"Não é demais repetir que, para além das matérias culturais, também nas outras matérias, as do Património Natural e Ambiental (dinâmica sedimentar das areias, porto comercial errado, erosão costeira), foi Manuel Luís Pata quem chamou as coisas pelos seus nomes — chamou bois aos bois... —, pronunciando-se sobre o maior e o mais grave de todos os problemas da Figueira da Foz, o problema que levou à decadência e ao desaparecimento, no todo nacional, desta região e desta Cidade de Mar.
O problema que, ainda hoje (e, agora, mais do que nunca), continua a ser decisivo, momentoso, e grave, para o Presente e o Futuro da Figueira da Foz e da sua praia… Mas perante o qual, em vez de se procurarem e se encontrarem quaisquer soluções verdadeiras e efectivas, só se têm aumentado, acrescentado, e avolumado, os maiores erros vindos do Passado… Assim se agudizando as contradições, eternizando os impasses, e se originando as situações insustentáveis, absolutamente previsíveis, e de extraordinária gravidade (que nenhuma hipocrisia pseudo-"ambientalista" vai poder disfarçar), que cada vez mais se aproximam, nos desenlaces do futuro próximo dessa "Praia da Calamidade" que é, infelizmente, a da Figueira da Foz.
Em suma, para além da dramática gravidade da catástrofe cultural que é o estado de destruição, abandono, e desprezo, do Património Cultural e Histórico Marítimo da Figueira da Foz (uma área em que este homem, só, absolutamente autodidacta, e descendente de Pescadores, fez o que pôde, e fez muito, somente com os seus próprios meios, enfrentando todas as contrariedades que lhe foram movidas nos círculos que eram supostos defender e preservar esse Património Cultural), também acerca da calamidade ambiental irresolúvel em que a Figueira da Foz desde há décadas se encontra sepultada (com toda a gente a fingir que não vê, quando a areia, tanta, está à frente dos olhos…) foi Manuel Luís Pata quem tomou sempre posição pública, voluntariosamente, corajosamente, à sua maneira.
Foi ele quem disse o essencial: "a Figueira da Foz virou costas ao Mar…!".
É essa coragem que distingue a verdadeira intervenção e serviço de utilidade pública (e da parte de quem nem sequer recebe, para fazer tal intervenção cultural ou ambiental, quaisquer remunerações, reformas, etc., pagas com dinheiro público…!). É a coragem de quem tenta voluntariosamente ser útil à sua terra, metendo ombros a tarefas e a obras que são trabalhosas e meritórias (em vez de viver simplesmente em agrados e ambições de carreirismo pessoal, em intrigas políticas fáceis, nos bastidores, acotovelando à esquerda e à direita, à sombra do poder do momento). É a coragem de quem é capaz de se pronunciar, não menos voluntariosamente, sobre tudo o que é verdadeiramente importante, não receando, para isso, tocar nas feridas dos assuntos verdadeiramente graves e polémicos (em vez de mostrar a cara em artigos de jornal para escrever sobre insignificâncias pessoais e diletantismos, "culturais", pseudo-"progressistas").
É a coragem — típica de Pescador…? (mesmo quando um pouco brusca…?) — de quem é capaz de tentar mesmo fazer alguma coisa, a sério (mesmo que não consiga…)… e, para isso, é capaz de tentar enfrentar, de frente, qualquer vaga, seja de que tipo for. Em vez de viver no (e do) manhoso tacticismo, no (e do) elogio mútuo, no (e do) tráfico de influências, nos bastidores do poder que anseia e rodeia, e ao qual espera chegar rodeando.
Enquanto todos os verdadeiros problemas, os do Presente e do Futuro, culturais ou ambientais, ficam por resolver (e, por isso, se agravam)… e todos os verdadeiros patrimónios, os do Passado, culturais ou ambientais, se vão perdendo com o tempo ("como neve diante do sol")... Enquanto as nuvens negras das catástrofes, quer culturais e sociais, quer ambientais e ecológicas, se avolumam, em dias de sol, no horizonte próximo.
A Cultura e a Natureza estão, talvez, estranha e paradoxalmente ligadas de uma forma muito íntima, de maneira muito simbólica: quem sabe se, um dia, na luxuosa pobreza extrema, e na merecida desgraça última, quando se enfrentar as vagas assassinas de um tsunami que venha a devastar uma área de ocupação humana ao nível do mar — mas… será possível que haja alguém que, em pleno século XXI, esteja a querer legitimar ("ecologicamente"…!!!), e a, assim, adensar e avolumar (!) uma ocupação humana (dita "turística", e "cultural"… e, até, "ambiental"…! [e, na verdade, pré-imobiliária…?!]) ao nível do mar…?! —, irá ser lembrada, e recordada, com saudade, a geometria fina e a silhueta esguia, cortante, dos antigos "Barcos-da-Arte" ("Barcos-do-Mar"), em "meia-lua"… Que, nesse dia, já não existirão… nem existirá ninguém que os saiba construir...! (embora, provavelmente, vá continuar a existir gente funcionária e política, paga com dinheiro público, que estará pronta para tentar continuar a viver à custa dessas tais matérias, "culturais", e "ambientais", dos barcos antigos, e das praias ecológicas…).
Com o nosso Exº. Amigo Senhor Manuel Luís Pata, aprendemos, há muito tempo, o lema que ele sempre proclama (e que nós sempre repetimos): "O Mar não gosta de cobardes… não gosta de quem lhe vira as costas…"."