Na foto o meu Pai, José Pereira Agostinho, náufrago três vezes na pesca do bacalhau, falecido em 6 de Junho de 1974, aos 47 anos de idade. |
Estávamos em 1972, no tempo da outra senhora. Aquilo cheirou-me a autoritarismo balofo, dominador e algo despótico. Não gostei. Lembro-me da minha temerária, arrojada, arriscada, imprudente e, como verifiquei meses depois, perigosa resposta: "pode ser um posto, mas deve ser muito ingrato".
Os anos passaram. Já lá vão 48. À medida que o tempo foi passando, fui percebendo o quanto "a velhice é um posto mesmo muito ingrato".
Comecei a peceber isso, logo em 1974, quando morreu o meu Pai.
Com a primeira morte de alguém que me é tão querido, com apenas 20 anos, fiquei a saber que nada seria mais a mesma coisa e que nunca mais iria estar tudo bem. Ainda hoje sinto o mesmo: impotência, raiva, saudade, e dor, uma dor absurda e intensa.
Lembro o que pensei na altura: a vida tem sentido se morremos e desaparecemos assim?
Depois morreram as minhas avós. E há 5 anos a minha Mãe.
O decorrer do tempo ajudou-me a habituar a que não estejam cá. Depois, fui conseguindo recuperar e valorizar as boas recordações. Quando cheguei a esse ponto, fiquei apaziguado e senti-me grato pelo que tive e, sobretudo, pelo que vivi.
Porém, nem sempre isso é possível. Continua a haver alturas em que recordar continua a doer. Pode ser a recordação de uma coisa coisa simples: passar por um sítio onde se esteve com essa pessoa. Pode ser apenas porque, como hoje, está um dia bonito, com sol, calor e céu azul. Um dia em que não podemos estar com essa pessoa que nos falta. Quando assim acontece até o belo surge como indiferente e insensível. Nesses momentos, às vezes basta escrever para desabafar para nos apaziguar e tudo ficar melhor...