lyndon Johnson Biden, Clinton ou Nixon? 
Só que Kissinger, dizem, era mais inteligente.
Obama agradeceu-lhe o exemplo de «liderança» e George W. Bush evocou uma das «mais fiáveis e distintas» personalidades dos EUA, «um amigo» para Hillary Clinton. 
O ex-Secretário de Estado norte-americano esteve directamente envolvido nas preparações para o golpe de estado contra o Governo democraticamente eleito de Salvador Allende, garantindo um continuado apoio dos EUA ao regime fascista que matou milhares e torturou mais de 40 mil pessoas. 
O processo revolucionário português, que acabou com 48 anos de uma sangrenta ditadura fascista, também não lhe escapou. Numa reunião na Casa Branca a 27 de Março de 1975, Kissinger afirma que «os europeus estabeleceram dois objectivos [quanto a Portugal]: a realização de eleições e evitar a tomada do poder pelos comunistas. Acho que podemos conseguir esses dois objectivos e, mesmo assim, "perder" o país porque os comunistas "governam" através do MFA. O que vamos fazer se este tipo de Governo quiser manter o país na NATO? Quais os efeitos disso em Itália? E em França? Provavelmente, temos que atacar Portugal, qualquer que seja o resultado, e expulsá-lo da NATO».
Por muito caricato que possa parecer, Henry Kissinger recebeu o Prémio Nobel da Paz em 1973, pela negociação de um cessar-fogo no Vietname, um prémio dividio a meias com Le Duc Tho, dirigente comunista vietnamita. Duc Tho rejeitou ser distinguido (um caso, quase, único; apenas Sartre também rejeitou um Nobel) ao lado de um criminoso de guerra.

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Está em causa a falsificação de análises de água destinada ao consumo humano

Segundo o Diário de Notícias, «há dez municípios envolvidos na investigação relativa à Operação Gota d'Água, que incide sobre uma alegada fraude em análises de água para consumo humano, cuja operação desencadeada pela Polícia Judiciária levou à detenção de 20 suspeitos esta quarta-feira.
As Câmaras Municipais de Alfândega da Fé, Macedo de Cavaleiros, Miranda do Douro, Mirandela, Mogadouro, Resende, Sabugal, Sátão, Vila Flor e Vila Pouca de Aguiar são, de acordo com fonte judicial, as que estão citadas na investigação, sendo que algumas delas foram mesmo alvo de buscas esta quarta-feira.
Segundo a mesma fonte, entre os principais suspeitos estão "dirigentes, analistas e técnicos de colheitas do Laboratório Regional de Trás-os-Montes, com quase 30 anos de experiência em análises de água de consumo, residuais, de praias e piscinas".
Entretanto, as autarquias de Vila Flor, Mirandela, Alfândega da Fé, Macedo de Cavaleiros, Miranda do Douro e de Mogadouro já confirmaram terem sido alvo de buscas por parte da Polícia Judiciária (PJ) no âmbito da operação Gota d'Água.»

Na edição de hoje do Diário as Beiras, pode ler-se que «várias empresas ou entidades ligadas ao fornecimento e distribuição de água na região Centro garantiram ontem que nunca trabalharam com o laboratório envolvido na investigação por falsificação de análises de água destinada ao consumo.
"Fontes da Águas do Centro Litoral, da APIN (Empresa Intermunicipal de Ambiente do Pinhal Interior), da Águas do Baixo Mondego e Gândara (ABMG) e da empresa municipal Águas de Coimbra afirmaram que nunca trabalharam com o Laboratório Regional de Trás-os-Montes (LRTM), situado no Complexo Agroindustrial do Cachão, no concelho de Mirandela, no distrito de Bragança. Também fonte da Águas da Figueira, concessionária de água e saneamento no concelho da Figueira da Foz, garantiu que o laboratório que faz análises para a empresa “não está envolvido” na “Operação gota d’ água”. “O nosso laboratório é 100% privado, acreditado e reconhecido pela reguladora ERSAR”. 

Recorde-se que a Polícia Judiciária (PJ) de Vila Real anunciou ontem que realizou 60 buscas domiciliárias e não domiciliárias, que visaram diversos particulares, empresas e entidades públicas, em diferentes concelhos do território nacional, entre os quais, Coimbra.
As buscas aconteceram no âmbito de uma investigação por falsificação de análises de água destinada ao consumo humano.»

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Adelino Cunha, jornalista, investigador e profesor universitário, trabalhou no gabinete de José Relvas, no governo de Passos Coelho, escreve livros sobre comunistas

 Foto Reinaldo Rodrigues/Global Imagens
Adelino Cunha é autor de seis livros, quatro sobre a história do PCP. Recentemente publicou
Para Que Serve o PCP? Os Anos da Fundação.
Numa interessante entrevista ao Diário de Notícias, que vale a pena ler na íntegra, este jornalista e profesor universitário, que trabalhou no gabinete de José Relvas, no governo de Passos Coelho, (o XIX Governo Constitucional) durante 11 meses e escreve livros sobre comunistas, considera que  "as pessoas não fizeram nenhum esforço para entender a posição do PCP sobre a guerra da Ucrânia. 
As pessoas estão a dispensar os políticos, os jornalistas, os historiadores, para apurar o que se passa e o que se passou. Há muito tempo a esta parte há uma coisificação do espaço público. Assistimos a isso sobre a Ucrânia e também sobre a guerra de Israel em Gaza. As ideologias deixaram de ser suficientes para explicar o mundo. Como é que um partido político que tem uma visão e interpretação da história e é forjado nela pode explicar a sua narrativa nesse novo ambiente de perda de sentido coletivo. Esse fenómeno é uma das principais dificuldades do PCP, que tem uma ideologia e quer fazer o debate num mundo totalmente fragmentado e dividido em bolhas, numa sociedade de pessoas irritadas em que se perde esta dimensão coletiva.
Quando dizem que as redes sociais e a internet vieram democratizar, é absolutamente falso. Criaram bolhas que estabelecem uma interpretação da verdade e que criam um determinado contexto. Não há pluralismo, o que há é um fechamento do debate. O que eu quis foi contribuir para o aumento da pluralidade na discussão. Apenas quis introduzir contexto histórico. Dir-me-ão, isso acabou por dar uma perspetiva diferente das posições dominantes e dar alguma luz sobre as opiniões divergentes, como as do PCP? Admito que sim.
Não é minha a culpa de que as pessoas não leram, nem estudaram, nem fizeram nenhum esforço para entender a posição do PCP sobre a guerra da Ucrânia.
Mais adiante Adelino Cunha, sobre os fundamentos ideológicos do PCP, diz: "não cedeu ao eurocomunismo. Um partido com mais de 100 anos de história é um partido que existe num tempo longo, não pode ser interpretado sistematicamente neste tempo imediato das redes sociais. Nós temos que o analisar como algo que nasce em determinadas circunstâncias e mantém uma identidade. Mesmo quando o PCP tem de "divergir", digamos assim, fá-lo por razões da sua portugalidade. É o caso quando -- em tempos da teoria da coexistência pacífica na União Soviética -- o partido português defendia um levantamento popular armado em Portugal. Essa divergência existe para expressar as condições próprias da situação portuguesa e mostra a convicção de Álvaro Cunhal que é possível uma revolução em Portugal para derrubar o fascismo. Nessa altura, o PCP desafia Moscovo, ao negar a aplicação da coexistência pacífica a Portugal, não aceitando esvaziar a luta de classes. Álvaro Cunhal, embora esteja num partido pequeno e periférico, era altamente prestigiado e considerado no movimento comunista internacional. É por isso que consegue impor a sua visão sobre o derrube do fascismo em Portugal em tempos em que o Partido Comunista da União Soviética falava da necessidade de uma coexistência pacífica entre dois blocos. Isso rompe com a ideia de que o PCP esteve sempre alinhado com Moscovo. Esteve alinhado nas questões internacionais, mas, quando se tratou de derrubar o fascismo em Portugal, o PCP foi bastante claro e seguiu apenas as convicções dos comunistas portugueses".

domingo, 19 de novembro de 2023

Figueira, uma cidade de mar. E rio...

O Dia Nacional do Mar, foi comemorado na Figueira da Foz com o programa que publicamos.
Posso estar enganado, mas pareceu-me que o acontecimento passou ao lado das preocupações da maioria dos figueirenses.
O Mar português, para quem os portugueses tanto olham no verão, é uma enorme riqueza potencial, que quem tem mandado em Portugal nas últimas décadas tem desconhecido.
"O Mar, é o maior recurso do País e da cidade!
Foi o Mar que definiu parte da vocação económica da nossa cidade. Hoje já grande parte dos autarcas, felizmente, tem uma maior consciência da necessidade da dinamização económica das vilas e cidades e duma estruturação adequada do seu tecido económico. Adequada quero dizer adaptada às condições naturais e populacionais dos seus territórios, pois “ricos” não são apenas os que tem recursos naturais, mas sim os que os sabem explorar."

A economia do mar (essa descoberta mais ou menos recente dos políticos. Há 13 anos, houve um presidente da câmara da Figueira da Foz, que quando apareceu na política veio falar numa coisa – a famosa Aldeia do Mar, lembram-se, que nunca ninguém verdadeiramente soube o que era) deveria ser há muito uma prioridade nacional.
Todavia, infelizmente,  isso  não tem passado  de retórica política para entreter e caçar o voto à plebe em época de eleições.
E, no entanto,  o sector merecia outro olhar e outra atenção dos governantes.

Lembre-se:  o valor económico das actividades ligadas ao mar consideradas na economia portuguesa ronda os 2% do PIB e emprega directa e indirectamente cerca de 100 mil pessoas.
O que muitos agora chamam de hypercluster da Economia do Mar, tem de deixar de ser apenas  uma frase pomposa, para passar a ser uma força catalisadora, capaz de organizar e dinamizar um conjunto de sectores com elevado potencial de crescimento e inovação e capacidade para atraírem recursos e investimentos de qualidade, nomeadamente externos.

A Figueira tem potencial neste sector. Mas, neste momento, o sector da pesca está  asfixiado e vive dias difíceis na nossa cidade.
Basta passar pelo porto de pesca e ver o número irrisório de unidades de pesca que utilizam o nosso porto, comparativamente com anos atrás. E a causa é bem fácil de explicar, basta falar com os homens do mar: a barra está a afastar os pescadores, pois está cada vez mais insegura e perigosa. Se alguém duvida disto é fácil de o tirar a limpo – basta falar com os homens do mar.  “A barra nunca esteve tão má para nós” – é o que de certeza vão ouvir da boca dos pescadores, que são aqueles que a conhecem melhor do que ninguém.
Seria necessário e  justo,  que quem anda a pensar na estratégia portuária, aqui pela Figueira, tivesse sempre a pesca em grande conta, pois o potencial está cá -  e continua bem vivo e presente, no seio das comunidades piscatórias locais.

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Troféu Heróis da Estrada homenageia antigas glórias do ciclismo português

Via Figueira Champions Classic

"A organização do Figueira Champions Classic / Casino Figueira anuncia um evento dedicado às antigas glórias do ciclismo português, convidando todos os ex-ciclistas profissionais a participar dia 10 de fevereiro de 2024 no Troféu Heróis da Estrada, um passeio de cicloturismo que irá reviver os tempos áureos do ciclismo nacional.

Neste dia especial os ciclistas devem alinhar com as camisolas das suas equipas da época, apresentando consigo as memórias e a paixão que os uniu ao mundo das duas rodas.
A credenciação e entrega de dorsais ocorrerá no dia 9, entre as 8h00 e as 10h00 da manhã, no Posto de Turismo da Figueira da Foz, junto ao ponto de partida. Este será o ponto de encontro para todos os participantes e o local onde poderão preparar-se para o passeio que os aguarda.
O Troféu Heróis da Estrada terá uma marcha controlada, garantindo a segurança e a diversão de todos os participantes. O passeio será limitado a 100 participantes sendo, assim, aconselhável garantir a inscrição o mais rápido possível. O percurso, embora curto, apresentará rampas de até 17%, seguindo o circuito final da clássica mundial Figueira Champions Classic, onde os melhores ciclistas do mundo competirão.
A inscrições abrem a 30 de Outubro no site https://www.racingtime.pt/fccheroisestrada?p=858 e são completamente gratuitas com direito a almoço e medalha de participação, podendo os participantes adquirir almoço para acompanhante no valor de 12 .00 € euros."

Museu do Neo-Realismo assinala 100 anos de José Dias Coelho

Via Abril

"José Dias Coelho nasceu em Pinhel, na Guarda, a 19 de Junho de 1923, há 100 anos. O artista plástico (escultor e pintor), militante do PCP, funcionário na clandestinidade, foi assassinado pela PIDE aos 38 anos de idade, em Alcântara, Lisboa, numa rua que tem, agora, o seu nome. 

Este crime do fascismo ficou marcado na História do povo português, eternizado na música de José Afonso «A Morte Saiu à Rua». Com uma vida marcada pela militância política no combate ao salazarismo e por um percurso artístico, nas áreas do desenho, pintura e escultura, foi um dos «mais talentosos artistas da terceira geração modernista», reconhece o Museu do Neo-Realismo, num comunicado à imprensa. José António Dias Coelho nasceu em Pinhel, no distrito da Guarda, a 19 de Junho de 1923, tendo passado a infância em Coimbra e em Castelo Branco. Em 1938 vai para Lisboa com os seus pais e é no Colégio Académico, onde conclui os estudos liceais, que contacta com algumas das mais destacadas figuras da cultura portuguesa do período da ditadura, entre os quais Bento de Jesus Caraça, Lopes Graça, Carlos Oliveira e Abel Manta. Professores perseguidos pela ditadura de Salazar, através dos quais José Dias Coelho aprofunda a sua cultura humanista e democrática, bem como a revolta contra as injustiças sociais e a opressão. 

Ficha prisional

Em 1942 matriculou-se na Escola de Belas-Artes de Lisboa, primeiro em Arquitectura e, depois, em Escultura. Por esta altura adere à Federação das Juventudes Comunistas e inicia a sua actividade política na frente da solidariedade, particularmente para com os presos políticos e as famílias atingidas pela repressão fascista. A sua generosidade e compromisso com a luta pela liberdade fá-lo sacrificar a sua carreira artística, como escultor. No dia 19 de Dezembro de 1961, com 38 anos, foi assassinado a tiro pela PIDE no Bairro de Alcântara, em Lisboa, na rua que hoje tem o seu nome. «O pintor morreu», anunciou Zeca Afonso na canção que lhe dedicou: «A morte saiu à rua». 

 Margarida Tengarrinha, que preparou um depoimento para a sessão evocativa do próximo sábado, no Auditório do Museu do Neo-Realismo, apenas soube do assassinato do seu companheiro a 26 de Dezembro. Enquanto funcionários do PCP na clandestinidade, Margarida Tengarrinha e José Dias Coelho partilharam tarefas como a falsificação de documentos e a realização de desenhos, ilustrações e cabeçalhos para publicações como A Voz das Camaradas ou o Avante!. 

 A sessão evocativa do centenário de Dias Coelho conta com a presença de Júlia Coutinho, Fernando Rosa Dias, Paula Loura Batista e David Santos."

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Portugal é o terceiro país europeu que perdeu mais ferrovia: 460 quilómetros

Porque é preciso continuar a "manter o foco".
Ainda a propósito do livro "O primeiro-ministro e a arte de governar" do, "desde incompreendido a odiado, pela esquerda, Cavaco Silva"... 

Via Jornal Público

"A rede ferroviária portuguesa diminuiu 18% entre 1995 e 2018 – o terceiro maior declínio entre um grupo de países que inclui a União Europeia a 27, o Reino Unido, Noruega e a Suíça, analisados num estudo divulgado nesta terça-feira pela organização ambientalista Greenpeace. No mesmo período, a rede rodoviária em Portugal cresceu 2378 km no mesmo período, ou seja, 346% – estamos também em terceiro lugar, mas entre os países em que o número de estradas mais aumentou.

Estudo da Greenpeace mostra que Portugal investiu mais do triplo na construção de estradas, entre 1995 e 2018, do que na ferrovia. Mais de 100 mil pessoas perderam acesso a comboios."

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Natália Correia: "feria-a um verso mal dito, um comentário político desalinhado ou o sorver do gelado com maior alarido durante a leitura de um poema"

 

Foto sacada daqui

Senhores jurados sou um
poeta um multipétalo uivo um defeito e ando com
uma camisa de vento ao contrário do esqueleto
Sou um vestíbulo do impossível um lápis de
armazenado espanto e por fim com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim Sou em código o azul
de todos (curtido couro de cicatrizes) uma
avaria cantante na maquineta dos felizes
Senhores banqueiros sois a cidade o vosso enfarte
serei não há cidade sem o parque do sono que
vos roubei Senhores professores que puseste
a prémio minha rara edição de raptar-me em
crianças que salvo do incêndio da vossa lição
Senhores tiranos que do baralho de em pó volverdes
sois os reis sou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis Senhores
heróis até aos dentes puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos umas estrofes mais
além Senhores três quatro cinco e sete que
medo vos pôs na ordem ? que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem ? Senhores
juízes que não molhais a pena na tinta da natureza
não apedrejeis meu pássaro sem que ele cante
minha defesa Sou uma impudência a mesa posta
de um verso onde o possa escrever ó
subalimentados do sonho ! a poesia é para comer.

Nome maior da poesia portuguesa do século XX, Natália Correia, que hoje completaria 100 anos, foi também uma combatente pelas liberdades públicas e privadas.
Na madrugada de 25 de Abril de 1974, Natália Correia voltava do seu bar Botequim, no bairro lisboeta da Graça. Sentindo-se sem sono, pôs-se a ler os versos de Abenamar, poeta do século XI nascido em Silves. 
Mas não chegou a adormecer. Em breve, receberia um telefonema a anunciar-lhe a existência de movimentos de tropas em direção a Lisboa, com a Baixa da cidade, onde estavam os ministérios, já ocupada por tanques. 
Como escreveria no diário que iniciou nesse preciso momento, a direção do movimento era ainda tão indistinta como os vultos iluminados pela primeira luz da manhã: o dia iria chegar "cheio de graça libertadora" ou ferido "pelas tremuras da caquexia ultradireitista?" Quando, por volta das 7 da manhã, uma rádio transmite o seu poema Queixa das Almas Jovens Censuradas, interpretado por José Mário Branco, Natália não teve dúvidas: a ditadura, que ela combatera com palavras e atos, aproximava-se do seu fim.
«O Dever de Deslumbrar- Biografia de Natália Correia», editado pela Contraponto, é uma obra que chega no ano do centenário da escritora e poeta, que se assinala hoje, dia 13 de setembro de 2023, e permite ficar a conhecer a realidade do país nos seus 70 anos de vida.

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

RISCO DE INCÊNDIO DEVIDO A VALORES MUITO ELEVADOS DA TEMPERATURA

Mais de 100 concelhos dos distritos de Faro, Santarém, Leiria, Portalegre, Beja, Castelo Branco, Guarda, Aveiro, Coimbra, Viseu, Braga, Porto, Vila Real e Bragança apresentam hoje um perigo máximo de incêndio rural, segundo o IPMA. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) colocou também mais de 40 concelhos dos distritos de Faro, Beja, Lisboa, Leiria, Coimbra, Aveiro, Vila Real, Porto, Braga e Portalegre em perigo muito elevado. Outros concelhos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Leiria, Santarém, Setúbal, Portalegre, Évora e Beja estão hoje em perigo elevado de incêndio. 
Por causa das condições meteorológicas, o perigo de incêndio vai manter-se elevado pelo menos até domingo. Este risco, determinado pelo IPMA, tem cinco níveis, que vão de reduzido a máximo e os cálculos são obtidos a partir da temperatura do ar, humidade relativa, velocidade do vento e quantidade de precipitação nas últimas 24 horas. Por causa do tempo quente com temperaturas máximas que podem ultrapassar os 40 graus, o IPMA colocou os distritos de Vila Real, Bragança, Viseu, Guarda, Coimbra, Castelo Branco e Santarém sob aviso vermelho até às 21:00 de hoje, passando depois a amarelo até às 21:00 de quinta-feira. Os restantes distritos do continente vão estar entre estes dias sob aviso laranja (o segundo mais grave), também devido ao tempo quente, segundo a informação divulgada, disponível no site do instituto.

Nota.

Deverão acompanhar-se os avisos meteorológicos e as previsões meteorológicas em:

http://www.ipma.pt/pt/otempo/prev-sam/

http://www.ipma.pt/pt/otempo/prev.descritiva/

http://www.ipma.pt/pt/otempo/prev.significativa

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

A UE não tem vontade política própria

Via Estátua de Sal
Na véspera da cimeira da NATO, o The New York Times publicou um artigo da autoria de Gray Anderson e Thomas Meaney  intitulado “A NATO não é o que diz ser”. (Ver aqui).

“Desde o início da sua existência, a NATO nunca se preocupou primordialmente com o reforço militar. Com 100 divisões em plena Guerra Fria sob o seu controlo, uma pequena fração dos efetivos do Pacto de Varsóvia, a organização não podia descartar a possibilidade de ter de repelir uma invasão soviética e mesmo as armas nucleares do continente estavam sob o controlo de Washington. Pelo contrário, o seu objetivo era atrair a Europa Ocidental para um projeto muito mais vasto, liderado pelos EUA, de uma ordem mundial em que a proteção americana servisse de alavanca para obter concessões noutras questões, como o comércio e a política monetária. Foi surpreendentemente bem-sucedida no cumprimento dessa missão”.

O artigo conta ainda como, apesar da relutância de alguns países da Europa de Leste em aderir à NATO, estes foram arrastados para tal, tendo sido usados todo o tipo de truques e manipulações. Os ataques a Nova Iorque em 2001 serviram os interesses da Casa Branca, que declarou uma “guerra global contra o terrorismo”, estabelecendo, de facto, esse mesmo terror, tanto literalmente (Iraque, Afeganistão) como figurativamente, encurralando com pontapés os novos membros da NATO. Isto foi feito porque estes países eram mais fáceis de controlar através da NATO.

Os autores também mencionam tarefas mais estratégicas dos EUA, dizendo que “a NATO está a funcionar exatamente como pretendido pelos planificadores norte-americanos do pós-guerra, levando a Europa a depender do poder dos EUA, o que reduz o seu espaço de manobra. Longe de ser um programa de caridade dispendioso, a NATO assegura a influência dos EUA na Europa a um preço barato. As contribuições dos EUA para a NATO e outros programas de ajuda à segurança na Europa constituem uma pequena fração do orçamento anual do Pentágono, menos de 6%, de acordo com uma estimativa recente.

A situação da Ucrânia é clara. Washington vai garantir a segurança militar, fazendo com que as suas empresas beneficiem de um grande número de encomendas europeias de armas, enquanto os europeus vão suportar os custos da reconstrução pós-guerra, algo para o qual a Alemanha está mais bem preparada do que para aumentar as suas forças militares. A guerra é também uma espécie de ensaio geral para uma confrontação dos Estados Unidos com a China, na qual não será fácil contar com o apoio europeu.

Para além da NATO, há um segundo elemento-chave controlado por Washington. É a União Europeia. Há mais de sete anos, o British Telegraph revelou que a UE não passava de um projeto da CIA (Ver aqui).

Nesse artigo afirmava-se que a Declaração Schuman, que deu o mote para a reconciliação franco-alemã e que conduziu gradualmente à criação da União Europeia, foi inventada pelo Secretário de Estado americano Dean Acheson durante uma reunião no Departamento de Estado.

O Comité Americano para a Europa Unida, presidido por William J. Donovan, que durante os anos de guerra dirigiu o Gabinete de Serviços Estratégicos, com base no qual foi criada a Agência Central de Informações, era a principal organização de fachada da CIA. Outro documento mostra que, em 1958, este comité financiou o movimento europeu em 53,5%. O seu conselho incluía Walter Bedell Smith e Allen Dulles, que dirigiram a CIA nos anos cinquenta.
Por último, é igualmente conhecido o papel dos Estados Unidos na criação e imposição do Tratado de Lisboa à UE. Washington precisava dele para facilitar o controlo de Bruxelas através dos seus fantoches.
Mas, atualmente, nem isso parece ser suficiente para os Estados Unidos. No dia anterior, num artigo publicado no The Financial Times, o antigo embaixador dos EUA na União Europeia, Stuart Eizenstat, foi citado como tendo dito que era necessária uma nova estrutura transatlântica entre os EUA e a UE, comparável à NATO, para resolver os problemas modernos. 
Ele apontou para a necessidade de criar um novo formato de coordenação, ou seja, de facto, a criação dos Estados Unidos da América e da Europa, onde os Estados europeus seriam, por todos os meios, apêndices dos Estados Unidos, cumprindo a vontade política de Washington.
Por conseguinte, todas as declarações e afirmações da Alemanha e da França sobre a sua autonomia estratégica podem ser consideradas palavras ocas de sentido.
Ducunt Volentem Fata, Nolentem Trahunt (“os destinos conduzem os que querem e arrastam os que não querem”), como se dizia na Roma antiga. Pode ser desagradável para muitos europeus aperceberem-se deste facto. No entanto, o facto é que os países da Europa estão a ser arrastados pelos colarinhos para onde não querem ir.

Original aqui.