Via Diário as Beiras
terça-feira, 12 de dezembro de 2023
Costa e Montenegro
Deputados do PS, PCP e BE apelam a cessar-fogo imediato no Médio Oriente
Via Jornal Público
Os deputados apoiam uma resolução da ONU de 27 de Outubro que pede uma trégua humanitária EPA/MOHAMMED SABER |
«Mais de 20 deputados do PS, PCP e Bloco de Esquerda (BE) subscreveram esta segunda-feira um apelo por um cessar-fogo “imediato, duradouro e sustentado” na Palestina e em Israel para acabar com a “actual escalada de violência”.»
segunda-feira, 11 de dezembro de 2023
A frágil casa comum
«No país do Tio Sam, a prioridade é o financiamento da guerra israelita. A política mais cínica não muda, quer se trate do futuro do Planeta ou de um povo.
Os mais frágeis perderão sempre».
"O Bypass Político na Figueira da Foz: Entre as Ondas do Mar e as Correntes Políticas"
Miguel Pereira, ex-vereador da Câmara Municipal da Figueira da Foz
"A política é uma arte complexa, onde não há verdades absolutas, mas escolhas a serem feitas. Enquanto as ondas do mar continuam a bater nas praias da Figueira da Foz, a comunidade observa atentamente, esperando que as águas políticas se acalmem, trazendo consigo uma nova era de transparência e colaboração na construção do futuro do concelho. O futuro da política figueirense permanece incerto, e a comunidade aguarda não apenas palavras, mas ações concretas que acompanhem as necessidades urgentes da proteção costeira. O povo merece uma navegação política que não só apazigue as águas turbulentas, mas que também construa um futuro sustentável e resiliente para a Figueira da Foz.
A propósito da homenagem a Mário Soares: para que serve uma vida?
Mário Soares teve um percurso político que foi, digamos assim, pragmático: "foi comunista antes de ser anticomunista, foi contra a NATO antes de subscrever a Carta do Atlântico, foi defensor da nacionalização de sectores económicos estratégicos antes de condenar a sua execução, foi aliado da administração norte-americana antes de se tornar adversário de Washington, foi contra governos de iniciativa presidencial antes de advogar um executivo de salvação nacional promovido por Belém, foi contra a dissolução do parlamento e a convocação de eleições legislativas antes de rejeitar a procura no hemiciclo de uma solução governativa e, pelo contrário, dissolver a Assembleia da República e convocar eleições, foi o introdutor em Portugal de dois pacotes de austeridade antes de tomar posição contra um terceiro, foi pró-ocidental antes de desfilar ao lado de companhias altermundialistas, foi o homem público reformado que prometeu não regressar à política activa meses antes de se apresentar como candidato presidencial".
Sabendo-se, como se sabe, o lugar que Mário Soares ocupa na História de Portugal, uma homenagem promovida por iniciativa de um Presidente de Câmara da Figueira da Foz, merece especial atenção de quem vive e sente a Figueira.
Temos um ano pela frente.
Santana Lopes tem muito a ver com Mário Soares.
Vejo em ambos algo em comum: a capacidade de chegar aos eleitores, mais pela sua maneira de ser do que pela ideologia. E, ao mesmo tempo, pelo menos em determinado períodos - nomeadamente, eleições - serem capazes de mostrarem uma moderação e um equilíbrio que sensibeliza os votantes quando têm de escolher.
Mário Soares no País. Santana Lopes, sobretudo na Figueira.
A definição de Liberdade, enquanto grau de independência legítimo que um cidadão, um povo ou uma nação elege como valor supremo e como ideal, bem como a condição de não submissão a qualquer força constrangedora, física ou moral, remete-nos para a obra de Agostinho da Silva, que nos fala da missão de Portugal: "libertar-se e libertar o mundo, cumprindo-se, assim, na sua identidade universal e fraterna."
Todavia, Liberdade é, igualmente, a possibilidade que um indivíduo tem de se exprimir de acordo com a sua vontade, a sua consciência e a sua natureza.
Daí que Agostinho da Silva "apele ao não conformismo e ao pensamento próprio e proponha uma reflexão aprofundada sobre a importância da liberdade". Isto é: "fazer coincidir o pensar com o ser."
Agostinho da Silva ensinou (a quem quis aprender) "que a utopia não é o impossível, mas somente aquilo que ainda ninguém conseguiu fazer."
Num mundo sufocado pelos actuais modelos económicos, políticos e sociais, baseados no lucro e na concorrência selvagem, quer sejam vividos em democracias ou autocracias, para alguns existe a consciência da limitação de liberdade.
Numa sociedade em que se vive oprimido por diversos constrangimentos e os direitos de cada de cada um de nós são reprimidos, Agostinho da Silva sublinhava: «não basta para ser livre, que se tenha liberdade política. A liberdade política é perfeitamente ilusória enquanto se não tem liberdade económica».
Nunca deixou de reforçar a ideia: «o caminho é o de pegar na máquina e pô-la ao serviço, não de uma nova escravidão, mas dos homens. Meter homens a servir as máquinas e com essas máquinas e com esses homens servir outros homens e outras máquinas, mas para efectivamente nos dar a tal liberdade de ser poeta à solta».
Mário Soares foi um “cidadão do mundo, e no mundo era conhecido como um líder marcante, democrata e socialista”.
Por conseguinte, foi um cidadão poderoso. E o que fez com o Poder?
Continuando a citar Agostinho da Silva.
«Vamos ver como é isso da entrada de Portugal na CEE. Se é um bebé que se vai acolher nas mãos de uma ama ou se é, pelo contrário, alguém, a Península, que vai dizer à Europa como é que ela se tem de humanizar».
A União Europeia foi pelo caminho do federalismo criado apenas numa base utilitarista e economicista. Daí a fragilidade da sua construção, o presente difícil e o futuro desconhecido.
Vivemos num mundo obcecado com a produtividade, a eficiência e os lucros. Perdeu-se em humanização e em liberdade cultural de cada um de nós.
Nos últimos anos de vida, dizem que "Mário Soares radicalizou à esquerda".
O PS, em 25 de Abril de 1974, "intitulava-se um partido à esquerda".
Todavia, nunca houve politicamente uma “maioria de esquerda”, apesar de ela existir aritmeticamente, nem houve qualquer tipo de entendimento à esquerda minimamente durável. Houve sim uma coligação com o CDS, o único que não votou favoravelmente a Constituição.
Porquê? Porque o PS de Mário Soares tinha uma estratégia muito clara da qual não nunca se afastou um milímetro: institucionalizar em Portugal uma democracia representativa, se possível de base exclusivamente parlamentar, sem qualquer tipo de cedências a qualquer outra forma de poder que não a resultante do voto popular.
«Mário Soares seguiu à risca esta estratégia, fazendo as alianças de ocasião que lhe pareceram as necessárias para a consolidar e recusando, sem problemas de consciências ou hesitações, qualquer tipo de entendimento à esquerda.
Mário Soares acreditava na solidariedade dos partidos socialistas e social-democratas europeus, acreditava no “socialismo em liberdade” e acreditava acima de tudo na Europa como palco ideal de concretização das suas ideias políticas. E continuou a acreditar, nos anos imediatamente subsequentes à Queda do Muro e à desagregação da URSS, que estavam, finalmente, reunidas as condições ideais para pôr em prática aquele ambicioso projecto político.»
Aliás, "é bom que se recorde que não foi sob o comando executivo de Soares à frente do PS que a organização económica consagrada na Constituição Portuguesa foi revista e completamente descaracterizada, mesmo tendo em conta a Lei n.º 77/77. Soares patrocinou e promoveu, juntamente com o PSD, a revisão de 1982, que no essencial consagrou aquilo que fora a sua estratégia politica depois do 25 de Abril. Mas foi com a revisão de 1989, promovida pelo cavaquismo com o apoio do PS de Constâncio que se abriu à porta às privatizações e tudo o mais que elas trouxeram. Cumprida a tarefa, Constâncio demitiu-se de secretário-geral do PS por divergências insanáveis com a família Soares, na altura centradas em João Soares."
“Portugal teve a sorte de, a seguir ao 25 de Abril de 1974, ter um homem com a visão política e o conhecimento do mundo de Mário Soares”.
Mas, para o Povo português em geral, em 2023, para que serviu isso?
Somos livres? Vivemos com confiança no futuro? Somos felizes?
Para o bem e para o mal, a carreira política de Mário Soares foi única e incomparável. A tal ponto que, como ele próprio confessou, deu para perder muitas outras coisas.
“Lembro-me que, uma vez, ainda vivia na casa da Rua Gomes Freire, teria, talvez, seis anos, fiquei estranhamente seduzido pelas pernas de uma garota de doze ou treze, filha da nossa mulher-a-dias. Comecei subitamente a acariciar-lhe as pernas e levei logo uma bofetada. Foi, que me recorde, a primeira manifestação de um interesse que, mais tarde, se manifestaria com força. Sempre fui particularmente sensível aos encantos femininos: as pernas, os cabelos, a voz, os olhos. Às vezes, quando estava já metido na política, num elétrico ou num cinema, via uma mulher que me agradava e perguntava a mim próprio: que ando eu a fazer nesta vida, a tentar salvar o mundo, desperdiçando oportunidades tão mais interessantes? (…)”
domingo, 10 de dezembro de 2023
Figueira da Foz vai ter a Movistar em estreia
As lógicas partidárias no recrutamento político numa democracia que sucedeu a uma "boa ditadura"
Estende-se do Minho ao Algarve.
Portanto, porque carga de água é que uma deputada figueirense, representante de todo o país e não apenas dos cidadãos do círculo eleitoral pelo qual foi eleita, não deveria respeitar a disciplina de voto numa votação, embora tendo acompanhado a análise dos guiões de votações no dia 17 de novembro, guião onde constava a proposta de aditamento «lançar o concurso de concessão/construção e respetiva obra do sistema fixo de transposição sedimentar (bypass) da Barra da Figueira da Foz» e teria de votar a favor de uma solução “já avaliada pela Agência Portuguesa do Ambiente como a melhor solução, quer a nível técnico quer a nível económico, considerando um horizonte temporal de 30 anos”, que apenas iria resolver um problema do concelho da Figueira, quando em todo o País existe o mesmo problema?
Há, apenas a sublinhar o seguinte:
1. Porque é que o Governo do partido da senhora deputada Raquel Ferreira, em Agosto de 2021, antecipou a divulgação do estudo sobre a transposição de areias na barra da Figueira da Foz, prevista para setembro, mês de eleições autárquicas, quando o estudo do by pass tinha sido adiado durante 20 anos?
2. Porque é que o ministro do Ambiente, na altura Matos Fernandes, de um governo do partido da senhora deputada, disse o que disse?
“Avaliada esta solução [da transferência de areias] não há qualquer dúvida de que o bypass é a mais indicada e, por isso, vamos fazê-la”.
O “Estudo de Viabilidade de Transposição Aluvionar das Barras de Aveiro e da Figueira da Foz”, apresentado pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), avalia quatro soluções distintas de transposição de areias e conclui, para a Figueira da Foz, que embora todas as soluções sejam “técnica e economicamente viáveis”, o sistema fixo é aquele “que apresenta melhores resultados num horizonte temporal a 30 anos”.
Recorde-se: o estudo situa o investimento inicial com a construção do bypass em cerca de 18 milhões de euros e um custo total, a 30 anos, onde se inclui o funcionamento e manutenção, de cerca de 59 milhões de euros.
Portanto, a deputada Raquel Ferreira (sublinhe-se, eleita por uma lista apresentada pelo círculo eleitoral por Coimbra, mas que na Assembleia da República da República representa todo o país, e não apenas os cidadãos do círculo eleitoral pelo qual foi eleita), esteve muito bem ao acompanhar o PS na votação de uma proposta que apenas iria beneficiar uma parte ínfima de eleitorado necessário para manter a senhora deputada na Assembleia da República (eu sei que terá de passar ainda pelo crivo do partido, mas com este desempenho penso que não haverá dificuldade na sua continuidade nas listas candidatos a deputados do PS à Assembleia da República na próxima lista).
Repito: esteve bem a deputada Raquel Ferreira, pois a erosão costeira é um problema nacional. Estenda-se: do Minho ao Algarve.
Por conseguinte, enquanto não houver uma solução nacional, o quinto molhe irá continuar a servir como zona de peregrigação de todos os partidos na caça ao voto em períodos eleitorais, como o que está à porta.
Parvo é o Zé Povinho, que só olha para o seu umbigo.
Penso que já todos percebemos que se o Partido do Poder fosse o PSD e o deputado ou deputada da Figueira, a disciplina de voto funcionaria na mesma.
Vivemos num País onde o respeitinho é muito bonito, onde, neste momento, o "exemplo de «fucked up dad» é o senhor Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa".
Para mim já é tarde.
sábado, 9 de dezembro de 2023
Lídio Lopes: a caminho dos 30 anos como Presidente dos Bombeiros Voluntários da Figueira da Foz
Votaram 89 sócios e não houve votos em branco ou nulos.
Lídio Lopes, como Presidente dos Bombeiros Voluntários da Figueira, a meu ver, continua a ser o homem certo no lugar certo.
sexta-feira, 8 de dezembro de 2023
A diferença que faz andar a "virar frangos" há quase 50 anos...
Via SOS Cabedelo, dia 8 de Dezembro de 2023
"Querem o BYPASS mas votam contra. Justificam o chumbo da implementação do BYPASS com o facto de não terem o projecto e o modelo de gestão que não fizeram. Não explicam porque o processo do BYPASS está parado desde Março de 2021 - data do estudo que o valida como a melhor solução para a transposição sedimentar."
Via OUTRA MARGEM, dia 2 de Dezembro de 2023.
A deputada Raquel Ferreira foi apanhada na curva apertada que o PS nacional está a percorrer.
Pimenta Machado, vice-presidente da APA, foi claro há um ano e 16 dias no Auditório Municipal: como estratégia de longo prazo apresentou uma solução com recurso a um sistema fixo (‘bypass’), “que nunca se fez em Portugal”, previsto para 2030, com um custo estimado de 72,2 milhões.
A memória serve mesmo para isto: para recordar a verdade.
Nota de rodapé.
A propósito deste assunto, continuo com a esperança de ainda ver algo vindo da Assembleia Municipal da Figueira da Foz, da Câmara Municipal da Figueira da Foz ou da Junta de Freguesia de S. Pedro.
Decisões tomadas em reunião de Câmara realizada ontem
Em vez de seguir o caminho das expropriações, o executivo camarário da Figueira da Foz optou pela constituição de uma Unidade Operativa de Planeamento e Gestão. Deste modo, a autarquia negociou com os 12 proprietários das 19 parcelas de terrenos e isentou o município de pagar aos privados pelos terrenos que serão utilizados na expansão do parque.
Naquela modalidade, os proprietários que podem urbanizar os seus terrenos pagarão aos que não podem construir nas áreas que cederam. Esta solução entre privados envolve valores de cerca de 800 mil euros.
O município ainda não definiu o orçamento para a expansão do parque, uma vez que, neste momento, ainda decorre a elaboração dos projetos. Santana Lopes defendeu que o prolongamento do Parque das Abadias “será algo muito importante para a cidade e enquadra-se nos objetivos da Europa Verde”. E acrescentou: “É uma obra a que damos importância, e espero que possa arrancar muito em breve”.
Em setembro passado, numa entrevista ao DIÁRIO AS BEIRAS, Santana Lopes tinha admitido que a expansão das Abadias deverá pôr em causa a execução do projeto do Parque Verde, na Várzea de Tavarede. Este processo foi herdado dos mandatos do PS. Indagado sobre se mantém o projeto, o autarca sustentou que a sua execução implica um suporte financeiro “muito pesado” - estão em causa entre cinco e seis milhões de euros.
No entanto, parte da área verde deverá ser incluída na regeneração da entrada da cidade.
“O parque urbano que vamos fazer é continuar o parque das Abadias, que é um parque verde urbano excecional. Aquele [a Várzea] tem outras componentes: divisão de propriedades, solo agrícola… Não se justifica. Falei com o professor Sidónio Pardal [paisagista e autor do projeto] e sei o que ele me diz sobre os custos do projeto, que é interessante, mas é muito pesado em termos financeiros”, frisou Santana Lopes, na entrevista de Setembo do corrente ano.
"Soares é fixe": em 2024, na Figueira, ninguém se vai esquecer de Mário Soares
quinta-feira, 7 de dezembro de 2023
Mário Soares foi um político humano: não teve sempre razão e enganou-se muitas vezes
Na oportunidade, decorrerá também a inauguração da exposição de fotografia de Alfredo Cunha «Mário Soares- 100 anos 100 Fotografias- Democracia».Mário Soares foi uma grande vedeta política. No País e na Figueira.
Encheu a Fonte Luminosa em Lisboa. Mas, mais difícil ainda, também encheu a Fonte Luminosa na Figueira.
Mário Soares, consta, continua a ser uma referência. Foi o homem a quem Portugal deve não ter sido arrastado para o bloco comunista em 1975, tendo como expoente mais visível a manifestação da Fonte Luminosa, em Lisboa, no chamado Verão Quente.
Na altura, Portugal dirimiu. Portugal sentiu. Portugal decidiu.
Entretanto, Portugal deprimiu. Portugal ressacou. Resultado: Portugal recuou.
"O tempo de Mário Soares", um texto Eduardo Lourenço, publicado em 18 de Janeiro de 2006, no Jornal Público, lido nos dias de hoje, "é os olhos da história".
Foi publicado no tempo do fim de mandato do Presidente Jorge Sampaio e da realização das sétimas eleições presidenciais portuguesas, após o 25 de Abril de 1974, que tiveram lugar a 22 de Janeiro de 2006.
Como sabemos os resultados foram estes: Cavaco Silva, com 2.758.737 votos, ganhou com uma percentagem de 50,64%. Manuel Alegre, com 1.127.472 votos e uma percentagem de 20.70%, ficou em segundo lugar. Mário Soares, com 781.513 votos e uma percentagem de 14.35%, ficou em terceiro lugar. De registar ainda os 467.360 votos e a percentagem de 8,28% alcançada por Jerónimo de Sousa nesse acto eleitoral.
Continuemos em 2006. Vamos ao texto de Eduardo Lourenço.
«A campanha eleitoral não tem sido exactamente aquele torneio político exemplar que alguns idealistas impenitentes sonharam. Faltou-lhe paixão e sobraram escusadas flechas em forma de boomerang. [...] Trazer para esta sociedade, mais do que nunca sociedade de espectáculo, o eco da antiga paixão portuguesa, quer a recalcada do antigo regime, quer a exaltada e exaltante das duas décadas após Abril, era uma aposta arriscada, para muitos perdida e, em todo o caso, objectivamente quixotesca. Filho desses dois tempos, de que foi actor político precoce e, depois, personagem histórico, Mário Soares ousou trazer de novo para uma arena pública, já longe desses tempos turbulentos, essa antiga paixão política, sem querer saber se estaria ou não fora de estação. Passada a surpresa, esta audácia quase juvenil do antigo Presidente da República foi recebida com cepticismo por muitos, com sarcasmo por outros e, sobretudo, como uma ocasião inesperada para ajustar contas antigas e menos antigas com o homem que, melhor do que ninguém, de entre os activos, se identificou e é identificado com a Revolução de Abril e, em particular, com o tipo de democracia que ela instaurou em Portugal. [...] O mundo é que não é exactamente o mesmo mundo onde essa aventura pessoal e transpessoal foi possível. E esse mundo tinha de mudar, não o homem Mário Soares, mas a imagem dele no espelho alheio. O mesmo homem que, em tempos, passou entre nós como “o amigo americano” quando isso significava que o destino da nossa frágil democracia implicava alinhamento com a primeira das democracias ocidentais, aparece, hoje, aos olhos dos que têm interesse em cultivar essa vinha, como “antiamericano”, o que é, naturalmente, ainda mais simplista do que a antiga etiqueta. A única verdade desta valsa ideológico-mediática é clara: o antigo mundo que foi, durante décadas, o do horizonte da luta política de Mário Soares, funciona em termos de repoussoir — e Mário Soares, mais fiel aos seus ideais de sempre do que se diz, aparece, em fim de percurso, mais à “esquerda” do que nunca o foi. [...] Este tempo de Mário Soares não é apenas o tempo de Mário Soares. É o de várias gerações que, como ele, num mundo então histórica, ideológica e culturalmente dividido entre “direita” e “esquerda”, não apenas no Ocidente mas à escala planetária, escolheu um campo, numa época em que não escolher era ficar fora, não apenas do combate político, mas do combate da vida. É inócuo e só na aparência, prova de imaginária lucidez, pensar que esse comportamento releva de uma versão simplista e maniqueísta do mundo. Essa era a textura do mundo e da história que nos coube viver e só quem pretende viver fora deles se imagina sobrevoá-los como os anjos. É uma bela aposta a de Mário Soares, perdida ou ganha. Com a sua carga romanesca e a sua trama paradoxal. Mário Soares não é — nem a título histórico, nem ideológico — toda a esquerda portuguesa, mas nunca foi mais representativo dela, da sua utopia e das suas inevitáveis miragens, do que hoje, quando, aos oitenta anos, se apresenta como alguém, dentro dessa escolha, susceptível de incarnar ainda, melhor do que ninguém, essa velha aposta que entre nós nasceu com Antero e teve em António Sérgio, entre outros, as suas referências culturais, infelizmente mais vividas com sugestões poéticas do que propriamente políticas. Dizem-me que os dados há muito estão lançados e mesmo que os jogos estão feitos. Não o duvido. [...] Os seus adversários neste combate inglório e soberbo foram sempre outros. Não só os que se lembram do seu militantismo juvenil, como os que não esquecem a sua conversão definitiva ao socialismo democrático, mas, sobretudo, os que nunca lhe perdoaram o ter lutado pela democracia em Portugal, antes e depois de Abril. É isso que a verdadeira direita não esquece. É muito mais gente do que se supõe. É a mesma que põe na sua conta, como uma mancha indelével, a absurda culpa de ter “perdido” uma África que ninguém “perdeu” senão ela. [...] A esquerda não o traiu, nem ele se traiu nela. O drama é que essa esquerda de que pela última vez se faz paladino é, ao mesmo tempo, uma realidade — embora ideologicamente recente — e uma quimera. O problema da esquerda nunca foi a direita [...] mas a esquerda mesmo como pura transparência da história. A esquerda, sendo em intenção mais virtuosa, não é menos opaca, no seu angelismo imaginário, que a mais obtusa direita. Sobretudo quando não se dá conta disso. Em alegoria caseira, estas nossas eleições tão consensualmente democráticas, ilustraram com suavidade à portuguesa esta fatalidade. O combate no interior da nossa suicidária esquerda foi, à sua maneira incruenta, uma espécie de Alfarrobeira política. Talvez algum cronista, no futuro se inspire nela para nosso ensino inútil. Ou um poeta. Mas não terá Mário Soares.»
Voltando a 2023. Basta ver televisão para perceber que a matriz da democracia, que é a liberdade, é algo sistematicamente "esquecido": no panorama da comunicação social portuguesa e no comentário político não há pluralismo.
Esta constatação simples, facilmente visível por qualquer um de nós, se estiver minimamente atento ao que o rodeia, é um exemplo de como corre perigo a liberdade e a democracia.
Para quem goste ou não do político, foi isto que Mário Soares deixou como legado: a capacidade de saber quando a liberdade corre perigo. Ninguém como ele identificou os responsáveis, denunciando-os na praça pública, alguns até do seu partido. Enquanto a vida lhe deu forças, nunca pactuou com os inimigos da liberdade.
A democracia portuguesa vive tempos difíceis. Daí, em 2023, a importância de recordar Mário Soares e, sobretudo "a herança que deixou".
Esta "nova" (velha) direita portuguesa, que se auto-considera intelectual e liberal, pratica um liberalismo, que continua a "não enjeitar a teta do orçamento".
Sempre foi assim: quer antes quer depois do 25 de Abril .
Desta nova direita, composta maioritariamente por políticos nascidos depois do 25 de Abril de 1974, esperava-se mais: que tivesse novas ideias e dispensasse o obscurantismo como arma política.
Mas, citando Vasco Pulido Valente: "a referência ideológica da direita portuguesa continua a ser Salazar, o que lhe confere um inequívoco certificado de origem."
Nas elites desta "nova" (velha) direita, quase 50 anos depois da censura ter terminado numa manhã de Abril, o obscurantismo continua a fazer o seu caminho.
Para esta "nova" (velha) direita, "Mário Soares nunca será um homem de coragem e muito menos um grande político."
Para eles o que o moveu "foi a vaidade e a soberba."
Mas que moral tem esta rapaziada? Sabem o que foi a luta pela Liberdade e pela dignidade que levou muitos a ter passar pela prisão política?
Esta "nova" (velha) direita é perigosa.
Podia não ter respeito por Mário Soares. Mas, há mínimos que os manipuladores da história deveriam respeitar: nomeadamente a verdade histórica.
Tentar utilizar a ignorância arrogante como uma mais-valia eleitoral é insurportável.
Mário Soares não é um político da minha especial simpatia.
Porém, foi um político humano: não teve sempre razão e enganou-se muitas vezes.
Espero que as comemorações que hoje se iniciam na Figueira contribuam para clarificar isso.
Para quem está atento e vive em 2023 num País chamado Portugal, isso é importante: "quem o diz é a História"…
Nos bastidores da política figueirense, elementos ligados ao PS/Figueira, acusam-me de várais coisas. Entre elas, de não gostar do PS.
E, se calhar, têm razão.
Previno, desde já, que a explicação é longa.
quarta-feira, 6 de dezembro de 2023
Primeira reunião de câmara de Dezembro realiza-se amanhã
Realiza-se amanhã, quinta-feira, dia 07 de dezembro, pelas 10h00, no Salão Nobre dos Paços do Município, a primeira Reunião de Câmara Reunião do mês de dezembro.
A ordem de trabalhos pode ser consultada, clicando aqui.
Estruturante
Passados 5 anos, o texto no esssencial continua actual.
Apenas precisa de 2 actualizações. A saber:
1ª.
Na década de 2010/2020, "o agravamento das taxas de erosão foi de um terço entre a Costa Nova (Ílhavo) e Mira, duas vezes entre Castelo do Neiva e Esposende, Ofir (Esposende) e Estela (Póvoa de Varzim), Cortegaça e Furadouro e a sul do Torrão do Lameiro (Ovar) e, pior, três vezes entre Cova-Gala e Lavos (Figueira da Foz)."
No dia 12 de Agosto de 2021, "o Governo antecipou a divulgação do estudo sobre a transposição de areias na barra da Figueira da Foz, prevista para setembro."
Recorde-se que o estudo do by pass foi adiado durante anos.
De palpável e positivo, temos o estudo que situa o investimento inicial com a construção do bypass em cerca de 18 milhões de euros e um custo total, a 30 anos, onde se inclui o funcionamento e manutenção, de cerca de 59 milhões de euros.
“Obviamente que o que temos, para já, é um estudo de viabilidade, económica e ambiental. Temos de o transformar num projecto, para que, depressa, a tempo do que vai ser o próximo Quadro Comunitário de Apoio, [a operação] possa ser financiada”, conforme disse o ministro do Ambiente em Agosto de 2021.
Passados mais de 2 anos, nada mais aconteceu.
Assim ficámos: o sistema fixo de transposição mecânica de sedimentos, conhecido por bypass, cuja instalação o movimento cívico SOS Cabedelo defende, há mais de uma década, que seja instalado junto ao molhe norte da praia da Figueira da Foz continua a ser uma miragem.
E assim vai continuar. A prova disso é que, há poucos dias, O Livre viu “chumbada” a proposta sobre a inscrição da instalação do bypass (sistema mecânico de transposição de areia) na barra da Figueira da Foz no Orçamento do Estado de 2024.
Penso que presumem quem evitou isso: os votos contra da maioria absoluta do PS na Assembleia da República. O PAN absteve-se e os restantes grupos parlamentares votaram a favor.
No terreno, de concreto nada se avançou.
A ferida está cada vez mais aberta a sul do Quinto Molhe.
É triste, mas parece que nesta cidade, isso é encarado como normal.
É triste, mas é daquelas coisas tristes que entraram no dia a dia dos figueirenses.
E era fácil de resolver.
Resolvia-se com cidadania. Resolvia-se com solidariedade entre todo o concelho: o do norte e do sul do estuário do Mondego. Resolvia-se com sentido de responsabilidade, educação e valores morais sólidos. Resolvia-se com respeito pela liberdade, pela segurança e pela dignidade de todos os habitantes do concelho: os que habitam a norte e a sul do estuário do Mondego. Resolvia-se com amor por nós próprios e pela vida de todos os figueirenses.
Ser Homem ou Mulher livre, quer dizer ser responsável.
Liberdade é isto.
O resto é medo, covardia e dependência.